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Luciano Pires -

Luciano: Muito bem, mais um LíderCast. Este aqui a indicação é de um dos nossos confrades, o Paulo Oliveira, lá do Café Brasil Premium, que mandou uma mensagem para mim mais ou menos assim “tenho uma indicação para você” e me deu o nome do cara e eu não tenho a menor ideia do que faz o cara. Mandou para mim “aqui é o link, olha o que o cara faz”, falei, eu não vou navegar, não vou entrar, porque a grande pegada, vocês já sabem, você que escuta o LíderCast, é a surpresa de ir descobrindo as coisas ao longo da entrevista.

Então, ele chegou agora há pouco do Rio de Janeiro, estamos aqui, já trocamos uma ideia, já vi que o bicho é do ramo. Vamos ver, são três perguntas fundamentais aqui e as únicas que você não pode chutar. O resto você pode chutar à vontade. Eu quero saber seu nome, sua idade e o que você faz.

Rafael: Beleza. Então, já que você não me conhece, vou fazer a saudação: vida longa e próspera a todos aqui que estão me ouvindo. Meu nome é Rafael Bernardes. Eu tenho 35 anos e eu sou empreendedor em TI há mais de 15 anos e hoje eu capacito profissionais de TI a serem vencedores em sua profissão, seja através de treinamentos pagos ou gratuitos nos meus canais, onde eu trabalho e-books, YouTube, enfim.

Luciano: Se você soubesse a quantidade de TI que está ouvindo a gente agora e que já levantou da cadeira, ôpa, que bom!

Você nasceu aonde, cara?

Rafael: Nasci no Rio de Janeiro, assim bem local pobre, não sei se você vai conhecer. No Rio de Janeiro tinha… é uma história interessante. A Princesa Isabel, no Rio de Janeiro, levou os doentes mentais para um local chamado Colônia Juliano Moreira. Aí fez um trabalho lá bonito, legal. Os funcionários que trabalhavam por lá tinham o direito a morar com a família nesse local, tipo uma reserva. E é lá que eu morava.

Luciano: Você nasceu num sanatório, então [riso].

Rafael: É, então, eu observava, eu ia falar os malucos, é uma palavra muito feia, não, os doentes mentais correndo no meio da rua, correndo atrás do caminhão de comida, mas na época eram muito bem tratados. Hoje eu não sei como é que está. Foi lá, não é favela, é bem parecido com o que é hoje uma favela, mas era um pouquinho mais organizadinho, mas é uma origem bem humilde.

Luciano: O que o seu pai, sua mãe faziam, fazem?

Rafael: A minha mãe sempre foi empreendedora. Engraçado, agora eu parei para pensar, minha mãe sempre foi empreendedora. Ela tentou fazer enfermagem, não conseguiu, parou e abriu uma confecção lá nesse local aonde a gente morava e foi tentando e hoje ela tem escolas. Hoje ela tem três escolas, duas escolas, perdão, uma fechou porque ela cresceu as outras duas e somos uma família de empreendedores.

O meu pai sempre foi taxista e é até hoje. É apaixonado, gosta. Eu não fui criado diretamente pelo meu pai, eles separaram cedo então eu fui criado mais pelo meu padrasto, que para mim é pai também. Ele trabalhou na Vale por muitos anos até ser cortado, era privatizada, aí depois ele começou a empreender também, os dois empreendendo, vem uma família de empreendedores hoje.

Luciano: Essa pergunta aqui é para buscar de onde vem o bichinho. Este programa aqui é sobre liderança e empreendedorismo, então você já está sabendo. Tem irmãos?

Rafael: Tenho. Tenho um monte.

Luciano: Um monte, quantos?

Rafael: Eu tenho quatro irmãos. Irmão é uma coisa engraçada, nenhum empreende. Eu tenho um que é artista, baterista, não vou lembrar o nome da banda, mas é uma banda famosinha, que tocou no Rock in Rio e tudo. A minha irmã também é artista, é bailarina. Tudo a ver comigo, você está vendo aqui, branquelo, louro de olho claro, meus irmãos são morenos, tatuados. Eu tenho um irmão mais novo que está na área de TI, esse tem mais a ver comigo. E o meu outro irmão é o Bruno Bernardes, que hoje é diretor do Fantástico, da Rede Globo, está na área de jornalismo já há muitos anos.

Luciano: Você é o mais novo, o mais velho, o do meio?

Rafael: Eu sou do meio, de todo assim, meio do meio.

Luciano: Como é que era teu apelido quando era criança?

Rafael: Poxa, vai, brincadeira, era Xuxa.

Luciano: Era Xuxa?

Rafael: Era Xuxa. Você vai deixar isso?

Luciano: Mas era por causa do nadador ou da apresentadora?

Rafael: Da apresentadora [riso]. É porque eu vivi numa comunidade simples, muito simples, então era normal, porque eu era o único branquelo, o meu pai é negão, se eu te mostrar a foto, você vai ver, ele e a família toda. Só que como a outra descendência meio portuguesa é muito branquela, eu nasci muito branquelo. Então eu ficava ali, eu era o Xuxa da parada, porque era mais branquelo.

Luciano: Quer dizer que você cresceu com um bullying daqueles, muito bem. O que o Xuxa queria ser quando crescesse?

Rafael: Eu queria ser bombeiro. Eu tinha um sonho muito grande de entrar na área militar, muito grande. Eu não passei, eu tentei.

Luciano: Chegou a tentar?

Rafael: Para ser cadete. Tentei, acredito que se tivesse passado eu estaria muito bem, porque eu sou muito disciplinado, eu sigo bem ordens e consigo passar ordem muito bem. Só que realmente a prova era muito difícil e eu sou muito preguiçoso para fazer prova.

Luciano: Mas era uma prova intelectual ou física?

Rafael: Intelectual. Poxa, era uma semana de provas, três horas por dia. Não consigo, infelizmente, não é para mim.

Luciano: Olha que coisa interessante que você está falando, como derruba as narrativas que tem aí, porque a narrativa é o seguinte, se está no exército, é um brucutu, se está lá, ser cadete é um brucutu, é tudo brucutu, são uns puta duns ignorantes que só sabem bater nas pessoas. E aí você vem dizer para mim o seguinte, cara, tinha uma prova para entrar, intelectual, tão pesada que eu não fiz.

Rafael: Não, mas eu conheço, hoje eu tenho primos que passaram, foram, eles são superinteligentes, é um nível extremo. Obviamente, tem uma divisão entre oficial e não oficial, mas poxa é bem exigente essa prova.

Luciano: Sim. Bom, vamos lá, você queria ser quando crescesse e não conseguiu ser e aí um belo dia alguém te deu de presente um videogame.

Rafael: Isso. Como é que você sabe disso?

Luciano: Ah, ah!

Rafael: Adivinhou, não é, cara?

Luciano: Cara, os caras de TI que sentam aqui com as histórias de TI, tudo começa assim: um belo dia caiu na minha mão um videogame, eu peguei aquele negócio, o que é isso? E aí o mundo se abriu.

Rafael: Exatamente. Quando eu ganhei um Master System dos meus pais, o meu padrasto ainda trabalhava na Vale e tinha condições, era caro o videogame, na época, aí comprou lá e tal. E eu fiquei maravilhado com aquilo, com a eletrônica em si.

Luciano: Que ano era isso?

Rafael: Puxa, não vou lembrar.

Luciano: 80 e alguma coisa?

Rafael: 80 e alguma coisa.

Luciano: Mas tudo bem, só para ter a ideia das décadas.

Rafael: A época em que eu comecei a brincar foi início dos anos 90, de verdade. Nos anos 90, por aí assim, eu estava mais engajado, antes de ver o computador. Logo depois do videogame, eu fiquei realmente viciadaço em videogame, queria entrar na carreira do desenvolvimento de jogos, quando isso não era nem hype. Fui altamente desencorajado pelo meu padrasto [riso]. Foi engraçado que ele falou assim “não, isso não tem futuro, isso não vai funcionar”. E bom, tudo bem, respeito a visão de uma pessoa que não tem noção de uma tecnologia. Como é que ele vai recomendar ao filho dele estudar isso? Mas ainda bem que eu insisti na informática. Hoje ele é super gente boa comigo, tranquilo, entende a área, tal, mas no início foi difícil.

Aí logo depois do videogame veio o computador. E o computador, a minha família tem uma coisa assim, eles não dão nada de graça, nada é assim. O computador veio para poder eu trabalhar fazendo os papéis da escola da minha mãe, que era uma escolinha pequenininha. Então, eu ganhei um trabalho, na verdade, não ganhei um computador. E comecei a descobrir aquilo. Para ter uma ideia, eu não sabia nada de informática, mas nada, eu só era fuçador. Tinha que fazer um boletim informativo, não era Word, na época e só que cabia três na folha. Sabe o que eu fazia? Eu escrevia três vezes o texto, eu não sabia copiar colar. Aí meu pai chegou um dia “eu liguei para um cara lá da empresa, ele falou que copia e cola,” eu falei “nossa, que legal”, aí copiou, colou, imprimia. A impressora, já tinha as matriciais, a gente fazia essas impressões todas aí na matricial, dos boletins, das coisas todas. E começou, aí segui até chegar a programação. Quando eu descobri a programação, com dez anos, aí foi uma paixão para mim.

Luciano: Dez anos de idade? Quer dizer, você estava fazendo o boletim da sua mãe com oito anos?

Rafael: Isso, com oito, nove, mas aos dez anos de idade a programação veio, era basic a primeira linguagem que eu conheci. Era coisa de acordar no meio da noite, caramba, descobri como vou fazer a lógica para montar o meu jogo da velha, como fazer os bonequinhos brigar, fiz joguinho de luta, fiz jogo da velha. O jogo da velha, hoje em dia tem o orientado a objeto, é muito mais simples, mas na época você tinha que fazer cálculos matemáticos para saber onde o X está e a bolinha está, então o jogo da velha é um cálculo matemático isso e acordava de madrugada e anotava tudo e fazia, tal e foi muito legal. Aí veio a paixão pela programação que depois eu desisti. A programação eu gosto, eu faço um pouquinho de análise, mas não é o meu foco.

Luciano: Mas você está com dez anos de idade é muito cedo ainda.

Rafael: Não, eu estava brincando.

Luciano: Mas você começou a brincar, começou a mexer com isso. Mas como é que você foi conduzindo? Chega uma hora que você tem que começar a sua decisão se vai fazer, estudar etc. e tal, quando chegou o momento de decidir, bom, eu vou partir para um caminho que possa me ajudar numa possível carreira lá na frente, o que é que veio pela frente?

Rafael: Eu sou muito focado e sigo muito bem as orientações. Conheci, obviamente, tios que trabalhavam com isso, passaram cursos, eu fui aprendendo, falei vai ser informática que eu vou fazer, acabou.

