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Luciano Pires -

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Quando lá fora o vendaval estronda
E do pélago iroso à voz hedionda
Os céus respondem e estremece tudo,

Do alfarrábio, que esta alma ávida sonda.
Erguendo o olhar; exausto a tanto estudo,
Vejo ante mim, pelo aposento mudo,
Passarem lentos, em morosa ronda,

Da lâmpada à inconstante claridade
(Que ao vento ora esmorece ora se aviva,
Em largas sombras e esplendor de sois),

Silenciosos fantasmas de outra idade,
À sugestão da noite rediviva
– Deuses, demônios, monstros, reis e heróis.

Silenciosos fantasmas de outra idade,
À sugestão da noite rediviva
– Deuses, demônios, monstros, reis e heróis.

Esse poema foi escrito em 1919 por Cecília Meirelles. Traduzindo esse poema para os dias de hoje, Cecília quis dizer o seguinte:

Nas noites de tempestade, principalmente quando o vento lá fora fazia o maior barulho e o mar bravio gritava tão alto que até o céu respondia e tudo parecia tremer, ela levantava o olhar do livro antigo que estava devorando, cansada de tanto ler, e via no silêncio do seu quarto, passando devagar, uma por uma, como se estivessem dando uma volta por aí, sob a luz da lâmpada, que às vezes fica fraquinha com o vento e às vezes brilha mais forte, fazendo sombras enormes e clareando tudo como se fossem sóis, uns fantasmas silenciosos de um tempo bem antigo, trazidos de volta pela vibração dessa noite agitada: deuses, demônios, monstros, reis e heróis aparecendo para ela.

Essa foi Cecilia Meirelles, aos 18 anos, em 1919.

Hoje você conhecerá um pouco de seus canteiros.

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires. Posso entrar?

“Oi Luciano. Aqui é o Sherlock. Estou passando aqui hoje pra te deixar um presente, cara. Um presente porque você merece. É tanto podcast Café Brasil bom.

Tem uns que eu acabo assim, tô com um sorrisão no rosto, outros eu estou emocionado, tem uns que eu estou até invocado, porque você sabe provocar também, né? Dar aquele puxão de orelha quando é pra dar, feito um pai amoroso que está falando pro bem do filho, né?

E eu gosto muito disso. Te acompanho há tanto tempo, os LíderCasts, seus livros… E eu fico pensando: tem que ter uma forma de retribuir, de poder fazer um pouquinho assim, porque você entrega muito, você entrega muito.

Fica parecendo que se tornar assinante só é pouco, que ser membro, te acompanhar, porque você entrega algo que todo mundo deveria estar ouvindo, precisava realmente expandir mais e mais.

E é isso que eu desejo, vida longa ao Café Brasil mesmo, que você nunca esmoreça, nunca desanime, porque o seu trabalho assim ele deve tocar muita gente assim como me toca.

Por falar em tocar, então esse é o country do Café Brasil que eu deixo de presente pra você. Você merece, cara, muito obrigado por tudo, viu?”

-Raraararrarara…. O Paulo Sherlock é um fã antigo do Café Brasil, que de quando em quando nos presenteia com uma surpresa. Paulo é um baita guitarrista e professor de música, há tempos compôs um Blues para o Café Brasil, que a gente usou em alguns episódios. E agora, ele traz o Country Café Brasil… Essa atitude do Paulo traz algumas reflexões sobre como você pode colaborar com um produtor de conteúdo nas redes sociais, se você o segue e se você o admira: tornando-se um assinante ou contribuindo com aquilo que você faz de melhor. Muito obrigado, meu caro!

