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Luciano Pires -

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Viktor Frankl, foi um famoso psiquiatra vienense que sobreviveu a quatro campos de concentração e mais tarde fundou a Logoterapia, a psicoterapia centrada na vontade de obter um sentido na vida. Em sua obra, Viktor cunhou um termo muito interessante: otimismo trágico, que talvez nos ajude a passar por tempos sóbrios. Vamos nessa praia hoje.

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires. Posso entrar?

“Bom dia, boa tarde, boa noite, Luciano, Lalá, Ciça.

Eu acho que eu nunca falei pra vocês, mas eu adquiri o hábito de escutar os episódios do Café Brasil desde o início, quando eu estou fazendo atividade física. E hoje, na minha corrida diária, escutando o episódio 829, Treine a mente, veio aquela peculiar sacudida e puxão de orelha indireto que é a especialidade do Luciano.

Em pleno exercício do corpo você, Luciano, me lembra da necessidade de também exercitar o intelecto constantemente. E então veio aquela sensação de estar negligenciando minhas leituras nos últimos dois meses, com três livros enganchados sem conseguir finalizar. Talvez por falta de foco, perda de disciplina.

Então, terminei a corrida com a cabeça inchada, como diz o matuto aqui na minha terra, mas a paulada não havia parado por aí.

À noite, por acaso, quando entrei na Confraria e me deparei com outro puxão de orelha. Desta vez, direto, quando você reclamou de muitos estarem esquecendo a finalidade do grupo que é, sem dúvida, o enriquecimento intelectual.

Pois bem: se tinham diminuído os insights sobre minhas tantas leituras em detrimento de prestar atenção à discussão política inútil, larguei o celular com remorso, abri a gaveta da cabeceira da cama e peguei o livro que estava lá a mais de um mês com o marcador um pouco além da metade.

O livro era: Como educar sua mente. Para ler e entender os grandes autores, da best seller Susan Bauer. Estou eu aqui terminando de ler quase cem páginas e chegando próximo ao fim, um verdadeiro oásis de aprendizado. Cada página se encaixa num momento de nossas vidas. A ciência do que vivemos hoje já aconteceu.

Aprendi que o passado é aquilo que não passou. Relembrei que a leitura permite elaborar uma visão de mundo, ou seja, um sistema pessoal de convicções. Que é preciso ir aos velhos livros para encontrar as novas ideias.

Como dizia Chesterton, entendi que se o homem moderno tivesse lido Dom Quixote, ele não passaria a vida lutando contra moinhos de vento. E também pude ver a evolução do pensamento humano, através do teatro em cinco atos.

Na tragédia grega e comédia romana, passando pelos mistérios e pela moralidade da Idade Média, depois pela era Shakespeare, dominando a Renascença e os homens e seus costumes guiados pela razão iluminista. Até por fim o triunfo das ideias dos românticos seguidos pelo teatro do absurdo modernista.

Obrigado a vocês que fazem o Café Brasil, por me puxar de volta à rotina saudável das minhas leituras. Depois eu mando mais iscas lá na Confraria.

Até breve e um grande abraço”.

Esse foi o Rodrigo Moraes, médio cirurgião de Campina Grande, na Paraíba! Rodrigo, muito legal o teu depoimento, meu caro. Rarararararra… o Café Brasil está te incomodando, não é? Isso é muito bom, isso é muitio bom. Especialmente quando provoca uma ação efetiva. No seu caso, foi retomar uma leitura e ganhar algo que você levará para o resto da vida. Cultura. Conhecimento. Eu fico feliz de ter sido o gatilho para essas reflexões, viu? Uma mente bem treinada é resultado de dedicação! Muito obrigado, meu caro!

Estou navegando pelas redes sociais e de repente entra um tuíte assim, ó: “Hoje eu acordei e chorei profundamente. É muito triste quando a gente sabe que falhou e não tem muito o que fazer. A vontade literalmente era a de pular da ponte mais próxima.”

Cara, quem nunca, hein?

