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Luciano Pires -

“A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê.” É a partir dessa frase do poeta e pintor inglês William Blake que vamos revisitar um programa publicado lá, mas lááá em 2011, que tratou de um assunto especialmente importante: a dificuldade que a gente tem de enxergar o que vê. É isso mesmo, enxergar o que vê. Você tá pensando que é fácil, é?

Posso entrar?

Amigo, amiga, não importa quem seja, bom dia, boa tarde, boa noite, este é o Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.

Antes de começar o show, aquele recado: preparamos um resumo do roteiro deste programa com as principais ideias apresentadas. Um guia para você complementar aquelas reflexões que o Café Brasil provoca. Para baixar gratuitamente acesse o roteiro deste programa no portalcafebrasil.com.br/596.

E quem vai levar o e-book Me engana que eu gosto é o Lucas

“Alô Luciano. Beleza? Aqui quem está falando é o Lucas, sou de São Paulo, tenho 21 anos e sou muito fã do trabalho que vocês fazem. Ultimamente tem sido uma das poucas horinhas do meu dia aí que eu fico esperançoso, porque eu sei que tem gente que está ouvindo que sente a mesma coisa que eu sinto e que está buscando aí uma certa evolução e tal. 

Eu tenho me sentido constantemente cercado de idiotas, sabe? E o sentimento que eu tenho é que o país tem se afundado cada vez mais. Eu estava ouvindo o episódio 533, pela décima vez já e eu notei que ele continua atual, sabe?

Hoje, especificamente, o Gilmar Mendes concedeu habeas corpus pro Garotinho e me veio, imediatamente, aquele episódio na cabeça. Eu tenho acompanhado o congresso do Brasil Paralelo e vi bastante sobre, né… e me incentivou bastante a procurar a história do país, sabe? E ver a fundação que a gente teve, sabe? O que era pra gente ser e o que a gente é hoje, é muito triste. 

Eu, obviamente, não queria sentir isso, eu queria ter muito orgulho de ser brasileiro e é muito complicado, é um assunto que, na verdade, me emociona muito, porque eu não vejo as pessoas se interessando por isso, sabe cara?

Enfim! A única solução que eu tenho encontrado é trabalhar o bastante e sair daqui o quanto antes, sabe? Hoje eu não vejo ninguém assim que possa entrar e mudar, a não ser que o sistema inteiro mude. E isso, obviamente, não vai acontecer. 

Desculpe aí toda essa negatividade, mas é o que eu estou sentindo, tenho sentido isso bastante e, como eu disse, a única coisa que tem me confortado é que tem gente que ouve o Café Brasil, que está buscando mudança, e melhorar e isso é a única coisa que ainda me conforta o bastante, sabe?

É isso. Muito obrigado aí, continua fazendo esse trabalho incrível que você vem fazendo e vida longa ao cafezinho!”

Fala Lucas, que comenta o Café Brasil 533 – Que país é esse? e que está se mexendo na busca de um outro olhar para o Brasil. Lucas, visão negativa aos 21 anos de idade, cara? Ô meu! Quem tem de ter visão negativa sou eu, que tenho 61, meu! Olha, Lucas, estamos afundados em complicações, parece que pra onde olhamos tem uma encrenca, mas se você se esforçar um pouco, um pouquinho só, verá que por todo lado tem coisa fantástica acontecendo também. Mas ninguém fala a respeito. Recomendo a você que ouça o LíderCast para ver as histórias de um monte de gente empenhada em fazer acontecer. Aquele lá é o Brasil que me interessa, sabe? Aquele que não aparece na imprensa e que está aqui ao meu alcance, ao meu lado, cheio de gente interessada em, assim como você falou, buscar a mudança. Escolha com quem você vai andar e você escolhe o mundo em que vai viver. E isso começa com o olhar…

Muito bem. O Lucas receberá um KIT DKT, recheado de produtos PRUDENCE, como géis lubrificantes e preservativos masculino e feminino. PRUDENCE é a marca dos produtos que a DKT distribui como parte de sua missão para conter as doenças sexualmente transmissíveis e contribuir para o controle da natalidade.  O que a DKT faz é marketing social e você contribui quando usa produtos Prudence. facebook.com/dktbrasil.

Vamos lá então! Hoje tem visita! Vem cá, Felipe, Lalá, vem cá, vem cá.

Na hora do amor:

Felipe – Olha, olha olha!

Lalá – Que foi? Que foi?

