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Café Brasil 575 – As horas

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Luciano Pires -

ILUSTRAÇÃO DA VITRINE: VITO QUINTANS

Quem segue o Café Brasil sabe da fascinação que temos pelo tema “tempo”. Hoje vamos tratar dele novamente. O programa ficou meio metafísico, não é pra qualquer bico, não. Mas acho que você vai gostar.

Posso entrar?

Amigo, amiga, não importa quem seja, bom dia, boa tarde, boa noite, este é o Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.

Antes de começar o show, um recado: preparamos um resumo do roteiro deste programa com as principais ideias apresentadas. É um guia para você complementar aquelas reflexões que o Café Brasil provoca. Para baixar gratuitamente acesse o roteiro deste programa no portalcafebrasil.com.br/575.

E quem vai levar o e-book Me engana que eu gosto é a Beth

“Olá  Luciano, meu nome é Beth, sou de São Paulo, Capital. É boa noite só porque neste momento eu estou na Marginal do rio Pinheiros, com chuva daquelas que trava tudo, aproveitei pra ouvir alguns podcasts atrasados porque faz pouco tempo que eu comecei a ouvir seu programa, foi me apresentado por uma amiga e fez muita diferença nas minhas manhãs e noites de trânsito em São Paulo. 

Eu sempre fiquei me indagando de tanta coisa interessante e emocionante que você compartilha, e que faz eco no meu coração, sempre me indaguei quado que eu teria coragem de gravar minha voz ou o que me motivaria finalmente te enviar uma mensagem. 

E hoje, neste tempo nublado de outono, escuro e marginal cheia de pontinhos vermelhos de carros, eu vim ouvindo sua homenagem a Rubem Alves. Eu começo a escolher às vezes… assim…olho pro título, os atrasados, eu quero dizer, né? Olho pro título e vejo se aquilo ali hoje, falaria ao meu coração, se faz sentido, talvez seja interessante… enfim, vou assim meio aleatoriamente mesmo. E Rubem Alves descendo as mensagens… assim… é… hoje eu escolhi ouvir , porque Rubem Alves pra mim… eu tenho uma saudade do Rubem Alves como se fosse alguém que convivesse comigo. Desculpa. Mas… ele foi realmente alguém desconhecido do campo físico que fez muita diferença na minha vida, há muitos anos atrás, digo assim, acho que quase vinte, mais de vinte anos.

Eu cheguei em São Paulo, eu sou carioca, cheguei em São Paulo há 25 anos atrás, sozinha, naquela de tentar a vida profissional, essas coisas. E há uns vinte, eu fui apresentada a um livro dele por uma colega de trabalho. Eu li, aquilo entrou dentro de mim como se alguma coisa dissesse assim: uau! Alguém me entende. Alguém pensa no que eu penso, alguém chora com o que eu choro, alguém se aflige com o que eu me aflijo, alguém tem uma história parecida com a minha, porque assim… eu também sou de origem protestante, num universo onde ser evangélico não era moda, era uma coisa bem tensa assim, com discriminação, um monte de coisa difícil que eu passei, tiveram de verdade uma alienação na pior versão das palavras. Mas, de certa forma esse cristianismo, essa fé, essa coisa… o que tinha de bonito nisso, entrou dentro de mim, que hoje eu acredito que é realmente o que eu chamo de Deus dentro de mim. O Deus que vive em mim entrou por essa porta do protestantismo e ficou, independente da porta que entrou, habitando em quem eu sou. Então assim, ler Rubem Alves sobre aquilo foi mais ou menos assim: caramba! Quer dizer que essa emoção que eu sinto de ter a fé que eu tenho é possível e alguém tem. 

E daí em diante eu nunca mais parei de ler e tudo que eu lia e ainda leio do que eu deixei de ler enquanto ele vivia, ainda causa coisa, essa emoção como se… como eu pude não ter dado um abraço físico nesse homem.  Desculpa, Luciano. 

Obrigada por essa riqueza dessa homenagem e obrigada por tudo, na verdade. Seu programa é bárbaro. Essa é a sua missão mesmo sabe? Eu invejo. Numa inveja super branca e pura, se ela existe, o que você faz. Porque… nossa… é muito legal. Parabéns, Deus te abençoe e te use sempre, sempre e sempre. Continua colocando teu coração nisso e em tudo que você fizer porque é pra isso que a gente está por aqui. Um abraço muito forte, fica com Deus”. 