O comentário do ouvinte agora é patrocinado pela Livraria Café Brasil, e o Sherlock ganhou um livro. Deixa eu ver… Pronto. “Inteligência Musical”, do empreendedor, maestro e filósofo espanhol Íñigo Pirfano. Este não é apenas um extraordinário livro sobre música, mas é um livro que oferece, a partir da música, uma infinidade de ideias perfeitamente aplicáveis a outras realidades humanas: à vida afetiva e às relações interpessoais, à capacidade de gestão e liderança, ao desenvolvimento das facetas espirituais e da própria riqueza interior… Um presentão pra você, meu caro Sherlock, como um agradecimento nosso aqui. Já sabe, né? livrariacafebrasil.com.br. Muito obrigado! Vou entrar em contato com você pra combinar o envio.

Olha, muita gente pede mais programas musicais ou então o programa de hoje aqui, que toca em poesia, exige uma pesquisa gigantesca.

Cara, eu amaria fazer só isso na minha vida, mas eu não posso fazer só isso. Tenho que fazer um monte de coisa que eu gosto menos de fazer do que eu gosto de preparar o Café Brasil. Por que?

Porque se eu não fizer, não financia o nosso negócio aqui, né? Eu tenho que buscar atividades em outros lugares o que tira o tempo que eu poderia dedicar, exclusivamente, à produção, montagem do Café Brasil.

Sabe como é que a gente faria pra resolver esse problema? E ter tempo dedicado, exclusivamente, ao Café Brasil?

Se todos que gostam do programa se tornassem assinantes, cara. Se o número de pessoas que me manda comentários dizendo: amei o programa, adoro, você mudou minha, vida, você me deixou emocionado, chorei com o seu programa. Se essa turma toda resolvesse vir e se tornar assinante do Café Brasil, a gente consegue então ter um número suficiente de pessoas pra financiar este trabalho aqui e eu poder dedicar muito mais tempo pra fazer programas como este episódio aqui que é muito especial.

Vai lá cara, dá uma parada aí agora, acesse canalcafebrasil.com.br, escolha um plano e torne-se um assinante. A gente espera.

A gente espera.

Então vamos dar hoje um mergulho na arte de Cecília Meireles. Põ, Luciano. Poesia? É cara, vem. Escuta o programa.  Dá uma pausa aí nas notícias sobre política, economia e no Big Brother, vai…

Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi tradutora, jornalista, pintora, professora… Além de, claro, escritora. Um dos mais importantes nomes da literatura brasileira do século XX, seus poemas não podem ser enquadrados em apenas uma escola literária. Enquanto jornalista, escreveu sobre educação e exerceu papel atuante em defesa de um ensino de qualidade.

Filha de um funcionário do Banco do Brasil, e de uma professora da rede pública de ensino primário, Cecília teve a vida marcada por acontecimentos trágicos. Três meses antes do nascimento da escritora, seu pai faleceu. Seus irmãos mais velhos Vitor, Carlos e Carmen também foram a óbito antes do nascimento. Somado a isso, antes mesmo de completar três anos de idade, perdeu a mãe. Cecilia foi educada pela avó materna açoriana Jacinta Garcia Benevides e pela babá, Pedrina. Seu primeiro marido, o pintor português Fernando Correia Dias, com quem se casou aos 20 anos, em 1921, e teve suas três filhas se suicidou em 1935.

Tavez todos esses dramas tenham ajudado a transformar Cecília Meireles numa das mais importantes poetas e intelectuais brasileiras, que deixou um legado significativo na literatura do Brasil. Sua obra é marcada pela delicadeza de suas imagens poéticas, pela profundidade de seus temas e por um estilo lírico que transita entre o intimismo e a reflexão sobre questões universais.

Pedrina, mãe-preta, foi a “companheira mágica de sua infância”, segundo Cecília Meireles. Era Pedrina quem lhe contava histórias do folclore do Brasil, cantava e dramatizava sobre essas narrativas. Talvez a partir da influência de Pedrina tenha surgido o interesse de Cecília Meireles pelo folclore brasileiro.

