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Luciano Pires -

Luciano Pires: Bom dia, boa tarde, boa noite, bem-vindo, bem-vinda a mais um LíderCast, o PodCast que trata de liderança e empreendedorismo com gente que faz acontecer. No episódio de hoje convidamos Christian Lohbauer, que é doutor em ciência política pela Universidade São Paulo, e professor de relações internacionais desde 1998. Christian foi executivo de empresas e entidades do setor do agronegócio e candidato a vice-presidente da república na chapa do Partido Novo, nas eleições de 2018. Sua visão pragmática do Brasil é um alento em meio a tanta gente chutando os seus eu acho e tentando destruir o pouco que conseguimos construir nos últimos anos, o Brasil tem jeito, hein? Ouça nosso papo, talvez você que é ouvinte contumaz perceba alguma diferença na ambientação e na qualidade do áudio, é que essa conversa foi gravada fora do nosso estúdio, lá nas instalações da Brasil Paralelo.

Bom dia, boa tarde, boa noite, Luciano Pires aqui, eu sempre começo contando como é que o nosso convidado chegou até aqui, essa aqui é uma história interessante, ele apareceu de bicão na gravação de um PodCast meu, que é o LíderCast, no ano passado, quando eu fui tratar do De Olho no Material Escolar, convidei a Letícia, que é a presidente, ela falou, puxa, posso levar um conhecido que também está com a gente? Vem. De repente chega lá, está ele conosco ali e foi uma conversa tão interessante que quando nós terminamos eu falei para ele, cara, eu vou te chamar para a gente fazer uma nós dois, a gente só não sabia que seria aqui no estúdio da Brasil Paralelo. Três perguntas que são fundamentais e são as únicas que você não pode chutar de jeito nenhum, depois você inventa à vontade, a gente vai na conversa aí, mas seu nome, sua idade e o que que você faz.

Christian Lohbauer: Meu nome é Christian Lohbauer, eu tenho 56 anos, e eu sou cientista político de formação, professor e executivo de entidades de representação, durante os últimos 25 anos.

Luciano Pires: Seja muito bem-vindo. Cientista político hoje em dia no Brasil, perigo, se estiver do lado errado…

Christian Lohbauer: É uma tribo… tem um estereótipo da tribo que precisa mudar um pouco, eu não faço parte do mainstream, mas enfim.

Luciano Pires: Você nasceu onde Christian?

Christian Lohbauer: Nasci aqui em São Paulo?

Luciano Pires: Paulistano da gema?

Christian Lohbauer: Da gema.

Luciano Pires: Tem irmãos?

Christian Lohbauer: Tenho uma irmã, e sou neto de imigrantes dos dois lados, o Lohbauer é alemão, veio na segunda guerra, e a família da minha mãe, que eu não uso o nome, é de família armena, então eu sou uma mistura bem paulistana.

Luciano Pires: E a Armênia tem uma história…

Christian Lohbauer: Uma história interessante, conheço bem.

Luciano Pires: O que que seu pai e sua mãe faziam? Eu pergunto para saber da origem, quero ver de onde vem.

Christian Lohbauer: Legal, eu gosto muito, tenho alegria de falar da minha família, da história da gente, das nossas histórias, o meu pai era, falecido, engenheiro químico, e a minha, ela não terminou publicidade e propaganda na FAAP, mas ela é uma ilustradora e hoje aquarelista, uma desenhista, uma artista, para o meu gosto muito boa.

Luciano Pires: Só pode ser, uma mãe, né? Você tinha apelido quando era criança?

Christian Lohbauer: Tinha vários.

Luciano Pires: Pega aquele assim dos 7 anos de idade, qual que era?

Christian Lohbauer: Eu tenho um… dos 7 anos é nervo.

Luciano Pires: Nervo?

Christian Lohbauer: É, porque eu tinha um grupo de amigos de praia, que eu sou amigo até hoje, e eu sempre fui um cara muito nervoso por questão quase que de DNA, eu não sou mais, mas uma criança muito nervosa, e a criançada brincava comigo que eu era nervoso, e eu ficava irritado, então era nervo, dá para o nervo, dá para o nervo.

Luciano Pires: Minha mãe dizia que eu era neurastênico, que é a mesma coisa. O que que o nervo queria ser quando crescesse?

Christian Lohbauer: Rapaz, sabe que eu sempre tive uma coisa que até hoje é quase meio assim, fora da curva, eu gostava de mapa mundi, do mapa mundi, então desde molequinho, eu gostava de estudar os países e tal, então na adolescência eu já sabia todos os países do mundo, a maior parte das capitais, como sei até hoje, eu sempre gostei dessa matéria, tanto que o meu primeiro vestibular foi geografia, e eu entrei na geografia na USP com 18 anos em 85, mas em seis meses eu já saí da escola, porque eu me lembro, a gente ainda estava na fase da União Soviética, e os marxistas estavam todos lá, e eu achava que eu ia estudar cartografia, que eu ia estudar mapa, que eu era um moleque, durei seis meses e fui embora.

Luciano Pires: Mas você estava lá por que você queria fazer, era isso que você queria da vida?

Christian Lohbauer: Eu nunca soube, até hoje eu não sei direito, eu sempre gostei, sempre fui uma pessoa curiosa, mas a vida foi me levando em muitos caminhos, eu caí nas ciências políticas também depois de ter me formado na ESPM, imagina, eu já formado na ESPM em propaganda, comunicação social, é o diploma, e daí eu falei, não, não, eu quero estudar política, comecei tudo de novo, fazer ciências sociais, fiz mestrado, doutorado.