Ah, Beth, quanta emoção, quanta inveja boa, viu? No fim das contas você fala de aproveitar as horas, cada minuto, cada segundo, para fazer com que valha a pena, não é? E fala de como podemos tocar o coração um do outro. Olha, em homenagem a você eu trarei neste programa, quem? Rubem Alves, tá bem? Eu dei esse abraço nele, viu? Sinta-se abraçada por mim e, por tabela, um pouquinho pelo mestre…

Muito bem. A Beth receberá um KIT DKT, recheado de produtos PRUDENCE, como géis lubrificantes e preservativos masculino e feminino. PRUDENCE é a marca dos produtos que a DKT distribui como parte de sua missão para conter as doenças sexualmente transmissíveis e contribuir para o controle da natalidade.  O que a DKT faz é marketing social e você contribui quando usa produtos Prudence. facebook.com/dktbrasil

Vamos lá então! Hoje tem visita aqui. O Guto Nascimento junto com o Lalá. Vamos botar esses marmanjos aqui. Vamos lá. Vem os dois aqui.

Na hora do amor, use

Lalá e Guto – Prudence.

Luciano – Quando?

Lalá e Guto – Toda hora!

E você agora tem um ambiente para mergulhar mais fundo em conteúdos para o crescimento pessoal e profissional: conheça o Café Brasil Premium, a nossa “Netflix do Conhecimento”. A gente tem ali dentro uma série de sumários, livros, vídeos, podcasts, áudios… ih cara! Tem conteúdo pra mais de metro. É uma festa para quem quer crescer. Acesse cafebrasilpremium.com.br, conheça nossa proposta , junte-se aos assinantes que já estão viajando por lá.

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Conteúdo extra-forte.

Outro dia, por acaso, assisti a um filme na TV a cabo chamado Questão de tempo, do diretor Richard Curtis. É uma comédia romântica despretensiosa e interessante, que eu comecei vendo sem nenhuma expectativa e…bem…. vou encurtar a história, cara. Quando filme terminou eu estava minha sala, sozinho, no escuro, chorando que nem criança. E continuei a chorar no banheiro. Não me lembro de ter sentido algo assim com nenhum outro filme.

Tá certo, é uma questão de contexto, do momento que vivia, eu estava para completar 60 anos, meu pai ia completar 90, David Bowie havia falecido e eu mergulhei num programa emocionante em homenagem a ele… eu estava com a cabeça a mil… e esse filme serviu como um catalizador.

O filme conta a história de Tim um rapaz que ao completar 21 anos recebe do pai a notícia de que os homens de sua família conseguem voltar no tempo. O jovem decide então retornar para a noite de ano novo quando, por timidez, deixou de beijar uma amiga. Assim ele corrige a situação. E com o desenvolver da história ele continua a usar esse poder para questões amorosas, como a paixão por uma prima da namorada de sua irmã.

Já pensou que legal, hein? poder voltar algumas horas no tempo e corrigir algo que você fez de errado? Uma palavra mal dita, uma atitude impensada, uma escolha errada?

O pai de Tim, após a revelação de que podem viajar no tempo, diz que ele não deve usar o poder para ganhar dinheiro, porque todos da família que fizeram isso foram infelizes e solitários.  Após deixar o interior da Inglaterra a caminho de Londres, Tim vive o dia a dia de um advogado na capital. É quando conhece Mary. E a história segue, não vou contar aqui para não estragar. A relação entre o pai e o filho é um dos pontos mais marcantes do filme.

Não tem como terminar de assistir sem se perguntar… Meu! O que é que eu estou fazendo com meu tempo, hein?

As horas
Luhli

A terra se encolhe diante do mar
Num tipo de medo
Que as horas que passam queriam contar
Mas guardam segredo
O tempo é um meio de nunca chegar
Tão perto da gente
Que as horas que passam queriam parar
Mas andam em frente

As ruas não saem do mesmo lugar
Mas vão adiante
E as horas que passam irão se chamar
Passado distante
Areia escorrendo entre os dedos da mão
Ventos e cheiros de cada estação
E as marcas de cada pegada no chão

Se as noites buscam auroras
As horas passarão

E os homens aflitos se fazem passar
Por homens devotos
Os homem felizes se fazem gozar
Em seus terremotos
Os homens tranqüilos preferem ficar
Sentados em lótus
Que as horas que passam irão se encontrar
Em tempos remotos