Cecília possuía olhos azuis-esverdeados, era curiosa e sozinha, sobretudo por que sua avó não a deixava sair de casa para brincar, mesmo quando era chamada por outras crianças. Durante uma entrevista, Cecília disse que “em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar e nem me espantei por perder”. A infância solitária rendeu à futura escritora dois pontos que, para ela, foram positivos: “a solidão e o silêncio”.

Com dezoito anos de idade, em 1919, Cecília lança seu primeiro livro, Espectros, de onde saiu o poema que eu li na abertura deste episódio.

Formada em magistério, Cecilia dedicou-se à educação, tanto na prática docente quanto na reflexão e produção de conteúdo sobre pedagogia.

O suicídio do marido Fernando Correia Dias em 1935, em decorrência de crises de depressão graves, deixou Cecília Meireles mais uma vez, só.

Cecília Meireles não se limitou a um único estilo poético. Ela transitou livremente entre o simbolismo, o modernismo e o que muitos classificam como uma expressão muito própria de lirismo. Suas obras são marcadas pela musicalidade, introspecção e uma profunda reflexão sobre o tempo, a morte, o amor e a solidão. Além de “Viagem”, destacam-se entre suas obras “Mar Absoluto” (1945), “Doze Noturnos da Holanda” & “O Aeronauta” (1952), e “Romanceiro da Inconfidência” (1953).

A musicalidade dos poemas de Cecilia é reconhecida. Em 1939, na obra Viagem, Cecilia publica um outro poema marcante chamado Marcha, que diz assim.

As ordens da madrugada
romperam por sobre os montes:
nosso caminho se alarga
sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
e alguma esmola de vento
quebraram as formas do sono
com a ideia do movimento.

Vamos a passo e de longe;
entre nós dois anda o mundo,
com alguns vivos pela tona,
com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
de países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
mais minha dúvida aumento.

Também não pretendo nada
senão ir andando à toa,
como um número que se arma
e em seguida se esboroa,
e cair no mesmo poço
de inércia e de esquecimento,
onde o fim do tempo soma
pedras, águas, pensamento.

Gosto da minha palavra
pelo sabor que lhe deste:
mesmo quando é linda, amarga
como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga,
é tudo que tenho,
entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho, meu alimento.

Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudades;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.

Soltam-se os meus dedos tristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.

Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.

O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento…
Não há lagrima nem grito:
apenas consentimento...

Canteiros
Fagner

Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade

Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento

Pode ser até manhã
Cedo, claro feito o dia
Mas nada do que me dizem
Me faz sentir alegria

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza

E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois senão chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta, moço, sem ter visto a vida

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza

E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois senão chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta, moço, sem ter visto a vida

Essa é Canteiros, numa versão estendida que Raimundo Fagner nunca lançou em disco.

Canteiros apareceu no álbum “Manera Fru Fru, Manera”, de 1973, e deu início a um desconforto. Boa parte da canção inclui versos do poema “Marcha”, que eu acabo de recitar. A canção foi creditada como sendo de autoria de Fagner, sem referência ao poema de Cecília Meireles. Houve reação dos familiares da poeta, mas isso era só o começo.

A música Canteiros logo se tornou um grande sucesso. Em audiência e em entrevistas Fagner sempre afirmou que tinha usado o poema de Cecília Meireles em sua música e atribuiu a falta do crédito a um problema da gravadora que deveria ter incluído a citação ao poema de Cecília e não o fez. Essa história se arrastou até o final dos anos 90…

Foi com seu livro “Viagem”, de 1939, que Cecília Meireles consolidou um lugar de destaque na poesia brasileira. Viagem lhe rendeu o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.

É nele que está um de seus poemas mais conhecidos: Motivo, que ilustra de maneira lírica a presença constante da solidão em nossas vidas, mesmo em meio à multiplicidade de experiências e sensações. Ele diz assim:

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia eu sei que estarei mudo:
— mais nada.

Reconheceu? Acho que sim….