Otimismo Trágico parece uma contradição em termos, não é? Otimismo Trágico, cara! Mas é uma postura que nos permite ver com clareza e aceitar o que é ruim, mas também estar ciente de que podemos decidir como reagir a tudo o que acontece, seja o que for.

Otimismo Trágico tem a ver com uma visão realista da realidade, realista da realidade é bom, cara,  focando naquilo que podemos mudar. Faz a perguntas fundamental: até que ponto esta situação depende de mim?

Mas para começar, vamos tratar de uma palavrinha fundamental: a esperança.

O termo “ esperança” tem origem indu-européia: spe, que significa aumentar, ter êxito, levar projetos adiante. Em latim, é spes, vem daí “esperança”: prosperar, evoluir conforme o esperado.

Outra derivação de spe é espargir, espalhar, espraiar. Espalhar sementes na terra, que era a atividade principal da agricultura, que se seguiu à caça no desenvolvimento da humanidade. E vem de spe, espalhar, o termo esperma: que carrega o espermatozóide que dará origem à vida quando combinado com o óvulo feminino.

Sacou? Esperança tem a ver com a perspectiva de construir coisas, por isso é tão importante. Tem a ver com a capacidade de dar a volta por cima.

Volta por cima
Paulo Vanzolini

Chorei, ai eu chorei
Não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim não precisava

Ali onde eu chorei
Qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei
Quero ver quem dava

Um homem de moral
Não fica no chão
Nem quer que mulher
Lhe venha dar a mão

Reconhece a queda
E não desanima
Levanta, sacode a poeira
Dá a volta por cima

Olha que delícia, cara! Esse é Jorge Aragão, interpretando a imortal Volta Por Cima, clássico de Jamelão. Você tá vendo como o samba pode falar de algo muito sério? Aliás, to precisando fazer um episódio sobre o samba…

Esperança é mais que uma ilusão. É uma mistura de otimismo com força de vontade. Quando você está na pior, sem dinheiro, aquele boleto vence hoje, você não tem a quem recorrer, cara… ainda é possível ter esperança que o problema se resolva? Olha, sempre há.

A esperança pode existir nas situações mais difíceis. Mas o que podemos dizer sobre esperança para aqueles cujas vidas foram devastadas pela guerra, pelo terrorismo, pela pobreza, pela Covid? Para aqueles que perdem o horizonte diante de uma tragédia?

O discurso motivador de esperar bons resultados e aquele mantra de que todos podemos alcançar nossos sonhos apenas com nossos próprios esforços soam vazios para quem não pode entender nem controlar as forças negativas que estão destruindo suas vidas.

“Como posso encontrar esperança e felicidade, hein? Como pode a minha vida valer a pena ser vivida, quando o sofrimento é o meu pão de cada dia?”

Que perguntas, cara… e é na esteira delas que aparecem os gurus motivadores, os coaches, os influencers que prometem levar você para o paraíso, bem baratinho, cara, oferecendo exemplos de gente que deu certo. Mas quem se concentra exclusivamente em experiências positivas de pessoas felizes é tão irresponsável quanto aquele médico que se concentra apenas nas pessoas saudáveis.

Nenhum dos modelos de motivação ou conforto existente pode ser aplicado a situações extremas em que os indivíduos só podem esperar eventos ruins e têm pouco ou nenhum controle sobre a situação aterrorizante em que vive. Indivíduos que sofrem de desesperança, cara. A gente sabe disso, passamos dois anos terríveis apavorados com a pandemia, não é? Sem horizonte, sem esperança. Em situações assim, é humano sentir-se impotente, sem esperança e aterrorizado. A adversidade que se experimenta e o terror que se enfrenta tende a ser generalizados, crônicos e além de seu controle. Dá alguma esperança, ouvir que a felicidade pode superar o sofrimento? Traz algum consolo ouvir: “Não se preocupe, seja feliz?”

Quem está na pior, no limite, não precisa de palavras vazias com base em resultados de pesquisas com indivíduos que nunca experimentaram fome, dor, desesperança. Precisa desesperadamente de abrigo, de comida, de remédios e de segurança.

