
Uma lan house no céu
Chiquinho Rodrigues -Sabe… Todo músico tem um público imaginário.
Quando pego meu violão e sozinho em casa toco algo que gosto, sempre imagino uma pequena e seleta platéia me assistindo.
Nessa platéia (que varia muito) estão amigos que eu admiro o bom gosto, outras pessoas que eu pouco conheço, mas que gostaria que me ouvissem tocando e quase nenhum chato ou bico falando enquanto me apresento.
(Um amigo meu que é jogador de futebol profissional me confessou que volta e meia se imagina fazendo um golaço decisivo num grande jogo importante! E no alambrado estão seus parentes, amigos, olheiros de times do exterior, tv ao vivo com Galvão falando bobagens, cartolas, empresários, seus pais, primos e uma vizinha gostosa que ele é doido pra comer).
Eu também tenho um pouco disso quando escrevo. Penso nas pessoas que conheço que vão ler, rir, chorar e comentar. (adoro os comentários). Além de imaginar todas essas pessoas lendo meus escritos, eu quando escrevia pensava também na minha fã Número Um!
Sim! Eu tinha uma Fã número Um… Era a Julianna Scaranzzi.
A gente se conheceu aqui pela internet e não há um escrito meu que não tenha um comentário dela. (Seja por e-mail ou aqui mesmo na própria página do site).
Brasileira, morava em Padova, na Itália, e estudava arquitetura em Florença. Durante um ano e meio a gente se falou todos os dias e nunca faltou assunto.
Quando eu fui pra França, faltou um tiquinho de nada pra gente se conhecer pessoalmente. Mas não foi possível e a gente deixou pra próxima.
Mas não houve próxima.
Na estrada de Padova pra Florença, o destino e o carro dirigido em alta velocidade pela Ju, tramaram contra todos nós que amávamos tanto aquela menina.
O bombeiro que a socorreu entregou para mãe da Julianna um Cd que estava tocando na hora do acidente. Esse Cd só tinha uma faixa e era “Jullyar”, uma música que eu havia feito só pra ela.
A Ju foi embora e eu quase perdi toda a tesão de tocar ou escrever…
Mas devagar estou recuperando.
O mais maluco é que ainda mando alguns e-mails pra ela. Pois como disse a sua amiga Maria Emília, “A Julianna era tão viciada em Internet que até no céu ela vai dar um jeito de achar uma lan house pra falar com a gente”.
Sabe… Acho esse pessoal que toma conta lá do céu meio conservador e atrasado. Não sei não se já informatizaram aquilo lá!
Mas mesmo assim continuo escrevendo.
Uma hora dessas, eles vão ter que se modernizar e aí a Ju vai poder então receber meus escritos.
Só assim ela vai poder mensurar o quanto de mim foi embora com ela. Vai saber também que do meu coração sempre teve nada menos que o camarote…
Agora vazio.
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Nota do Luciano Pires: para quem não sabe, o Chiquinho é um amigo-irmão meu que está com a Julianna em algum lugar, curtindo uma amizade que transcendeu este plano. Eu conto a história dele aqui: http://portalcafebrasil.com.br/iscas-intelectuais/o-chiquinho-2/
A música que ele fez pra ela, Jullyar, está aqui: