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O vencedor leva tudo

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Luiz Alberto Machado - Iscas Econômicas -

O vencedor leva tudo

 Para compreender melhor o impacto da China

O vencedor leva tudo

 “Num mundo onde o dinheiro é rei, a tão notada abastança

chinesa – mais de 3 trilhões de dólares em reservas de moeda

estrangeira em 2012 – lhe propicia a capacidade de fazer o que

outros países não podem e ir aonde outros países não vão.”

Dambisa Moyo

 

Qualquer um de nós deve ter razões pelas quais pode se sentir um privilegiado. Pode ser por pertencer a uma família unida e caracterizada pelo amor e pela fraternidade; por ter um círculo de amigos com os quais se pode contar em todas as horas; por ter tido a oportunidade de frequentar boas escolas e faculdades; por ter uma atividade profissional que seja gratificante e recompensadora; por gozar de saúde e ter disposição para se dedicar com afinco a seus projetos e buscar firmemente seus objetivos; por poder prestar solidariedade àqueles que são de alguma forma necessitados de apoio e estímulo para solucionar seus problemas… Enfim, as razões variam de pessoa para pessoa, refletindo, de certa maneira, a formação e o conjunto de princípios e valores que acompanham o desenvolvimento físico, emocional e espiritual de cada uma.

Eu, particularmente, sou muito grato a algumas coisas que aconteceram ao longo da minha vida e que contribuíram, decisivamente, para que eu me tornasse quem eu sou, com minhas virtudes e com meus defeitos. E quem não os têm?

Afora o privilégio de ter tido sempre a sorte de ter a meu lado pessoas que me deram todo o apoio e estímulo, começando por meus pais e irmãos e continuando com minha mulher e meu filho, sou muito grato a duas coisas que tiveram papel fundamental na minha formação, os esportes e as viagens.

Os dois, aliás, estiveram ligados em boa parte do tempo, já que muitas das viagens que tive a chance de fazer ocorreram em função da prática esportiva e das competições que disputei, principalmente jogando basquete. Desde os treze anos, quando defendi a seleção brasileira de biddy basket no campeonato mundial de Porto Rico, até os torneios internacionais de veteranos, foram dezenas de viagens pelo Brasil e pelo exterior, cuja importância para minha formação intelectual é imensurável. Evidentemente, a essas viagens somaram-se muitas outras, a trabalho ou lazer, de relevância comparável.

Uma lição que pude aprender nessa trajetória é que todo e qualquer lugar que se tenha a oportunidade de visitar tem seu encanto, embora, sou obrigado a reconhecer, em alguns deles a descoberta desse(s) encanto(s) dá muito mais trabalho do que em outros.

Pois bem, e por que toda essa história?

Para dizer que de todos os países que tive a felicidade de conhecer, nenhum me impressionou mais do que a China, que visitei em 2009 coordenando um grupo de estudantes da FAAP numa simulação de uma missão empresarial.

Não que eu seja um apaixonado pelo modelo chinês, que muitos chamam de “socialismo de mercado”, cujos resultados provocam admiração em todo o mundo desde que foi adotado por Deng Xiaoping no final da década de 1970. O que mais me impressionou foi a determinação com que os chineses vêm buscando atingir seus objetivos – periodicamente revistos pelos planos governamentais – que não só permitiram superar mais de um século de dificuldades e humilhações, como também  transformaram o país na segunda potência econômica mundial, com perspectivas, de acordo com muitos analistas, de superar os Estados Unidos ainda na primeira metade deste século.

Graças a essa vigorosa arrancada a partir do final do século XX, muito se escreveu sobre a China em todo o mundo. Historiadores, economistas, cientistas políticos e jornalistas debruçaram-se sobre a experiência chinesa tentando explicar seu extraordinário desempenho recente e, não raras vezes, procurando fazer prognósticos a respeito do que virá pela frente.

Impressionado como fiquei com a China, fui um dos que leu muito a respeito, o que tem me permitido compreender relativamente bem a crescente influência do país no cenário internacional, em especial nos campos político e econômico.

Entre os livros que li a respeito da China, o que mais me chamou atenção foi O vencedor leva tudo, da economista Dambisa Moyo, que tem o sugestivo subtítulo A corrida chinesa por recursos e seu significado para o mundo.

São tantos os aspectos realçados pela autora em pouco mais de duzentas páginas de texto corrido, que fica difícil apontar os mais relevantes. Assumindo o risco de omitir vários aspectos importantes focalizados no livro, faço questão de mencionar três que considero essenciais:

1º) A inteligente estratégia adotada pelos chineses para conseguir os recursos de que seu país necessita, que mais se assemelha àquilo que os administradores chamam de “ganha-ganha”, muito diferente da exploração explícita dos projetos de colonização comuns do século XVI ao século XX, adotados por países europeus e pelos Estados Unidos, claramente identificados como “ganha-perde”. Graças a essa inteligente estratégia, a maior parte dos países, sobretudo africanos, que travaram relações com a China nas últimas décadas, percebem os chineses como parceiros e não como exploradores ou imperialistas.

2º) A extensão dos desafios que o mundo tem pela frente, considerando, de um lado, a escassez de alguns recursos-chaves para o abastecimento da população do planeta, e, de outro, o funcionamento dos mercados de commodities e dos fluxos internacionais de capitais, bem como as mudanças geopolíticas que isso tem provocado.

3º) Em meio à avalanche de notícias envolvendo a corrupção na Petrobras, merece ser reproduzido um trecho do subcapítulo intitulado Petróleo, liberdade e corrupção, mostrando que o problema da corrupção está longe de ser privilégio brasileiro:

“A facilidade com que funcionários de governos desviam dinheiro do petróleo para suas contas pessoais explica por que alguns dos países mais ricos em petróleo no mundo figuram também como os mais corruptos. Segundo o Transparency International Corruption Perceptions Index de 2011 (Índice de Percepção da Corrupção, da Organização Não Governamental Transparência Internacional), grandes produtores de petróleo como Nigéria, Indonésia, Angola e Iraque estão entre os países mais corruptos do mundo. A evidência simplesmente reflete o fato de que grande parte do assim chamado rent-seeking (um termo econômico para esquemas de corrupção e lobbies) é impulsionada pela renda representada pelo petróleo.”

 

Iscas para ir mais fundo no assunto 

Referências e indicações bibliográficas

DAMAS, Roberto Dumas. Economia chinesa: transformações, rumos e necessidade de rebalanceamento do modelo econômico da China. São Paulo: Saint Paul Editora, 2014.

MOYO, Dambisa. O vencedor leva tudo: a corrida chinesa por recursos e seu significado para o mundo. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. 

TREVISAN, Cláudia. China: o renascimento do império. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.

______________ Os chineses. São Paulo: Contexto, 2009.

Referências e indicações webgráficas 

MACHADO, Luiz Alberto. China em foco. Disponível em http://www.cofecon.org.br/noticias/colunistas/luiz-machado/2912-china-em-foco.

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