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Luciano Pires -

28 de janeiro de 1986, Cabo Kennedy, Flórida. Um frio de lascar e milhares de pessoas reunidas para assistir o lançamento do ônibus espacial Challenger. Havia um clima diferente, pois entre a tripulação de 7 astronautas estava a professora Christa McAuliffe. Professora de História Americana e Estudos Sociais, Christa foi a escolhida entre 11.000 professores dos Estados Unidos que responderam ao chamado da NASA em 1984, que pretendia levar um educador ao espaço para que de lá ele desse aulas às crianças americanas, através do programa chamado Um Professor no Espaço.

O som poderoso da decolagem, deixa claro o poder daqueles motores…

E então, 73 segundos após a decolagem, a Challenger se desintegrou numa espécie de explosão silenciosa. O mundo assistiu a tragédia ao vivo, horrorizado. Os sete tripulantes morreram, e aquele acidente passou para a história como uma de suas páginas mais tristes.

Mas… acidente?

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.

Posso entrar?

A tragédia da explosão da Challenger em 1986 marcou toda uma geração. E o que fez daquela tragédia algo ainda mais aterrorizante é que ela poderia ter sido evitada.

Allan McDonald, diretor da Solid Rocket Motor Project da empresa Morton Thiokol, que a NASA contratou para fazer os motores de combustível sólido da Challenger, sabia que os anéis retentores dos motores não haviam sido testados em temperaturas abaixo de 12 graus. Havia o risco de mau funcionamento. Na noite anterior ao lançamento, a temperatura estava na casa dos 10 graus. McDonald, preocupado com o risco, pediu aos responsáveis que cancelassem o lançamento, mas não foi ouvido.  McDonald protestou e recusou-se a assinar o documento que liberaria o prosseguimento do lançamento, mas seu chefe assinou por ele.

O lançamento prosseguiu, os retentores apresentaram um defeito e a Challenger explodiu.

Por isso a palavra “acidente” não se aplica. A palavra acidente tem origem no termo latim accĭdens, que faz referência à qualidade ou ao estado que é ocasionado em algo, sem que seja parte da sua essência ou natureza. Acidente é o acaso, o casual, o inesperado que altera a ordem regular das coisas.

Quando se sabe que o acaso, o casual o inesperado pode acontecer, não é mais acaso, nem casual nem inesperado. É um risco, sobre o qual alguém deve assumir a responsabilidade.

A explosão da Challenger, portanto, não foi um acidente. Cega pelo sucesso dos lançamentos anteriores, a liderança da NASA desenvolveu uma atitude descuidada com relação aos avisos que a comunidade de engenheiros transmitia. A Agência se comprometeu com uma agenda de lançamentos impossível, mesmo antes do primeiro ônibus ir ao espaço, para conseguir obter os financiamentos. E as lideranças da agência mostraram-se cada vez mais impacientes com os atrasos técnicos provocados pela operação daquele maquinário absurdamente complexo.

Tudo isso terminou naquela fria manhã de 28 de janeiro de 1986. A tragédia fez com que o programa do ônibus espacial fosse interrompido por três anos, e a NASA mergulhasse num processo de auditoria interna que mudou a cultura da empresa.

Mas eu estou falando da NASA, de um templo mundial da tecnologia, onde trabalham as mentes mais privilegiadas do planeta, onde os processos são os mais avançados, onde tudo que o dinheiro pode comprar, existe.

E mesmo assim, uma cagada como a da Challenger acontece.

Sobradinho

Guarabyra

O homem chega, já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar
O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão
Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir
Debaixo d’água lá se vai a vida inteira
Por cima da cachoeira o gaiola vai subir
Vai ter barragem no salto do Sobradinho
E o povo vai-se embora com medo de se afogar.
Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Pilão Arcado, Sobradinho
Adeus, Adeus

Esse é o grupo ECCO, com Sobradinho, de Sá a Guarabyra. Muito apropriada… Bem, mas o que que a Challenger  tem a ver com Brumadinho, hein?

Vamos lá.

Já começa com esse  pé na porta, né? Essa é  Nana Moskouri com John Williams e as Bachianas Nº 5 de Heitor Villa Lobos. Só aqui né?

Olha! Eu conheço a Vale, viu? Já palestrei lá por diversas vezes, estive em várias unidades, tomei contato com seus processos de qualidade e de segurança. Senti na pele as exigências deles para obedecer aos padrões de qualidade e os processos de segurança. A Vale é uma puta empresa, meu! Tem ali técnicos de altíssima competência e tem de ser motivo de orgulho para o Brasil.

A Vale é a nossa NASA.

