Cafezinho 611 – O funk no busão
Luciano Pires -
No Café Brasil 703 – Fogo No Hall, usei um texto de Walter Williams, que é professor honorário de economia da George Mason University. O título do artigo é “A liberdade requer coragem – inclusive para ver e ouvir o que não quer.” Ao longo do episódio eu digo assim:
Eu não sei se você reparou, mas eu nunca vi um sujeito andando com o som do carro no volume máximo tocando Vivaldi. Ou Beatles. Ou Milton Nascimento. Todos que passam estão tocando funk. Imagino que em algumas regiões seja axé. E noutras o sertanejo. Mas nunca música clássica ou o bom e velho rock´n roll.
Esse sujeito tem o direito de tocar o funk naquele volume andando pelas ruas e obrigando todo mundo a ouvir? E aquele outro que faz igual, dentro do busão?
Perturbar o sossego alheio mediante gritaria, algazarra, abuso de instrumentos musicais, sinais acústicos, dentre outras situações, é crime, nos moldes do artigo 42 do Decreto-Lei Nº 3.688 de 1941, passível de prisão simples, de quinze dias a três meses, ou então multa. Portanto, liberdade de expressão não se aplica ao zé do funk no busão. Já existem limitações claras impostas por leis de mais de oitenta anos!
Entendeu? Já existem leis para proteger você de quem extrapola a liberdade de expressão.
A liberdade requer coragem. Ser um genuíno defensor da liberdade de expressão implica aceitar que algumas pessoas dirão e publicarão coisas que consideramos profundamente ofensivas. Igualmente, ser um genuíno defensor da liberdade de associação implica aceitar que algumas pessoas se associarão de maneiras que consideramos profundamente ofensivas, que utilizam como critérios raça, sexo ou religião.
Vale enfatizar que há uma diferença entre o que as pessoas são livres para fazer e o que elas considerarão do seu interesse fazer. Por exemplo, o presidente de um time de basquete deve ser livre para se recusar a contratar jogadores gays. Mas seria do interesse dele fazer isso?
Não é difícil comprovar que as pessoas, em geral, estão cada vez mais hostis aos princípios da liberdade. Elas estão cada vez mais facilmente ofendidas, e, com isso, querem cercear a liberdade alheia. Elas querem liberdade apenas para elas próprias. Já eu quero bem mais do que isso, diz Walter Williams. Quero liberdade para mim e para meus semelhantes.
Você tem todo o direito de ter ficado ofendido com este texto, mas não tem o direito de me proibir de falar o que penso em minha propriedade.
Walter Williams é um economista, comentarista e acadêmico norte-americano.
E é negro. Ouça o Café Brasil 703 – Fogo No Hall. Vale a pena o debate.