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Café Brasil 585 – Tolerância e relativismo

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Luciano Pires -

Quando aceitamos o relativismo, cada pessoa tem direito à sua verdade e a usar o seu critério para definir o bom e o mau. Será que isso é tolerância, hein? Onde é que a sociedade iria parar, hein?

Posso entrar?

Amigo, amiga, não importa quem seja, bom dia, boa tarde, boa noite, este é o Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.

Antes de começar o show, um recado: preparamos um resumo do roteiro para este programa com as principais ideias apresentadas. É um guia para você complementar aquelas reflexões que só o Café Brasil provoca. Para baixar gratuitamente acesse o roteiro deste programa no portalcafebrasil.com.br/585.

E quem vai levar o e-book Me engana que eu gosto é o Marcio Alves, lá de Capão Bonito.

“Olá Luciano, tudo bem? Me chamo Marcio Alves e moro aqui em Capão Bonito, interior de São Paulo.

Acabei de ouvir o programa 502, Um coxinha e confesso que estava deixando pra ouvir esse programa mais tarde, eu estava meio com medo de descobrir que eu sou um coxinha, né? Afinal, tantas vezes já fui xingado disso… E você disse no programa tudo que eu pensava, mas eu não sabia como falar. Até tudo que eu sentia, mas não conseguia expressar. E confesso pra você que me arrepiei ao ouvir o programa e bem aos vinte e cinco minutos quando eu já estava emocionado, tocou João Donato, que eu sou muito fã. Aí sim, me emocionei de vez. Já ouvi o programa duas vezes hoje e acho que vou ouvir mais ainda. Vou compartilhar no Facebook, vou aproveitar e passar o link para aqueles que insistem em me chamar de coxinha nas redes sociais.

Parabéns, viu? Em trinta minutos você acabou detonando essa hipocrisia que toma conta do país, essas discussões nas redes sociais sobre coxinha, petralha, isso me revolta, me deixa… dá até dor de cabeça, às vezes, me deixa muito revoltado.

E falando em redes sociais, eu vou ouvir agora o podcast 507 sobre as amizades desfeitas, pois é uma coisa que me deixou muito triste. Amigos meus de longa data, que tínhamos muito em comum, desfazendo amizades, pedindo pra serem excluídos, só por causa de pensamentos diferentes. 

Bom. Fica aí o meu abraço, parabéns pelo programa e vou ouvir agora lá o podcast 507, qualquer coisa eu volto aí. Beleza? Abraço”.

Pois é, caro Márcio, as redes sociais estão completamente relativizadas. Aliás, não só elas, né? Chegamos a um ponto em que não se discute mais o que é feito, mas quem fez. Se for da tribo que você gosta, tá tudo bem. Inclusive roubar, agredir, ofender, enganar… Olha, não sei até onde vamos chegar viu? Mas isso aí é preocupante.

Muito bem. O Márcio receberá um KIT DKT, recheado de produtos PRUDENCE, como géis lubrificantes e preservativos masculino e feminino. PRUDENCE é a marca dos produtos que a DKT distribui como parte de sua missão para conter as doenças sexualmente transmissíveis e contribuir para o controle da natalidade.  O que a DKT faz é marketing social e você contribui quando usa produtos Prudence. facebook.com/dktbrasil

Vamos lá então! Ih! Hoje tem visita! Vem cá, vem cá!

Luciano – Na hora do amor

Talita – … se não for Prudence, eu não tolero!

E o nosso Café Brasil Premium, hein? Nossa “Netflix do Conhecimento”… olha lá, 1085 e crescendo. Tá devagarinho, viu? Sabe por que? Porque você que está ouvindo aí, cara, não se deu ao trabalho de ir lá, dar uma olhadinha, achar legal, assinar e experimentar, cara! Quem experimenta, continua, cara! Dá uma olhada lá, ó: cafebrasilpremium.com.br, conheça nossa proposta e junte-se aos assinantes que já estão viajando por lá.

cafebrasilpremium.com.br.

Conteúdo extra-forte.

O programa de hoje é baseado num texto de Alfonso Aguiló Pastrana, autor do livro A tolerância. Alfonso é vice-presidente do Instituto Europeu de Estudos da Educação e Secretário do Foro Interdisciplinar para a Promoção da Tolerância, lá na Espanha.