Luciano Pires: Como é que um cara de propaganda vai parar na ciência política?

Christian Lohbauer: As coisas estão muito próximas uma outra, muito, a escolas não são nada muito boas, até hoje, acho que talvez até piores hoje, na média, mas escola… a ESPM tem uma história muito interessante daqueles publicitários tradicionais que fizeram a escola, Francisco Dacioso era o presidente, mas o estudo da propaganda e da comunicação social, é um estudo que tem ligação direta com a política, e hoje então, com esse universo novo nosso aqui.

Luciano Pires: Misturou tudo, a gente não sabe mais.

Christian Lohbauer: Tudo.

Luciano Pires: Você sabe que é uma coisa que eu tenho visto, que se perguntarem para mim hoje qual é o atributo fundamental para quem quiser ter sucesso na vida, é saber se comunicar.

Christian Lohbauer: Desde sempre.

Luciano Pires: Saber se comunicar, o resto você aprende, a planilha Excel eu vou aprender, mas essa coisa de conseguir comunicar a minha ideia, que é a coisa da política, a ideia da política é exatamente essa aí. Mas você foi lá para trabalhar com isso, você foi fazer ciência política para tirar um certificado de cientista político e trabalhar com…

Christian Lohbauer: Não, na verdade, eu quando saí da escola de comunicação, eu fiz uma viagem de mochilão em 89 pelo mundo, peguei um dinheiro que eu tinha guardado quando eu era estagiário na American Express, que tinha um super de um salário na época, eu lembro que era mil dólares por mês, hoje ainda seria um belíssimo salário para um garoto de 20 e poucos anos. E como eu tinha casa, comida e roupa lavada, eu guardava o dinheiro, quando eu me formei, eu peguei uma mochila e fiquei…

Luciano Pires: Você foi ver o mapa mundi ao vivo.

Christian Lohbauer: Eu fui ver o mapa mundi ao vivo. Eu fiz um circuito que foi as antigas civilizações, então eu fui para a Itália, eu fui para a Grécia, eu fui para o Egito, isso em 89, daí encontrei uns americanos com quem eu me juntei, fui para o sul da África, para o Quênia, fui para a Índia, fiquei dois meses, fui para o Nepal, dei a volta, eu queria ir para a China também, mas na época não consegui o visto por causa da Praça Tian´anmen quando eu pedi visto já antes de sair, teve a questão da Praça Tian´anmen e a China ficou fechada.

Luciano Pires: O Massacre da Praça da Paz Celestial.

Christian Lohbauer: Então, eu não fiz China naquela época, faz fiz uma viagem muito interessante, quando eu voltei, eu falei, eu quero estudar política internacional, foi o que me permitiu entrar ali na Faculdade De Filosofia, Letras e Ciências Humanas, porque o universo ali é dividido em alguns grupos, como em todos os lugares, o universo da política nacional, como até hoje é, é muito de um grupo só, social democrata para a esquerda, e assim, o universo da política internacional era um pouco mais arejado, e ali que eu entrei, ali que eu fiz meu mestrado, fiz meu doutorado, mas era na Escola de Ciência Política da FFLCH, eu não entrei pela divisão partidária, sistema eleitoral, democracia, sociedade civil, esses temas passaram na minha frente, mas eu sempre fui um estudioso do mundo.

Luciano Pires: Deixa eu fazer uma…

Christian Lohbauer: É daí que eu me defendo bem, entende, na área da política.

Luciano Pires: Aqui a gente faz umas idas e voltas, dá umas viradas aqui que são interessantes, eu fiz umas viagens também quando era garotão, me formei, não foi um mochilão como o seu, mas foram duas que foram sensacionais, uma durante o Mackenzie, eu fui fazer o Projeto Rondon, me tiraram da escola, me botaram durante 30 dias no polígono das secas, no meio da Bahia, lá em Irecê, eu estou falando de 76, e aquilo foi fundamental, foi maravilhoso, me jogou dentro do Brasil…

Christian Lohbauer: Deveriam reeditar.

Luciano Pires: Aquilo era fantástico. E quando eu me formei, antes de eu tirar o meu diploma da gaveta e trabalhar para ganhar a vida, eu fiz uma viagem com dois amigos, pegamos o carro e saímos de São Paulo com o objetivo de chegar em Fortaleza, em 77 isso para 78, e sem saber quando chegar e nem que caminhos seguir, vamos embora e vamos para lá. E foram 55 dias na estrada, que foram sensacionais, cara, então eu estou colocando esse preâmbulo para você porque viagens como essa na idade que você fez, na idade que eu fiz, mudam a vida da gente, elas dão impacto na gente. Como é que foi para você, quando você olha para trás hoje e pensa, cara, aquela viagem é um daqueles momentos em que muda o sentido da tua vida, está indo em uma direção, você faz a viagem, a vida faz assim… é isso?