Se as noites buscam auroras
As horas passarão

Poderosa, não é? Você está ouvindo AS HORAS, com Luhli, que eu já toquei aqui algumas vezes…. cara, como eu gosto dessa música, viu? A letra que diz assim: O tempo é um meio de nunca chegar /Tão perto da gente / Que as horas que passam queriam parar / Mas andam em frente

Quando terminar de ouvir este programa, procure o filme, QUESTÃO DE TEMPO, e assista. A mensagem do filme é sobre viver sua vida na plenitude do seu potencial. Depois venha na área de comentários deste programa contar o que é que você sentiu…

O gaúcho Mario Quintana publicou no livro Esconderijos do tempo, um poema que ficou famoso, chamado Seiscentos e sessenta e seis. Ele diz assim, ó:

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente…
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Canoa, canoa
Milton Nascimento

Canoa canoa desce
No meio do rio Araguaia desce
No meio da noite alta da floresta
Levando a solidão e a coragem
Dos homens que são
Ava avacanoê
Ava avacanoê
Avacanoeiro prefere as águas
Avacanoeiro prefere o rio
Avacanoeiro prefere os peixes
Avacanoeiro prefere remar
Ava prefere pescar
Ava prefere pescar
Dourado, arraia, grumatá
Piracará, pira-andirá

Jatuarana, taiabucu
Piracanjuba, peixe-mulher
Avacanoeiro quer viver
Avacanoeiro só quer pescar

Dourado, arraia e grumatá
Piracanjuba, peixe mulher

Ah! Que clássico , cara! Essa é CANOA CANOA, de Nelson Ângelo e Fernando Brant, com Milton Nascimento no seu esplendor. Uma letra que mistura nomes de peixes amazônicos mas que nos coloca dentro de um rio, numa canoa, exatamente como faz o tempo…

Ah…se a gente pudesse voltar no tempo, viu?

Bem, você sabe que eu aqui no Café brasil pago um pau danado para o Rubem Alves, não é? E ele sabia escrever como ninguém sobre o tempo. Como num texto chamado O Relógio, que abre seu livro Tempus Fugit.

Lalá, solta outra CANOA CANOA aí, desta vez a composição de Levi Ramiro, que vai interpretar em sua viola.

Eu tinha medo de dormir na casa do meu avô. Era um sobradão colonial enorme, longos corredores, escadarias, portas grossas e pesadas que rangiam, vidros coloridos nos caixilhos das janelas, pátios calçados com pedras antigas… De dia, tudo era luminoso. Mas quando vinha a noite e as luzes se apagavam, tudo mergulhava no sono: pessoas, paredes, espaços. Menos o relógio… De dia, ele estava lá também. Só que era diferente. Manso, tocando o carrilhão a cada quarto de hora, ignorado pelas pessoas, absorvidas por suas rotinas. Acho que era porque durante o dia ele dormia. Seu pêndulo regular era seu coração que batia, seu ressonar, e suas músicas eram seus sonhos, iguais aos de todos os outros relógios. De noite, ao contrário, quando todos dormiam, ele acordava, e começava a contar estórias. Só muito mais tarde vim a entender o que ele dizia: “Tempus fugit“. E eu ficava na cama, incapaz de dormir, ouvindo sua marcação sem pressa, esperando a música do próximo quarto de hora. Eu tinha medo. Hoje, acho que sei por quê: ele batia a morte. Seu ritmo sem pressa não era coisa daquele tempo da minha insônia de menino. Vinha de muito longe. Tempo de musgos crescidos em paredes úmidas, de tábuas largas de assoalho que envelheciam, de ferrugem que aparecia nas chaves enormes e negras, da senzala abandonada, dos escravos que ensinaram para as crianças estórias de além-mar “dinguele-dingue que eu vou para Angola, dingue-ledingue que eu vou para Angola“ de grandes festas e grandes tristezas, nascimentos, casamentos, sepultamentos, de riqueza e decadência…

O relógio batera aquelas horas – e se sofrera, não se podia dizer, porque ninguém jamais notara mudança alguma em sua indiferença pendular. Exceto quando a corda chegava ao fim e o seu carrilhão excessivamente lento se tomava num pedido de socorro: “Não quero morrer…“ Aí, aquele que tinha a missão de lhe dar corda – (pois não era privilégio de qualquer um. Só podia tocar no coração do relógio aquele que já, por muito tempo, conhecesse os seus segredos) – subia numa cadeira e, de forma segura e contada, dava voltas na chave mágica. O tempo continuaria a fugir…