E como toda NASA, é grande, complexa, dividida em setores… É a maior mineradora de ferro do mundo, empregando cerca de 110 mil pessoas. A Vale tem 168 barragens, 59 das quais como Brumadinho, com alto potencial de dano. Bom, não vou aqui entrar em detalhes técnicos que eu desconheço e não é o objetivo deste podcast. Muito menos defender a Vale.

Eu quero aqui é o paralelo Brumadinho x Challenger.

NASA e Vale dominam as tecnologias, têm dinheiro e tem os técnicos. E têm responsabilidades sobre seus processos. Por escrito. E como é que uma cagada daquelas acontece, hein?

Olha! Talvez a sociedade esteja nos tornando insensíveis…

“Boa noite Luciano, Lalá e Ciça. Meu nome é Henrique Veloso, moro aqui em Picada Café, Rio Grande do Sul, uma cidadezinha de mais ou menos 6.000 habitantes e hoje eu resolvi gravar um áudio pra agradecer pelas noites e noites de reflexão sobre família, trabalho, cidadania e política. 

Eu estava aqui pensando, eu no auge dos meus 22, quase 23 anos, que aos 15, 16 e 17 anos  a gente acha que a vida é muito fácil, a gente se apaixona, a gente acha que está tudo garantido já, a gente não percebe que a vida não nos prepara pro que vem no passar dos anos. A vida não nos prepara a virar adultos, a encarar a realidade e a viver como pessoas que tem problemas. Esses problemas que vão acontecer ao passar dos anos, cada dia mais problemas e mais e mais, e mais,  acabam nos tornando, muitas vezes, pessoas frias, pessoas que acabam se negando a ter algum tipo de sentimento por outras.

O que machuca é que, às vezes até tu tenta gostar, viver e ficar com alguém, só que o medo de machucar ou de ser machucado, acaba sendo tão grande que tu te afasta de maneiras que tu não imagina. E acaba sendo tachado, diversas e diversas vezes de frio, grosso e até arrogante. 

Isso é uma coisa que eu senti falta ainda nos podcasts que eu já escutei. Algum que fale sobre a frieza que a sociedade nos impõe, que a sociedade nos ensina a ter.

Eu quero aqui novamente agradecer por todos os podcasts que eu já ouvi. todos mesmo. São maravilhosos, Eu, sempre que eu encontro um amigo eu recomento, eu mostro, eu escuto junto, a gente dialoga sobre o que tu falou, é maravilhoso. Só gratidão. Gratidão por tudo que eu já ouvi, por tudo que eu já passei adiante e é isso. Boa noite, bom dia, boa tarde pra vocês. Até o próximo podcast Café Brasil. Vida longa e próspera a todos vocês e ao Cafezinho.”

Grande Henrique, muito obrigado pela divulgação do cafezinho pra seus amigos, viu? Olha, meu caro, esse lance da gente sendo tornado insensível pela sociedade talvez seja o maior mal do século. Acho que de todos os séculos, viu? E se a gente não ficar atento, piora. Neste programa aqui eu acho que eu vou tangenciar esse problema. Ele fala de valores, que é o que está na fundação do problema que você cita. Um grande abraço.

Muito bem. O Henrique receberá um KIT DKT, recheado de produtos PRUDENCE, como géis lubrificantes e preservativos masculinos. Basta enviar seu endereço para contato@lucianopires.com.br.

A DKT é mais que uma empresa, é uma causa. Distribui as marcas Prudence, Sutra e Andalan, contemplando a maior linha de camisinhas do mercado, além de outros produtos como anticonceptivos intrauterinos, géis lubrificantes, estimuladores, coletor menstrual descartável e lenços umedecidos. Mas, esses são os produtos. A causa é reverter grande parte de seus lucros para projetos nas regiões mais carentes do planeta para evitar gravidez indesejada, infecções sexualmente transmissíveis e a AIDS. Ao comprar um produto Prudence, Sutra ou Andalan você está ajudando nessa missão!

facebook.com/dktbrasil

Vamos lá então!

Luciano – Lalá, na hora do amor você mais valoriza?

Lalá – Prudence, claro!

Lancei no Café Brasil premium o Podsumário do livro O CAMINHO PARA O CARÁTER, de David Brooks. Num determinado ponto o autor explica a diferença entre as virtudes do currículo e as virtudes eulógicas. Ele  fala em “résumé virtues”, as virtudes do currículo, que compreendem as habilidades profissionais que nos ajudam a ter sucesso na carreira. E em seguida ele fala de “eulogy virtues”, que são aquelas coisas que farão com que sejamos lembrados. Eu tive de ir atrás do termo “eulogia”, que vem do grego eulogeo e pode ser traduzido como “uma benção”. É uma fala benevolente, respeitosa e prudente. Pode ser um discurso fúnebre onde se exaltam as qualidades do morto. Portanto, virtudes eulógicas seriam aquelas que farão com que sejamos lembrados não por nossas habilidades técnicas, mas pelo impacto moral que causamos nos outros.