Christian Lohbauer: Eu vou te falar, até arrepio de pensar, porque nessa… agora na maturidade, quando você começa a olhar para trás, começa a filosofar um pouco qual o sentido disso daqui, o que nós estamos fazendo aqui, para onde nós vamos, porque é uma coisa que há dez anos atrás eu não pensava, agora eu comecei a pensar, essa foi uma coisa muito marcante na minha vida, ainda bem que eu fiz, e vou te falar, você fez isso pelo Brasil, eu deveria ter feito mais pelo Brasil, também fiz, não na proporção que você, mas fiz de mochilão nas praias, ainda quando Trancoso não existia, era uma pracinha, Caraívas era um vilarejo, eu fiz pela costa, algumas coisas assim, mas deveria ter feito muito mais, aliás, os brasileiros mais jovens deveriam fazer isto assim que pudessem, porque só assim, acho que a sua pergunta é essa, é só assim…

Luciano Pires: É impossível explicar para quem não foi o que é estar lá, eu consigo aqui te dar ideias, depois eu fiz viagens muito malucas na minha vida, que é sempre assim, me dá uma agonia, porque eu tento te contar o que é estar lá, eu fui para o Nepal também, eu fui para o Everest, eu tento contar o que é estar lá e é impossível, me dá uma frustração tremenda, eu não consigo dar uma pálida ideia mostrando uma fotografia, agora estando lá, as pessoas que você conhece, o vivenciar um dia a dia com a comida que não é a tua, a língua que não é a tua, o ar que não é o teu, tudo o que é diferente, isso muda a gente.

Christian Lohbauer: É um autoconhecimento, quando você volta para casa, você entende melhor quem você é da onde você vem, porque nós temos um problema aqui, que é um problema da maioria das pessoas jovens de todos os países em desenvolvimento e mais pobres, onde as pessoas não tem essa possibilidade de ver o outro, que você conhece, só vai se entender melhor se você puder comparar, e é a comparação positiva, não estou aqui comparando… assim, quando você falou, você vai lá cheirar, você vai lá olhar, aí você vai olhar para você, eu venho de tal lugar, a minha origem é aquela lá, esse exercício tem muito pouca gente que pode fazer, então a pessoa começa… até hoje a molecada quer ir para a Austrália, quer morar em Miami, porque não sabe como é, então deveria poder ir, em tese seria o ideal que todos pudessem ir para poder valorizar o que tem aqui, porque aqui tem muita coisa boa, e a gente não consegue só ficar explicando como nós estamos fazendo aqui, aqui é bom, apesar de tudo é bom, não adianta, a pessoa tem que sentir, tem viver, vivenciar, cheirar, olhar.

Luciano Pires: E se atirar na incerteza… eu me lembro da ansiedade da partida, vou partir, eu não sei o que vai acontecer, e na cabeça da gente, todos os cenários ruins você já desenha antes, vou me perder em tal lugar, vou dançar, vou ser roubado, mas quando você chega lá de repente é uma surpresa, porque o perigo está lá, mas ele não é assim, eu conheci pessoas lá que são maravilhosas e que guardo para o resto da vida.

Christian Lohbauer: Pessoas, pessoas, pessoas, experiências com gente, lógico que tem a natureza, tem as paisagens, o mar, montanha etc., os lugares históricos que são um negócio espetacular, mas pessoas, você vai ver que pode mudar religião, pode ter um lugar de civilização muito mais antiga do que as Américas, um monte de diferenças, mas o bicho é a mesma coisa.

Luciano Pires: Você vê o que nós estamos falando aqui, Christian, que é uma coisa que os últimos 6 anos, com todo o período Bolsonaro, com pandemia no meio do caminho, aliás, com pré-Bolsonaro, desde 2016, na verdade, a gente vem sofrendo uma mudança nesse país aqui brutal, a ponto de essa questão das pessoas, o cara com quem a vida inteira eu sentei para tomar um chopp, e que tinha posições políticas que sempre foram contra a minha, e que não tinha problema nenhum, não posso mais vê-lo e ele não pode me ver mais, o meu almoço de domingo virou um pandemônio, porque eu vou sair no tapa com o meu cunhado e aí a coisa… e é exatamente isso, foram as pessoas que foram assumindo uma postura de… como é que eu vou dizer para você? De intolerância para quem pensa diferente, e aí destrói isso que você falou, sobre essa maravilha de encontrar…

Christian Lohbauer: Eu estou tentando ainda entender isso aí, Luciano.

Luciano Pires: Você acha que é uma psicose aí, cara, é uma psicose?

Christian Lohbauer: Eu não consigo responder assim, eu penso muito nisso que você está falando porque eu estou vivendo a mesma coisa que você vive, os meus amigos, os meus familiares assim perdendo a paciência a ponto de não querer mais falar, entendeu? E não é só questão Lula Bolsonaro, é uma coisa muito maior assim, a discussão sobre o que é a verdade, que é um pouco a nossa proposta, assim, acho que o Brasil Paralelo tem essa ambição de trabalhar pela verdade, o seu programa e você na sua história, com os seus livros também. Ah, mas essa é a sua verdade. Não, não, não, existe uma coisa que é a verdade, se você olha para o céu, ele é azul, ah, mas ele pode estar lilás, ok, mas se você olhar para o céu e ele estiver azul, ele está azul, porque existe uma luz que incide sobre o oxigênio e a reação na natureza, o isolamento daquele raio se transforma em azul, isso é verdade, se você quiser me convencer que é verde, eu não vou me convencer. E aí começou a ficar complicado, porque o mundo da pós verdade, o mundo da pós… onde tudo é ciência, nada é ciência, é o mundo das crenças, nós vivemos no mundo das crenças.

Luciano Pires: Mas você notou que isso piorou muito de pouco tempo para cá?

Christian Lohbauer: Não é no Brasil só, acho que a gente está em um mundo, acho que o mundo ocidental, talvez, porque ele é mais transparente, porque o mundo oriental é mais autoritário.