Todas aquelas horas vividas e morridas estavam guardadas. De noite, quando todos dormiam, elas saíam. O passado só sai quando o silêncio é grande, memória do sobrado. E o meu medo era por isto: por sentir que o relógio, com seu pêndulo e carrilhão, me chamava para si e me incorporava naquela estória que eu não conhecia, mas só imaginava. Já havia visto alguns dos seus sinais imobilizados, fosse na própria magia do espaço da casa, fosse nos velhos álbuns de fotografia, homens solenes de colarinho engomado e bigode, famílias paradigmáticas, maridos assentados de pernas cruzadas, e fiéis esposas de pé, ao seu lado, mão docemente pousada no ombro do companheiro. Mas nada mais eram que fantasmas, desaparecidos no passado, deles, não se sabendo nem mesmo o nome. “Tempus fugit“. O relógio toca de novo. Mais um quarto de hora. Mais uma hora no quarto, sem dormir… Sentia que o relógio me chamava para o seu tempo, que era o tempo de todos aqueles fantasmas, o tempo da vida que passou. Depois o sobradão pegou fogo. Ficaram os gigantescos barrotes de pau-bálsamo fumegando por mais de uma semana, enchendo o ar com seu perfume de tristeza. Salvaram-se algumas coisas. Entre elas, o relógio. Dali saiu para uma casa pequena. Pelas noites adentro ele continuou a fazer a mesma coisa. E uma vizinha que não suportou a melodia do “Tempus fugit“ pediu que ele fosse reduzido ao silêncio. E a alma do relógio teve de ser desligada.

Tenho saudades dele. Por sua tranqüila honestidade, repetindo sempre, incansável, “Tempus fugit“. Ainda comprarei um outro que diga a mesma coisa. Relógio que não se pareça com este meu, no meu pulso, que marca a hora sem dizer nada, que não tem estórias para contar. Meu relógio só me diz uma coisa: o quanto eu devo correr, para não me atrasar. Com ele, sinto-me tolo como o Coelho da estória de Alice, que olhava para seu relógio, corria esbaforido, e dizia: “Estou atrasado, estou atrasado…“

Não é curioso que o grande evento que marca a passagem do ano seja uma corrida, corrida de São Silvestre?

Correr para chegar, aonde, hein?

Passagem de ano é o velho relógio que toca o seu carrilhão.

O sol e as estrelas entoam a melodia eterna: “Tempus fugit“.

E porque temos medo da verdade que só aparece no silêncio solitário da noite, reunimo-nos para espantar o terror, e abafamos o ruído tranquilo do pêndulo com enormes gritarias. Contra a música suave da nossa verdade, o barulho dos rojões…

Pela manhã, seremos, de novo, o tolo Coelho da Alice: “Estou atrasado, estou atrasado…“

Mas o relógio não desiste. Continuará a nos chamar à sabedoria:

Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será…

Solidão
Alceu Valença

A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão é fera,
É amiga das horas,
É prima-irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.

A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão é fera,
É amiga das horas,
É prima-irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.

Eu não falei que o programa estava metafísico, hein? Você está ouvindo SOLIDÃO, o clássico de Alceu Valença, com o Chico Chico, Julia Vargas, Rodrigo Garcia e Nelson Faria…

Laurindo Rabelo, em meados dos anos 1800, escreveu um poema chamado O TEMPO. Olha! Quase 220 anos depois ele ainda nos faz pensar:

Lalá. Solta aquela!

Deus pede estrita conta do meu tempo,
é forçoso do tempo já dar conta;
mas como dar sem tempo tanta conta,
eu que gastei sem conta tanto tempo?

Para ter minha conta feita a tempo,
dado me foi bem tempo e não foi conta.
Não quis sobrando tempo fazer conta,
quero hoje fazer conta e falta tempo.

Oh! vós que tendes tempo sem ter conta,
não gasteis esse tempo em passatempo:
cuidai enquanto é tempo em fazer conta.

Mas, oh! Se os que contam com seu tempo
fizessem desse tempo alguma conta,
não choravam como eu o não ter tempo.

É, meu amigo, minha amiga Time is on my side… mas as horas passarão, viu? Um dia medimos a passagem do tempo pela posição dos astros no céu, por eles determinamos as estações do ano, os meses os anos… Os sumérios adotaram um calendário, dividindo o ano em 12 meses de 30 dias. Isso entre 5.300 e 2000 anos antes de Cristo! Os egípcios também tinham seus calendários. Medir o tempo pelo movimento dos astros… olha que coisa mais lenta né?