Quando passar por cada dia é uma grande conquista, há pouco espaço para a confiança na própria capacidade de reação e na expectativa de resultados positivos. Quando tudo foi despojado, e nos sentimos envoltos na sombra da morte, o que precisamos é do mesmo tipo de otimismo que sustentou Viktor Frankl nos campos de concentração.

O modelo de otimismo para os indefesos e desesperados não será baseado em autoconfiança e expectativas positivas, mas em princípios existenciais e espirituais. Num mundo que parece que se esqueceu disso…

Recentemente eu publiquei um cafezinho recomendando a leitura de Viktor Frankl, especialmente seu livro Em Busca de Sentido, uma reflexão sobre sua experiência no campo de concentração de Auschwitz, durante o regime nazista na II Guerra Mundial. Frankl oferece um esboço da técnica psicoterapêutica que ele desenvolveu a partir daquela experiência, que o forçou a confrontar a escolha dura entre desespero e esperança – e a escolher a esperança.

Não sei se é possível imaginar uma situação mais desesperadora do que a de um preso desumanizado, humilhado e aterrorizado num campo de concentração, vendo seus colegas morrendo de fome, de doenças ou nas câmaras de gás e imaginando que  esse será seu destino.

Frankl detalha os horrores de Auschwitz e a corrupção moral de quem trabalhava lá. Sua filosofia não era sobre evitar problemas ou fingir que eles não existem, mas sim reconhecê-los em sua realidade sombria. Auschwitz era a realidade, impossível de ser modificada por só um indivíduo, preso, indefeso, impotente. Mas apesar dessa constatação, ou melhor, por causa dela, Frankl descreve como manter a esperança foi literalmente uma escolha de vida ou morte. Aqueles que perderam a esperança desenvolveram um fatalismo que inevitavelmente terminou em morte. Eles experimentaram um “vácuo existencial” – o termo cunhado por Frankl para uma completa perda de significado, de esperança, uma sensação de que nada realmente importava mais.

Frankl disse assim: lute contra isso e encontre uma fonte de significado, de propósito. Talvez um relacionamento com um ente querido, ou uma tarefa para qual você seja chamado. Seja o que for, viva esse significado, esse propósito e perceba o que a vida exige de você.

Frankl diz que ao escolher se apegar a um significado, a vida se desdobrará (talvez surpreendentemente!) com beleza e propósito, mesmo que o caminho seja difícil, pareça até mesmo impossível.

É meio complicado imaginar que Frankl desenvolveu sua teoria do significado da vida nas circunstâncias mais terríveis da modernidade, como prisioneiro em Auschwitz! E ele sai da experiência terrível com uma filosofia de vida profundamente esperançosa sobre como viver com amor. Afinal, a vida exige isso de nós. É claro cara, haverá sofrimento ao nosso redor, e nunca devemos desviar os olhos da oportunidade de amar aqueles que estão sofrendo. O próprio Frankl serviu a muitos em Auschwitz, incluindo inúmeros que morreram. E, no meio daquele horror, manteve a capacidade de exercer a última das liberdades humanas, de escolher o seu próprio caminho.

Frankl escolheu amar.

Paciência
Lenine
Dudu Falcão

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para
Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida tão rara
Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara, tão rara
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não
A vida não para não

Que delícia, cara! Esse é Lenine com seu clássico Paciência que nos traz uma mensagem necessária…

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Pois é… Viktor Frankl desenvolveu as bases do que foi chamado de “otimismo trágico”: para manter a esperança apesar das experiências trágicas, é preciso aprender a coragem e a tenacidade de lutar por um objetivo futuro, não importa o quão sombrio esse futuro pareça. E é aí que entra a importância de nossas experiências com com as falhas que temos ao longo da vida.  É a partir da experiência prévia de superar decepções e adversidades que aprendemos a importância de abraçar toda a vida e acreditar que algo de bom só acontecerá se persistirmos em nossos esforços.