Luciano Pires: Como que um cientista político interpreta isso, quando você olha da tua janela de cientista político que está acostumado a ver essas interações, porque o mundo vai e volta, são ondas, tem ondas e você pega os anos 60, tem uma onda de liberalismo, uma onda que ela vai, ela passa, depois ela volta, parece que vira um pêndulo que vai e volta, mas não com a velocidade que nós estamos vendo acontecer agora, como é que você vê?

Christian Lohbauer: Eu acho que você falou a palavra mágica, que eu acho que é a coisa da velocidade, há 30 anos atrás, um professor nosso, professor que foi um professor importante, ainda é, o professor Celso Laffer, que era do direito, foi ministro das relações exteriores, ministro do desenvolvimento e comércio do Fernando Henrique, professor, intelectual de primeira linha, ele deu uma aula sobre as velocidades, eu nunca me esqueci, que tinha a velocidade da política, a velocidade da economia e a velocidade da informação, que se aplica ao mundo hoje de uma maneira muito mais agressiva, a política é muito mais lenta do que a economia, e a economia é muito mais lenta do que a informação, e no mundo cibernético atual e muito mais lenta ainda, então tem uma dificuldade de combinação das velocidades, e esse universo nosso que a gente viveu, nós temos mais ou menos a mesma geração, a gente viveu o fax, a gente viveu o telex, a gente viu o vídeo cassete, esse telefoninho na nossa mão, esse negócio aí, ele está transformando o comportamento humano, as instituições políticas são as mesmas, tem uma república presidencialista, uma monarquia parlamentar, tem o judiciário, tem o legislativo, mas tem esse negócio na tua mão que te põe em conexão com todo mundo ao mesmo tempo, com acesso imediato e instantâneo com tudo, é um descompasso de velocidade. Eu acho que isso ajuda a explicar.

Luciano Pires: E tem um cara lá fazendo lei que fala bitcoio e outro fala Elon Much. É uma dicotomia… é uma diferença.

Christian Lohbauer: Total, as distâncias… assim, posso começar a falar de número aqui, porque eu guardo muito número, mas você pensar que dois bilhões de pessoas no mundo acordam de manhã para buscar água, em oito bi, dois estão preocupados em achar água de manhã, e nós estamos nessa conversa aqui, é um descompasso de tantas coisas, um distanciamento de tantas realidades, o próprio acesso à informação instantânea, não é todo mundo, outro dia eu vi o número, acho que dois bilhões de pessoas na Terra têm acesso instantâneo, nós somos oito. Então assim, é um mundo muito louco, muito multifacetado e assim, o resultado é uma integração imediata e uma fragmentação absoluta, um descompasso. Onde que isso vai dar? Se tivesse bola de cristal, a gente saberia, mas assim, eu não consigo, por isso eu estou tentando responder a primeira pergunta que você fez, como é que se explica esse distanciamento entre as pessoas, onde é que está pegando? É na ética de cada um? Outro dia eu vi uma frase que eu achei muito boa, o Século XXI está mais parecendo Século XII, do que sequência do Século XX, que nós voltamos para a época das crenças, das cruzadas, a ciência jogaram no lixo, se eu chegar com você e te der vários exemplos do ambiente que eu convivi nos últimos 20 anos, que é o ambiente da sustentabilidade, do agronegócio brasileiro, da ocupação da terra, do uso da terra, do uso da química, o uso dos insumos agrícolas, da tecnologia genética na semente, esse universo que é uma ciência específica, ela é jogada no lixo todos os dias por esses crentes do ambientalismo louco. Mas escuta, quando tudo é ciência, nada é ciência, quando nada é ciência, é o mundo das crenças, e o mundo das crenças é esse, você senta com o seu colega no domingo, ele te faça um troço, você fala, mas da onde você tirou isso? É crença.

Luciano Pires: Quero distância.

Christian Lohbauer: Você quer ter a sua, eu tenho a minha, então vamos falar de futebol, se der, às vezes nem dá o futebol mais.

Luciano Pires: Eu acabei de gravar o programa explicando a diferença entre um dissidente e um negacionista, cara, eu discordo de você e tenho elementos aqui para dizer para você porque que eu discordo, e aí você vira e bota o dedo na minha cara, seu negacionista, não, eu não estou mostrando para você uma crença cega, eu estou te mostrando que eu tenho base, eu tenho… e durante a pandemia foi exatamente isso, aparecia o especialista A falando um monte de coisa, aí vinha o especialista B falando tudo ao contrário do que o cara A… os dois com a mesma credencial na mão, e eu assistindo os dois no meio do caminho e falo, bom, e agora, tomo ou não tomo, pode ou não pode, devo ou não devo, e a gente completamente perdido ali e sem uma visão do tipo assim, cara, não vai aparecer alguém para, ei, vamos botar ordem aqui e vamos seguir nesse caminho, não, é fragmentação.

Christian Lohbauer: Não, deu tempo, não deu tempo, a coisa… acho que por causa das velocidades, porque a gente tinha um tempo de maturação, onde você lia um livro, aí vinha um professor, aí vinha um programa de TV, aí você assinava um jornal e uma revista. Agora não, o tema sai hoje de manhã, à tarde o mundo inteiro já está discutindo e aparece 18 especialistas, 9 falando para um lado, 9 para o outro. É o mundo do obscurantismo, você fala, como eu vou construir minha opinião? Vai chegar um momento talvez, espero, que vão começar a surgir autoridades morais, vamos dizer, no mundo inteiro, que são aquelas pessoas que estão acima desse negócio, mas por sua trajetória de vida elas vão ganhar audiência, e aí talvez melhore um pouco, mas isso é uma suposição que eu estou fazendo.