Luciano: Quando o exército não deu certo.

Rafael: Não, não, isso aí foi misturado, eu estava tentando exército. Eu parei de tentar o exército com 15 anos, aos 15 anos eu parei realmente. Mas a paixão pela informática, é tanto que se eu entrasse como cadete, eu queria seguir a parte de informática lá dentro. Eu fui, visitei o PQD ali em Marechal Hermes, no Rio de Janeiro, fui lá, vi quais eram as opções se eu me alistasse como recruta mesmo, o que iria acontecer. Eu estudei de verdade para seguir isso, mas sempre com inclinação para TI… não era TI, não, para informática. Depois vim a ser paraquedista civil, acabei conseguindo as coisas que eu queria conseguir no exército, na área militar, mas de outras formas, a partir de tio. A gente vai conversar mais depois sobre isso.

Luciano: Sabe o que é interessante, o exército perdeu um cara, você podia estar pintando e bordando no exército. Ele perdeu um cara por causa do processo de seleção que não enxerga. Eu publiquei há pouco tempo no Café Brasil Premium o sumário do livro chamado Os Bons, é o nome do sumário, é genial, que fala como é que as empresas estão fazendo para contratar os caras bons, independente do curriculum do cara. E eles vão colocando lá a preocupação dos Googles da vida. Eu falo, como é que o cara… Eu quero buscar o cara genial que não vai passar pelo processo de seleção, ele não passa na seleção, mas ele é genial. Como é que eu busco esse cara? E eles vão colocando as técnicas. E teve uma técnica lá que eu achei o máximo, cara. Ele fala, bicho, eu viro o currículo de ponta-cabeça, o currículo que chega para mim eu viro de ponta-cabeça e começo de trás para a frente o currículo. Eu vou no hobby, nas coisas que esse cara faz fora, depois que eu seleciono aí é que eu vou ver se esse cara tem formação, é a segunda parte, a primeira parte é o que esse cara faz extra à competência técnica.  Aí você busca um cara genial. Eles contam cases lá de funcionários que o Facebook busca, esse cara estaria fora de qualquer seleção.

Rafael: Você sabe que caiu o currículo agora. Há uns quatro anos já que caiu exigência de nível superior da Microsoft e do Google, inclusive no Brasil. Mas eu meio que agradeço por não ter conseguido entrar no exército.

Luciano: Mas é aquela história, cara, de novo. E se? Não sei. E se? Talvez você estivesse hoje lá implantando sistema de defesa. Bom, vamos continuar, aí o exército ficou para trás e você comprou a ideia de que minha vida vai ser em TI?

Rafael: Sim. Comprei a ideia. Aí a gente começa a ver notícias de pessoas que estão trabalhando na área e tal. Então eu e minha mãe, minha mãe sempre junto comigo, minha família sempre junto, por mais que assim, “esse negócio de informática não vai dar certo”, eles apoiaram. Tanto que apoiaram, como eu falei, minha irmã é bailarina, meu irmão músico. Então fui procurar curso, com 17 anos eu consegui fazer um curso que era caríssimo na época, ainda é caro hoje, que se chama Microsoft Certified Solutions Engineer MCSE. Na época era o server NT para 2000 na migração, não sei se você chegou a pegar a época de Windows NT.

Luciano: Peguei.

Rafael: Novell para NT, eu peguei NT, finalzinho de Novell para NT para Windows 2000.

Luciano: Cara, se você soubesse o que eu peguei, bicho [riso].

Rafael: Foi nessa aí. Aí eu lembro até hoje, minha mãe, como eu falei, origem humilde, foram 18 cheques, uma pilha assim, a gente passou quase que a noite assinando aquilo ali, tal. Compramos o curso, eu fui lá fazer o curso no centro todos os dias. Eu tinha o maior orgulho. Eu tinha que ir para a faculdade… Eu larguei as faculdades todas que eu fiz, eu vou te contar aqui a única coisa em que eu sou formado… era faculdade, trabalho e de noite o curso. Então eu estudava de manhã, aí trabalhava como designer para Jornal o Globo, O Dia, à tarde.

Luciano: Na redação?

Rafael: Não, trabalhava em uma agência fora. Meu tio ia para a redação, que ele era o dono da agência, ele fazia o trabalho, mas na época tinha muito disso de contratar agências à parte para complementar o trabalho. Eu fazia lá e de noite, da tarde para a noite, eu ia para o centro da cidade do Rio de Janeiro, pegava o ônibus, ia, estudava e tal, voltava, chegava em casa 11h da noite, 11h30, minha mãe já tinha feito um… tem um negócio que faz, é um mingau, não, é um negócio que faz em cima da panela assim, sabe o que é, uma pamonhazinha? Ela fazia toda noite para mim e tal e assim foi, foram dois anos assim. Até terminar o curso todo e seguir em frente à carreira.

Luciano: Muito bem, você foi com a ideia de que ia arrumar um emprego para trabalhar num lugar, ou já estava com o bichinho do empreendedorismo, vou montar um negócio? Você já botou o foco, vou trabalhar em tal lugar, como é que foi isso?

Rafael: Sim, botei o foco, trabalhar, eu posso falar o nome, eu queria trabalhar na Microsoft. Mais à frente cheguei a fazer o processo seletivo, depois eu te conto o resultado, agora eu vou ficar por aqui. Então eu coloquei o foco, eu queria isso. Só que eu vi que eu precisava ter prática com isso, então eu comecei a procurar locais para trabalhar. Encontrei um amigo da família que tinha uma lojinha num centro de informática no Rio de Janeiro, chamava PromoInfo, na época era InfoBarra, na Barra da Tijuca. E eu, garotão, 18 para 19 anos tal, na beira da praia o negócio, pertinho da praia, falei é aqui mesmo que eu vou trabalhar. Só que lá você ficava montando computador. Montava o dia todo computador, instalava.

Luciano: Hardware.

Rafael: Hardware, tinha um pouquinho de software. O software era tudo legalizado, com aquelas aspas bem grandes agora aqui. Aí fui fazendo isso muitos anos, fiquei dois anos assim. Muitos anos, como é que pode, falo dois anos como se fosse muito. Enfim, fiquei esse tempo, aprendendo, vendo, só que começaram a aparecer os clientes ali, entendeu? Aí eu fui pegando algumas coisas e foi bem nessa época que eu comecei a ver que dava alguma coisa para rolar e foi bem nessa época que eu desisti de todas as faculdades de TI.

Luciano: De TI, tudo o que você estava fazendo?

Rafael: De TI, então faculdade de TI eu desisti, todas.

Luciano: E aí então no que você se formou?

Rafael: Aí vem a pergunta, a curiosidade agora. Você não vai acreditar na única coisa em que eu me formei: teologia.

Luciano: Teologia?

Rafael: Teologia. A única coisa em que eu me formei. Eu fiz três faculdades de TI, não gostei de nenhuma. Em uma um professor me desestimulou, aí eu fiquei com raiva dele, mas segui em frente, mas mais à frente à faculdade era muito ruim. Na outra, muito fraca, no Rio de Janeiro. Na terceira encontrei um professor que me desestimulou, dessa vez ele estava lascado lá no local, eu ajudei ele num projeto e tal, foi até legalzinho, mas depois mesmice. Hoje em dia deve ter boas, mas na minha época não tinha, eu lembro que a grade era muito fraca.

Luciano: E da onde veio a teologia?

Rafael: Então, a teologia veio porque eu tenho um trabalho muito forte na igreja.

Luciano: Sua família é religiosa?

Rafael: Não. Minha esposa é que é. Eu conheci minha esposa em uma Igreja Batista, no Rio de Janeiro.

Luciano: Espera aí. Ninguém conhece a esposa na igreja, se não estiver na igreja. O que você foi fazer na igreja, para começo de conversa?

Rafael: Ela tinha uma lojinha do lado, no shopping em que eu falei que trabalhava. Ela tinha uma loja, ela já era empreendedora e tinha uma loja do lado. Então encontrei ela ali, fomos ao cinema. Só que ela “vamos na igreja”, eu falei “então tá,” aí eu entrava, ficava cinco minutos e ia embora. Ela falava que parecia que dava choque. E foi nisso, eu sou cristão, eu falo abertamente e comecei a trabalhar na cabine de som da igreja, cabine igual a gente está aqui, mexendo nas coisas e tal. Até que veio a liderança. Hoje eu sou líder da igreja, por incrível que pareça eu sou pastor de uma Igreja Batista da Graça do Rio de Janeiro. Ela tem um prédio grande, cinco andares, tem administração, tem entrega de cesta básica, tem missionários pelo Brasil e eu gerencio essa coisa toda de forma voluntária, eu não recebo por isso, mas gerencio muita coisa, muita gente lá também. Aí por isso que eu me formei, porque eu gostava.

Luciano: Quer dizer, você curtiu, ela te ensinou a…

Rafael: Mostrou.

Luciano: Mostrou, você curtiu aquilo e foi fazer teologia?

Rafael: Sim.

Luciano: Com que objetivo, cara?

Rafael: Quando eu vi esse local, essa igreja diferente, não era uma coisa bitolada. Eu falo abertamente, não era coisa que manipulava, bitolava, nada disso. Eu vi um engenheiro…

Luciano: A Batista tem essa característica.

Rafael: Eu vi engenheiro de uma grande empresa lá na frente, era o pastor. Eu falei assim, o que esse homem está perdendo esse tempo aqui? A minha primeira impressão foi essa. Eu vi, não, ele além de pregar a palavra, que eu não vou entrar em mérito de fé, mas ele além de pregar a palavra de Deus que ele pregava, ele tinha um grande trabalho de caridade que eu falei assim nossa, isso aqui funciona, as pessoas vêm, recebem ajuda, recebem orientação e tem muitas leis bíblicas de sucesso ali. Inclusive perdi a chance de conhecer William Douglas, o juiz, perdi a chance num evento, que ele estava lá, que ele tem um livro As 26 Leis Bíblicas do Sucesso. Ou seja, tem muita coisa ali boa e interessante. E eu gostei muito disso, desse ambiente, acabou que virou uma família para mim e hoje eu estou liderando, eu toco em paralelo e vai indo.

Luciano: Mas aquilo não era teu objetivo?

Rafael: Nunca foi.

Luciano: Não vou ganhar minha vida aqui, isso não é um trabalho, é a tua doação voluntária para a sociedade?

Rafael: É voluntário. Na verdade, financeiramente, eu gasto mais.

Luciano: Eu imagino.

Rafael: Enfim, mas é uma coisa que a gente gosta, minha esposa gosta muito de fazer.

Luciano: E ali você pega teu diploma de teólogo, eu sou teólogo.

Rafael: Teólogo formado, pastor.