Esses tipos diferentes de virtudes também podem ser compreendidos pela metáfora dos lados opostos na natureza humana, representados por Adão 1 e Adão 2. Adão 1 busca a validação externa através do sucesso na carreira e das conquistas materiais. O Adão 2 é motivado por virtudes morais superiores, como ser reconhecido como uma boa pessoa, amorosa e que se sacrifica pelos outros. Esses dois impulsionadores estão sempre em conflito em nossas mentes, pois têm diferentes lógicas: Adão 1 encarna a racionalidade econômica, enquanto Adão 2 exemplifica a lógica da moralidade.

Nossa cultura tem a tendência de valorizar mais Adão 1 do que Adão 2 por conta das pressões da competição, os ruídos da comunicação e o foco utilitário da sociedade de consumo.  O autor então diz que se deixarmos que Adão 1 tome conta de nossa natureza, perderemos de vista os grandes significados da vida.

Alguém que valorize apenas Adão 1, focando exclusivamente na racionalidade econômica, tem uma falha de caráter.

Os valores morais do Adão 2 são fundamentais para quem pensa em construir um mundo melhor.

Então… Valores morais. Faltou na NASA essa visão de valores morais? Será, hein?  Bom, vimos que os caras lá estavam mais preocupados em garantir os financiamentos e cumprir os prazos, e terceirizaram a preocupação com a segurança dos técnicos, não é? A ponto de não dar ouvidos a um aviso de risco.

E na Vale, hein?

Você ouviu, hein? São duas as possibilidades. Ou a direção da Vale sabia dos riscos e deixou para lá ou havia riscos que a tecnologia e os processos de segurança deles foi incapaz de medir.

Parece que a alta direção transferiu para um ou mais departamentos a preocupação com a segurança.

O fato é que os indicadores de segurança, como no caso da Challenger, não eram os mais importantes pra empresa. Se fossem, o lançamento teria sido adiado. Se fossem, a população teria sido tirada da área de risco em Brumadinho.

Pode ser essa a explicação? Pode sim.

Mas nós estamos no Brasil, cara… as explicações aqui são mais prosaicas.

Você quer saber o que é que eu acho que aconteceu, hein?

Os processos estão todos lá, são claros e óbvios, por escrito, disseminados pela empresa. As ordens para que os procedimentos sejam seguidos, idem. Tem dinheiro para os investimentos, tá tudo certinho, até trombar com a capacidade de julgamento e tomada de decisão de quem está lá na ponta, os caras responsáveis pela barragem, que têm de decidir o que é urgente e o que é importante.

É importante a integridade da barragem. Do viaduto. Da pista. Do avião. Do helicóptero. Do abrigo dos jogadores. Da ciclovia.

E se surgirem indicadores de risco, o importante passa a ser urgente! Até trombar com o urgente do chefe… Que não é medido pelas providências de segurança, mas pelo resultado. Há ali uma inversão de hierarquia dos valores. Esse chefe é o cara que determina se o laudo seguirá adiante, será feito com a frequência e com os cuidados necessários. Esse chefe é o cara que diz pra NASA cancelar o lançamento, você entendeu? E se quem está acima dele não tem o mesmo senso de urgência, a mesma compreensão do risco, a Challenger é lançada. E explode.

Sacou onde eu quero chegar, hein? Não é que tem lá um bandido pensando no lucro e se lixando para o resto. Não. É que tem ali uma sequência de procedimentos, protocolos, interesses e cobranças que não estão alinhadas. Estão submetidas a uma inversão de valores, onde o mais importante é manter o financiamento e os prazos, não porque os caras sejam filhos da puta, mas porque o valor mais importante não é a segurança do astronauta ou dos moradores da cidade onde está a barragem.  A segurança não está no topo da hierarquia de valores.

O mais importante é responder pelos indicadores pelos quais cada um é cobrado. E se esse indicador não for segurança em primeiro lugar, os caras vão mandar decolar a Challenger.

Menos de duas semanas após a tragédia de Brumadinho, a Vale acionou as sirenes e fez a evacuação das áreas de risco de forma preventiva das barragens B3/B4 da Mina Mar Azul em Nova Lima, Minas Gerais. Isso gerou pânico nos moradores e turistas, como se a barragem tivesse rompido.

