Viajar perdeu a graça
Raiam Santos -O título chamou a atenção né?
Pô, Raiam… viajar não era a melhor coisa do mundo?
Depende!
Meu trabalho aqui nesse site é desconstruir mitos.
Já desconstruí a “empresa” do filho do Lula, o comunismo, o networking, a moda de escrever biografias sobre homens negócios, o MBA no exterior, o perfeccionismo, o mercado financeiro, a vida sexual dos palestinos e também minha própria obsessão por dinheiro.
O mito de hoje é bem polêmico e vai parecer “problema de gente branca” mas se prestar bem atenção, você vai entender o meu approach.
Trabalhe 4 Horas Por Semana
Em 2014, minha vida mudou depois que eu li as histórias de Tim Ferriss no livro The Four Hour Workweek (Trabalhe 4 Horas Por Semana).
Ferriss me apresentou ao conceito de “nômade digital” e basicamente provou por A+B que dá para automatizar o faturamento e trabalhar viajando o mundo.
Na época, eu tava meio deprimido e perdido na vida.
Depois de alguns anos trabalhando de 12 a 14 horas por dia no banco, tudo o que eu sonhava era ter a liberdade de viajar para onde eu quisesse a hora que eu quisesse.
Vale lembrar que ter dinheiro é diferente de ter liberdade.
Meu chefe lá do livro Wall Street ganhava 1 milhão de dólares por ano… mas tinha zero liberdade. Resultado? Ele foi o cara mais miserável que eu conheci até hoje.
(Se não leu o Wall Street, dá uma moral lá no Amazon… acho que tu vai se amarrar no meu livro).
Já expliquei naquele post sobre visualização e programação mental ( 7 excelentes livros sobre a “Lei da Atração”) que eu consegui realizar ABSOLUTAMENTE TUDO o que eu coloquei na minha cabeça ao longo dos meus 26 anos de idade.
Se tem uma pessoa que coloca em prática o tal “Segredo” daquele livro da Rhonda Byrne, esse cara sou eu.
Ter uma vida “livre” estilo Tim Ferris foi uma dessas minhas obsessões.
No começo, parecia que eu tava andando em círculos e batendo em pedra.
Uma coisa que o Tim esqueceu de colocar no The Four Hour Workweek é a “regra dos 2 anos”.
É impressionante como TODO MUNDO que eu conheço que trabalha com internet demorou pelo menos 2 anos para conseguir deslanchar.
Então, se você encontrar por aí alguém te prometendo que você vai ganhar muito dinheiro do dia pra noite trabalhando de casa, fica esperto: ou é pirâmide (Hinode, Jeunesse, Monavie) ou é empreendedor de palco.
Demorou um pouco mais de 2 anos para o negócio realmente acontecer mas a tal liberdade chegou.
O que eu fiz? Viajei pra cacete!
A bomba que trago para você é a seguinte: viajar perdeu a graça.
Mas Raiam, você está reclamando de barriga cheia!
Você não tem ideia de quantas pessoas dariam um rim para viajar o mundo e ter a vida que você tem. Como você ousa escrever isso?
Isso aqui é um blog pessoal e eu sou muito diferente de você. Como eu falei no post anterior sobre O Lado Negro de Fazer Networking, cada um corre sua maratona.
Viajar perdeu a graça por causa de uma parada que eu vou chamar de Ciclo Interminável de Fuga.
Continua lendo aí que você vai entender o que eu quero dizer com isso.
Agências de turismo
No início do ano, entrevistei um camarada chamado João Ricardo Mendes no Podcast MundoRaiam. Se você não ouviu, depois clica lá e dá uma escutada.
João é um ex-professor de Jiu Jitsu que se ferrou nas suas 3 primeiras aventuras empreendedoras, ligou o botão do antifrágil, lacrou forte na sua 4a tentativa e ainda levantou seu irmão junto.
Com 20 e poucos anos, ele fundou uma humilde empresa de internet business chamada Hotel Urbano.
O Hotel Urbano hoje vale alguns bilhõeszinhos de reais…
Como é que o Hotel Urbano faz grana?
Vendendo pacotes de viagem para um grupo muito bem definido de pessoas. São elas:
Pessoas que passam o expediente inteiro pensando nas 18h …
Pessoas que passam a semana inteira pensando na sexta-feira…
Pessoas que passam o ano inteiro pensando nas férias…
Se identificou?
Essas mesmas pessoas parcelam tal viagem em 12x no cartão, enchem o Instagram de fotos para causar inveja nos outros e passam os três meses seguintes da viagem postando #tbt #takemeback com fotos daquela viagem.
Eu mesmo já fiz muito isso.
João é um mito. Além de ser gente boa pra caramba, ele manja muito de psicologia humana.
O cara é tão visionário que lucra, de maneira ética e justa, em cima de uma necessidade primordial da grande maioria dos seres humanos de hoje em dia: fugir da própria realidade.
O traficante de drogas
O argumento ali de cima me fez viajar na maionese sozinho aqui.
Conectei os pontinhos e acabei lembrando do papel que o traficante de drogas tem na sociedade contemporânea.
O traficante de drogas só tem emprego porque existe um mercado consumidor ali, certo?