Luciano Pires: Já tem algumas assim, mas elas são acusadas de… um lado acusa de uma coisa, o outro… e aí você fica… como é que você se protege disso, Christian? Eu estou fazendo uma volta aqui, depois eu quero cutucar você com essa questão do agro e tudo, mas deixa eu sondar primeiro esse indivíduo aí, como é que você faz para não ficar louco, cara? Porque não é um cara que você, fui para a minha fazenda, me tranquei, vou cuidar da minha vaquinha e mundo que se lixe lá fora. Não, cara, você está antenado, você se meteu na política, você foi se envolver com o que está acontecendo, você está lendo todo dia, você conhece as fontes, você está sendo bombardeado diariamente por todo tipo de barbaridade, de verdade e de mentiras e a barbaridade junto, como é que você faz para não ficar louco, cara?

Christian Lohbauer: Essa eu acho uma excelente pergunta, porque eu tenho me feito essa pergunta e tenho tentado não ficar meio maluquinho mesmo, porque é o que você falou assim, o que eu tenho tentado fazer é sair, sair de grupo, não receber tanta informação, e quase que, não vou dizer me alienando, mas puxando um pouco para a alienação, para as coisas mais básicas, para manter a respiração, para manter o foco em si mesmo, porque o resultado do que está acontecendo é um processo de ansiedade tão intenso, acho que não sou só eu que sinto, a gente sente nos nossos amigos, na família, no ambiente de cidade, a gente sente, é uma ansiedade contaminante, que eu acho que tem a ver com essa coisa da velocidade da informação e dessa insegurança gerada por você não conseguir entender o mundo em que você está vivendo. Como nós somos pessoas como nós dois aqui, que somos curiosos, então sempre estão lendo, estão recebendo informação, eu estou tendo exatamente essa reação que você está perguntando assim, eu estou retraindo, estou tirando grupo de WhatsApp, não estou mais entrando, muito poucas conversas, antes eu era assinante de uma revista, por exemplo, a The Economist, eu assinei décadas, não assino mais, jornais, li jornais a vida inteira, não leio mais, estou mudando a minha maneira de mudar a opinião, mas ela é falha, é falha, eu percebo às vezes que a pessoa fala alguma coisa, eu fico, de onde veio isso que eu não estou sabendo? Mas assim porque senão você vai enlouquecendo, você vai ficando completamente… o processo de ansiedade vai crescendo, porque você não consegue encontrar para você mesmo explicações para as coisas, e aí você fica inseguro, fica com medo e esse ambiente de medo é o pior medo que existe, ambiente de doença.

Luciano Pires: Você vê como é uma espiral destrutiva, e nessa coisa que você está dizendo para mim, eu preciso tomar decisões tão rápidas, eu tenho que ver tudo o que está acontecendo, então eu vou ouvir um PodCast na velocidade 2x, onde a voz… então aquilo que dura uma hora, eu coloco o cara falando mais rápido, então eu enfio na mente em meia hora o conteúdo de uma hora, é mais ou menos como tocar a nona de Beethoven na rotação acelerada, ouvir, cara, o que você ouviu não é o que é a obra, esse livro que você leu aí na velocidade… cara, você não consegue deglutir essa comida, você tem que ter o tempo, tem que… é natural.

Christian Lohbauer: Desculpa te interromper, sabe onde é que estão as respostas para a busca dessa… não sei se a palavra certa é ponderância, se é temperança, se é busca da calma, da paciência, na filosofia, a filosofia clássica, você vai lá atrás, os caras pensaram tudo, já perceberam, então aí, está tudo escrito aí, só fazer uma busca na filosofia, tem professores ótimos aí, disponíveis nas redes, você não precisa pegar a República de Platão e ler e tentar entender, tem gente que vai te traduzir, ajuda.

Luciano Pires: Eu fiz um programa recente, introdução ao estoicismo, deixa eu traduzir de uma forma que quem não conhece tenha uma… eu chamo de isca intelectual, toma uma isca, se abrir o teu apetite, vai procurar a comida lá, eu só vou abrir o teu apetite. Cara, é impressionante como algo que foi discutido e foi estudado e foi falado há dois mil anos atrás se aplica perfeitamente, um cara que não tinha… nunca tomou um sorvete na vida dele, porque não existia sorvete quando ele estava ali, o cara que não podia nem sonhar com celular e o que nós temos na mão hoje aqui, ele discutiu e definiu e esclareceu temas que servem para essa angústia que eu estou sentindo hoje aqui.

Christian Lohbauer: As mesmas inquietações que a gente tem, Sêneca, Marco Aurélio, Epíteto, você vê, os caras falam as mesmas coisas, e não tinha penicilina. As inquietações são exatamente as mesmas, as soluções que ele propõe, você fala assim, por que que ninguém me falou isso? Então, eu acho que é por aí. Agora, como fazer com que esse conhecimento, essa preciosidade chegue nas pessoas, porque as pessoas estão precisando disso.

