
O Trivium – uma introdução
Alexandre Gomes -Olá guria! Olá velhinho! Aqui é Alexandre Gomes, um membro da Confraria Café Brasil, aficionado por livros, música e um ranzinza que atazana a turma lá da Confraria. Uns meses atrás, decidi estudar e resumir um livro: O Trivium, falarei mais adiante. E passei a comentar e partilhar minhas anotações na Confraria. Uma vez que a turma lá parece ter gostado; o Luciano achou por bem trazer para cá no portal. Espero que você goste do que virá por aqui. Prometo publicar no portal todos os meses, nesta mesma data. Então… vamos lá entender o que é o Trivium, e como entender isso vai ajudar tanto na sua carreira profissional como em sua vida? (só não vai te deixar rico. Essa parte é com você!)
O que é? Quando surgiu?, porque sumiu? e quando voltou? E o que raios isso tem a ver com educação ou o assustador índice de analfabetismo funcional entre os graduados no Brasil atual?
Um bom caminho para entender algo é saber a sua origem. Graças à imensa gentileza do Luciano Pires, irei expor a você o que consegui compreender a respeito do Trivium, a primeira parte do estudo das Sete Artes Liberais:
Lógica, Gramática, Retórica – O Trivium
Aritmética, Música, Geometria e Astronomia – O Quadrivium.
Parece um curso universitário completo, não é? Na verdade, vários… o problema é que esse era o equivalente ao ginásio/científico do mundo antigo (estou falando da Grécia Antiga e do começo da Idade Média).
Pois bem, a formação de um jovem naqueles tempos seguia o seguinte rumo: primeiro ele era treinado em um OFÍCIO ( ou Arte) PRÁTICO, através de sua adesão a alguma guilda específica – você pode chamar de sindicato, com a diferença de que todos nele trabalhavam no ofício de verdade (heheheh). Mas aqueles que buscavam uma formação mais elaborada – seja por demonstrar habilidade acima da média, seja por conta de seu nascimento (segundos e terceiros filhos não seriam herdeiros, então o caminho que restava para eles era o sacerdócio ou alguma arte liberal). É agora que eu faço você perceber que as artes são LIBERAIS não porque tem algo a ver com Liberalismo Econômico, e sim por serem artes (ofícios) livres de guildas (sindicatos).
Tudo começou ali pelo século II d.C., na Alexandria, em uma comunidade de estudos do Cristianismo que havia se iniciado por conta do evangelista São Marcos. Era o Didaskaleion: escola catequética destinada aos pagãos convertidos. E essa forma de educação de jovens persistiu, aos trancos e meio que se esfacelando, até a Idade Média, quando o imperador Carlos Magno ordenou o monge Alcuíno de Iorque a organizar uma escola carolíngia para educar os jovens de seu reino (não todos, é claro, e sim aqueles com ascendência nobre ou membros do clero).
O uso das Sete Artes Liberais na preparação de jovens para educação superior começou a ser deixado de lado no século XIV, por conta do surgimento do Humanismo (escola filosófica que coloca o homem como o centro do mundo, em lugar de Deus, que era a visão anterior), sendo definitivamente abandonada no Renascimento, por conta do novo método pedagógico, apresentado no livro Magna Didactica, escrito pelo teólogo Jean Amos Comenius. O objetivo de Comenius era estabelecer novas bases pedagógicas mais modernas, com o objetivo antes de distribuição social que de efetiva educação. Veja um trecho do que Comenius escreveu:
“Ouso prometer uma grande didática, uma arte universal que permita ensinar a todos com resultado infalível, ensinar rapidamente, sem preguiça ou aborrecimento para alunos e professores; ao contrário, com o mais vivo prazer.”
Posso estar errado, mas me lembrei de Paulo Freire (só que Comenius sabia escrever…). Enfim, por volta dos anos 1930, uma freira, a Irmã Miriam Joseph, decidiu implantar o curso Trivium para os novos alunos da Saint Mary’s College. Esse curso durava dois semestres, com aulas cinco vezes na semana. O objetivo do curso era preparar o estudante para o estudo da cultura clássica. A Irmã trabalhou em conjunto com o filósofo americano Mortimer Adler (dica: leia A Arte de Ler, abrirá sua cabeça sem deixar que o cérebro caia fora).
Então, recapitulando o que já disse antes, temos: As Sete Artes Liberais era a forma que os jovens eram preparados desde a Antiguidade até a alta Idade Média para educação superior. E a introdução nas Sete Artes era pelo Trivium, um método que educa a mente do estudante tanto a pensar de maneira clara, como também a expressar com clareza o que pensa e de forma elegante. Ou seja, totalmente diferente do que vemos nos dias de hoje, não é? O Trivium oferece ferramentas para que qualquer estudante sério consiga ler um texto seja escrito por Shakespeare, ou Biu do Pão, e daí compreender o que está ali escrito e explicar seja para um doutor em astrofísica ou uma criança de nove anos de vida simples e sem luxos.
O que pretendo com essa série de artigos (que com o tempo poderão ser chamados de lições) é APRESENTAR DE MANEIRA RESUMIDA e superficial o conhecimento do mundo Antigo e Medieval trazido de volta para nossos tempos por uma freira que já no século passado viu que o caminho que seguíamos desde aquele tempo iria nos trazer para esse poço sem água que é a educação brasileira.