Onde foi que erramos?
Luciano Pires -Acabo de lançar meu sétimo livro: Me Engana Que Eu gosto. Escrito com base em meus princípios, que posso resumir assim: acredito que a sociedade não pode viver fora da lei e que a ordem é fundamental para o respeito aos direitos individuais e coletivos. Acredito que os fins não justificam os meios, que a anarquia, a indisciplina e o desrespeito à autoridade constituída são contrários ao espírito democrático. Que o governo não deve se intrometer na vida das pessoas, a não ser na regulamentação de algumas – eu disse algumas – atividades que precisam de um balizamento. Acredito na iniciativa individual, nas privatizações, na democracia representativa, na propriedade privada. Acredito que toda violação da ordem jurídica é um ataque à democracia. Acredito que a lei deve prevalecer sobre a vontade das pessoas ou os interesses de grupos. Abomino a pregação ideológica nas escolas, a militância partidária na imprensa e a intolerância aos que pensam diferente. Acredito na liberdade individual. Acredito em não fazer aos outros o que não quero que façam a mim. Acredito no respeito às opiniões e no direito das pessoas fazerem suas escolhas pessoais.
Resumindo: quero um mundo melhor, igualzinho a você. Talvez divirjamos sobre a forma de chegar lá, e isso deve ser discutido. Mas no final, queremos o mesmo.
Esses são os princípios que balizam o Me Engana Que Eu Gosto, no qual discuto um tema que há muito me incomoda: quarenta anos atrás, entre 1975 e 1977 eu estava nas ruas, no vigor de meus vinte e poucos anos, com cartazes nas mãos, correndo do Coronel Erasmo Dias e gritando “abaixo a repressão” e pela volta do irmão do Henfil. Eu era um dos garotos que sonhavam com uma mudança no país. E hoje, depois que a geração que estava nas ruas nos anos 1970 assumiu o poder, vejo que aqueles sonhos não se concretizaram.
Mais incomodado ainda fico ao perceber que aquele Brasil unido que sonhávamos hoje está dividido, repleto de brasileiros ressentidos, agressivos e, pior, desesperançosos.
Onde foi que erramos?
Desconfio que, ao amadurecer, aqueles jovens começaram a trabalhar, tiveram filhos e descobriram que para mudar as coisas não basta fazer barulho. E ao entrar no sistema, se acomodaram e passaram a agir como Belchior cantava naquela época: “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. E os políticos que representavam aqueles sonhos, ao tomar o poder, revelaram-se iguais ou piores que os que combatiam. Ver Lula abraçado a Paulo Maluf, José Sarney e Collor é a síntese dessa condição.
Pois é isso. Quero refletir sobre o que fizemos de errado para que a nova geração não repita nossos erros.
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