Antes de ir ao texto dele, uma explicação. Já tratei de tolerância no Café Brasil 54, 266 e 267, mas ainda existe muito espaço para esse tema. É só olhar em volta e ver o ringue em que se transformaram as mídias sociais e as discussões de temas mais polêmicos na sociedade. Estamos divididos em grupos, apegados a um relativismo que faz com que não discutamos mais o que, mas quem… e assim o mérito das ideias fica em segundo plano. Olha cara! Tá difícil, viu?

Mais uma dica aqui. Você está vendo que a minha voz ainda está patinando, cara! Isso aqui é herança da minha sequência de palestras no Mato Grosso. Até agora não sarei direito, não. Mas, vamos ali, ó!

O Alfonso Aguiló escreve que a tolerância é entendida como respeito e consideração pela diferença. Como uma disposição para admitir nos outros uma maneira de ser e de proceder diferente da nossa, ou como uma atitude de aceitação do legítimo pluralismo. Sendo assim, a tolerância é, em todos os aspectos, um valor de enorme importância.

Estimular a tolerância pode contribuir para resolver muitos conflitos e erradicar muitas violências. E a tolerância é, portanto, um valor que  se deve promover.

Porém, promover uma aplicação acertada da tolerância é algo extremamente difícil e complexo, que convém analisar com calma, sem banalizar, para não cair em simplificações exageradas.

Em primeiro lugar, a tolerância tem uma medida justa. Ninguém pensa que se deve tolerar o roubo, a violação ou o assassinato, por exemplo. E nem ninguém pensa de verdade, que impor o império da lei ou um sistema de autoridade, seja considerado uma manifestação grosseira de intolerância.

Parece claro que, se tolerássemos tudo e considerássemos que a lei seria uma manifestação de intolerância, acabaríamos sob a lei do mais forte. Seria impossível estabelecer um sistema de Direito ou qualquer tipo de ordenamento jurídico. Seria como a lei da selva, o mais forte pode mais. Não haveria forma de viver pacificamente em sociedade.

Portanto, promover a tolerância não é tolerar tudo, porque é evidente que não se pode permitir tudo.

Por isso, nem sequer o anarquismo mais radical considera a tolerância como algo ilimitado. Qualquer coletividade humana em que tudo fosse tolerado, logo se transformaria num caos completo e absoluto.

Avôhai
Zé Ramalho

Um velho cruza a soleira
De botas longas, de barbas longas
De ouro o brilho do seu colar
Na laje fria onde coarava
Sua camisa e seu alforje
De caçador

Oh meu velho e invisível
Avôhai
Oh meu velho e indivisível
Avôhai

Neblina turva e brilhante
Em meu cérebro, coágulos de sol
Amanita matutina
E que transparente cortina
Ao meu redor

Se eu disser
Que é mei sabido
Você diz que é bem pior
E pior do que planeta
Quando perde o girassol

É o terço de brilhante
Nos dedos de minha avó
E nunca mais eu tive medo
Da porteira
Nem também da companheira
Que nunca dormia só

Avôhai!
Avôhai!
Avôhai!

O brejo cruza a poeira
De fato existe
Um tom mais leve
Na palidez desse pessoal
Pares de olhos tão profundos
Que amargam as pessoas
Que fitar

Mas que bebem sua vida
Sua alma na altura que mandar
São os olhos, são as asas
Cabelos de avôhai

Na pedra de turmalina
E no terreiro da usina
Eu me criei
Voava de madrugada
E na cratera condenada
Eu me calei
E se eu calei foi de tristeza
Você cala por calar
E calado vai ficando
Só fala quando eu mandar

Rebuscando a consciência
Com medo de viajar
Até o meio da cabeça do cometa
Girando na carrapeta
No jogo de improvisar
Entrecortando
Eu sigo dentro a linha reta
Eu tenho a palavra certa
Pra doutor não reclamar

Avôhai! Avôhai!
Avôhai! Avôhai!

