Paradoxo?
Fernando Lopes - Iscas Politicrônicas -“Paradoxo” é o nome de uma interessante figura de linguagem, utilizada para enfatizar uma frase com palavras aparentemente inconciliáveis. Um bom exemplo é o título do filme Eyes Wide Shut (Olhos Escancaradamente Fechados), porcamente traduzido no Brasil por De Olhos Bem Fechados. A tradução, ignorante, tirou todo o impacto do título.
Ocorre um outro tipo de paradoxo político-social, muito ruim, no País: Um silêncio ensurdecedor. Significa que o silêncio de alguns (ou mesmo de muitos) ante o absoluto descalabro do governo federal, que varia da incompetência geral à corrupção irrestrita, dá a entender uma série muito interessante de fatos. Aliás, não dá a entender; comprova.
Em tempos pré-lulistas, greves espocavam por qualquer (ou mesmo nenhum) motivo. Sindicatos saíam às ruas pedindo a cabeça de FHC por tudo e por nada. Sem-terra e outro 300 tipos de “sem”, idem. Qualquer motivo era motivo para fechar estradas, incendiar pedágios, invadir prédios públicos, queimar pneus, destruir patrimônio do povo – o mesmo povo que eles juravam e juram defender. De quebra, desejavam a morte lenta a qualquer um que classificassem como “neoliberal”; em linguagem lulista, um “inimigo do povo”. Nunca vou esquecer de uma tarde quente, no centro de Bauru/SP, em 1996, em meio a uma greve de bancários, na qual um sujeito que se dizia sindicalista distribuía bombons a qualquer criança que cuspisse ou agredisse um boneco representando FHC, malhado e vilipendiado sob os risos energúmenos desses “defensores do povo”. O “motivo” daquele espetáculo ridículo, de violência gratuita envolvendo crianças inocentes? O Plano Real, que salvou o Brasil – os lulistas o chamavam de “estelionato eleitoral”, sabotando-o de todas as maneiras possíveis. Sobrevivemos e derrotamos a inflação, apesar de Lula e seu apparatchik bolivariano-punguista. E como essa gente gritava, pelamor. Mesmo sem nenhuma razão.
Hoje, vejam só, temos esse silêncio ensurdecedoramente paradoxal, porém fortemente didático. Por que os mesmos petroleiros que antes faziam marchas, bloqueios e passeatas em “defesa” da Petrobrás (sendo que nada a ameaçava) não estão nas ruas hoje, para protestar diante do descalabro reinante, desse que pode ser o maior escândalo de corrupção com dinheiro público da história mundial? Não se preocupam em ver a petrolífera desaparecendo, servindo de cordão umbilical para o monstro parido pelo lulismo?
Onde estão os sindicalistas que tomavam as ruas e pediam a cabeça de FHC num prato, disparando ofensas e exigindo “justiça”, quando a corrupção era apenas uma fração da atual?
Onde está a OAB (de cuja diretoria faço parte, com muita honra), sempre tão pronta a lutar contra a incúria perpetrada nas verbas públicas, e que esteve à frente do pedido de impeachment de Collor?
Onde a ABI (Associação Brasileira de Imprensa), que ombreava com a OAB na condução do mesmo pedido de impeachment em 1993, com base em um simples Fiat Elba de origem duvidosa, e hoje nada faz ante uma roubalheira que atinge declarados (pelo próprio governo) $ 90 bilhões de reais de dinheiro 100% público?
Onde a UNE, os artistas e “intelectuais” chapa-branca, que fecham os olhos à bordelização do País para não perder a boquinha?
E, principalmente, onde a omissa e acadelada oposição, que, embora mais necessária do que nunca, parece dormir enquanto o lulismo empurra o País para o esgoto e o dinheiro público para a Suíça? É letargia pura ou medo de algum respingo da enorme mancha de óleo podre?
Será que tais ex-protagonistas acreditam que seu silêncio passa despercebido? Não adianta fingir-se de desentendidos. Nem chegar de surpresa, no final, chutando cachorro morto, quando os governantes (ir)responsáveis estiverem (espera-se) respondendo por seus crimes. É hora de tomar partido, literal e figurativamente. Porque o povo não esquecerá; o atual silêncio dos antigos gritadores está rompendo os tímpanos dos que esperam uma voz de amparo. E desse silêncio não há inocentes.