Luciano: Cara, que salada, bicho. Bom, vamos lá, então vamos ver a tua vida.

Rafael: E tem os hobbies ainda, você nem viu os hobbies. Aí eu fui fazendo tudo quanto é coisa, vai ficando mais embolado.

Luciano: Você sofre de… como é que é? Não? Como é o nome daquilo, super acelerado?

Rafael: Não. Não sou ansioso. Não sou acelerado. Sou muito tranquilo, sei lidar com situação de estresse. Até por isso que eu consegui fazer bem o paraquedismo e o tiro, que eu sou atirador pela polícia civil também. Porque o meu nervo é tranquilo, sabe. Lido com situação tensa, complicada. Essa minha área de TI hoje, a gente ainda nem chegou lá, mas é alta disponibilidade, é um negócio muito crítico. Então é coisa de pessoas berrando e vai cair, não vai funcionar, vai funcionar. E como eu sou muito tranquilo para lidar com pessoas em situações de estresse, acabei casando com uma loura, sabe.

Luciano: Legal. Como é que você chega lá? Vamos lá, aí você foi trabalhar e…

Rafael: Trabalhei nessa empresinha montando computador, lembra?

Luciano: Você já começou a se definir, deixa eu escolher para que caminho que eu vou dentro daquele universo do TI, é ali que eu quero ir, você escolheu?

Rafael: Cara, depois de ser desestimulado pela minha família de ser desenvolvedor de jogos e assim também depois eu vi que na época realmente era estranho. Hoje está um mercado muito bom.

Luciano: Claro. TI é um negócio, já bateu o cinema de longe.

Rafael: Há muito tempo. Aí eu falei, eu vou seguir infraestrutura. Então no começo eu fazia cabo, instalação, racks, eu achava o máximo, ainda acho o máximo isso. E comecei a pegar cliente por fora enquanto trabalhava lá naquele shoppinzinho. Cliente por fora para fazer esse tipo de instalação e tal. Eu lembro que o primeiro cliente, eu fiz o curso, falei que eu fiz o curso, só que o curso é teórico, você lê por um computadorzinho e testando. E surgiu um cliente para fazer enquanto eu trabalhava lá ainda nessa empresa e eu falei vou marcar sábado. Por que sábado? Porque sábado, primeiro que não tem expediente, segundo que o cliente não pode ver o que eu vou fazer. Comprei um livro. Aí entrei lá, tinha que instalar um servidor. O livro, para não falar ‘tecniquês’ demais aqui, era Como Instalar um Servidor Windows. Abri a página assim na mesa, olhando linha por linha, aqui, clica aqui, assim foi o meu primeiro cliente. Na cara de pau total e ficou bom, funcionou. Vai ser assim e foi. É, porque não tem jeito, nego não te contrata porque você não tem prática, você não tem prática porque não te contrata, eu fui na cara de pau. Você quer fazer isso aí? Vou fazer isso aí para você, vou entregar.

Luciano: Ontem publicaram num grupo em que eu estou uma foto, não me lembro, acho que é da Drogaria São Paulo, botando uma relação de profissionais, farmacêutico, ajudante e embaixo, em vermelho, não é necessário experiência anterior. Quer dizer, está tão curta a oferta de mão de obra que os caras já estão botando, vem que nós vamos te dar…

Rafael: Essa é uma visão nova, inclusive. É bom treinar a pessoa, mas antigamente não era assim, 10, 20 anos atrás o pessoal não…

Luciano: Acho que a maioria ainda não é assim.

Rafael: É uma droga.

Luciano: Mas aí, vamos lá, você está indo por um caminho em que você vai montar teu próprio negócio ou arrumar um emprego, como é que é?

Rafael: Então, eu estava empregado, só que aí, assim, como também a questão de fé, que a gente veio conversando, nesse momento veio a questão do casamento com a minha esposa. Eu tinha 20 anos, 20 para 21.

Luciano: Novinho.

Rafael: Novinho. Então veio a época beirando o casamento, veio a questão da minha fé e começou a me incomodar, não quero mais trabalhar nesse ambiente, tranquilamente eu falo, de sujeira. Pirataria, roubar cliente, cobrar mais caro. Não quero mais trabalhar aqui. Então, espertamente, eu tive uma decisão muito sábia, como eu falei, eu planejo tudo, foi uma decisão muito sábia de um mês antes do meu casamento pedir demissão. Pedi demissão porque eu não aguentava mais aquilo. Eu lembro da cara da minha sogra, futura sogra na época, vendo a filha dela, empreendedora, na lojinha dela, casar com um desempregado de 20 anos. Você imagina a situação. E hoje os meus pais têm uma situação muito boa, mas na época que eu fiz isso não tinham, então nem família rica eu tinha. Então o meu sogro, ele era cristão também, ele falava assim, a oração dele era “Senhor, mostra para ele que não tem que casar agora.” Tudo bem, é pai, hoje eu entendo o desespero dele, mas foi engraçado.

Luciano: Que idade ela tinha?

Rafael: Tinha 24.

Luciano: Ela era um pouco mais velha que você.

Rafael: Um pouco mais velha, por aí, cinco anos, não sei se eu calculei certinho, mas é 24 para 23, por aí.

Olha que interessante, pedi demissão, ok, uma semana fiquei vendo sessão da tarde, só que eu ganhava cerca de 1.000 reais na época, era pouquinho, em relação à hoje é nada, mas na época era um pouquinho mais, era um salário baixo, mas legal. E com três clientes, trabalhando quatro horas para cada cliente por semana, fazia um atendimento remoto e tal, eu já ganhava 1.000 reais. Perdão, com dois clientes. Eu trabalhava segunda e terça, quatro horas só, voltava para casa, o que eu ia fazer o resto da semana? E eu já estava ganhando a mesma coisa, falei, nossa, isso aqui é uma possibilidade que existe, isso aqui é real, entendeu? E eu realmente via sessão da tarde. Aí eu fui correndo atrás de outros clientes, indicações e tal. Ali começou a minha carreira de empreendedor, meio embrionária, sem saber prospecção, sem saber pós-venda, sem nada.

Luciano: Sem nota fiscal.

Rafael: Não, nota fiscal eu tinha, porque a minha esposa tinha a lojinha dela, a gente foi tirar a notinha lá. Totalmente errado, mas por eu ser muito bom no que eu fazia, como estava na Barra da Tijuca, é um local meio nobre no Rio de Janeiro, na época era mais ainda, eu comecei a lidar com gente rica e saber lidar e falar com eles e saber que eles têm muito dinheiro e eles compram. Então eu tirei aquele perfil de técnico que vou dar um jeitinho, não, eu já condenava logo as peças, já comprava novo, “saiu peça nova,” era normal a gente viajar para comprar as coisas, trazer. E então eu conheci muitos clientes de muito poder aquisitivo, fiquei bem conhecido nessa área, então foi fácil dar os passos.

Eu aprendi a lidar com um certo nicho que o profissional de TI tem muita dificuldade. Eles não conseguem entender que se um Iphone está lento para uma pessoa classe AAA, um diretor de uma Rede Globo, por exemplo, não é para você limpar, é para você mandar ele comprar outro, porque ele já quer outro, ele quer uma desculpa para o outro, uma desculpa para o troço mais novo. E eu saquei isso e comecei a só trabalhar com produto classe AAA, tanto que roteadores sem fio, na época era uma novidade incrível e tal e comecei a trabalhar com esse público, cresci minha presença.

Luciano: Legal. E você botou na cabeça que ia trabalhar para você?

Rafael: Era assim, ainda era um vamos tentar.

Luciano: Sim, com 20 anos de idade dá para tentar o que você quiser.

Rafael: É, exatamente. Eu quebrei depois. Eu vou contar essa história do quebrei.

Luciano: Então vamos lá. Conta lá.

Rafael: Aí eu continuei e tal, fiz o processo seletivo da Microsoft, ok. Não passei, mas foi muito tranquilo que eu não passei. Um amigo meu, que hoje é amigaço meu passou e tal e eu fui acompanhando, mas eu fui empreendendo, falei, tentei uma vez, não consegui. Mal sabia eu que eu ia ser chamado duas vezes seguidas e ia rejeitar. No futuro eu ia ser chamado duas vezes e eu rejeitei por querer, não quero. Mas nessa época eu falei não, tudo bem, vou seguir em frente, vou seguir a minha empresa. Fomos crescendo, peguei contratos legais, coisas boas, interessantes. O meu problema, que eu quebrei foi ao contrário, eu não quebrei por falta de dinheiro, eu quebrei por excesso de dinheiro com pouca mentalidade.

Com 20 e poucos anos eu estava gastando no cartão 20 mil reais, naquela época. Estava entrando dinheiro e eu estava gastando tudo. Fazia de tudo, compra carro, aí quebrou, porque eu não soube gerir o meu dinheiro. Quebramos, teve que fechar a loja, teve até uma acusação contra a minha esposa, que era dona da loja, a gente quebrou junto, que a gente estava fazendo as coisas meio junto e a loja dela era de cartucho, que eu tinha falado, no centro da cidade. Era, na época, um bom filão e chegaram até ameaçar de prendê-la, tal, perdi tudo. Aí vai um amigo dá tantos mil para ajudar, minha mãe dá tanto para ajudar e mesmo assim fica devendo por uns longos dois, três anos para pagar tudo. Aí vai, reduz tudo para low profile, vou eu morar de favor na casa da minha mãe por um ano, depois morar de favor na casa da minha sogra um ano, até reestruturar, esse tempo todo aí.

Luciano: E ali caiu uma ficha de que você não conseguiria dar certo só com o teu talento artístico ali de fazer bem feito o trabalho, tem todo um background, tem toda uma área de finanças, de regulações, de burocracia que você não tinha.

Rafael: Na verdade, o talento, se você tiver o restante, o talento nem conta. Tem tanta gente que vende porcaria aí e está multimilionário, enfim, vendas, marketing, finanças, como você falou, isso conta muito mais do que o próprio talento técnico. E só que o técnico, hoje, eu quando converso com um profissional técnico, ele está sempre assim, vou fazer o próximo curso, vou fazer isso. Eu digo cara, você já tem todo o conhecimento necessário para ficar milionário, você só não está sabendo vendê-lo agora, tanto com

intrapreneurship, é o intraempreendedorismo, ou com o empreendedorismo. Você já tem todo o conhecimento necessário, você só precisa saber se vender para a sua empresa, interno, ou para seus clientes.