Opa! Zé Ramalho com o clássico AVOHAI, seu primeiro sucesso, inspirado no avô, que o criou após a morte do pai. Seu avô chamava José Alves Ramalho, viveu até os 83 anos e era o Avohai: o avô e pai. Homem preocupado com formação e a informação, que queria que o neto soubesse das coisas. Essa canção é, portanto, uma homenagem tocante do neto para o avô. E aí a gente descobre que a música surgiu quando Zé Ramalho estava com os cornos cheios de cogumelo alucinógeno… e  muita gente começa a relativizar, né?

A tolerância, assim como a liberdade, deve ter limites. “A tolerância não é uma atitude de simples neutralidade ou de indiferença, mas uma posição firme que faz sentido quando se opõe ao seu limite, que é o intolerável.”

Você entendeu, hein? Tolerar não é permanecer neutro ou indiferente, mas é ser ativamente contra a intolerância.

A questão é acertar com uma noção de tolerância que não seja simplesmente fruto do cansaço ou da indiferença. E que consiga equilibrar os direitos da verdade com os da consciência individual.

Você prestou atenção, cara? Equilibrar os direitos daquilo que é verdade com aquilo que diz a sua consciência individual.

Outro ponto fundamental: não se limitar a afirmações óbvias. Convém não reduzir a noção de tolerância a um genérico espírito de abertura e de respeito pela diversidade.

E o Alfonso diz assim, ó: “Eu digo isso não porque não me pareça necessária a promoção desse espírito de abertura e de respeito pela diversidade, mas porque se trata de algo suficientemente óbvio em que hoje em dia estamos quase todos completamente de acordo.

Quando se fala de tolerância, o difícil – e o importante – é aprofundar o seu sentido mais específico: a tolerância do mal.

Mais, eu poderia dizer que a palavra tolerância se aplica com toda a propriedade só quando se refere à tolerância do mal. Não costuma se dizer, por exemplo, que uma pessoa tolere que ganhe na loteria, tolere ser aprovado nuns concursos, tolere jogar muito bem basquete ou ter muito boa memória. Não se diz que se tolera essas coisas, mas que se tem a sorte, ou então o mérito, de contar com isso, que são bens. E também não deveria se falar de tolerância exclusivamente como respeito à legítima diversidade, que deve ser respeitada e não simplesmente tolerada. Ainda que subjetivamente nos possa custar muito aceitá-la. Entendeu? Com relação à diversidade, devemos falar em respeito, não em tolerância. Haveria muitos exemplos: ser alto ou baixo, louro ou moreno, pertencer a uma outra raça ou classe social, como eu e o Lalá, por exemplo, um bonito e o outro feio, ser torcedor (apaixonado se quiser, mas pacífico) deste ou daquele time de futebol, etc. Essas não parecem, em princípio, diversidades que devam ser toleradas, mas simplesmente respeitadas. Você viu como é simples, hein?

O problema surge quando essa diversidade deixa de ser legítima, ou então entra em colisão com o bem comum, ou com os direitos dos outros. Então começamos a penetrar no mar tempestuoso da tolerância do mal.

Por exemplo:

– Devemos tolerar a escravidão? E se há pessoas que apelam à sua liberdade para ter escravos, hein? E se houver também pessoas dispostas a aceitar a escravidão?

– Devemos tolerar a tortura? Oque deve ser dito a quem alegue a suposta eficácia da tortura relativamente à polícia? E a quem sustente que nas suas convicções pessoais, a tortura se trata de um método perfeitamente legítimo na sua guerra sem quartel contra a delinquência e o terrorismo?

– As leis devem tolerar a poligamia? E se houver homens e mulheres que apelam para sua liberdade individual para formar esse gênero de união, hein? O que se pode argumentar, por exemplo, a quem considere a proibição da poligamia como um atentado contra as profundas raízes culturais e religiosas de um povo?

– Devemos permitir – como acontece em alguns lugares – que os pais pratiquem determinadas mutilações sexuais a alguns dos seus filhos, seguindo antigos ritos ancestrais? Que matem crianças que nasceram com deficiências? Que razões podemos dar para proibir, se argumentarem que se trata de um costume milenar, aceito pacificamente por toda a tribo, hein?

– E se uns pais se negam a que o seu filho, menor de idade, receba uma transfusão de sangue e morra por isso? Como é conciliável a liberdade religiosa com o fato de que um juiz salve a vida do menino autorizando a dita transfusão, contra as crenças dos pais?