Luciano Pires: Porque a humanidade, ela evolui um em cima do outro, então tinha até um livro maravilhoso, toda vez que me pedem, dá uma dica de um livro aí, eu dou sempre esse livro aí, porque foi o livro que me ensinou a entender o que é ciência quando eu tinha 14 anos de idade eu li esse livro, o livro chama-se O Universo, o Isaac Asimov, então ele conta a história de como é que o ser humano compreendeu o universo, só que ele vai lá atrás, ele começa lá atrás, os homens das cavernas, então ele conta como é que eles olhavam, o outro achava que era uma tartaruga em cima de elefantes, então ele vai explicando, mas ele explica de uma forma tão envolvente, e quando ele termina a explicação, você até acredita naquilo, ele fala, muito bem, acreditou, legal. Aí chegou Newton, e aí dá uma outra visão, e você acredita naquilo, gostou, agora eu vou trazer Einstein. Então, cada vez ele mostra como a próxima ideia, a próxima visão destruiu o conhecimento da anterior e construiu um novo conhecimento, e você vai vendo a ciência sendo construída e tem um histórico, está tudo empilhado ali, então eu acho que só surge Copérnico porque tinha um cara lá atrás acreditando que era uma tartaruga em cima do elefante. Então, tem uma sequência, isso não é algo que você, esqueça tudo o que está lá atrás, vamos construir um novo a partir de agora, não, cara, você tem que buscar naquilo lá e falar, tem coisa lá que vale a pena ainda, tem lições de vida do meu avô que se aplicam perfeitamente a mim, que sou o dono de uma startup, que sou um garotão de 28 anos de idade que sabe tudo, eu conheço tudo do mundo, e tenho uma startup, e o que eu preciso aqui é o que o meu avô, meu bisavô, que era um padeiro, o que ele aprendeu ali é o que vai me ensinar a tocar o meu negócio, minha startup aqui, essas coisas você não rompe, você não pode cortar esse canal.

Christian Lohbauer: Não, não existe modernidade sem tradição, não tem, não tem ruptura, é um processo contínuo, lógico. E você me lembrou de um livro do Isaac Asimov também, dos meus primeiros, que era o Livro dos Fatos, 3000 Fatos, ele juntou faltos de vários assuntos, era tão divertido, eram vários parágrafos com fatos, tudo, presidente dos Estados Unidos, ciência, não sei o que, botânica, e o conhecimento, ele no geral conforta, e o conhecimento da filosofia, que não é essa coisa que virou a filosofia, coisa muito complicada, não, a filosofia, ela é simples.

Luciano Pires: Pé no chão, arroz e feijão.

Christian Lohbauer: Ela é o melhor caminho, ela é diferente crença e diferente da ciência, porque tem um lugar onde as duas coisas se encontram, a ciência chega até um limite, ela não consegue mais, a crença também, ela sozinha não se sustenta, esse espaço que é a busca da sabedoria é a filosofia. Cara, é o único jeito.

Luciano Pires: Eu fui fazer um material, uma apresentação, depois que gravei um curso e tudo mais, onde tem um bloco gigantesco sobre o tempo, eu vou discutir o tempo, e eu voltei lá atrás, vamos ver nos gregos, vamos ver Kairós, como é Chronos, aquela história toda, e eu busco uma definição para o que é o tempo, então eu vou buscar, trago um filósofo, trago um santo, trago Einstein, cada um dando uma visão do que é o tempo, e a conclusão no final eu falo, cara, a única definição que eu consegui encontrar, eu precisei de um poeta, eu tive que buscar um poeta e o poeta conseguiu definir ou trazer a definição que todas as outras eram de alguma forma incompleta, elas constituíam um mosaico, quando você pega esse mosaico e fala, entendi o que todo mundo, mas não consegui, aí vem um poeta e fala… e o poeta é… exatamente isso.

Christian Lohbauer: É a arte.

Luciano Pires: Em um mundo que precisa da grana no final do dia, bottom nine, dinheiro, pressão, como é que você vai, você pega o teu diploma de cientista social, onde vai buscar emprego um cientista social, cara?

Christian Lohbauer: Nunca me pagou. Assim, eu comecei a dar aula…

Luciano Pires: Aliás, cientista político.

Christian Lohbauer: É estudo da ciência social, que são as três sociais, no terceiro ano você opta, política, sociologia ou antropologia, mas é a mesma escola, então é cientista social mesmo. Quando eu terminei o doutorado, eu ganhei uma bolsa e fui estudar na Alemanha, fiquei três anos lá, quando eu voltei, eu tinha 30 anos já, aí eu tive que realmente falar, bom, não tenho mais bolsa, eu vivia de bolsa de CNPq, vivia de bolsa de CAPES e tal, agora eu não posso mais ficar, preciso construir minha vida, e comecei a dar aula e fui coordenar curso de faculdade etc., fiquei quatro anos fazendo isso, e não era ruim, era um dinheiro já razoável, mas eu falei, isso aqui não vai satisfazer a minha vontade material, eu tenho essa vontade, não tem nenhum problema com isso, tem gente que tem, eu tenho essa vontade, não é para ter avião, iate, fazenda, não é isso, eu queria ter uma vida material plena, quantos livros eu quero comprar? 12, não vou perguntar quanto custa, sabe? É essa a vontade, esse prazer, ou quero viajar para o Vietnã, não quero perguntar quanto custa, isso dando aula você não vai conseguir. E aí na minha vida eu tive uma oportunidade que surgiu assim na época para mim foi uma coisa completamente impressionante assim, depois eu vi que era tudo uma porcaria, mas eu tive uma proposta para trabalhar na Fiesp, porque eu estudava, dava aula sobre as integrações regionais, comércio, na época Mercosul, União Europeia, que está aí até hoje, Alca, área de livre comércio das Américas, OMC, que era a integração internacional pelo comércio, e na Fiesp essas integrações implicavam no futuro da indústria paulista, então a liderança na época da Fiesp precisava procurar um cara para traduzir isso para a indústria paulista, e me pegaram na USP e me contrataram, na gerência, e eu dei uma guinada para a vida executiva, eu fui trabalhar na casa da indústria, eu ganhava x, fui ganhar 3x, que hoje não era muita coisa, mas na época para mim era muita coisa.