Ocorre que após o acidente em Brumadinho as empresas auditoras não quiseram atestar a estabilidade das barragens pois em caso de rompimento os engenheiros responsáveis poderão ser presos.

Sem o laudo exigido pelas autoridades a barragem B3/B4 passou para o nível 2 sendo necessário colocar em prática o plano de evacuação das áreas de risco. O fato é que as barragens continuam como estavam antes, mas agora a Vale precisa tomar medidas austeras de segurança para obter laudos de segurança e promover o descomissionamento das barragens rapidamente.

Os indicadores de segurança passaram para primeiro plano.

Muito bem, eu contei a história da Challenger para ilustrar como, não importa se numa pequena ou grande empresa, empregados corajosos podem ter a força de caráter para fazer o que precisa ser feito.  Pessoas corajosas estão sempre dispostas a:

– dizer a seus líderes coisas que eles precisam saber, mesmo que não queiram saber

– lutar por seus clientes e pelo negócio

– fazer coisas desagradáveis, mas necessárias

– pedir ajuda

Mas… e o medo de perder o emprego, hein? Medo de danos físicos? De prejudicar um relacionamento? Medo da humilhação?  Medo de que nada de bom aconteça como resultado?

Desesperada para provar o sucesso do programa espacial, especialmente do ônibus espacial, a NASA declarou a espaçonave operacional depois de apenas quatro testes. E se preparou para enviar um civil para o espaço – a professora Christa – no 25º voo, o da Challenger. Tendo experimentado numerosos atrasos nas missões, a NASA colocou a urgência do lançamento à frente da importância dos riscos, apoiada no sucesso dos voos anteriores e usando-os para calar os engenheiros. E essa confiança excessiva se provou fatal.

Allan McDonald, que sabia do risco dos retentores, entrou num redemoinho de acontecimentos, teve de depor para comissões, foi tirado de sua posição na empresa, malvisto pelos colegas e tratado como um pária, por ter contado a verdade. Por alguns anos viveu um inferno, até ser reabilitado e reconhecido como o cara que estava certo. A Challenger explodiu, mas Allan sabe que fez o que tinha de ter sido feito. A NASA aprendeu com a tragédia. Mudou pessoas, processos e, acima de tudo, a hierarquia de valores.

Mas, custou sete vidas.

Por aqui, nós já sabemos que nada aprendemos com Mariana, que custou 19 vidas. Tivemos agora Brumadinho, que custou mais de 300.

Eu espero que a turma da linha de frente, aqueles que terão de segurar a próxima barragem no peito, faça o que tem de ser feito. Não se cale, grite alto, vá para imprensa, corra um risco pessoal, que pode sair bem caro individualmente, mas salvar a vida de algumas centenas.

A resposta se esse risco pessoal vale ou não a pena é que determinará seu caráter.

Mother nature’s son
John Lennon
Paul McCartney

Born a poor young country boy
Mother Nature’s son
All day long I’m sitting singing songs for everyone.
Sit beside a mountain stream
See her waters rise
Listen to the pretty sound of music as she flies.
Find me in my field of grass
Mother Nature’s son
Swaying daises sing a lazy song beneath the sun.
Mother Nature’s son.

Filho da mãe natureza

Nascido um pobre menino do campo
Filho da Mãe Natureza
O dia inteiro, fico sentado cantando canções para todos
Sentado ao lado de uma nascente da montanha
Vejo suas águas surgirem
Ouço a bela música vendo as águas correrem
Encontro-me na grama do campo
Filho da mãe Natureza
Margaridas balançam cantando uma suave canção sob o sol
Filho da Mãe Natureza

É assim, ao som de MOTHER NATURE´S SON, de Lennon e McCartney, com Sá, Rodrix e Guarabyra no estilo Crosby, Still and Nash que encerramos mais esta edição do Podcast Café Brasil.

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí ó, completando o ciclo.

De onde veio este programa tem muito mais, especialmente para quem assina o cafebrasilpremium.com.br, a nossa “Netflix do Conhecimento”, onde você tem uma espécie de MLA – Master Life Administration. Então acesse cafedegraca.com e experimente o Premium por um mês, sem pagar.

O conteúdo do Café Brasil pode chegar ao vivo em sua empresa através de minhas palestras. Acesse lucianopires.com.br e vamos com um cafezinho ao vivo?

Para o resumo deste programa, acesse portalcafebrasil.com.br/657.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.

Pra terminar, eu repito aqui a frase de Miguel de Cervantes:

O valor é uma virtude posta entre dois extremos viciosos, a covardia e a temeridade. Mas será sempre preferível que o valoroso suba à temeridade, e não desça à covardia.