– Deve-se tolerar que uma mãe leve sua filha de quatro anos de idade a uma exposição sobre sexualidade? E a uma performance com um homem nu, para ser tocado pela criança? E a um filme com cenas de sexo explícito? E a uma casa de suingue, hein? O que dizer quando o argumento é de cabe aos pais, e unicamente a eles,  a responsabilidade de educar seus filhos?

– Deve se tolerar a produção e tráfico de drogas? Não parece justo, neste caso, respeitar a liberdade das pessoas para cultivar o que queiram e depois vendê-lo, aceitando as regras do livre mercado? E com o tráfico de armas, hein? E com os produtos radioativos?

É, cara! Esses são diferentes exemplos que expressam um pouco da complexidade do problema da tolerância e que nos previnem contra uma interpretação simplista das coisas.

Olha, esse som épico que você está ouvindo aí ao fundo é PÊNDULO, de Egberto Gismonti. Olha! Um dia farei um Café Brasil inteirinho sobre ele, viu?

O Dicionário da Academia Real Espanhola aponta duas definições da palavra tolerância, que englobam talvez o que acabamos de dizer:

– Tolerância é o respeito e consideração pelas opiniões ou práticas dos outros, ainda que sejam diferentes das nossas;

– a outra definição, que reflete talvez o seu sentido mais específico, assinala que tolerar é permitir algo que não se considera lícito, sem aprová-lo expressamente. Ou seja, não impedir, mesmo podendo fazê-lo, que outro ou outros realizem determinado mal.

Em ambos os casos, o xis da questão está em determinar o limite do não tolerável: a legítima diversidade deve sempre ser tolerada, mas a ilegítima diversidade pode tolerar-se ou não, segundo os casos.

De novo, ó: a diversidade legítima deve sempre ser tolerada. A ilegítima, depende do caso.

E aí vem a velha questão: Proibido proibir? Em nome de quem?

É proibido proibir
Caetano Veloso

A mãe da virgem diz que não
E o anúncio da televisão
Estava escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo
E além da porta
Há o porteiro, sim…

E eu digo não
E eu digo não ao não
Eu digo:
É! — proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir…

Me dê um beijo, meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estantes, as estátuas
As vidraças, louças, livros, sim…

E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo:
É! — proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir…

Olhaí… é claro que eu tinha de tocar o clássico do Caetano Veloso, né? É PROIBIDO PROIBIR. Até porque o Caetano aos 70 anos de idade anda proibindo umas coisas aí… a versão que você ouve aqui é com o pessoal do Bardot Mobile, que é o que os gringos chama de “cartoon band”. A Bardot Mobile é criação do músico e produtor Sérgio Benevenuto, uma banda com personagens animados, desses virtuais, criados com conceitos, histórias e com as vozes de Sérgio no personagem Ive Bardot; Dante Ixo no personagem Azul Bardot; e Aline Hrasko na voz de Brigitte.

O conceito de legitimidade, incluindo os conceitos de bem e mal, é muito relativo para muita gente. Por essa razão, para aprofundar a noção de tolerância é preciso analisar previamente o fenômeno do relativismo.

O relativismo é o conceito de que os pontos de vista não têm uma verdade absoluta ou validade intrínsecas, mas apenas um valor relativo, subjetivo, de acordo com diferenças na percepção e consideração de cada indivíduo. O que é mau pra mim pode ser bom pra você. E ambos estamos certos…

Por exemplo, na Alemanha proibiram-se recentemente diversos atos públicos de grupos neonazistas, o que supõe limitar o direito de manifestação.

No Brasil discute-se no momento a decisão de museus de praticar a classificação etária para suas exposições, proibindo a entrada de menores. Muita gente está reclamando que isso é cerceamento de liberdade artística.

Na França, onde também parece haver liberdade de expressão, o governo fechou várias publicações muçulmanas ligados à Frente Islâmica da Salvação da Argélia, por seu “tom violentamente antiocidental e antifrancês”, segundo a explicação oficial. A pergunta é: podemos justificar medidas como estas ao mesmo tempo em que admitimos o principal postulado que os relativistas sempre repetiram, de que ninguém tem o direito de impor aos outros o seu próprio conceito de moral?