Felipe – Prudence!

Lalá – Ah!

Chegou a hora de falar do nosso Café Brasil Premium. Tamo lá, cara! Começando o ano assim a mil, um milhão… um milhão… Um dia vai ser, cara! Por enquanto é mil cento e trinta assinantes, consumindo um conteúdo de primeira linha, cara! São sinopses de livros, é videocast, é texto aqui, texto lá… E um grupo do Telegram que pega fogo, bicho! Você tem que conhecer, vai…

cafebrasilpremium.com.br

Conteúdo extra-forte.

Eu ouvi outro dia uma reclamação de um ouvinte sobre estas revisitas a programas antigos que começamos a fazer quando o Café Brasil completou 10 anos. Ele disse que estávamos usando coisa velha. Olha, uma coisa que eu aprendi é que na internet não tem coisa velha. Tem coisa esquecida. Trazer essas coisas legais de volta é obrigação. Aliás, um dos maiores sucessos do Podcast Café Brasil nos últimos dois, três anos foi a revisita ao Pinxado no Muro, um programa de seis, sete anos atrás. Por isso… a gente vai continuar fazendo…

Em 1945, um grupo de soldados britânicos libertou do poderio germânico um campo de concentração chamado Bergen-Belsen.

O tenente-coronel Mercin Willet Gonin, condecorado pelo exército inglês com a Ordem do Serviço Distinto, relatou em seu diário o que foi encontrado ali.

Sou incapaz de uma descrição apropriada do circo de horrores em que meus homens e eu haveríamos de passar o mês seguinte da nossa vida.

O lugar é um deserto inóspito, desprotegido como um galinheiro. Há cadáveres espalhados por todo lado, alguns em pilhas enormes, às vezes isolados ou pares no mesmo local em que caíram. Levei algum tempo para me acostumar a ver homens, mulheres e crianças tombarem ao passar por eles.

Sabia-se que quinhentos deles morreriam por dia e que outros quinhentos ao dia continuariam morrendo durante semanas antes que alguma coisa que estivesse ao nosso alcance fazer causasse algum impacto.

De qualquer forma, não era fácil ver uma criança morrer sufocada pela difteria quando se sabia que uma traqueostomia e alguns cuidados a teriam salvado.

Viam-se mulheres se afogarem no próprio vômito porque estavam fracas demais para se virar de lado, homens comendo vermes agarrados a meio pedaço de pão pelo simples fato de que precisavam comer vermes se quisessem sobreviver e, depois de algum tempo, eram incapazes de distinguir uma coisa da outra.

Pilhas de cadáveres, nus e obscenos, com uma mulher fraca demais para ficar de pé se escorando neles enquanto preparava sobre uma fogueira improvisada a comida que havíamos dado a ela. Homens e mulheres agachados por toda parte a céu aberto, aliviando-se.

Em uma fossa de esgoto boiavam os restos de uma criança. Pouco depois que a Cruz Vermelha britânica chegou, embora talvez sem ter nenhuma relação esse fato, chegou também uma grande quantidade de batom. Não era em absoluto o que queríamos. Clamávamos por centenas e milhares de outras coisas. Eu não sei quem pediu batom.

Gostaria muito de descobrir quem fez isso, pois foi um golpe de gênio, de habilidade pura e natural. Creio que nada contribuiu mais para aqueles prisioneiros de guerra que o batom.

As mulheres se deitaram na cama sem lençol e sem camisola, mas com os lábios escarlates. Podia-se vê-las perambulando por todo lado sem nada, a não ser um cobertor em cima dos ombros, mas com os lábios bem vermelhos.

Vi uma mulher morta em cima da mesa de autópsia cujos dedos ainda agarravam um pedaço de batom. Enfim alguém fizera algo para torná-las humanas de novo. Eram gente, não mais um simples número tatuado no braço. Enfim, podiam se interessar pela própria aparência.

O batom começou a lhes devolver a humanidade. Porque, às vezes, a diferença entre o céu e o inferno pode ser um pouco de batom.