Luciano Pires: Você estava aonde antes de ir para lá?

Christian Lohbauer: Estava na USP.

Luciano Pires: Fisicamente dentro da USP?

Christian Lohbauer: Eu estava nas colmeias, onde tinha um núcleo de política internacional e comparada, que era um núcleo de pesquisa…

Luciano Pires: Mas fisicamente dentro da USP, fisicamente, e você sai de lá e vai parar fisicamente dentro da Fiesp.

Christian Lohbauer: Professor Oliveiros Ferreira, que foi editor do Estado de São Paulo anos, um professor muito interessante, ele falava assim, vocês têm que terminar o curso e atravessar o rio, atravessa o rio, pessoal, não fica aqui. Eu guardava aquilo e falava, um dia eu vou ter que atravessar o rio, Rio Pinheiros, não é o rubicão, e aí através o rio para parar em um prédio da Paulista, para mim foi uma mudança radical.

Luciano Pires: Imagino, cara, porque o que você fez, o fosso que separa o ambiente acadêmico aqui no Brasil do ambiente do trabalho, da indústria e tudo mais é gigantesco, eu trabalhei durante 26 anos em uma empresa norte-americana, e muito nos Estados Unidos, tive muito trabalho lá, e a nossa empresa lá na época tinha um centro tecnológico, era uma coisa maravilhosa, autopeças e tudo mais, então tinha uma pista de testes, era um negócio gigantesco lá com equipamentos, com maquinário maravilhoso para testar motores e tudo mais, muito legal, e boa parte daquilo era operado pela universidade, então aquilo era completamente…

Christian Lohbauer: Que lugar dos Estados Unidos era?

Luciano Pires: Toledo, Ohio, lá perto de Dayton, aquele pedaço lá. Então, a simbiose que existe ali, cara, é total, a indústria entra na universidade, a universidade alimenta a indústria, os dois… tem um problema aqui, resolve para mim. Aqui no Brasil as experiências que eu tive foram terríveis, teve uma época, teve uma vez, eu fiz um… nós montamos um showroom de produtos nossos, que são produtos caríssimos, eixo diferencial, era um negócio complicadíssimo, ia muito para a feiras, e você ia acumulando aquele monstro de… um belo dia a gente falou, tem coisa demais aqui, vamos dar um jeito nisso aqui, vamos doar isso aqui para uma universidade, eu não consegui doar.

Christian Lohbauer: Posso imaginar.

Luciano Pires: Eu não consegui doar, porque a gente não conseguiu vencer a burocracia e a má vontade, cara, estou te dando um negócio que se fosse pagar não tinha dinheiro que pagasse, não consegui doar, que fosso, cara, que fosso.

Christian Lohbauer: Não mudou muito, em 2023, a relação da universidade brasileira, na média, tem sempre as exceções, sempre boas exceções, mas na média a universidade na concepção da maioria dos brasileiros, ela é uma instituição que tem que… a educação é um dever do estado, um direito do cidadão, o estado que se vire para pagar, e o que o estado oferece nas melhores universidades públicas do Brasil é porcaria, isso tem que ser dito, ninguém mais fique essa coisa… não, isso vale para as escolas técnicas também, poli, ou seja, engenharia, não estou falando só das sociais, engenharias, químicas, física e tal, assim, a visão que a gente tem do papel da universidade na sociedade é totalmente errada, eu tenho a visão americana, como você acabou descrever, uma universidade serve para que? Para a sociedade pedir ajuda, ela está à disposição da sociedade para resolver problemas que as empresas, que os indivíduos, que as iniciativas novas, que a ciência tem, para isso que ela serve. Não, aqui não, aqui ela é uma instituição onde estão os monstros sagrados do conhecimento e você quer fazer uma doação, você não consegue. É bem isso.

Luciano Pires: Isso que você está falando aqui para mim, eu vou usar um termo agora que é muito pavoroso, mas que cabe como uma luva aqui, você está com um discurso de empoderamento da universidade, você quer dar a ela mais poder do que ela tem hoje, porque hoje é aquele núcleo de pensadores que estão trancados e dissociados, quer dizer, esse é um pessoal que odeia a Fiesp, eu quero distância daquilo lá, porque lá estão os capitalistas, e aqui estão as pessoas que pensam. Cara, isso tudo junto podia gerar a mudança da sociedade.

Christian Lohbauer: E quando eu entrei na Fiesp, eu tinha, um jovem de 33 anos, nem tão jovem, mas eu tinha aquela visão da Fiesp do tripé do Peter Evans, do desenvolvimento brasileiro dos anos 60 e 70, porque era o capital internacional, o estado brasileiro desenvolvimentista e a indústria paulista, e a Fiesp quando eu entrei, ela estava no fim desse período, para não dizer já terminado, até hoje ela tem crise de identidade porque ela não é mais o que ela já foi, aliás, a indústria não é mais o que ela já foi, e nem sei se ela vai voltar a ser, mas eu assisti isso por dentro, esse shrinking, redução da importância da indústria, ela tem um nome, uma força, um logotipo forte, mas a importância que a entidade industrial paulista tem hoje é muito mais baixa, sair da USP… da USP para lá…

Luciano Pires: Você quer um exemplo, Christian? Volta no tempo aí, volte aí 20 anos no tempo, e eu pergunto a você, me dê o nome de cinco industriais de ponta firme que estão mudando o Brasil, cara, você me dava os 20 nomes assim com o pé nas costas, que área que você quer? Aviação? Rolim. Autopeças? Kasinski, Abraham Kasinski. Quer indústria siderúrgica? Antônio Ermínio de Moraes. Todo lugar tinha um nome, se eu te perguntar hoje, me dê o nome de quatro caras… você não tem mais.