Este primeiro postulado relativista é uma apaixonada invocação da liberdade individual mas, se analisada com um pouco de calma, é fácil descobrir que esconde sérias contradições.

Pra começar, o relativismo deixa de ser relativo para impor a todos nós o seu postulado indiscutível, de que ninguém pode impor nada a ninguém. Ora essa: se ninguém pode impor nada a ninguém, como impor a alguém que ninguém pode impor nada a ninguém? Entendeu?

Muito bem. E qual é a relação do relativismo com a tolerância? O principal problema surge quando se fala em impor limites à tolerância. Já vimos que parece inimaginável uma sociedade em que se permitisse tudo, uma vez que há coisas que não podemos tolerar. Se analisarmos por que não toleramos alguma coisa, descobrimos rapidamente que a causa está em verdades e valores que consideramos inegociáveis.

Por exemplo, não toleramos o roubo para proteger a propriedade, necessária para a subsistência livre das pessoas. Não toleramos o assassinato, para proteger o direito à vida de todo o homem. Em ambos os casos, estamos impondo aos delinquentes algo contra a vontade deles. E parece óbvio que se o ladrão não crê no direito de propriedade, ou o assassino não crê no direito à vida, ou ambos consideram que têm razões pessoais para roubar ou matar, nem por isso as suas ações deixarão de ser reprováveis e castigadas numa sociedade em que impere a justiça.

Se aceitássemos o relativismo, cada pessoa teria direito à sua verdade e ao seu critério para definir o bom e o mau. Então poderia se pensar que qualquer imposição da lei, que muitas vezes é manifestação de um sentido moral, é uma clara prova de intolerância, da intolerância que não pode se tolerar. Olha o círculo vicioso, cara!

Aliás, eu terminei o Café Brasil 582 – Sobre transgressão, com uma baita provocação. Nem sei como não escreveram me detonando. Foi com uma frase do filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham. Foi assim, ó:

Toda lei é uma transgressão da liberdade.

Paula e Bebeto
Milton Nascimento
Caetano Veloso

Vida vida que amor brincadeira, vera
Eles amaram de qualquer maneira, vera
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor vale amar

Pena que pena que coisa bonita, diga
Qual a palavra que nunca foi dita, diga
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor vale amar
Qualquer maneira de amor vale a pena
Qualquer maneira de amor valerá

Eles partiram por outros assuntos, muitos
Mas no meu canto estarão sempre juntos, muito
Qualquer maneira que eu cante esse canto
Qualquer maneira me vale cantar

Eles se amam de qualquer maneira, vera
Eles se amam e pra vida inteira, vera
Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira me vale cantar
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá

Pena que pena que coisa bonita, diga
Qual a palavra que nunca foi dita, diga
Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira me vale cantar
Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá

Uia… você está ouvindo aí, PAULA E BEBETO, música de Milton Nascimento e letra de Caetano Veloso, na época, na interpretação dos mineiros do Grupo Diapasão. Essa música, tornada sucesso na voz de Gal Costa, tem um refrão que lá em 1975 era revolucionário: qualquer maneira de amor vale a pena… 

Voltemos ao caso da performance do homem nu no Museu de Arte Moderna de São Paulo, que gerou calorosas discussões em setembro de 2017 quando um vídeo mostrando uma menina de uns 4 anos de idade tocando o pé e a canela do homem nu, viralizou. Museu com exposições de temáticas sexuais, inclusive suas perversões, é comum e é tolerável. Performances com gente nua, que existem há anos, são toleráveis. Se você é maior e vacinado, tem de ter toda a liberdade para dizer, assistir e experimentar o que quiser, desde que assuma a responsabilidade se quebrar alguma lei. Toda forma de expressão, especialmente pela arte, deve ser tolerada. Mas aí alguém coloca uma criança no contexto… e a tolerância vai pro espaço, cara. E então temos o choque que o Brasil viveu naquele momento.

Ei! Espera! Para de gritar aí e me escuta: tire a criança da equação e a polêmica desaparece, entendeu? Tudo é relativo nessa história… menos a criança.

Ih Lalá! caiu um disjuntor aí…

Se cada um tem a sua verdade sobre o que é a justiça e ninguém tem o direito de impor a sua verdade a outros, em nome de que verdade podemos impedir ou perseguir o roubo, a violação, a pedofilia ou o assassinato?