Seu balancê
Paulinho Rezende
Toninho Gerais

Quando o Canto da sereia
Reluziu no seu olhar
Acertou na minha veia
Conseguiu me enfeitiçar…

Tem veneno o seu perfume
Que me faz o seu refém
Seu sorriso tem um lume
Que nenhuma estrela tem…

Tô com medo desse doce
Tô comendo em sua mão
Nunca imaginei que fosse
Mergulhar na tentação
Essa boca que me beija
Me enlouquece de paixão
Te entreguei numa bandeja
A chave do meu coração…

Seu tempero me deixa bolado
É um mel misturado com dendê
No seu colo eu me embalo
Eu me embolo
Até numa casinha de sapê
Como é lindo o bailado
Debaixo dessa sua saia godê
Quando roda no bamba querer
Fazendo um fuzuê…

Minha deusa esse seu encanto
Parece que veio do ilê
Ou será de um jogo de jongo
Que fica no corumbandê
Eu só sei que o som do batuque
É um truque do seu balancê
Preta cola comigo porque
Tô amando você…

Quando o Canto da sereia
Reluziu no seu olhar
Acertou na minha veia
Conseguiu me enfeitiçar…

Tem veneno o seu perfume
Que me faz o seu refém
Seu sorriso tem um lume
Que nenhuma estrela tem…

Tô com medo desse doce
Tô comendo em sua mão
Nunca imaginei que fosse
Mergulhar na tentação
Essa boca que me beija
Me enlouquece de paixão
Te entreguei numa bandeja
A chave do meu coração…

Seu tempero me deixa bolado
É um mel misturado com dendê
No seu colo eu me embalo
Eu me embolo
Até numa casinha de sapê
Como é lindo o bailado
Debaixo dessa sua saia godê
Quando roda no bamba querer
Fazendo um fuzuê…

Minha deusa esse seu encanto
Parece que veio do ilê
Ou será de um jogo de jongo
Que fica no corumbandê
Eu só sei que o som do batuque
É um truque do seu balancê
Preta cola comigo porque
Tô amando você…

Lalaiá! Lalaiá! Lalaiá!
Preta cola comigo porque
Tô amando você
Tô amando você!…

Uau, cara!… Que música, né? Eu tinha de  quebrar o clima daquela história dura do batom, não e? Você ouviu João Biano e Luciana Pires interpretando Seu balancê, de Paulinho Rezende e Toninho Gerais, que foi sucesso com Zeca Pagodinho e aqui recebeu uma roupagem mais que especial… Foi gravado, mixado e masterizado no Estúdio Criasom, sabe onde? Na minha Bauru, por Josiel Rusmont.

O pesadíssimo texto que li cantes dessa canção deliciosa chama-se Deus de batom e foi extraído do livro DEUS E SEXO, de Rob Bell, que afirma que, para que a sexualidade faça sentido, em algum momento precisaremos pensar em Deus. Para entender uma coisa, precisamos explorar a outra. E um singelo batom devolvendo a humanidade, o amor próprio, a quem perdeu tudo. Enquanto alguns enxergaram o batom como um absurdo, outros o viram como o começo da salvação.

É, meu caro, minha cara, ver, é muito complicado, viu?.

Vamos mergulhar então em outro daqueles textos essenciais do mestre Rubem Alves? Ao fundo ouviremos O OLHAR PROFUNDO, de Guilherme Arantes, com ele mesmo ao piano.

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”.

Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura.

“Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões, é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que eu nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: eu tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico.

Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual aquela que lhe causou assombro: ´Rosa de água com escamas de cristal´. Não, você não está louca, não. Você ganhou olhos de poeta… Os poetas ensinam a ver”.

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria.

Quando vejo os ipês floridos, eu sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado.

Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”. Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra

Medo de olhar para o chão
Léo Cavalcanti

Pare de sofrer de antemão 
– não se julgue um cão –
Saiba que é difícil, sempre no início dá muito medo de olhar
pra si mesmo
Saiba que o ego é ilusão
– é um falso chão –
O verdadeiro ofício é se livrar do vicio
de se por um titulo e viver a esmo
Pra que se machucar com tão inútil contradição
Esse jogo insaciável de apego e aversão
Se desvalorizar é o mesmo que se super-amar
Ambos querem excluir o resto do mundo
Enquanto o seu tesouro fica preso lá no fundo

Olha que legal esse som, ainda mais logo depois de um Paulo Autran declamando Drummond… este programa é um luxo, viu? Esse é o paulistano Léo Cavalcanti , que faz parte de uma nova geração que surge com força e originalidade na Música Popular Brasileira que, apesar de todo o esforço por aí, não é só sertanejo. Você ouve MEDO DE OLHAR PRA SI, que está em seu disco de estreia, RELIGAR, lançado sabe quando? Lá no final de 2010, bicho! Léo Cavalcanti, mais um presente do Café Brasil pra você.