Agora olhe para esse relógio aí no seu celular. Talvez tenha seis casas, duas para as horas, duas para os minutos e duas para os segundos. Aquelas duas dos segundos não param cara…girando, girando, vão mostrando a vida da gente sendo consumida indo embora. Não é mais o sol girando vagarosamente no céu. Nem é aquele relógio antigo de mostrador analógico com aqueles ponteiros girando devagar, mas essa maquinha desgraçada girando alucinadamente no teu bolso. Ali o tempo não gira mais, ele se esvai, ele se esfacela.

Voltaire publicou em 1747 sua novela Zadig, nome do personagem principal, um filósofo da antiga Babilônia:

“O grande mago fez primeiro esta pergunta: entre todas as coisas do mundo, qual a mais longa e a mais curta, a mais rápida e a mais lenta, a mais esquecida e a mais lamentada, sem a qual nada se possa fazer, que devora tudo o que é pequeno e que vivifica tudo o que é grande?

Cabia a Itobad falar. Disse que um homem como ele não entendia de enigmas e que bastava-lhe vencer com a sua lança. Uns disseram que a palavra do enigma era a fortuna, outros a terra, alguns a terra, alguns a luz. Zadig disse que era o tempo. Nada é mais longo, falou, pois ele é a medida da eternidade; nada é mais curto, pois falta a todos os nossos projetos; nada é mais rápido para aquele que goza; estende-se até o infinito; todos os homens o esquecem; todos lamentam a sua perda; nada se faz sem ele; faz esquecer tudo que é indigno da posteridade e imortaliza as grandes coisas.

A assembleia concordou que Zadig tinha razão.

Zadig tinha razão… Nada é mais longo e mais curto, mais rápido e a mais lento, mais esquecido e mais lamentado que o tempo.

Faça com que o seu valha a pena.

 

O último dia
Paulinho Moska

Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria

Ia manter sua agenda
De almoço, hora, apatia
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia

Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria

Corria prum shopping center
Ou para uma academia
Pra se esquecer que não dá tempo
Pro tempo que já se perdia

Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria

Andava pelado na chuva
Corria no meio da rua
Entrava de roupa no mar
Trepava sem camisinha

Meu amor
O que você faria?
O que você faria?

Abria a porta do hospício
Trancava a da delegacia
Dinamitava o meu carro
Parava o tráfego e ria

Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria

Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria
Me diz o que você faria
Me diz o que você faria…

Então é assim olha, ao som de O ÚLTIMO DIA, com Paulinho Moska, que também já usei por aqui, que vamos saindo no embalo. No embalo não. Na batidinha.

No delicioso livro A ARTE DO TEMPO, de Jean-Louis Servan-Schreiber, ele diz que “há quem defina o tempo como aquilo que mede uma transformação. Um ovo cru leva quatro minutos para se transformar em ovo cozido. O carbono 14 leva milhões de anos para se modificar. Entre o ovo e o carbono estamos nós, tentando conceituar o tempo segundo o ritmo de nossas próprias transformações: curto prazo, longo prazo.

Pois é… Dizia Keynes que “a longo prazo estaremos todos mortos”.

Com o atemporal Lalá Moreira na técnica, a apressada Ciça Camargo na produção e eu na agonia de ver o tempo escorrendo aqui ó, entre meus dedos, Luciano Pires, na direção e apresentação.

Estiveram conosco a ouvinte Beth, a visita do ouvinte Guto Nascimento, Chico Chico, Julia Vargas, Rodrigo Garcia e Nelson Faria, Milton Nascimento, Mário Quintana, Rubem Alves, Levi Ramiro, Luhli e Paulinho Moska.

Este é o Café Brasil. De onde veio este programa tem muito mais. Visite para ler artigos, para acessar o conteúdo deste podcast, para visitar nossa lojinha no … portalcafebrasil.com.br.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. Quem estiver fora do país, é o: 55 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.

Mergulhe fundo no mundo do Café Brasil acessando:

Para o resumo deste programa, portalcafebrasil.com.br/575.

Para a Confraria, cafebrasil.top.

E para o Premium: cafebrasilpremium.com.br.

Conteúdo provocativo, grupos de discussão e uma turma da pesada, reunida para trocar ideias de forma educada, compartilhando conhecimento pra saber o que? Crescer junto!

E para terminar, uma frase de um anônimo:

Dizem-me os velhos que os tempos pioram. Mas eu não concordo. Muito melhor será dizer que os tempos continuaram sempre os mesmos. Quem piora somos nós.