Ah… essa combinação de Raimundo Fagner com Cecília Meirelles é irresistível. Deu muitos problemas para o cantor, mas rendeu canções que fizeram parte da trilha sonora da minha… da nossa vida.

Essa canção chama-se Motivo, são os versos de Cecilia musicados,  e apareceu no disco “Eu Canto”, de 1978. Também sem referência à autora no disco, o que aumentou a ira dos familiares de Cecília.  Em 1979, 14 mil discos e três mil fitas cassetes de Fagner foram apreendidos no Rio de Janeiro após ação judicial movida pelas três filhas de Cecília Meireles contra as gravadoras Polygram, Philips Records, Polystar e Discos CBS. Elas acusavam o cantor de usar as poesias “Motivo” e “Marcha” em suas canções.

Mas, aquele álbum tinha a canção “Revelação” que acabou se tornando um mega sucesso, e o disco foi relançado em 1979 com o nome mudado para “Quem Viver Chorará”. E sem a canção Motivo, que para mim, era a melhor do disco.

No poema, Cecília Meireles utiliza a imagem do poeta que, em meio a incertezas da existência, encontra na arte a sua verdadeira identidade e consolo, transcendendo a solidão pela criação poética.

Em novembro de 1979, Fagner admitiu, em juízo, que havia feito a adaptação do poema nos dois primeiros versos da canção Canteiros. Em 1983 a ação foi concluída com ganho de causa das herdeiras de Cecília, cabendo ao cantor, às Edições Saturno e às gravadoras Polygram, Polystar, Polifar o pagamento de uma indenização de 101 mil cruzeiros, por violação de direitos autorais. A Polygram, entretanto, continuou resistindo e apelou ao Supremo Tribunal Federal.

A polêmica foi concluída em 1999 quando a gravadora Sony Music fez um acordo com as herdeiras para a regravação da Canteiros. Isso acabou acontecendo em Fortaleza no ano de 2000, com o lançamento do disco “Raimundo Fagner ao vivo”.

Aqui uma pequena pausa para falar sobre minha Mentoria MLA – Master Life Administration, um programa de treinamento contínuo quando a gente reúneImagine o seul pessoas interessadas em conversar sobre temas voltados ao crescimento pessoal e profissional.

Imagine o seguinte, cara: uma turma que segue o Café Brasil, que curte o meu trabalho, que tem um nível muito legal, se reunindo todo mês pra conversar sobre vida, cara, sobre o mundo, pra onde as coisas vão, recebendo a visita de palestrantes, de gente que trabalha com conteúdos muito legais como filosofia, branding, marketing, política e batendo um papo ao vivo com um almoço legal, com um sarau musical, durante horas e horas.

Cara, não tem um lugar assim hoje em dia. Esse é o MLA, onde a gente forma um círculo de honra e confiança entre pessoas que buscam o bem comum. é um círculo de conspiradores.

Ainda temos vagas disponíveis, se você se interessa em estar comigo, acesse mundocafebrasil.com e clique no link para saber mais.

Olha só. Neste ponto do episódio, normalmente, eu digo que os assinantes vão receber um conteúdo exclusivo, que os não assinantes não têm. Mas hoje, inspirado pela arte de Cecília Meireles, to me sentido generoso. O que você ouvirá entre as duas vinhetas “café brasil” na sequência, é o conteúdo que só os assinantes recebem. Hoje eu abri pra todo mundo. É esse tipo de coisa que você, que não é assinante, perde…

Jura Secreta
Sueli Costa
Abel Silva

Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que eu não roubei
A jura secreta que eu não fiz
A briga de amor que eu não causei
Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada do que quero me suprime
Do que, por não saber, ‘inda não quis
Só uma palavra me devora
Aquela que o meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que eu não sofri
Só uma palavra me devora
Aquela que o meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que eu não sofri
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que eu não causei
Nada do que posso me alucina, oh
Tanto quanto o que não fiz
Nada do que quero me suprime
Do que, por não saber, ‘inda não quis
Só uma palavra me devora
Aquela que o meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que eu não sofri
Só uma palavra me devora
Aquela que o meu coração não diz, não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que eu não sofri
Só uma palavra me devora
Aquela que o meu coração não diz
Me devora…

