
Meu dedinho
Luciano Pires -Vivemos um momento histórico no Brasil, uma transição espetacular que apenas os historiadores, dentro de uns 100 anos, serão capazes de avaliar com precisão. As mídias sociais abriram as porteiras para a informação, a internet derrubou barreiras, passamos a ter acesso a conhecimento de todas as origens e aos poucos fomos aprendendo que o mundo talvez não seja da cor que nos foi ensinada desde a pré-escola, que “democracia” tem interpretações relativas, que aquele professor brilhante estava completamente errado. Um tsunami de novas ideias tomou corpo e muito mais gente está surgindo disposta a ajudar a mudar o Brasil para melhor.
E nesse embalo, muitos se perguntam: mas o que posso fazer? Como posso ajudar? Basta sair às ruas e fazer uns posts no Facebook?
Vou dar uns exemplos de como ser parte do rolo compressor que não vai mais deixar “eles” em paz. Entenda por “eles” os políticos que elegemos, não importa o partido, instância ou ideologia. Eles precisam de pressão. E podemos agir, sim.
Exemplo 1: Algum tempo atrás assisti um vídeo com uma palestra de uma moça chamada Gloria Alvarez, uma guatemalteca que tratou brilhantemente de como o populismo é instrumento de manutenção de poder na América do Sul. Gloria falou em espanhol e gostei tanto do vídeo que mandei legendar e publiquei no Youtube. Paguei de meu bolso a legendagem, com satisfação, pois sabia que aquela mensagem poderia ter muito mais alcance. O vídeo viralizou e ontem assisti a entrevista de Gloria na TVeja, ilustrada com alguns trechos do vídeo que mandei legendar. E me enchi de orgulho. Fiz minha parte, em silêncio, e agora assisto os desdobramentos. Fiquei feliz, sabendo que tinha um dedinho meu ali.
O vídeo legendado está aqui:
E a entrevista da TVeja está aqui:
Exemplo 2: Faço parte de um grupo no Whatsapp que discute os movimentos de combate à corrupção e de resistência aos desmandos do governo. Algumas semanas atrás um dos participantes mandou uma mensagem informando que Juca Chaves compôs uma marchinha sobre os movimentos populares que estão indo às ruas, e buscava alguma produtora que se interessasse em produzir a gravação. Entrei no circuito e coloquei o Juca em contato com meus amigos da Panela Produtora. O resultado, sob forma de vídeo, apareceu alguns dias depois e começa a viralizar. Assisti com um baita orgulho, sabendo que tem um dedinho meu ali.
Você pode assistir aqui:
Exemplo 3: Matheus Faria, procurador da Fazenda Nacional, que também faz parte daquele grupo no Whatsapp, protocolou no Senado denúncia de crime de responsabilidade contra o ministro José Dias Toffoli. Se a denúncia for acolhida, pode resultar num processo de impeachment. Acompanhei o desenvolvimento do trabalho insano do Matheus, muito bem feito e juridicamente embasado, e já fui no AloSenado ( http://bit.ly/1FHZ8nV ) e deixei minha mensagem pedindo que os senadores aceitem e julguem o pedido de impeachment. Se o processo for bem sucedido, ficarei feliz em saber que tem um dedinho meu ali. Ínfimo, minúsculo, imperceptível. Mas tá ali.
Exemplo 4: Bene Barbosa e Flavio Quintela lançaram um livro chamado Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento, com argumentos que ajudam a demolir as falácias sobre o tema. Assim que soube do livro, publiquei posts no Facebook e Twitter. E no evento de lançamento, fui abordado na fila por três leitores e ouvintes que me reconheceram, dizendo que estavam ali por causa da minha recomendação. Fiquei observando enquanto eles conversavam com os autores, satisfeito por ter um dedinho meu ali.
Exemplo 5: domingo, dia 12, vou de novo às ruas. Serei apenas mais um em meio a milhões, ínfimo, sem importância, sem qualquer impacto naquela multidão. Mas se a pressão for bem sucedida e o Brasil mudar para melhor, terá um dedinho meu ali…
Sacou? Faço minha parte, agindo da forma que posso, com os recursos que tenho. Nenhuma de minhas iniciativas é heroica ou barulhenta. O impacto que causo é ínfimo, sou só uma gotinha num oceano. Se eu escolhesse cruzar os braços e deixar que os outros se virassem, provavelmente nada mudaria.
Pode ser.
Mas esse é só o meu dedinho. Se cada um dos que se incomodam usar seu dedinho, teremos milhares, milhões de dedinhos empenhados em não deixar “eles”em paz.
E tem mais… Quando boto a cabeça no travesseiro, não há o que pague a satisfação de saber que tem um dedinho meu aqui e ali.
Onde está o seu?
Luciano Pires