Luciano: Ali você percebeu que havia um nicho, ou tipo assim um propósito sabe de olha, eu vou levar essa visão do empreendedorismo para esses nerds que ficam?…

Rafael: Ainda não. Essa visão do empreendedorismo foi muito engraçado, foi um dia assim do nada, eu vou contar daqui a pouco, me lembra de contar. Eu comecei a falar assim tem que ter alguma forma de eu ter sucesso com isso. Não desisti, segui em frente e fui continuando, fazendo as coisas e tal. Ao mesmo tempo em que eu ia me certificando, ao mesmo tempo em que eu ia fazendo as provinhas da Microsoft. E eu falei, algo eu tenho que aprender. E eu comecei a aprender essa questão de venda, marketing, bem esses dois. A minha esposa se formou na UFRJ com nota máxima, com honra ao mérito em administração, então ela sempre foi uma boa administradora, só no embalo da nossa juventude ali que a gente se enrolou. Ficamos 15 anos sem viajar para lugar nenhum.

Uma coisa engraçada também, eu e ela temos uma missão assim, não vamos deixar de fazer as coisas porque estamos lascados. A gente ia para o cinema na segunda-feira, que tinha uma promoção, pagando meia e levando pipoca e mate de casa, mas a gente ia [riso]. Era assim, nesse nível, ficou um ano inteiro assim. Só que as viagens não deu realmente, as viagens eu fiquei 15 anos sem viajar. Depois, chegando perto de 2013 ali, eu voltei a fazer minha viagem internacional e tal. Enfim e foi um momento de reestruturação, de se pensar o que faltava. Faltavam essas coisas, faltava entender. Aí começou a empresa, aí o negócio começou a andar. Aí eu testei coisas, tirei, coloquei, vi, botei funcionários. A coisa começou a andar de verdade, sabe. E cresceu até o ponto de eu realmente ficar bem tranquilo.

Luciano: O que era isso que cresceu? O que era essa empresa?

Rafael: Era uma empresa de prestação de serviços em TI.

Luciano: Hardware e software?

Rafael: Não, eu comecei a tirar o hardware para poder crescer.

Luciano: Quem era o teu cliente?

Rafael: O meu cliente, por exemplo, é uma empresa média que tinha na média de 100 computadores, 2 a 4 servidores e que tinha necessidades que o TI não se tornasse um estorvo para o funcionamento dela. Era esse cliente.

Luciano: Entendi. Então você está lidando com o sonho de consumo de todo empreendedor brasileiro, que TI não seja um estorvo.

Rafael: É, e o mercado SMB, que é o mais legal, porque não tem a burocracia das grandes empresas para comprar, hoje eu lido com grandes empresas, mas tem a verba maior do que a pequena, então ele está no momento certo ali para investir.

Luciano: Você falou SMB?

Rafael: SMB é mercado pequeno e médio. Esse mercadinho é o ideal para a área de TI. As grandes empresas não conseguem ter entrada ali e o pequeno empreendedor bate muito a cabeça com isso, então quando você consegue entrar no mercado de média, você realmente consegue uma estabilidade.

Consegui excelentes clientes e foi seguindo e dava para seguir muitos anos ali, só que determinado ponto… assim, voltei a viajar, fiz a minha primeira viagem internacional depois de 15 anos. Foi o maior barato, eu vou contar essa história porque é muito legal, para quem tem um sonho. Eu gosto de contar a história, vale a pena você ter um sonho.

Cara, eu fiquei 15 anos sem viajar para lugar nenhum, principalmente para fora e eu não achava viável isso. Só que foi trabalhando e as coisas foram acontecendo e só que aí como você é lascado, você não tem documento de nada, você não tem nada. Tipo, eu não tinha documento de carro direito, eu fui acertando e tal. Eu não sabia que tinha que ter o raio do passaporte e o visto. Eu também não tinha nada. Minha esposa tinha, minha esposa veio de uma família com uma condição um pouquinho melhor, então ela já tinha esses documentos todos, eu não tinha. A gente fez uma viagem, ela foi para fora, ela foi para Miami, minha irmã também foi, minha sogra e meu sogro foram e eu fiquei, para tirar o passaporte. Eu tinha uma semana para tirar o passaporte. A minha viagem era no sábado. Eu peguei o passaporte com o visto na sexta à tarde e como todo bom brasileiro, malinha vazia, para poder compras as bugigangas, roupas, tudo lá em Miami. Fui, cheguei no aeroporto, eu não falava inglês ainda e tudo maravilhoso, falei, caramba, para mim realmente foi um sonho realizado, eu estava ali com as minhas próprias forças, não foi família pagando. Isso foi muito legal e aquilo deu um flashback em tudo o que aconteceu. Falei assim, cara, se eu consegui, outras pessoas conseguem. Aí já deu aquela coisa de ensinar.

Mas aí o meu sonho lá era capitalista selvagem, fui, desci, peguei o carro para alugar, tinha alugado um carro comum, aí tinha um tal do Camaro, o dono de uma das empresas que eu atendia tinha um Camaro, falei, vou tirar onda de Camaro aqui, era baratinho. Na época, para mim, era um sonho [riso], aluguei um Camaro. Estou eu em Miami com um Camaro, sem GPS para chegar num lugar. Aí fiz esse passeio, tal, mas foi realmente um momento assim que eu falei, caramba, as coisas podem acontecer, funciona, entendeu? Dali em diante eu já quis começar a ensinar as pessoas sobre administrar.

Luciano: Que a ideia era essa então, trazer para esse mundo dos caras de TI a visão do empreendedorismo.

Rafael: Isso.

Luciano: De business, de negócios.

Rafael: Isso. Mostrar que é possível, ele não precisa ficar capengando, com medo de vender. Profissional de TI tem muito medo de vender. Ele tem vergonha, não sei o que acontece. É preciso tirar isso, sabe. E eu já tinha começado a montar timidamente uma escola de TI online. Fui até premiado pela ideia na Microsoft, palestrei lá em 2012, mas muito técnico. E deu até certo, hoje a escola é Bernardes Treinamentos Online.

Luciano: Como é que é o nome dela?

Rafael: Bernardes Treinamentos Online. Tem cerca de 10 mil alunos.

Luciano: 10 mil, cara?

Rafael: 10 mil, este ano, até o final de dezembro deve ter uns 15 mil, vamos ver.

Luciano: Mas espera aí, 10 mil o que é, isso é na história, ou 10 mil estão matriculados?

Rafael: São 5 mil por ano.

Luciano: Que estão cursando?

Rafael: Que estão vivos, estão ali cursando alguma coisa. Neste ano são 10 mil. A gente começou a parte tecnológica, a gente perdeu o histórico, então eu não sei os acumulados, mas 10 mil a gente tem o login vivo na minha plataforma hoje, tem lá algum curso.

Luciano: E são cursos em?…

Rafael: Em TI.

Luciano: Mas o TI técnico ou empreendedorismo em TI?

Rafael: Então, naquela época, era só técnico, mas não era Bernardes Treinamentos Online ainda, era outro nome e tal, era só técnico. Agora tem o famoso, que é o cursão que eu tenho que é o empreendedorismo titânio, que é para empreendedores em TI. Titânio porque é TI na tabela periódica, já peguei a sacada, ficou legal a logo. É incorruptível o titânio, muito resistente. Então, nessa época é que veio, hoje a Bernardes Treinamentos existe e tem esse curso, que é o carro-chefe. Mas na época, eu falei assim para a minha esposa… Eu estava em casa, realmente a vida estava bem estável, eu tinha um estudiozinho bonitinho para gravar vídeo e tal, já tinha ganho a minha premiação, no ano em que eu voltei a viajar para fora eu ganhei a premiação Microsoft MVP, é um título, não sei se quem está ouvindo aqui conhece.

Luciano: Chama-se…

Rafael: Most Valuable Professional.

Luciano: Profissional mais valioso.

Rafael: Por aí, é. São 3.500 no mundo, 120 aqui no Brasil e na minha área, que é alta disponibilidade, eu sou o único da América Latina premiado, há 6 anos seguidos. Todo ano você é medido pelo que você faz na comunidade, palestras, tal e você renova ou não. Então a gente já estava com esse título.

Luciano: O povo já está com curiosidade. O que é alta disponibilidade?

Rafael: Beleza, para quem não é técnico, eu dou sempre o exemplo de um cliente meu, que eu posso falar, que eu tenho autorização, que é o Rock in Rio. O Rock in Rio veio para o Brasil, eu cresci junto com eles. Em 2001 eu ganhei uma promoção com todos os ingressos, que era o cartãozinho com todos os shows. Em 2013 eu já estava trabalhando com eles, já eram meus clientes. Então eu venho crescendo junto com eles assim agora em todos esses festivais. E alta disponibilidade é justamente: você vai querer comprar ingresso do Rock in Rio e o site não pode cair, tem que funcionar. Obviamente, o que eu estou falando tem a questão do ingresso.com, tem outras empresas envolvidas, mas a nossa função é o portal não pode cair, ele tem que escalar, ou seja, eu tenho um servidorzinho o ano todo para aguentar os acessos, 100, 200, quando tem pico de venda, eu tenho que aguentar 300 mil acessos no mesmo minuto, 300 mil pessoas clicando no mesmo botão, no mesmo minuto.

Luciano: Quanto tempo dura esse período de venda de ingresso?

Rafael: Uma semana.

Luciano: Quer dizer, em uma semana você tem que decuplicar aquela estrutura…

Rafael: Automático.

Luciano: E quando terminar o período, ela tem que voltar para o tamanho normal.

Rafael: Tem que voltar sozinho. E tem que ser automático, porque do nada, uma mídia… Você tem a venda de ingressos, mas antes tem o aquecimento, aí o Jornal Nacional fala de um artista, aí um blog fala, aí tem aqueles picos do nada, a pessoa vai no site e vê, “Caramba, é o Megadeth mesmo, tá confirmado?” O Megadeth está confirmado agora, do meu amigo Kiko Loureiro, está confirmado.

Luciano: Que sentou aí e fez uma entrevista igual a esta aqui.

Rafael: O Kiko?!

Luciano: Claro.

Rafael: Ah, que legal! Eu não sabia, não. Vou mandar um… está desligado o celular, vou mandar um oi para ele, legal. Ele é muito gente boa.

Luciano: É gente finíssima.

Rafael: Aí está confirmado.

Luciano: Mas aí, você está falando, eu estou comparando. É aquela história do cara que tem um pequeno restaurante e no restaurante ele tem assim três garçons. Quando chega no sábado e domingo, o restaurante lota de gente e ele não consegue atender com três garçons, ele vai ter que ter oito garçons, mas durante a semana, ele não pode ter oito, ele tem que ter três só. Então como é que você faz para aumentar a tua estrutura e na segunda-feira recolher a tua estrutura?

Rafael: Graças a Deus que em Ti não são pessoas, não é?

Luciano: Mas imagina e eu imagino como era isso aí antes da nuvem.