A esperança pode, sim, existir mesmo nas situações e emoções mais difíceis. A esperança é muito mais do que uma ilusão, pois precisa de otimismo e força de vontade.

A esperança é um estado de espírito que pode ser aprendido.

Opa. Passou batido, é? Vou repetir: a esperança é um estado de espírito que pode ser aprendido.

A esperança é a crença de que o seu futuro será melhor do que o presente e que você tem a capacidade de fazer isso acontecer. Envolve otimismo e uma atitude de “posso fazer”. Essa definição de esperança é baseada na “Teoria da Esperança”, um conceito de psicologia positiva desenvolvido pelo psicólogo americano Charles Snyder. A psicologia positiva é o estudo científico do que faz a vida valer a pena. Esse ramo da psicologia se concentra no desenvolvimento de pontos fortes e traços positivos, em vez de focar só na cura das fraquezas ou doenças.

De acordo com a teoria da esperança, a esperança tem três partes distintas:

Primeiro, objetivos. Ter um objetivo é a raiz da esperança. As metas podem ser grandes ou pequenas. Você pode ter o objetivo de ir para a faculdade, de começar a praticar yoga, deperder peso ou se tornar presidente da república.

Segundo, a agência (força de vontade). Agência é a capacidade de agir, de se manter motivado para atingir seu objetivo. Envolve acreditar que coisas boas virão como resultado de suas ações.

E Terceiro, vem os caminhos. São as rotas específicas que você desenvolve para atingir seus objetivos. Se o seu primeiro caminho não funcionar, você se empenhará em encontrar um novo caminho. As pessoas com alta esperança entendem que os obstáculos são inevitáveis e que pode levar várias tentativas para alcançar seus objetivos.

Sacou? Ter um objetivo claro, ter a força de vontade e encontrar caminhos para chegar lá. Isso tudo constrói a esperança.

Mas afinal, a esperança é uma emoção, hein?

Olha, embora a esperança certamente envolva nossas emoções, a esperança em si não é uma emoção. A esperança é uma maneira de pensar é um jeito de ser.  E se é um modo de pensar e um jeito de ser, significa que, vou repetir: a esperança pode ser ensinada.

A esperança também é diferente de um mero desejo. A esperança envolve ação. Agir em direção a um objetivo. Já o mero desejo está fora do seu controle. Por exemplo, se você está em um cinema e diz: “Espero que o filme seja bom”, isso é um desejo, não é uma esperança, porque você não tem controle sobre o filme. Entendeu? Você tem de ter esperança sobre aquilo que você pode impactar.

Rererererer caiu o disjuntor, é? Pois é…

Com base nos escritos de Viktor Frankl, Paul Wong, Professor e Diretor de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Aconselhamento do Tyndale University no Canadá,  identificou cinco componentes essenciais que compõem o Otimismo Trágico:

  • Primeiro, a Aceitação – Aceitar o sofrimento é parte inevitável da vida. Aceite o sofrimento como nosso professor em vez de nosso inimigo – ao fazê-lo, você adquire sabedoria sobre viver e morrer. Aceite também sua vulnerabilidade e mortalidade. A vida poderia ser arrancada de nós a qualquer momento.
  • Segundo, a Afirmação – maior apreciação da vida e do seu significado. Aprecie a vida e todas as suas possibilidades. Afirme e descubra o significado positivo em uma situação difícil.
  • Terceiro, a Coragem – Esteja preparado para se restabelecer. Esteja pronto para avançar com maior força de vontade. “Se eu pude sobreviver a esta provação, eu posso sobreviver a quase todas.” Esteja preparado para enfrentar sofrimentos futuros.
  • Quarto, a Fé – Aproveite seus recursos espirituais para fazer o impossível. Restaure a fé na justiça última e no significado último. Não importa qual sua religião, nem se você tem religião, reafirme sua fé em um Ser Supremo, em alguma foça interior que possa ajudá-lo, quando todo o resto falhar.
  • E quinto, a auto transcendência – Uma nova orientação. Um novo desafio. Dedique-se a algo, alguém ou uma causa que vá além de seu eu. Supere as questões individuais, assuma uma postura mais humanista. Sinta que você está impactando na vida de outras pessoas.