As faixas daquele álbum proibido de Fagner, Eu Canto, que depois virou Quem Viver Chorará, incluem preciosidades, como “Jura Secreta” de Sueli Costa e Abel Silva…

Inclui também a clássica “As Rosas Não Falam”, de Cartola…

As rosas não falam
Cartola

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas
Que bobagem as rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim

E, é claro, Revelação, composição de Clodo e Clésio…

Revelação
Clodo
Clésio

Um dia vestido
De saudade viva
Faz ressuscitar
Casas mal vividas
Camas repartidas
Faz se revelar

Quando a gente tenta
De toda maneira
Dele se guardar
Sentimento ilhado
Morto, amordaçado
Volta a incomodar

Revelação tem uma história saborosíssima. Ouça este trecho da entrevista que Robertinho do Recife deu para Charles Gavin do Titãs, em seu delicioso programa O Som Do Vinil:

Que tal? É assim que a arte funciona, meu caro, com emoção.

E aí? Gostou do conteúdo extra? Todo episódio tem um, cara, mas só para os assinantes.

Não foi à toa que os versos de Cecilia apareceram nas canções de Fagner. Seus poemas têm musicalidade e ela os associava a características dos gêneros musicais como em “Serenata”, “Canção” e “Cantiga” da obra Viagem, de 1939, além de outros títulos da obra Vaga Música, de 1942, como “Chorinho”.

Ouça a musicalidade de Cantiga:

Ai! A manhã primorosa
do pensamento…
Minha vida é uma pobre rosa
ao vento.

Passam arroios de cores
sobre a paisagem.
Mas tu eras a flor das flores,
imagem!

Vinde ver asas e ramos,
na luz sonora!
Ninguém sabe para onde vamos
agora.

Os jardins têm vida e morte,
noite e dia…
Quem conhecesse a sua sorte,
morria.

E é nisso que se resume
o sofrimento:
cai a flor, – e deixa o perfume
no vento!

Que tal, hein? O poema fala que a vida é como uma rosa, mostrando que costumamos nos ligar muito no que vemos, na aparência das coisas, que no fim das contas vão sumir conforme o tempo passa. A ideia é que tudo na vida, como o dia e a noite ou nascer e morrer, mão dura para sempre. No final, o poema diz que o que realmente machuca a gente é lembrar das coisas que se foram, tipo o cheiro da rosa, mesmo depois que ela já morreu.

O poema de Cecília flui como música, e isso foi uma arte que a poeta cultivou.

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão ,
Quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e não guardo o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Esse é o poema “Ou isto ou aquilo”, onde Cecília Meireles fala sobre como a vida está cheia de escolhas. Sempre temos que decidir entre uma coisa e outra, se guardamos dinheiro ou compramos um sapato, se saímos no sol ou preferimos ficar na chuva. Cecília usa exemplos bem simples para mostrar que não dá para ter tudo ao mesmo tempo. No fim, ela diz que ainda não definiu qual escolha é a melhor, mostrando que decidir entre uma coisa ou outra pode ser bem complicado.

Fazer escolhas faz parte da vida, estamos sempre nesse dilema de tentar decidir o que é melhor, não é? Por isso é fundamental refinar sua capacidade de julgamento e tomada de decisão. E quem é que faz isso? Quem é que te ajuda? Quem? Quem?

Tema De “Os Inconfidentes”
Chico Buarque

Toda vez que um justo grita
Um carrasco o vem calar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar

Foi trabalhar para todos
E vede o que lhe acontece
Daqueles a quem servia
Já nenhum mais o conhece
Quando a desgraça é profunda
Que amigo se compadece?