Rafael: Não tinha, era fixo, você pré-alugava os servidores. O Rock in Rio era assim, tinha uma estrutura muito cara, assim cara na época, hoje a empresa é enorme, então eu não posso falar os valores atuais, mas na época era tipo, vou botar assim, era oito mil reais a mensalidade deles de nuvem, servidores dedicados. Não era oito mil reais, é só para botar, foi para mil, para você ver, de oito vezes que eu reduzi o custo deles em idle time, tempo ocioso. Então era nessa proporção, sabe. Você comprava servidor, deixava estacionado. Tinha servidor em Portugal, eu cuido a nível global, Lisboa, USA e tal, ficavam os servidores lá parados, esperando o pico.

Luciano: Você sabe que eu fui fazer uma série, eu faço muita palestra para o pessoal do agronegócio e fiz todo o interior de Mato Grosso, aí fui conhecer os caras, baita fazenda, aquela loucura toda lá. E ali eu entrei na fazenda e tem lá o pessoal do algodão. Entrei na área de processamento, então o cara tem dentro da fazenda dele uma área de processamento gigantesca e as colheitadeiras gigantescas. Uma colheitadeira custa 2 milhões de reais. O cara compra a colheitadeira, vai lá e a colheitadeira fica parada oito, nove, dez meses do ano e ela trabalha insanamente durante dois meses.

Rafael: Caramba, não dá para alugar, não?

Luciano: E eu olhando para aquilo “Cara, não dá para alugar?” Aí é que ele disse, “Mas como é que eu vou alugar, cara?” Alguém tem que manter esses bichos em algum lugar. Será que o cara que fabrica a empilhadeira, mas como é que ele leva para lá, como é que tira de lá? É uma confusão, que isso que você está fazendo aí com TI, se a gente conseguisse replicar um determinado modelo para todas as áreas. Toda área funciona assim, hotel é a mesma coisa. Lotou o hotel, reduziu o hotel, todo lugar é assim. E eu não sabia, chama-se alta disponibilidade?

Rafael: Alta disponibilidade. Não pode cair, tem que escalar. São duas características básicas.

Luciano: E isso é o que você faz hoje?

Rafael: Eu não sou tão técnico hoje, eu tenho um sócio que faz isso. Eu faço a consultoria disso, mas é o que eu faço, só não meto mais a mão ali, porque quem está técnico ouvindo aqui, assim, “mas ele configura cluster?” Não, não configuro, eu não meto a mão, tem pessoas que fazem, eu presto a consultoria para os projetos.

Luciano: Entendi. Então esse passou a ser o seu… como é que você chegou aí?

Rafael: Como é que eu cheguei? Então, a área de TI você fica muito genérico, e você fica meio perdido, não consegue se destacar, você faz tudo. Então eu comecei a fazer projeto de virtualização, que é bem interessante também, não preciso entrar em detalhe aqui. Ganhei um premiozinho com projeto de virtualização. Aí um amigo meu falou assim “Olha, Rafael, você quer focar nisso, alta disponibilidade?” O amigo meu, eu posso falar o nome aqui, é o Fábio Hara, da Microsoft, é bem conhecido no nosso meio. Ele falou “Quer focar nisso? Tem vaga aqui para esse título e você seria um ótimo candidato.” Falei poxa, sempre quis fazer isso, então eu vou tentar. Fiquei um ano trabalhando nisso. Aí, ou seja, eu faço outras coisas, trabalho com outros tipos de coisas na área de TI, só que esse foi o que eu falo no meu curso que é o momento WOW, sabe, tipo, brilhou, as pessoas me conhecem por isso. Eu faço outras coisas, mas eu escolhi isso para ser conhecido por, não é que eu seja especialista, eu tenho outras especializações, mas essa é que eu quero ser conhecido.

Luciano: Esse selo que você ganhou da Microsoft, como é que você chega lá? Como é que ela te chama? Ou como é que você se aproxima dela? Como é que foi?

Rafael: É bem interessante. Não vai ter imagem aqui, mas eu estou mostrando aqui a carteirinha. Esta é deste ano já.

Luciano: Vou bater uma foto da carteirinha, aí eu ponho no roteiro do programa.

Rafael: Legal. Esta é válida este ano ainda, inclusive ela entra na Microsoft.

Luciano: Mas me fala dessa aproximação, como é que você chega lá. Porque eu imagino, seu cartão de visitas…

Rafael: É do caramba. Eu posso usar logomarca, eu posso usar camisa, eu posso representar a empresa, posso entrar na empresa, é bem bacana.

Luciano: Como é que você chega lá?

Rafael: Então, você tem que ter notoriedade na comunidade. Você tem que fazer artigo técnico, você tem que fazer palestra e tem um machine learning da Microsoft que fica buscando, a internet é como eu falo, é maravilha, fica buscando talentos. E é assim, eles buscam talentos e ficam medindo você, para ver se você está ao alcance do prêmio ou não. Aí vão, chamam você. Você vai lá, assina um MDA.

Luciano: Quer dizer, você não submeteu nada a eles? Você está cuidando da tua vida e eles te descobriram?

Rafael: Eles descobrem. Assim, eu tenho um blog hoje, que é o coopera.TI, www.cooperati, vem do latim cooperare, aí você vai botar o TI no final. E esse blog tem mais de 100 mil acessos/mês. Na área de TI, isso é muita coisa. Ele é focado, não é sitezinho de notícias, saiu novo Iphone, não, TI focado. Isso é muita coisa, então já ganhei notoriedade por ele. E fui aparecendo, fui fazendo as coisas, aí a Microsoft olha. Assim, eu estou falando Microsoft, mas a Google faz a mesma coisa, tem o programa deles, a Oracle também tem, Java Master, se eu não me engano, a Google é Developers Experts. Todas as empresas grandes têm um programa desses de alta performance. Buscam talento, olham o talento e trazem ele para perto. O objetivo da Microsoft é feedback. Então eu dou feedback para os gerentes de projetos lá de web, eles querem que você fale “como é que está o mercado, o que você está fazendo?”

Luciano: Quer dizer, ela não usa você como um promotor da Microsoft no mercado?

Rafael: Acaba usando.

Luciano: Mas não é esse o foco?

Rafael: Não é esse o foco.

Luciano: Você não é um agente da Microsoft, um facilitador, nada disso?

Rafael: Não, eu posso falar inclusive mal dela. Eu tenho liberdade total. Só que eles querem feedback, a corp, a Microsoft, a nave-mãe. A Microsoft Brasil, obviamente aproveita assim se você não quer palestrar para o cliente e tal. A gente acaba fazendo, até porque os clientes vêm para a gente depois. E por causa disso ela te dá viagem toda paga lá para Redmond uma vez por ano, acesso a todo mundo, várias regalias aqui no Brasil. Enfim, vale muito a pena. Licenciamento eu não pago nada. Enfim, eu não pago nada de licenciamento, nem de livro, nem de nada, eles mandam tudo.

Luciano: E ela não te paga nada?

Rafael: Não paga nada, diretamente não paga nada. Mas, poxa, você vê que um título desse aqui.

Luciano: Claro, imagina.

Rafael: Sabe como é cliente. E assim, a realidade é essa. Eu escolhi uma tecnologia para me destacar, então escolhi alta disponibilidade. Tecnicamente falando, cluster, na época. E fui com tudo. Aí eu ganhei o prêmio uma vez e fui renovando, estou renovando ele. Assim, tem um tempo, não é para ficar para sempre, mas tem um tempo que eu vou acabar ou não renovando ou você mesmo querendo sair. Porque tem que ter a renovação, quero outras pessoas também no meu lugar, passando pelo que eu passei e tal. A Microsoft tem que dar uma renovada, eles conversam contigo e fazem uma renovada. Enfim, é bem interessante, vale a pena participar.

Luciano: Fala um pouco desse bicho do TI, cara, que é uma coisa interessante. Primeiro, é aquele público que durante muito tempo foi iminentemente masculino, ainda tem, mas as mulheres estão cada vez mais, está entrando mulher aí, mas é um bicho que se tranca em torno da tecnologia e o mundo lá fora é uma outra coisa. Está trancado em torno daquilo, aquela imagem que o cinema criou do nerd, foi criado com um paradigma que aquilo é o nerd e até que o nerd vira bilionário e aí o pessoal começa a olhar com um olho diferente.

Rafael: Isso aí é um grande mito.

Luciano: É lance de cinema. A gente vê essa molecada hoje, o que você quer fazer? Eu quero criar um aplicativo e vender por um bilhão daqui a seis meses, por aí.

Rafael: Isso aí é igual jogador de futebol.

Luciano: Exatamente. Como é que é, você lida com essa turma toda aí, como é que você trabalha?

Rafael: Hoje o meu público é de 25 a 45 anos. É o público que eu atendo diretamente. Então eu não tenho essas coisas assim de ideia da China mais não, veio caindo. O público um pouquinho mais novo tem esse problema.

Luciano: O problema de quê?

Rafael: De querer ficar rico do nada, da noite para o dia, com uma ideia.

Luciano: Ter uma ideia genial, vendida para a Microsoft.

Rafael: Ideia não serve para nada. Ideia todo mundo tem. Hoje em dia, a ideia aplicada é o que serve. Ideia, eu tenho uma ideia, e aí? Todo mundo tem, o chinês já teve, entendeu? Mas eu vou fazer. Beleza, contrata alguma coisa na Índia, rapidinho vai fazer. Enfim, então não é assim, é trabalho duro mesmo. Não, querer ser parte desse 1% com esse sonho desenfreado, não vai funcionar.

Luciano: Deixa eu dar meu testemunho aqui. Você viu, eu te mostrei ali o Café Brasil Premium.

Rafael: Legal, muito bacana, muito bem feito.

Luciano: Então, um cara como eu tem muitos no mercado, meus colegas palestrantes, tem um puta monte de gente criando conteúdo e tal. E vira e mexe os caras vêm aqui e sentam ali, eu mostro para eles o projeto e o queixo dos caras cai no chão.

Rafael: Está fora da realidade, está fora da curva.

Luciano: E a primeira vez que eu mostrei o cara ficou tão… eu olhava, esse cara é melhor que eu, cara, como é que ele está de queixo caído? Ele tem mais seguidor que eu, ele é mais inteligente, ele é tudo mais que eu, como é que ele está aqui assim na minha frente? Depois que eu fui me tocar, essa história toda, falei qual é o mérito daquilo? Foi ter feito. Foi ter conseguido fazer. Não é a ideia em si, que a ideia está aí, todo mundo já viu. Tanto que eu trago o cara aqui, boto o cara na minha frente, mostro para ele, ele vê aquilo tudo, fala cara, eu não tenho disciplina para fazer isso.

Rafael: Os sábios falam isso.