A pessoa vai lá, compra o pozinho dela, se diverte, fica doidona por algumas horas e depois o efeito passa.
Já parou para pensar nas razões que levam essa pessoa a comprar o pozinho?
Tcharam! Esquecer dos problemas… fugir da realidade… comprar felicidade instantânea.
Mas é o seguinte: passou o efeito da droga, o problema continua ali!
Será que ela tenta bater de frente com o problema?
Nope! É muito mais fácil comprar o pozinho de novo.
Opa! Receita recorrente é o melhor amigo do dono de empresa!
A viagem do pozinho é igual a viagem da agência de turismo.
A única diferença é que uma está dentro e a outra está fora da lei.
Sabe quem mais entra nessa categoria aí de estudar a psicologia do ser humano e construir um business inteiro em cima disso?
Ele mesmo! Jorge Paulo Lemann.
O cara não é bobo, né? Se fosse bobo, não estaria na posição #1 da lista da Forbes.
Já parou para pensar que, depois que ele tomou aquele prejuízo no Banco Garantia com a crise da Rússia, ele parou de investir em empresas que mexem com commodities?
O negócio dele agora é comprar empresas que se perpetuam sem depender da variação de preços de uma certa commodity como o minério de ferro e o petróleo.
Receita recorrente neles!
Ele não tem como prever o comportamento dos preços do minério no mercado internacional… mas ele manja muito de comportamento humano.
Por que a gente bebe tanta Skol, Brahma, Stella, Leffe, Original, Corona e outras marcas da gigante Ambev?
Pra esquecer dos problemas da vida!
E esquece mesmo.
Só que quando o efeito da cerveja passa, você fica com uma ressaca braba da porra … e os problemas estão lá ainda.
A pessoa entra nesse fluxo, fica décadas e décadas comprando felicidade instantânea, não bate de frente com o problema e acaba morrendo triste e enterrando os sonhos junto com ela.
Enquanto você não morre, titio Jorge Paulo tá ganhando receita recorrente em cima do seu Ciclo Interminável de Fuga.
Por que será que ele é dono da Ambev mas não bebe cerveja?
Ele não precisa fugir de nada.
Fugindo de que, jovem?
Ok, Raiam. Tim Ferriss, agência de turismo, traficante de drogas, cervejeiro… e aí?
Nesse ano de 2016, eu visitei 24 países e só não pisei na África e na Antártida (se você contá-la como continente).
Comecei por São Paulo e escrevi aquele post polêmico Por que eu mudei para São Paulo?
Depois fui pra Genebra: O país da trambicagem: 7 bagulhos doidos sobre a Suíça.
Depois foi Los Angeles, Belo Horizonte (O Vale do Silício Brasileiro: por que eu mudei para Belo Horizonte?) e Ásia (Negão Asiático).
Só há bem pouco tempo atrás que eu descobri o porquê de tanta inquietação: minha vida aqui tava uma merda e eu estava fugindo da minha própria realidade.
Que realidade?
Primeiro, eu ainda não havia superado a ausência da minha ex.
Sim, eu era perdidamente apaixonado por uma menina, ela terminou comigo e eu demorei alguns meses para aceitar aquilo.
Depois de terminar um relacionamento longo, as pessoas perdem um pouco aquela referência e tendem a se aproximar mais da família.
Aí vem o segundo problema: eu tenho um péssimo relacionamento com meus pais desde meus 13 anos de idade e nunca tinha parado para resolver isso. Eu falo mais sobre isso no post O que a Kim Kardashian e o System of a Down têm em comum?
Toda vez que eu pisava no Rio de Janeiro, minha energia baixava de uma maneira descomunal exatamente por causa desses dois fatores.
Qual foi a minha cocaína para esquecer daqueles problemas?
Eu comprava felicidade instantânea com aquelas ofertas de vôo do Melhores Destinos que ficam pipocando na timeline do Facebook.
E depois?
Instagram neles para passar aquela imagem de vida perfeita!
Check-in na Torre Lebua de Bangkok!
Check-in no Staples Center de Los Angeles!
Check-in no Opium Mar de Barcelona!
Pode ter certeza de uma coisa: quanto mais uma pessoa posta no Instagram, mais insegura ela está por dentro.
(A exceção a essa regra é para a celebridades, blogueiras de moda e pessoas que realmente trabalham com isso.)
Acabou a viagem? Aterrissei no Galeão? Lá estava eu com meus problemas não-resolvidos de novo.
A ficha só caiu quando eu vi um post aleatório na minha timeline com a seguinte frase:
“People who love their lives don’t leave”
No bom português: pessoas que amam suas próprias vidas não fogem.
Cataplei!
E agora?
O título que te trouxe até esse humilde artigo era só para chamar a sua atenção.
Viajar não perdeu a graça e continua sendo bom pra caralho.
Mas aí… antes de passar o cartão e parcelar aquela passagem, pergunte a si mesmo se você não está fazendo aquilo para fugir de uma realidade desconfortável.
O dia que você descobrir do quê você está fugindo e bater de frente com aquilo, te garanto que você vai dar muito mais valor ao teu presente e vai parar de viver pensando nas férias.
Tamo junto!
~Raiam