Foi trabalhar para todos
Mas, por ele, quem trabalha?
Tombado fica seu corpo
Nessa esquisita batalha
Suas ações e seu nome
Por onde a glória os espalha?

Por aqui passava um homem
(E como o povo se ria!)
Que reformava este mundo
De cima da montaria
Por aqui passava um homem
(E como o povo se ria!)
Ele na frente falava
E atrás a sorte corria

Por aqui passava um homem
(E como o povo se ria!)
Liberdade ainda que tarde
Nos prometia
Por aqui passava um homem
(E como o povo se ria!)
No entanto à sua passagem
Tudo era como alegria

Toda vez que um justo grita
Um carrasco o vem calar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar
Quem não presta fica vivo
Quem é bom, mandam matar

Você ouve o Tema de Os Inconfidentes, que Nara Leão gravou em 1968. Essa canção foi composta por Chico Buarque, inspirado pelos versos do livro mais conhecido de Cecília Meireles: Romanceiro da Inconfidência, publicado em 1953.

Apesar de ser escrito em versos, Romanceiros da Inconfidência é um livro narrativo que aborda principalmente a Inconfidência Mineira. A obra contém 85 romances e está dividida em cinco partes.

Nela o narrador reflete sobre a história e as aspirações do ouro de Minas Gerais. Além disso, relata outros casos do Estado, criando uma identidade mineira com base em suas tradições e personagens históricos. A cidade de Vila Rica, agora Ouro Preto, é o centro da história.

No ano de 1789, Tiradentes, o herói, é acusado de traição. O relato identifica a perseguição ao herói e nomeia os acusados e inconfidentes. Assim, Cecília revisita e reflete sobre aquele momento da história de Minas Gerais. Por fim, fala sobre o suposto suicídio do poeta Cláudio Manuel da Costa, a execução de Tiradentes e a prisão de Tomás Antônio Gonzaga, o autor de Marília de Dirceu.

No fim das contas, “Romanceiro da Inconfidência” não é só um livro sobre um pedaço da história do Brasil. É uma obra que nos faz refletir sobre liberdade, justiça e nosso papel no mundo. E é por isso que é considerado um dos grandes trabalhos da literatura brasileira e faz Cecília Meireles ser lembrada como uma das grandes poetas do país.

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio tão amargo.

Eu não tinha estas mãos tão sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou retida
a minha face?

Esse é o poema “Retrato”, no qual Cecília Meireles fala sobre como percebeu que mudou com o tempo. Fala do rosto que vê no espelho, que agora parece calmo, triste e magro. Fala que suas mãos e coração parecem diferentes, como se tivessem perdido a força e a vida. “Retrato” é uma reflexão sobre como mudamos sem perceber e questiona quando e como essas transformações aconteceram. Cecília usa a imagem de olhar para o próprio reflexo para mostrar que está tentando entender sua própria identidade e as mudanças pelas quais passou.

Quantas vezes você já fez essa mesma reflexão diante de um espelho ou de uma fotografia antiga?

Pois é, Cecília transformou em poesia.

Como jornalista, Cecilia colaborou com diversos jornais e revistas, discutindo questões educacionais, culturais e sociais. Foi também uma das primeiras vozes a promover a literatura infantil no Brasil, tanto por meio de suas críticas quanto pela criação de obras voltadas ao público infanto-juvenil.

Ao longo de sua vida, Cecília Meireles recebeu vários prêmios e homenagens, reconhecida não apenas no Brasil, mas internacionalmente. Sua poesia foi traduzida para várias línguas, e ela realizou conferências e leituras de seus trabalhos em diversos países.

Em 1962, um câncer no estômago começa a se manifestar. Cecília morre em 9 de novembro de 1964 no Rio de Janeiro, aos 63 anos.

