Tempos alvissareiros
Adalberto Piotto - Olhar Brasileiro -Por Adalberto Piotto
Os partidos políticos estão perdendo o poder porque perderam a noção da realidade do Brasil. Lamentável e preocupante.
O poder absoluto em sociedades evoluídas é da lei, das instituições regradas por leis que as aplicam sob e sobre tudo e todos. Este poder já não parece mais ser dividido, como já foi neste país, com caciques deputados ou senadores.
A influência do parlamentar se resume, como deve ser, à discussão e aprovação da legislação. Uma vez existente, passa a domínio público e à aplicação pelos poderes constituídos.
Por isso a Justiça e o Ministério Público estão à frente das decisões que estão transformando o Brasil e chamam nossa atenção para este momento único e provavelmente nunca experimentado por nós brasileiros
Líderes partidários, quer governistas ou da oposição, estão reconhecendo seus limites ante a lei que eles mesmos aprovaram, o que é saudável.
Ao se imaginarem com poder de traficar influência permanentemente em decisões do poder judiciário perdem a legitimidade do comprometimento com o país e se afogam com verborragia indecente e, ao que se viu, comprometedora.
Tamanha essa desconexão com o legal e imagem ruim que se deram, até mesmo a discordância ou concordância deles com o pedido de prisão de Lula pelos promotores de São Paulo equivale a nada, dentro do vácuo de representatividade dos partidos políticos existente hoje na sociedade brasileira.
A lei é soberana.
A decisão de denunciar o ex-presidente e pedir sua prisão preventiva foi técnica, sob o olhar acusatório do Ministério Público de São Paulo.
A decisão de acolher a denúncia e decretar ou não a prisão do denunciado Luis Inácio Lula da Silva, como é referido no pedido, será igualmente técnica da moderadora Justiça.
Ao insistirem neste debate que visa descredenciar ações legais em curso, os partidos perdem relevância. Estão no caminho de perder a importância se não se reinventarem. Uma pena.
A democracia de representação no Brasil requer partidos fortes e conectados com a sociedade. Mas não esses aí tal como estão agindo.
A Justiça não está nem aí para o que pensam os partidos politicamente. E isso é bom.
Tem-se pautado legalmente pelo que rege a Constituição.
O momento atual do Brasil é o mais visível resultado da independência dos poderes e o fortalecimento das instituições de Estado neste renascimento da democracia e da República brasileira.
E o prazer de ver isso acontecer é de nós encher de orgulho.
Em tempo: vejo os colegas de imprensa tomando a opinião de juristas sobre o pedido de prisão de Lula ou outro assunto jurídico em voga – ainda mais quando vieram de alguma corte superior- como verdade absoluta.
Um erro grave.
Primeiro porque verdades absolutas são raras e normalmente provêm da Natureza.
Segundo porque a maioria dos juristas também atua como advogados em bancas e escritórios prestigiados. São exatamente algumas dessas bancas que prestam serviços aos acusados e condenados por corrupção mais terríveis deste país.
E advogado defende a parte acusada. Decisões ou condutas de extrito cumprimento e aplicação da lei por órgãos da Justiça ou do Ministério Público, chamados inadvertidamente de “linha dura”, decisões céleres. rigorosas e independentes como sempre sonhamos no país da impunidade, não agradam aos causídicos.
Sua retórica pomposa acerca dos direitos de defesa do acusado pode sempre oscilar entre a nobreza do fazer-se justiça e o mais espúrio interesse.
Prudência e ceticismo nestes casos fazem sempre bem.