Luciano: Eu não tenho disciplina para fazer isso. Eu não conseguiria fazer isso, porque eu não tenho a disciplina que você tem para fazer isso. E a discussão está em torno de executar aquela ideia. Quer dizer, aí eu vou num evento, mostro a ideia, os caras, que maravilha e tudo e a admiração deles é admiração deles é puta, esse cara conseguiu fazer. Então é conseguir transformar essa ideia em realidade é que é o grande nó da história.

Rafael: É isso aí. Eu já contei, a minha empresa de treinamentos, você falou, 10 mil alunos? Tem. Eu já fiz palestras abertamente de como eu faço o negócio, de como eu montei o negócio e ninguém faz igual, porque poucos fazem. Por isso que eu comecei a ensinar empreendedorismo em TI, porque eu vi que não ia gerar concorrente. Talvez ia gerar possíveis parceiros no futuro.

Luciano: Esse é um ponto fundamental, cara. Você fala não conta para ninguém, que o cara vai concorrer. E não vai concorrer. Não vai concorrer e mesmo que ele concorra, é aquela história assim, mesmo que eu tiver um concorrente na minha área, esse cara não é o Luciano. E o que eu estou vendendo naquele projeto lá não é só o cara pegar e falar vou ter conteúdos legais, não, você vai ter conteúdos legais que o Luciano fez. Então você gosta do conteúdo que o Luciano fez, não é o conteúdo que o Aurélio fez, é o conteúdo que o Luciano fez. E aí tem um diferencial colocado ali que faz toda a diferença. E que aí bate naquele ponto que eu te falei lá, eu tenho que tornar viável um business com 1.500 caras. Não, ele tem que ser viável com 1.500, ele não pode esperar até 10.000 para ser viável, entendeu?

Rafael: É, não tem que ser uma empresa com uma escalada gigantesca, não, tem que ser viável agora.

Luciano: É isso aí, começa viável, então consegui fazer, criei para ser viável e aí é que a tecnologia arrebentou, porque quando veio essa coisa da assinatura recorrente. Quanto me custa atender 1.500 caras e 10.000 caras? É a mesma coisa. É igual.

Rafael: Mas. Luciano, o que acontece também é que as pessoas acham que é muito fácil. Primeiro, acham que é muito fácil, depois você mostra, já ficam com um pezinho atrás. Aí vai no mercado, o cara que é um pouquinho mais especialista consegue uma vaga boa, sei lá de 15, 20.000 reais. Ele consegue uma vaga boa, e nossa, agora estou feito na vida, aí esquece o empreendedorismo de vez, porque para chegar nos 15, 20.000 reais empreendendo…

Luciano: Ele vai ter que fazer 40. Vai ter que fazer 40 para conseguir os 15.

Rafael: É mais difícil. E se você realmente tem uma especialização legal, você consegue uma vaga numa boa empresa e vai bater isso e você vai só estar corpo presente ali, na maioria das vezes. Então o sonho de empreender, na verdade, nem é sonho, a ganância de empreender acaba sumindo quando ele consegue algo mais fácil. Mas empreendedor de verdade, não, é o que batalha no sonho, ele quer fazer aquele negócio acontecer. Não tem só uma ideia, não, às vezes ele é uma porcaria. E detalhe, o empreendedor de verdade não tem essa coisa de eu quero vender roteador, aparelhos Wi-Fi para restaurante com softwarezinho de joguinho. Não, ele quer vender isso enquanto funciona. Se parar de funcionar, ele vai vender outra coisa para hotel, ele é empreendedor, não é um entusiasta por algo que ele quer, não, ele empreende. Então a pessoa que realmente quer viver do seu próprio negócio empreendendo vai se adaptar às coisas, vai perceber que uma ideia não tem poder nenhum sem execução, vai perceber que conhecimento só tem validade quando é compartilhado. Quando ele começar a ver essas coisas, aí sim vem a evolução. Enquanto você está presinho ali e tal não adianta nada.

Luciano: Como é que você está levando hoje? Você tem um lado que é o da escola.

Rafael: Isso.

Luciano: Você tem essa tua atuação como um profissional trabalhando com o teu…

Rafael: Alta disponibilidade?

Luciano: É, você é um profissional nesse segmento, mas eu sei que você também está fazendo uns eventos.

Rafael: Isso, tem um evento hoje aqui.

Luciano: Eu sei que você falou para mim que hoje você tem um à tarde aqui que você vai fazer. Como é que é isso, o que você tem feito?

Rafael: Eu trabalho muito com delegação de tarefas, hoje. Eu tenho uma coisa que eu nunca consegui ensinar é uma questão de liderança minha, é uma questão de família, sei lá de onde veio, não consigo ensinar isso quando a pessoa pergunta, mas eu sei lidar muito bem com pessoas, então eu consigo delegar facilmente. Então hoje eu tenho uma sociedade com uma pessoa que faz treinamentos de project, que é o Mário. Hoje eu tenho empresa de nuvens com o Rodrigo, que atende Rock in Rio, que atende Michelin, que atende vários nomes aí, que alguns não posso falar. Tenho a consultoria que eu estou tentando emplacar palestra, que eu falei contigo, mas faço a consultoria em alta disponibilidade com a empresa e a empresa de treinamento e a igreja. Mas eu delego muito as coisas, eu não trabalho sozinho, tudo está na minha mão, não, eu delego muita coisa e deixo todo mundo aprender errando, aí acaba, está dando certo, vai funcionando, tem pessoas fazendo as coisas e tal, eu só vou olhando, acompanhando. Isso realmente foi uma salvação para mim.

Luciano: A tua empresa, você emprega quantas pessoas hoje?

Rafael: Diretamente, fixo, uma equipe pequena, de sete a dez, nos vários negócios.

Luciano: Quando foi que você contratou?

Rafael: O primeiro?

Luciano: O primeiro.

Rafael: Lembro claramente. Lembra aquela época que eu falei que pedi demissão e peguei os clientes?

Luciano: Uhum.

Rafael: O porteiro de um desses clientes começou a olhar e falou assim “pô, me leva para aprender isso aí também,” só que ele ficava a semana toda. Aí eu peguei um cliente no sábado e ele vinha comigo. Ele tinha saído do exército, trabalhava a semana toda de porteiro e vinha no sábado aprender como eu fazia as coisas. É o Wellington. Ele ficou comigo todos esses anos, pediu para ser demitido, pegou a rescisão todinha, comprou o curso que eu fiz, eu falei para ele fazer, fez, me acompanhou também mais alguns anos, meu primeiro funcionário, hoje é empreendedor, tem a empresa dele. Eu fechei essa empresa de suporte, eu passei, com cliente reclamando no meu ouvido, mas falei não vou fazer mais, agora vou ensinar pessoas a ter isso aqui, não vou mais ter isso aqui, não quero concorrente. Entendeu? Porque era um grande problema eu ensinar as pessoas e tal porque o profissional ficava meio com medo, “mas ele vai vir aqui, é o Rafael, vai atender meu cliente, vai roubar,” eu cortei logo de vez, com cliente reclamando. Passei para ele, hoje está bem de vida, viajou. Ele era porteiro, agora viaja para a Disney com a família, passei. Eu sinto muito orgulho de ter ajudado no desenvolvimento dele e de outros funcionários, mas ele foi o primeiro.

Luciano: Legal. E me fala um pouco desse lance que você falou da liderança agora há pouco aí, que você não sabe da onde veio. Você nunca foi treinado para isso?

Rafael: Não, nunca fui treinado.

Luciano: Nunca foi ter aula de liderança, de modelo de liderança. Como é que foi? Bota a cara e vou me arrebentar?

Rafael: Então, o que acontece, eu sou muito analítico, gosto de entender as coisas, observo muito as coisas, então acabo observando o que as pessoas precisam. Então, eu entendo que um funcionário meu é muito mais do que uma peça de xadrez que está ali, que é só movimento. Ele tem os desejos dele, a necessidade dele e é relativo, não é receita de bolo, cada um é cada um. Tem uma parte que você pode personalizar e tem outra parte que não dá. Então, por exemplo, um dos meus sócios brigou com um funcionário lá que estava atrasado algum projeto. Aí eu analisei a situação, falei assim, puxa, mas esse cara não tem o histórico, aí vêm os KPI, os índices. Ele não tem o histórico, por mais que eu não estivesse próximo àquela situação, não tem o histórico. Mas deixa eu ver o que aconteceu, aí quando algo surge da curva, eu vou entender o que acontece com a pessoa. Eu entendi. Ele faz diálise, no dia ele estava bem enjoado, que ele sai um pouco tonto e tal e não tinha conseguido render, por isso que atrasou. Então, tem que entender a pessoa e essa questão, essa coisa que eu tenho de entender as pessoas me faz ser um líder melhor, porque eu sempre tento ver o lado deles.

Então, por exemplo, na igreja onde eu administro. Os funcionários são simples, mas eles têm plano de saúde. É caro, mas a gente paga do bom para eles. A gente consegue bonificação, consegue férias certinho, porque eu sei que se você deixar, fizer um ambiente bom para a pessoa trabalhar, a liderança é muito mais fácil, porque eles gostam de você. Sabe, hoje, Luciano, tem pessoas que batem na minha porta para trabalhar de graça para mim, porque quer aprender, quer ver e tal. Eu não boto ninguém de graça, porque eu não acho certo, mas quando você dá o ambiente ideal, dá a condição ideal, trata a pessoa com respeito, dignidade e bota a previsão de crescimento que ela poderá ter, às vezes, nada é formal, não, numa conversa, num olhar você vê, aí fica muito simples, elas me seguem onde eu for e pronto. Entendeu? Fica uma coisa muito… o respeito.

Luciano: Se eu tirar o cartão da Microsoft de você hoje, o que acontece com você?

Rafael: Eu tenho que falar com todo o cuidado aqui, para não parecer soberbo nem arrogante. Eu propositalmente construí minha imagem desanexando da Microsoft há alguns anos, de propósito. A minha blusa é preta, você está me vendo aqui de preto. A minha mala está ali embaixo, só tem blusa preta na mala, porque meu consultor falou para mim “faça a sua imagem, tire as logomarcas para ficar sendo o Rafael”. Porque é como você falou, é Luciano. Você tem esse sucesso todo, Luciano, porque é você. Entendeu? Você está ali. Não sei quem está assistindo isso aqui pela primeira vez, eu vou indicar um monte de gente para ouvir pela primeira vez. O homem faz o conteúdo todinho. Eu tenho gente que faz o conteúdo para mim, hoje. Eu vou lá, analiso, boto o meu nome e vejo, como fossem redatores, mas você faz tudo. Enfim, é porque é você. Então eu falei, preciso criar essa personalidade Rafael Bernardes independente de qualquer marca, independente de qualquer situação. E foi isso que eu vim trabalhando, então eu não tenho medo de perder esse título, não tenho medo de perder nada, porque uma coisa que você constrói sendo você, sendo transparente e honesto, as pessoas só estão ali porque querem. Eu tenho hater para caramba, não sei se você tem hater [riso]. Mas enfim, deixa eles, se não gosta, vai embora.