Vai-se a vida, resta a canção
Não foi uma canção perdida.
Ficaste no meu coração.

Queria só um sorriso.
Mas deram-me um beijo.
Perdi metade do juízo
e fui dar ao Paraíso.
São Pedro, vendo-me a cara,
dizia: “Mas que pequena!
Com uma estrela tão clara
numa boca tão morena!”

(Qual seria esse tesouro?
Seria o teu beijo?
Seria o sorriso?
Ou apenas o ouro
do meu dente siso?)

Em entrevista para o programa “As músicas que fizeram sua cabeça”, da rádio FM Cultura, de Porto Alegre, no dia 2 de janeiro de 1990, o poeta Mário Quintana respondeu sem meias-palavras a pergunta sobre quem teria lhe inspirado os versos iniciais de “Solau à moda antiga”, que dizem assim:

Senhora, eu vos amo tanto
Que até por vosso marido
Me dá um certo quebranto…

Quintana disse: “Foi a Cecília Meireles, ela era muito bonita, todo mundo era apaixonado por ela, todos nós.”

Quando perguntado sobre qual poeta considerava o mais representativo da poesia brasileira, Quintana disse assim: “Eu acho que a Cecília Meireles é a maior poeta brasileira da primeira metade do século, porque para nós outros, para disfarçar um pudor de sentimentalismo, a gente se refugia no humor, e ela nunca. Ela sempre foi poeta puro”.

O vocabulário da língua portuguesa ainda considera “poeta” apenas como substantivo masculino. Cecília nunca gostou de ser chamada de poetisa. Para ela, significava uma diminuição do seu trabalho, como se a chamassem de mulher “prendada”. Um sentido que até hoje se mantém, em oposição ao de poeta, que esse sim, teria sempre algo a dizer. O aviso de preferência está inclusive registrado em seu poema Motivo.

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Você ouve está ouvindo ao fundo as Bachianas Brasileiras nº 5 de Heitor Villa Lobos, com Plínio Fernandes e Sheku Kanneh-Mason.

Todas as músicas deste programa estão no roteiro do episódio no portalcafebrasil.com.br.

No poema Canção, Cecilia diz assim:

Nunca eu tivera querido
dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca,
e depois no teu ouvido.

Levou somente a palavra,
deixou ficar o sentido.

O sentido está guardado
no rosto com que te miro,
neste perdido suspiro
que te segue alucinado,
no meu sorriso suspenso
como um beijo malogrado.

Nunca ninguém viu ninguém
que o amor pusesse tão triste.
Essa tristeza não viste,
e eu sei que ela se vê bem…

Só se aquele mesmo vento
fechou teus olhos, também…

Cecília fala sobre alguém que tentou expressar seus sentimentos, mas acabou só conseguindo mostrar através de olhares e gestos e não por palavras. Apesar disso, a pessoa amada parece não perceber essa tristeza e amor profundos. É como se a poeta quisesse dizer algo importante, mas só conseguiu “falar” com o coração e os olhos, esperando que o outro entendesse.

No poema Improviso, de Manuel Bandeira, talvez esteja a melhor definição de Cecília Meirelles, que era sua amiga e companheira de ofício. Aliás, Cecília reinava num período em que o Brasil tinha Villa Lobos, Portinari, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Monteiro Lobato, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Di Cavalcanti, Noel Rosa, Vinicius de Moraes, Dorival Caymmi, Nelson Rodrigues… cara, é melhor eu parar. Tá me dando uma tristeza…

Desde o título escolhido para o poema em homenagem a Cecília, Manuel Bandeira deixa claro a ideia central do texto: a liberdade. Ele diz assim:

Cecília, és libérrima e exata
Como a concha.
Mas a concha é excessiva matéria,
E a matéria mata.

Cecília, és tão forte e tão frágil
Como a onda ao termo da luta.
Mas a onda é água que afoga:
Tu, não, és enxuta.