Afinal, qual é a verdade que vale, hein? É a minha ou a é a sua?

O relativismo acaba num círculo vicioso, percebeu? Sem uma referência a uma verdade universal, que obrigue todos a seguir um padrão de comportamento, em nome de que autoridade se pode considerar que uma ação é má e impor a outros esse conceito do que é mau? Como defender racionalmente que se deve atuar assim, que esses limites devem ser impostos à tolerância?

Ora, ninguém tem o direito de impor a mim seus valores, não é?

Por isso recorremos à verdade universal, aquela que negociamos e publicamos sob forma de um contrato social, que chamamos de Constituição, de leis, de código de ética. Ou então recorremos a uma entidade suprema, acima dos homens, que define o que é certo ou errado. Um deus. Sacou?

Mas aí, quem não acredita no deus, fica doido. E quem não acredita na Constituição, também…

O relativismo afirma os direitos mas, porque não tem nenhuma referência a uma verdade objetiva, surge imediatamente a confusão global do que está bem e do que é mal. Com o relativismo, a justiça fica à mercê dos que tiverem o poder de criar opinião e a impor a opinião aos outros.

Devia ser proibido
Itamar Assumpção

Devia ser proibido
Uma saudade tão má
De uma pessoa tão boa
Falar, gritar, reclamar
Se a nossa voz não ecoa
Dizer não vou mais voltar
Sumir pelo mundo afora
Alguém com tudo pra dar
Tirar o seu corpo fora
Devia ser proibido
Estar do lado de cá
Enquanto a lembrança voa
Reviver, ter que lembrar
E calar por mais que doa
Chorar, não mais respirar
Dizer adeus, ir embora
Você partir e ficar
Pra outra vida, outra hora
Devia ser proibido.

Ai cara! Tem umas músicas aí que dá até pena a gente ter que cortar aqui pra falar em cima. Mas, olha aqui ó: ainda bem que você tem aí o Facebook, você tem aí o Google, você tem aí o Portal Café Brasil pra ouvir a música inteirinha, né? Tá lá. Tá lá no roteiro.

E é assim então, ao som da fantástica DEVIA SER PROIBIDO, de Itamar Assumpção, com ele e Zelia Duncan, que vamos saindo no embalo. O Itamar acerta na mosca sobre o que que deve ser proibido, afinal: Uma saudade tão má/ De uma pessoa tão boa…

Olha, a parte mais importante deste programa foi esta aqui ó: Com o relativismo, a justiça fica à mercê dos que tiverem o poder de criar opinião e de impor essa opinião aos outros. Por isso é tão forte a guerra de narrativas que estamos assistindo, com cada parte tentando forçar seus valores morais para fazer com que a lei reflita esses valores e os imponha sobre as outras partes. E os inflexíveis entram em conflito com os flexíveis. Mas… flexíveis em relação a quê, hein? O mesmo lado flexível que é contra a pena de morte, é a favor do aborto. O mesmo lado inflexível que é contra o aborto, é a favor da pena de morte. E com um monte de gente no meio…

Tá vendo como é complicado?

Com o hesitante Lalá Moreira na técnica, a libertária Ciça Camargo na produção e eu, este conservador, Luciano Pires, na direção e apresentação.

Estiveram conosco o ouvinte Marcio Alves, duas visitas, o Alexandre e a Talita, Alfonso Aguiló Pastrana, Zé Ramalho, Egberto Gismonti, Bardot Mobile e Itamar Assumpção com Zélia Duncan.

Este é o Café Brasil. De onde veio este programa tem muito mais. Visite para ler artigos, para acessar o conteúdo deste podcast, para visitar nossa lojinha no … portalcafebrasil.com.br.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. Quem estiver fora do país, é o: 55 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.

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Para o resumo deste programa, portalcafebrasil.com.br/585.

Conteúdo provocativo, grupos de discussão e uma turma da pesada, reunida para trocar ideias de forma educada, compartilhando conhecimento e crescendo junto!

E para terminar, uma frase do Cardeal Ratzinger, lembra dele, hein? O ex-Papa?

Estamos nos movendo na direção de um relativismo que não reconhece nada como certo e que tem como seu maior objetivo o ego e o desejo dos indivíduos.