
Dukkha
Filipe Aprigliano - Iscas do Apriga -“Por onde andas?”, ele perguntou… Hoje eu acordei com uma mensagem do Luciano perguntando se eu estou vivo, mas é claro que com a gentileza que lhe é sempre característica.
Eu estou aqui, meu amigo, e continuo sofrendo, mas não como vítima, apenas como gente.
Andei escrevendo uns textos zoados, cheios de julgamento, rancor e que provavelmente não serviriam de iscas para ninguém (estão mais para âncoras intelectuais), então mantive no rascunho. O mundo está muito louco esses últimos meses. Sempre que eu tento analisar ou opinar sobre algo que me irrita, perco a mão. Por outro lado, se for para falar de algo que me inspira, fica fácil, e espero que inspire outras pessoas também. Então vamos lá…
A isca de hoje é sobre algo realmente profundo, a primeira nobre verdade de Buda, que é Dukkha. Inclusive, ao discorrer sobre o tema, corro o risco de falar alguma bobagem sobre o budismo, mas não se preocupe, pois falarei verdades sobre a vida.
O meu entendimento é o seguinte: o sofrimento é tipo o óleo do motor da vida. Sem sofrimento, não tem fluxo, não tem performance e não tem graça.
Segundo o gordinho sabido, o sofrimento (Dukkha) vem da impermanência, ou seja, tudo na vida muda o tempo todo, e todos os fenômenos são apenas a expressão temporária dessa constante transformação. Sendo assim, não importa o que valorizamos e o que nos dá prazer, isso vai mudar e isso vai acabar.
A experiência do fim, ou apenas a remota consciência de finitude, estão sempre assombrando os seres humanos, que se apegam a tudo: aos relacionamentos, aos bens materiais, a posições sociais, à rotina, a qualquer coisa. É uma raça de gente apegada.
Aí vem a questão semântica que vai salvar sua existência desastrada. O problema não é a impermanência, ela é apenas um fato, que está gravado no tecido criador do fenômeno milagroso da vida. O problema é o apego aos punhados de areia, que quanto mais você aperta, mais escapam pelos seus dedos sedentos por controle.
Se o problema é apego, a solução é desapego, mas aí o bon-vivant faz a inevitável afirmação retórica: “Péssima ideia, pois uma vida sem apego não tem prazeres e não vale a pena!”. O desapego não precisa ser absoluto, o mais importante é ter a consciência de que tudo que traz prazer na roda da vida, traz junto um sofrimento de igual monta.
Seja comida, seja sexo, sejam drogas, seja poder, seja o que for, ao optar por qualquer coisa prazerosa, virá junto um sofrimento proporcional, nem que seja pela simples ansiedade de sentir o mesmo prazer novamente.
Se ao consumir, você já estiver comprando junto o sofrimento, quando ele vier, já será mais palatável, e muitas dessas escolhas já serão feitas com mais sabedoria.
Agora tem um truque, esse eu aprendi na intuição e vou simplificar, porque eu nem te conheço e já gosto de você.
Existe um tipo de prazer que não tem o sofrimento como irmão siamês. Essa categoria de prazer vem de qualquer atitude desinteressada.
Entenda desinteressada em fazer qualquer coisa sem esperar nada em troca, nem mesmo reconhecimento, nem mesmo o céu ou o inferno, apenas pelo prazer de ajudar alguém, pelo prazer de ver outra pessoa feliz, empatia injetada na veia.
Perceba que relacionamentos onde suas atitudes estão focadas em deixar os outros felizes, sem esperar nada em troca, sem apego, são experiências que nunca trarão sofrimento.
Seria perda de tempo me alongar nessa dica, é apenas uma dica. Faça “algos” por “alguéns” sem benefícios associados a você e deixe rolar. Você precisa experimentar e aprender sozinho como aplicar na sua vida, mas o resultado é infalível.
E lembre-se: você só pode sentir a perda do que considerava ser sua propriedade.
Obrigado pelo seu tempo. Quem sabe nos falamos novamente! Grande abraço.