Cecília, és, como o ar,
Diáfana, diáfana.
Mas o ar tem limites:
Tu, quem te pode limitar?

Definição:
Concha, mas de orelha;
Água, mas de lágrimas;
Ar com sentimento.
– Brisa, viração
Da asa de uma abelha.

https://dlc.library.columbia.edu/catalog/ldpd:504855/bytestreams/content/content?filename=OSMAR+SOARES+DA+SILVA+FILHO.pdf

Na Tese de Doutorado em Ciência da Literatura – Poética – que Osmar Soares de Souza Filho apresentou na Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2012, chamada de “A alma ao nível da terra” (Ressonâncias do “Amém” na poesia de Cecília Meireles), encontrei uma carta que o Osmar escreveu para Cecília. Nela um trechinho que cabe muito bem para encerrar este episódio:

“Ando lendo suas cartas para o Armando Cortes-Rodrigues, Cecília, e, por elas, tenho conhecido você melhor. São todos seus os momentos de ternura entremeados pela profunda melancolia e tédio repentinos, o desejo de solidão… Eu sou de uma geração que conhece e não conhece a solidão (e cada vez mais desconhece a ternura), pois, por mais que se queira estar sozinho, isso nunca é possível…

Hoje em dia somos muito mais pessoas do que nos seus anos. E inventaram uma máquina muito útil chamada computador e com ela veio a internet, com a internet os e-mails e com os e-mails acabaram-se as cartas… Com tudo isso ficou muito obsoleto estar só. Todo o tempo estamos nos comunicando, nos falando, rindo uns com os outros… O mundo virou uma grande praça pública. Suas ousadias do seu tempo, Cecília, de ter amigos além-mar e suas reclamações de o correio demorar tanto para enviar uma carta, hoje são “balela”; não fazem mais sentido. Aliás, nem os segundos fazem sentido mais. As horas viraram minutos e os segundos desapareceram, pois, daqui pra lá é possível saber tudo o que acontece…

Só não é possível saber nada daqui para aí onde você está.”

Pois então, é assim ao som de Canteiros, com Belchior, que teve a citação à sua canção Na Hora do Almoço incluída por Fagner na letra, que vamos saindo.

Eu não trouxe o Belchior por acaso. Cara, eu to emocionado com tanto poeta…

“Liberdade – essa palavra,
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda

Cecília Meireles deixou uma obra que transcende o tempo, caracterizada por uma busca incessante pela beleza e pela verdade, através de uma expressão poética única e universal. Seu legado continua vivo, influenciando gerações de leitores e escritores. Este episódio aqui uma tímida, muito tímida amostra da obra imensa dessa mulher que, com sua poesia, nos acompanha, nos aquece, nos faz companhia nos momentos de solidão e silêncio. Do jeitinho que ela sempre quis.

Espero que esta isca aqui te inspire a buscar mais sobre Cecília Meireles.

Gostou deste episódio aqui é? Pois isso é o Café Brasil é: você nunca sabe o que vai ouvir, cara. É assim que a vida é. Junte-se a nós: acesse canalcafebrasil.com.br, escolha seu plano e venha para o barco, ampliar o seu repertório.

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí, que completa o ciclo.

De onde veio este programa tem muito mais. E se você gosta do podcast, imagine uma palestra ao vivo. Olha, eu não sou uma Cecília Meireles, mas que eu dou uma agitada, eu dou. E eu já tenho mais de mil e cem palestras no currículo. Conheça os temas que eu abordo no mundocafebrasil.com.

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E para terminar, claro, Cecília Meirelles, mas na voz dela mesma:

Aqui está a minha vida esta areia tão clara com desenhos de andar dedicados ao vento.
Aqui está a minha voz, esta concha vazia sombra que sou curtindo seu próprio lamento.
Aqui está a minha dor, este farol quebrado sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está a minha herança, este mar solitário que de um lado era amor e do outro esquecimento.