E continuando o texto de Rubem Alves:

Há muitas pessoas de visão perfeita mas, que nada veem. “Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa.

O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”.

Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”.

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, “seus olhos se abriram”.

Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em “Operário em Construção”, olha só: “De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa, garrafa, prato, facão, era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção”.

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas, e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam… Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que veem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa de brinquedos, os das crianças.

Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente, assim, ó: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas”.

Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver – eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. sua missão seria parir “olhos vagabundos”…

Que tal? “A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática.”

Mas esse “onde guardar os olhos” não é uma casualidade, a gente é que faz a escolha. Em que caixa você escolheu guardar seu olhar? Na de ferramentas ou na de brinquedos? Pense a respeito e lembre-se que tudo começa quando você decide estar presente por inteiro em tudo aquilo que faz. Rubem Alves falou do “satori” Zen Budista, que me remeteu a uma história da conversa de um mestre com um monge. Pergunta o monge:

– Mestre, você faz algum esforço para tornar-se disciplinado na verdade?

E o monge responde:

– Sim, gafanhoto.

– E como você se exercita nisso?

– Quando tenho fome, eu como; quando estou cansado, eu durmo.

– Ué, mas isso é o que todo mundo faz; podemos dizer então que todos estão fazendo o mesmo exercício?

– Não, gafanhoto.

– Por que, mestre?

– Porque, quando eles comem, eles não comem, mas estão pensando em várias outras coisas, e assim permitindo-se ficar perturbados; quando eles dormem, eles não dormem, mas sonham com mil e uma coisas. É por isso que eles não são como eu.

A cor do meu batom
Milton Sívans
Marilú
Luizão da Paz

Sem querer chorei por você
Sem saber estava chorando por mim
Sem notar estava chorando por nós
Pelo fim
Pintei um quadro de azul cor do céu
Pintei a flor de vermelho
A cor do meu batom
Marquei o caminho de volta
Pra você não se perder
Até cantei
Uma linda canção
Sem sair do tom
Só pra agradar a você que não me ouviu
E se ouviu
Não prestou atenção
Quero andar
Lindo leve e solto por ai
Vou sorrir
Enquanto a vida persistir
Vou cantar
Com beleza da vida
Reflorir
Levando comigo a canção
Que eu fiz
Para ir mais além
Que o sol de entrada
Outro alguém
Sem querer chorei por você
Sem saber estava chorando por mim
Sem notar estava chorando por nós
Pelo fim
Pintei um quadro de azul cor do céu
Pintei a flor de vermelho
A cor do meu batom
Marquei o caminho de volta
Pra você não se perder
Até cantei
Uma linda canção
Sem sair do tom
Olha que legal…

E é assim, ao som de Luiza Dionisio e Milton Sívans com A COR DO MEU BATOM, do próprio Milton Sívans, Marilú e Luizão da Paz… que o Café Brasil de hoje vai embora, lançando um olhar diferente sobre o mundo.

Sacou, hein? Acorde desse mundo de fantasias, essa realidade manipulada que chega a você pelas mídias, entregue-se por inteiro ao mundo que está a seu alcance. Mude o jeito de ver o mundo e você muda o mundo.

Com Lalá Moreira e seu olhar eletrônico na técnica, Ciça Camargo e seu olhar produtivo na produção e eu, Luciano Pires com meu olhar curioso na direção e apresentação.

Estiveram conosco o ouvinte Lucas, o Felipe visitando a gente aqui hoje, Rubem Alves, Léo Cavalcanti, Paulo Autran, Guilherme Arantes, e Luiza Dionisio  com Milton Sívans e, direto de Bauru, João Biano e Luciana Pires.

Este é o Café Brasil. De onde veio este programa tem muito mais. Visite para ler artigos, para acessar o conteúdo deste podcast, para visitar nossa lojinha no … portalcafebrasil.com.br.

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Mergulhe fundo no mundo do Café Brasil acessando:

Para o resumo deste programa, portalcafebrasil.com.br/596

E para o Café Brasil Premium: cafebrasilpremium.com.br.

Conteúdo provocativo, grupos de discussão, uma turma da pesada, reunida para trocar ideias de forma educada, compartilhando conhecimento e no fim, crescendo todo mundo junto!

Pra terminar, uma frase do poeta alemão Friedrich Hebbel:

Os olhos, são os lábios da alma.