Luciano: E ainda me meti a falar de política, cara, puta que pariu, o que tem de hater. Mas é uma coisa interessante, que nós tomamos um café um pouquinho antes aqui e a gente estava conversando, aquele cara que me odeia não é meu público. Ele não é e eu tenho que tratar esse cara como, bicho, não é meu público. Você não gosta da minha voz, você não é meu público, cara. Você não gosta do que eu falo, você não é meu público. Eu me dedico aqueles que gostam daquilo que eu faço. Eu perco meu tempo escrevendo para as pessoas que gostam do que eu faço e não gasto um tostão do meu tempo respondendo um hater que vem me ofender em mídias sociais, pelo contrário, não perco meu tempo com isso. E até por questão de saúde. Não, cara, eu quero compartilhar gentileza, não tenho nenhum interesse em compartilhar ódio, ficar botando fogo nessa coisa do ódio.

Rafael: Você viu um comentário negativo? Você vê um milhão de comentários bons e você vê um negativo, você fica focando naquele comentário, porque esse desgraçado… Então eu parei com isso. No Facebook eu desabilito o news feed, não vejo comentário nenhum e acabou. Os bons a equipe passa para mim, porque não dá para dar atenção para esse povo, você não consegue agradar todo mundo. Então foca no que é bom.

Luciano: Sim, cara, onde é que vai ser meu business? Naqueles 1.500, 2000 que curtem, que vêm atrás, que fazem a gente crescer, que demandam mais a gente, que vêm com uma pergunta legal, que não vêm com ironiazinha, sabe, vêm com a dúvida real.

Rafael: Que não vem te testar, tem uns caras que vêm testar, para que isso? Eu já vi em palestra, hoje eu tenho habilidade em palestra de contornar isso, mas eu já vi amigos meus ficarem em saia justa por causa de pergunta em palestra que o imbecil, só falando assim, fez de propósito.

Luciano: Sim, só para puxar o tapete.

Rafael: Para puxar, não, eu corto, eu detono logo, através de umas brincadeirazinhas que eu faço, já corto logo a pessoa, o pessoal ri e a pessoa fica com vergonha, fica parado. Não é produtivo, não foco nisso. Na parte de TI tem muita falsa fama, tem muita pessoa que é conteúdo predatório. No seu não deve ter isso, conteúdo predatório é aquele cara que só consome o que você bota no teu blog, ou em texto, ou em vídeo, só quer saber a dica, o tutorial, a coisinha ali para resolver o problema dele, vai embora e nunca mais te olha, nem sabe quem é o autor do artigo ou do vídeo. Isso é muito ruim, sabe, eu quero pessoas que querem se relacionar com outras pessoas, que venham ali “poxa, por que o Rafael falou? Quem é o Rafael?” Aí vai, por exemplo, o Paulo que indicou, que você falou, eu conheço o Paulo, eu tenho no Telegram, eu converso com ele, eu vejo e tal. Obviamente, hoje não dá para interagir com todo mundo, o produto cresceu, mas o máximo possível eu tento ter essa interação,  porque são pessoas. E é assim, conteúdo único, sem marcas, sem brand, sem nada, hoje eu falo abertamente das marcas. Eu acredito que foi isso.

O que eu faço hoje, eu moldo um pouco o conteúdo iniciante, porque infelizmente na área de TI é um mercado muito queimado, em alguns aspectos, principalmente nos técnicos iniciantes. Eles acham que TI não serve para nada, TI não dá dinheiro, TI não funciona. E tem essa mente deles, porque eles estão num círculo vicioso ruim. Então eu faço conteúdos básicos, bem feijão com arroz ali, uma sopinha para digerir rápido, para ele me ver primeiro, entender que é possível, sim, para ele ser transportado para outra camada. Eu falo abertamente, porque tem uma barreira muito grande. Hoje eu faço esse trabalho aí, mas eu foco bem nas pessoas que têm a maturidade para entender. TI funciona, tem gente multimilionária com isso aí e, melhor, tem milhões não milionários vivendo muito bem disso aí, então “algo errado está acontecendo e pode ser comigo,” aí é esse cara que eu ajudo.

Luciano: Deixe eu voltar naquela coisa que eu falei para você da sombra, na hora que tirarem o teu cartãozinho, a Microsoft. Só para te dar um depoimento meu, aliás, não é para você, mas é para quem escuta a gente aqui. Porque aqui, você vê, é um bate-papo, não é uma entrevista, na verdade. Eu trabalhei durante 26 anos na indústria de autopeças e lá na minha reta, não digo que na reta final, mas depois de um bom tempo lá dentro é que eu comecei a sacar essa história toda de que, cara, quem era eu, era o Luciano Pires da Dana. Aí me deu na cabeça o seguinte, eu tenho que tirar esse “da Dana”. Se o dia eu não tiver mais Dana, quem é Luciano Pires? E aí eu comecei, mesmo sendo diretor da empresa, trabalhando de terno, gravata e ganhando o meu salário para trabalhar lá, eu comecei um outro processo, que foi o de criar o Luciano Pires sem Dana, de modo que o dia que eu perdesse esse sobrenome eu teria uma vida na sequência, com a minha marca. Então eu comecei a trabalhar minha própria marca, mesmo debaixo do guarda-chuva gigantesco que era o da Dana. E aí foi. Então, vou escrever meu livro, comecei a publicar artigo de montão. Todos os artigos era Luciano Pires era o da Dana, em todos os segmentos era o da Dana, mas já era o Luciano Pires. De modo que quando, 8 anos depois eu fui sair da empresa, eu já tinha uma persona colocada lá fora. Então, quando eu perdi o sobrenome não vou dizer que não aconteceu nada, porque sempre acontece. Junto com o sobrenome, você perde poder. Olha o diretor da multinacional que chegou… não era mais, agora era um escritor, alguma coisa assim, mas o nome Luciano Pires já tinha ficado lá, que é mais ou menos o que você tem feito. Quer dizer, quero ser reconhecido como indivíduo que tem seus atributos, que faz acontecer, independente de estar com o guarda-chuva da Microsoft ou de quem quer que seja.

Rafael: Ou de outra marca. SolarWinds que me patrocina hoje, independente.

Luciano: Quem te patrocina?

Rafael: SolarWinds e a ADDE. E está para entrar agora um patrocinador que vende Surface no Brasil. É legal, começou a vender agora, vai entrar agora.

Luciano: Mas trouxe assistência técnica junto também ou não?

Rafael: Eu não posso falar ainda [riso]. Mas acho que vai vir, vamos ver. Tem um livro muito bom sobre o que você falou. Você gosta de rock?

Luciano: Se eu gosto de rock?

Rafael: É.

Luciano: Está bom, você não me conhece. Eu gosto de rock.

Rafael: Gosta, então. O Gene Simmons tem um livro chamado Eu, S.A.

Luciano: Sim, eu conheço. Simmons, o vocalista do Kiss, para quem não sabe ainda, aquele que bota a língua para fora, pingando sangue.

Rafael: Tudo aquilo ali é calculado, é a marca. E é a empresa dele. O Kiss é a empresa dele, os músicos lá são contratados dele. É uma empresa, ele montou aquela marca toda, a questão da maquiagem.

Luciano: Mas eles foram pioneiros nessa história de fazer um negócio com o próprio fã clube. Eu me lembro da história inicial deles de correspondência com o fã clube, como é que eles faziam.

Rafael: Sim, tudo por causa do Gene, é tudo dele. A genialidade desse homem é uma coisa louca, porque não é um sonho de adolescente virar rock star, não. Tudo calculado, ele fez o brand todo calculado em cima disso. E eu tenho minhas dúvidas sobre se ele queria sair de fininho e botar outra pessoa maquiada no lugar dele ou não. Acabou que ele não fez, mas ele preparou para isso, a maquiagem é um disfarce. Muito bom esse livro, recomendo Eu S.A., fala sobre brand pessoal, abriu minha mente, eu li esse livro há uns quatro, cinco anos atrás, vale muito a pena, viu.

Luciano: Gene Simmons.

Rafael: Eu S.A. Muito bom.

Luciano: Legal. E me fala uma coisa, o que vem pela frente aí, bicho. Eu vi que você está agitando, você não para de agitar. Aliás, uma dúvida, como é que você chega no Rock in Rio?

Rafael: Como é que eu cheguei?

Luciano: É, no Rock in Rio. O Rock in Rio foi lá na Microsoft, pelo amor de Deus, esse negócio está caindo aqui, me arruma aqui…

Rafael: Não. Tem cliente que chega assim, a Microsoft envia eles para mim. O Rock in Rio foi um caso interessante que sabe essa mesinha que a gente está sentado?

Luciano: Sim.

Rafael: Essa mesinha é apertadinha, eu não sei se vocês já viram uma foto daqui, eu estou quase encostado no homem. A mesma mesinha, em 2011, estávamos eu, o Artur, que é a família lá dos Medina e o Justo assim, eu e ele assim numa mesinha desse tamanho renegociando. E eu fui fazer atendimento de suporte técnico. A minha entrada em grandes empresas foi por baixo. Tinha um técnico que ia lá, inclusive eu ia de vez em quando mexer em impressora, em rede, essas coisas e depois foi escalando a coisa. A minha empresa, a K2 Cloud Computing foi criada para atender o Rock in Rio, é uma startup. Isso daí é interessante, se puder colocar no programa, enfim, fique à vontade. Eu estava numa palestra na Microsoft, já sentadinho com o meu crachá, credencial, tudo e uma pessoa chegou lá e foi falar de startup e deu oportunidade. Se tiver uma startup legal, uma ideia legal, uma coisa que vai rodando, passa lá no Rio de Janeiro, tal, tal, que vai ter um negócio legal lá.

E só eu fui, incrivelmente, as oportunidades passam.

Luciano: E a turma não quer.

Rafael: Não se mexem. Aí eu falei lá com a moça, só eu falei e tal. Fui no Rio de Janeiro, por acaso estava a presidente da Microsoft Paula Bellizia lá.

Luciano: O que era, um evento?

Rafael: Era um evento de startup. E eu não sabia. Aí eu falei, ela vai estar lá, então eu vou falar com ela. Cara, eu fui lá. O projeto do Rock in Rio era startup, era uma empresinha de nuvem pequenininha tal, que estava na Amazon, que é um excelente serviço, só que é concorrente. E lá eu conversei com ela. Ela adorou. Assim, para quem não sabe lidar com presidente de uma empresa desse tamanho, tem segurança, tem gente filtrando, tem dois secretários ali, “não fala besteira, não”, te dando briefing do que você fala ou não. Só que eu falei tão abertamente, tão tranquilamente que a Paula quase que virou amiga minha ali, começou a conversar, fiquei o maior tempão, tirei self com ela, marquei o momento.