Sabe? Do jeito que eu me sinto quando ouço uma mensagem de ouvinte como a que abriu este programa de hoje aqui.

Após o atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos, esses cinco componentes ficaram evidentes em discursos, orações, entrevistas, testemunhos e, mais importante, nas ações dos trabalhadores de resgate, dos sobreviventes e dos cidadãos. O que sustentou os nova-iorquinos e todos os americanos em suas horas mais sombrias foi sua afirmação do valor inerente da liberdade, da justiça e do sentido da vida.

Apesar da aceitação da realidade sombria e das perdas devastadoras, muitos mantiveram a fé – fé nos milagres para que seu ente querido ainda pudesse estar vivo, fé na reunião no céu, fé no eventual triunfo da justiça e da bondade sobre o mal, fé nos ideais americanos e fé em Deus, seja qual fosse sua religião.

Muitos literalmente deram suas próprias vidas, em seu esforço para resgatar os outros. Nenhuma palavra foi pronunciada com mais frequência do que “coragem” – “coragem para combater a dor”, “das profundezas da tragédia ao auge da coragem” e a “coragem e determinação para perseverar”.

Coragem. Um objetivo. Aceitação da realidade. Fé. Transcendência. Juntos, esses sentimentos tecem uma ideia do significado do otimismo trágico.

Hino de Duran
Chico Buarque

Se tu falas muitas
Palavras sutis
Se gostas de senhas
Sussurros ardis
A lei tem ouvidos
Pra te delatar
Nas pedras do teu próprio lar
Se trazes no bolso
A contravenção
Muambas, baganas
E nem um tostão
A lei te vigia
Bandido infeliz
Com seus olhos de raios X
Se vives nas sombras
Frequentas porões
Se tramas assaltos ou revoluções
A lei te procura amanhã de manhã
Com seu faro de doberman
E se definitivamente a sociedade
Só te tem desprezo e horror
E mesmo nas galeras és nocivo
És um estorvo, és um tumor
A lei fecha o livro
Te pregam na cruz
Depois chamam os urubus
E se pensas que burlas
As normas penais
Insuflas, agitas
E gritas demais
A lei logo vai te abraçar, infrator
Com seus braços de estivador
Se pensas que pensas
Estás redondamente enganado
E como já disse o doutor Eiras
Vem chegando aí, junto com o delegado
Pra te levar
Pra, pra

 Cara, que maravilha! É assim, com o Hino de Duran, de Chico Buarque na interpretação maravilhosa de Oswaldo Montenegro que vamos saindo pensativos…

Por que o Hino de Duran aqui neste episódio, hein? Porque é um dos clássicos escritos para a Ópera do Malandro que Chico lançou em 1978, durante o regime militar, debaixo de censura e pressões. Chico transformou o medo em canções imortais…

Vamos começar um novo ciclo. Para muita gente, não está começando como seria desejado, as perspectivas não são as melhores, mas…  O pior dos tempos muitas vezes traz à tona o melhor de nós. Nada faz a esperança crescer mais forte do que os contratempos e adversidades, assim como nada faz as estrelas brilharem mais do que a escuridão.

Pense nisso.

Feliz 2023.

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí, que completa o ciclo.

De onde veio este programa tem muito mais, acesse mundocafebrasil.com e torne-se um assinante. Além de conteúdo original e provocativo, você vai nos ajudar na independência criativa, a levar conteúdo para muito mais gente. E 2023, meu car0, vai ser um ano de definição. Ou vai ou racha!

E se você gosta do podcast, imagine uma palestra ao vivo. E eu já tenho mais de 1000 no currículo, cara. Conheça os temas que eu abordo em lucianopires.com.br. Abra 2023 chacoalhando a tua equipe. lucianopires.com.br.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Café Brasil.

Para terminar, uma frase ou um poeminha de Carlos Drummond de Andrade:

“Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?”