A periferia não é de esquerda
Bruno Garschagen - Ciência Política -“Como ousam pensar diferente de nós? Como ousam querer se virar por conta própria e não com a nossa ajuda?” – é a conclusão dos pesquisadores da Fundação Perseu Abramo
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A pesquisa qualitativa divulgada recentemente pela Fundação Perseu Abramo, entidade do Partido dos Trabalhadores, constatou que as pessoas que moram nas periferias de São Paulo não pensam como a esquerda gostaria. Esse aspecto, que pode ser verificado nas comunidades de outras cidades brasileiras, parece ter irritado os autores do levantamento, cujas conclusões combinam ressentimento com reprovação. O tom geral da apresentação dos resultados é: “como ousam pensar diferente de nós? Como ousam querer se virar por conta própria e não com a nossa ajuda?”
São muitos os exemplos em que essa postura manifesta-se explicitamente na pesquisa. Reparem: “A cisão entre ‘classe trabalhadora’ e burguesia também não perpassa pelo imaginário dos entrevistados: Trabalhador e patrão são diferentes, mas não existe no discurso relação de exploração: um precisa do outro, estão no ‘mesmo barco’. Destaque para o singular, porque não há ideia de coletivo”. Os autores do estudo queriam porque queriam que as respostas fossem a de um militante petista, ou seja, que os entrevistados acreditassem na “cisão entre trabalhadores e burgueses”, na “relação de exploração” entre ambos e no coletivismo.
Gente que quer melhorar de vida por esforço próprio? Para a Fundação Perseu Abramo, isso é inaceitável
Num outro tópico, a pesquisa apresenta a opinião dos entrevistados com uma crítica ideológica ao afirmar que eles “querem ter sua singularidade e valores reconhecidos dentro da competitividade capitalista” e que, embora não neguem “a importância de políticas públicas e garantia de acesso a oportunidades, (…) rejeitam aquelas políticas que aparentam ‘duvidar’ das capacidades individuais, como as cotas”. Morador da periferia não querer cota? Para a Fundação Perseu Abramo, esse pessoal só pode estar de brincadeira.
A pesquisa também definiu como “supervalorização do mérito” a visão dos entrevistados de que “para ser alguém na vida são necessários trabalho e esforço” e de que “não existem barreiras intransponíveis”. Gente que quer melhorar de vida por esforço próprio? Para a Fundação Perseu Abramo, isso é inaceitável.
Outra pérola: diante da resposta dos entrevistados de que “a burocracia e os altos impostos” são “empecilhos para o empreendedorismo”, informação confirmada por dados empíricos, a pesquisa concluiu que isso não passa de um gesto de “solidariedade (para) com os empresários” porque “muitos assumem o discurso propagado pela elite e pelas classes médias”. Morador de periferia pensar por conta própria? Para a Fundação Perseu Abramo, nem morto.
Esses são alguns exemplos de uma pesquisa realizada por uma entidade que endossa uma ideologia e agenda política em vigor no Brasil destinadas a manter parcelas da população dependentes de grupos políticos, de governos, do Estado. Porque a pobreza, para esses grupos políticos, não é um problema a ser solucionado, mas um ativo a ser preservado para garantir a existência de partidos como o PT e institutos como a Fundação Perseu Abramo.