Um ano depois, ela estaria indo no Rock in Rio comigo, tenho foto abraçado com ela no evento do Rock in Rio. A gente concluiu o projeto, a gente migrou o Rock in Rio para a nuvem da Microsoft, fez um projeto maravilhoso, difícil para caramba, mas muito legal, bacana, botou muita coisa nova e ali criou-se essa startup, a K2, que criou-se a empresa.

Luciano: A partir do momento em que você decidiu ir num evento no Rio de Janeiro?

Rafael: Num evento. É, eu estava num evento que era aqui em São Paulo e deu-se a oportunidade, tem um negócio de startup lá no Rio. Eu falei, eu vou porque eu tenho essa ideia, eu quero ver. E lá eles compraram a briga, sabe.

Luciano: Mas você não foi pensando que vou passar para a Microsoft. Você foi, eu vou contar a história e ver o que dá.

Rafael: Exatamente.

Luciano: É isso?

Rafael: A minha empresa de treinamentos nasceu assim. Eu fui a um evento Geeks on a Beer, no Rio de Janeiro. Tinha Rio Bravo, tinha Ideias Net, esse pessoal que investe e o meu pitch não foi selecionado para falar, mas eu falei assim mesmo, fui ficar sentado na mesinha, tomando cerveja com o pessoal.

Luciano: Para quem não é do ramo aqui, pitch é o âmago de uma ideia. Eu vou te dar o pitch de uma série na Netflix: o mocinho é abandonado quando criança, ele cresce, briga com o rei, mata o rei, casa com a mulher do rei e descobre que a mulher era mãe dele. Pronto, esse é o pitch. Aí você olha, o que é isso, cara, que puta história, cara, isso dava um romance. Aí você vai, quero ver, vamos fazer, vamos montar série e tudo. Então isso não tem detalhe, tem o âmago da história. Então isso é meu pitch. Olha aqui, eu quero “pá”, o cara bate o olho, ôpa, me atraiu, me conta o resto.

Rafael: Geralmente é um minuto.

Luciano: É isso aí e me conta o resto.

Rafael: Aí eu estava sentadinho lá, ouvindo o pitch da galera toda falando e tal e sobrou um tempo, acho que a pessoa não foi. Aí o cara que estava no microfone falou assim “Alguém quer falar antes de terminar?” Eu já estava com a mão lá em cima assim, aí ele me olhou pulando assim, “Então vem cá”, lá vou eu. Nunca ensaiei pitch na vida. Fui falando, tenho uma ideia de treinamentos assim, assado. Tenho já 4.000 alunos aqui interessados. Eram interessados, não eram alunos na época. Aí acabou o tempo assim do minuto, aí ele falou “Fala mais” porque os investidores já estavam conversando. Fiquei cinco minutos falando da minha ideia lá, do meu projeto, cinco minutos, era para ficar um, ninguém ficou. E assim, eu sou bem sagaz, falei ôpa, tem algo aí. Eu desci do palco, na hora que eu pisei no palco, a chuva de cartão que veio, “fala comigo!”. Aí eu peguei todos os cartões educadamente, falei, bom, se todo mundo quer investir, vou fazer sozinho [riso] porque o negócio funciona. Porque dinheiro não era o problema, eu queria só validar a ideia. E se tanta gente queria dar dinheiro para isso, então isso vai funcionar, vou fazer sozinho, vamos lá e fiz. Então, é aproveitar a oportunidade. Da mesma forma que eu estava nesse evento e a moça falou da oportunidade das startups, é aproveitar, sabe, cara de pau, seguir em frente.

Eu te falei que eu sou paraquedista, freefly, é o que vai sozinho, eu nunca saltei com alguém grudado nas minhas costas, porque eu não gosto, não acho legal. Legal quem quer fazer, tudo bem, mas eu não queria, então eu estudei para fazer o freefly. E o salto de fé é aquele momento em que o meu paraquedas nas costas sozinho, primeiro salto na vida, o avião estabiliza, o avião de sete pessoas, você abre a portinha dele, você bota um pezinho na roda, segura outro na asa e está lá o destino lá embaixo, você vai e salta. Esse é o momento, tem que fazer assim, se não fizer, sabe, tanto no paraquedismo, que eu poderia travar, muita gente trava na portinha. No empreendedorismo as pessoas travam, está ali a oportunidade e não faz, não sei o que está faltando. E essa é minha missão agora, de fazer essas pessoas destravarem, aproveitarem. A oportunidade passou na frente de todo mundo, gente. E assim, sendo bem direto, é a oportunidade de dezenas de milhares de reais mensais no teu bolso. Só que na hora que ela vem, ela não vem assim “olha só aqui, você vai ganhar muito dinheiro!” Ela não vem assim.

Luciano: Ela não pega na tua mão, fala me leva, não. Nada. Você tem que pegar. E a turma olha e vai falar, não, mas aquele tinha uma ideia interessante, mas é que ele é cara de pau, não, mas é que o negócio dele é treinamento, sempre tem um mas é.

Rafael: Eu fiz minha primeira palestra num evento da Microsoft para 20 mil pessoas lá em Atlanta em inglês. Teve gente que parabenizou, mas a grande maioria falou, ah, mas é o Rafael! Se eu xingasse, eu ia falar um palavrão, mas eu não xingo. Não é possível, cara, é difícil para mim. É uma oportunidade que todo mundo teve, eu fui lá e fiz, sabe. Vocês não fizeram, mas não é simples para mim, não, é batalha sempre.

Você deve se lembrar da primeira palestra em inglês que você fez.

Luciano: Sim.

Rafael: Terrível, a boca seca. E aí um monte de gente vem falar, não, mas você já tinha isso.

Luciano: A minha primeira chamava-se Doing Business in Brazil. Ainda tinha mais essa, era para dizer para os gringos o que é que o Brasil tem de legal para se investir aqui, imagina só. Não era para contar uma historinha para os caras, era para convencer os caras para vir para cá. Doing Business in Brazil, mais essa aí. Cara, que legal, mil e uma ideias, mil e uma agitações.

Bicho, quem quiser conhecer, vamos lá. Vamos começar pela área, quem quiser fazer teus cursos.

Rafael: Jabá? Então, primeiro eu recomendo que siga o Facebook, o meu carro-chefe. É uma coisa que eu até recomendo, escolhe uma rede. Mas o Instagram é melhor, o YouTube. Cara, você não é entretenimento, você não vai ter um milhão de inscritos, então eu vou seguir o Facebook. Tem conteúdo toda semana, tem live toda semana.

Luciano: Como é que está o nome lá?

Rafael: Facebook.com/Bernardes.Rafael.

Luciano: Bernardes com s no final. Bernardes Rafael. E o Rafael com f normal. Bernardes Rafael.

Rafael: Bernardes Rafael, porque o desgraçado do Rafael Bernardes já tinha registrado lá, eu estou numa disputa judicial com ele, é um perfil parado, mas eu vou tentar. É Bernardes Rafael. Toda semana você pode mandar mensagem, você vai ser perseguido pelo meu pixel de anúncios até a morte [riso]. Não, eu faço eu marketing muito tranquilo hoje, porque é só para quem realmente, como eu te falei, quem consome o conteúdo, eu tento vender algo, quem não consome eu não tento, porque esse não é o meu público. A página de treinamentos é Bernardes.com.br, a empresa de treinamentos e o canal é YouTube.com/Rafael Bernardes.

Luciano: Você está produzindo vídeos também?

Rafael: Sim.

Luciano: São vídeos de quê?

Rafael: Depende da campanha que eu estou fazendo. Ou vídeos técnicos, a alta disponibilidade, que eu falei que é uma vertente, ou são vídeos de empreendedorismo, onde eu falo por exemplo de uma recomendação de livro que eu estou lendo, uma técnica que eu vi que funcionou com um aluno. Tem uma técnica recente que a gente está aplicando, chamada tripwire offer, oferta gatilho, bem interessante, que começa com um “produtinho” simples, barato, aí o cliente vai e compra e depois você engatilha outro. Está funcionando, eu conto histórias. Então toda semana eu falo um negócio desses, prioritariamente no canal do Facebook. No YouTube entra mais coisa técnica.

Luciano: Legal e bom, uma dica para quem está nos ouvindo aqui, o Rafael está trabalhando em cima dessa questão da palestra sobre empreendedorismo, ele estava contando para mim na hora do café que ele está focado em como é que eu faço para que as pessoas conheçam e me chamem para fazer a palestra do empreendedorismo e uma palestra técnica. Como é que abre esse caminho aí. Pelo que ele me contou, tem um material muito legal, bem interessante, junto com cases de empreendedorismo. Então se você está ouvindo a gente aí e está interessado em cutucar a tua moçada toda para empreendedorismo e tudo o mais, o Rafael está na mão, está na linha, está na fita e já deu para ver que o bicho sabe falar. Então larga ele lá que eu acho que o bicho se vira e tem café no bule.

Cara, muito legal, bicho. Adorei essas histórias todas, acho que você está agitando bastante e eu espero ter a chance da gente fazer uns negocinhos juntos, cara.

Rafael: Sim. Nossa, achei o máximo aqui, o estúdio. Achei o negócio ali o máximo, a tua plataforma é o máximo, muito legal, é um ambiente muito bacana aqui. Inclusive não sei se você recebe pessoas aqui, não, mas quem puder te visitar, visite.

Luciano: Não, mas recebemos direto e esse lance que você falou que está pertinho de mim, não é à toa, não, cara, é de propósito. Tanto que eu não gravo esse programa aqui por Skype, o LíderCast só tem sentido se for ao vivo, entendeu? É aquilo que eu falo, cara… eu estou batendo na perna dele, porque nada substitui essa história de estar olhando você aqui agora e estar vendo o brilho no olho e tudo o mais, isso aqui não tem como e passa pelo microfone, o cara que nos escuta sabe que nós estamos ao vivo aqui os dois e isso muda tudo.

Rafael: Não tem retorno aqui, não tem aquela coisa. Está aqui, estou ouvindo a tua voz de verdade.

Luciano: Não, isso é um papo normal aqui. Bicho, bem-vindo, muito obrigado por me dedicar esse tempo aqui. Eu sei que você tem um evento hoje aqui e vai agitar bastante agora. Seja bem-vindo e espero que você curta e vamos ver se a gente faz umas loucuras juntos aí, está bom?

Rafael: Show, eu que agradeço. Sempre que puder, estou aí. Valeu.

Luciano: Valeu. Um abraço.

 

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