Comportamento dos agentes econômicos
Luiz Alberto Machado - Iscas Econômicas -Comportamento dos agentes econômicos
O impacto dos índices de confiança
“Embora comportamento econômico seja eliciado pelo ambiente e suas
mudanças, os seres humanos não reagem aos estímulos como autômatos.
Seus motivos e atitudes, mesmo seus gostos, esperanças e medos,
representam variáveis intervenientes que influenciam tanto sua
percepção do ambiente como seu comportamento. Para entender
processos econômicos, considerações psicológicas e variáveis subjetivas
devem ser incorporadas à análise.”
Georges Katona
(Citado por Vera Rita de Mello Ferreira)
Diversos veículos da imprensa, assim como departamentos de análise de empresas, bancos e associações de classe divulgam regularmente índices de confiança gerais ou setoriais, o que intriga muitos leigos que não entendem a importância da divulgação de tais índices.
Várias explicações poderiam ser dadas sobre a importância desses índices. Vou começar pela que julgo mais relevante: o funcionamento da economia depende, entre outras coisas, do comportamento de seus agentes e, este comportamento, por sua vez, depende da confiança que esses agentes depositam na situação da conjuntura e na estabilidade das instituições.
Há, inclusive, uma série de linhas de pesquisa cuja importância não para de crescer que combina fatores comportamentais com a teoria econômica tradicional. Optei por utilizar a expressão “uma série de linhas de pesquisa” e não “uma linha de pesquisa”, pois atendem por diferentes nomes, entre os quais economia comportamental, psicologia econômica, economia psicológica, finanças comportamentais e até neuroeconomia. Embora guardem pequenas diferenças nos detalhes, a essência dessas linhas de pesquisa é a mesma, qual seja, entender o processo de tomada de decisão dos agentes a respeito das questões básicas da economia: o que, quanto, como e para quem produzir?
As referências e indicações bibliográficas contidas no final do artigo são oferecidas para propiciar aos interessados uma visão mais detalhada e aprofundada do tema.
Feita essa breve explicação inicial, preocupa-me sobremaneira a situação atual vivida em nosso país, uma vez que todos os índices de confiança divulgados nesses primeiros meses do ano – e do novo mandato da presidente Dilma Rousseff – revelam baixo nível de confiança e, se não bastasse, declinante, como se pode observar nas figuras abaixo.
Outros setores, notadamente o de seguradoras, apresentam situação assemelhada, ou seja, decadente e declinante.
Como isso afeta o comportamento dos agentes econômicos?
Desculpando-me pela simplificação (e até superficialização) da resposta, indispensável num artigo dessa natureza, ouso indicar dois aspectos:
1º) Tende a ocorrer o aumento da aversão ao risco, o que implica numa maior probabilidade de comportamento conservador por parte daqueles que já são, por natureza, conservadores e de uma redução da ousadia daqueles que são, por natureza, ousados na gestão de seus patrimônios.
2º) Tende a ocorrer um aumento da propensão marginal a poupar, em especial pela maior influência de uma das razões que estão por trás da troca intertemporal representada pela poupança, explicada magistralmente por Eduardo Giannetti em O valor do amanhã:
“As trocas no tempo são uma via de mão dupla. A posição credora – pagar agora, viver depois – é aquela em que abrimos mão de algo no presente em prol de algo esperado no futuro. O custo precede o benefício. No outro sentido temos a posição devedora – viver agora, pagar depois. São todas as situações em que valores ou benefícios usufruídos mais cedo acarretam algum tipo de ônus ou custo a ser pago mais à frente.”
A teoria econômica admite três motivos para o entesouramento da moeda, ou seja, para o sacrifício do consumo imediato visando a sua efetivação posterior: motivo transação, quando os indivíduos guardam parte de sua renda por um determinado período com o objetivo de juntar o suficiente para adquirirem um bem de elevado valor unitário; motivo precaução, quando as pessoas guardam parte de sua renda para fazer frente a despesas inesperadas provocadas por um acidente, uma doença na família ou pela perda do emprego; e motivo especulação, quando as pessoas optam por não utilizar a totalidade de sua renda em consumo, guardando uma parte da mesma para poderem aproveitar determinadas oportunidades de investimento que possam surgir no dia a dia da economia, cuja importância foi enfatizada pelo grande economista inglês John Maynard Keynes.
Uma situação como a atualmente vivida pela economia brasileira favorece a poupança precaucionária, que, como observa Giannetti, “é feita sob o signo da prudência, refletindo uma postura defensiva perante o futuro”.
Frente ao exposto, não é difícil entender as razões pelas quais os mercados encontram-se desaquecidos nos diferentes segmentos da economia. É nítida a perda de confiança na nossa economia por parte dos agentes econômicos. Como afirmei em artigo do final de 2013 nestas mesmas Iscas Intelectuais, “confiança é algo difícil de conquistar, mas fácil de perder”.
E, por incrível que pareça, estamos a apenas pouco mais de dois meses do início do novo mandato!!!
Iscas para ir mais fundo no assunto
Referências e indicações bibliográficas
FERREIRA, Vera Rita de Mello. Psicologia econômica: como o comportamento econômico influencia nas nossas decisões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
GIANNETTI, Eduardo. O valor do amanhã: ensaio sobre a natureza dos juros. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
KATONA, George. Psychological Economics. New York: Elsevier, 1975.
MOSCA, Aquiles. Finanças comportamentais: gerencie suas emoções e alcance sucesso nos investimentos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
PETERSON, Richard. Desvendando a mente do investidor: o domínio da mente sobre o dinheiro. Tradução de Eliana Bussinger. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
PILAGALLO, Oscar. A aventura do dinheiro: uma crônica da história milenar da moeda. São Paulo: Publifolha, 2009.
SHERMER, Michael. O outro lado da moeda: a influência do fator emocional na sua relação com o dinheiro. Tradução de Ricardo Bastos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
Referências e indicações webgráficas
MACHADO, Luiz Alberto. Confiança – Difícil de conquistar, fácil de perder. Disponível em http://portalcafebrasil.com.br/iscas-intelectuais/confianca/.