Christian Lohbauer: Não, você tem aí uns, vamos dizer assim, uns milagres que ficaram, uma VEG da vida…

Luciano Pires: Os donos da Friboi…

Christian Lohbauer: Então…

Luciano Pires: JBS aquela coisa…

Christian Lohbauer: Uma conversa muito interessante, não sei se tem a ver com o que a gente ia falar, mas…

Luciano Pires: Eu te falei que aqui é assim, cara, a gente vai e volta.

Christian Lohbauer: Mas é muito interessante, para mim assim, é o que eu tenho me dedicado hoje em dia, como acabou esse universo da manufatura e esse modelo de desenvolvimento tripartite, a gente chegou na globalização nos anos 90, e aí o Brasil abriu muito rápido, descontroladamente com o Collor, aí reduziu para o fusquinha do Itamar, aí ficou essa coisa que até hoje está mal resolvida, até nós estamos discutindo aí subsídio para setor industrial até hoje, e está aí a Fiesp com o atual presidente querendo retomar um prestígio de retomada da indústria, o que é legítimo, mas no mundo em que o que nos restou como país é a indústria vinculada à produção de comida, então assim, o que tem de produção de máquina, que você deve conhecer um pouco, que as empresas internacionais e brasileiras que estão aqui estão vinculadas à produção de linha verde e de linha amarela, de máquinas para a agricultura. Então assim, quando se fala em agronegócio, agricultura, o pessoal fala, o Brasil é uma fazenda, é um fazendão. Não, não, não, não é isso que nós estamos falando, nós estamos falando de uma indústria que puxa o resto da indústria, que pode ser a nossa saída como país, na minha impressão é a única saída, porque se não for por aí, a gente vai ficar igual o resto do mundo que quebrou, Argentina da vida ou uma Venezuela, nós temos ainda uma locomotiva, e aí você fala, casos como JBS eu não gosto também, porque eu vi como a JBS surgiu, como ela virou o que ela virou, eu estava trabalhando para a indústria de frango quando a JBS começou a comprar todo mundo, então e não preciso nem dizer que em relação à campanhas etc., que aconteceu, lava jato, mas vamos tirar essa parte da política e pensar que tem grupos do agronegócio e agroindustriais que são a verdadeira locomotiva do desenvolvimento brasileiro, e nós estamos falando de tecnologia, não estamos falando de coisa atrasada, produto primário, ah você exporta commodity. Quanto tem de tecnologia em um grão de soja? Quanto se estudou para aquela genética chegar na genética que ela chegou, quantos laboratórios tem atrás, quantas pessoas estudaram genética, a edição gênica para conseguir chegar naquilo? Aqui, então ninguém fala nisso, fica essa conversa rasa, agricultura, fazendão, meia dúzia que ganha dinheiro. Então, eu acho assim, olhando essa história da indústria brasileira, essa que a gente falou, acabou, da manufatura, acabou nos anos 90. E tem uma aí tentando se reorganizar, se reacoplar à uma pungência de produção de comida e quando eu falo de produção de comida, eu estou falando de grão, soja, milho, de algodão, de cana, de laranja, de açúcar, de fumo, de fruta, e aí das proteínas animais, e aí vai embora, é o que você quiser, a oportunidade está aberta, água, sol, energia barata, gente competente, empresas crescendo, desenvolvendo tecnologias para uso da terra, sustentabilidade e produtividade, tudo de uma vez só, quem tem isso? E a gente fica nessa conversinha pequenininha de MST, de marco temporal do índio…

Luciano Pires: Sim, você é o fazendeiro que explora, como é que é? Eu estou exportando tudo o que é bom lá para fora e os brasileiros estão passando fome, essa… eu montei uma série de programas primeiro para adultos, depois para crianças sobre o agronegócio, e a ideia lá era pegar o seguinte, falar, vem cá, para a criança, vamos falar da roupa que você usa, de onde vem, vamos falar do ovo que você come, de onde vem, e a hora que você começa a trazer os números, é impressionante, tentar contar isso para um europeu, o cara não vai nem entender do que nós estamos falando, o cara não vai nem entender do que nós estamos falando, quando você começa a falar nas dimensões, no que tem aqui, e por isso que esses caras estão preocupados, porque se a gente põe jeito aqui, se ajeita, está se discutindo aqui agora, eu ouvi ontem uma conversa, alguém do agro, importante do agro, falou que se o Brasil crescer 5% nós estamos ferrados, porque não tem, continua, não tem silo, não tem porto, não tem estrada, não tem como escoar 5%, energia para 5% de crescimento.

Christian Lohbauer: Não, não está preparado, a gente ficou tanto tempo andando de lado, que sempre dá mão para a boca, que se tiver realmente, não vai ter, estão cantando que vai ter, não vai ter 5% de crescimento para o Brasil, isso é uma outra questão, não vai ter tão cedo, mas mesmo que tivesse, não tem infraestrutura, não tem energia, não tem infraestrutura, não tem porto, não tem, não tem. Mesmo assim, para a gente pagar as contas e isso aqui não virar uma guerra civil, o caminho é esse, e você está falando, como é que as crianças, que você vai fazer um trabalho de interesse nacional e tem muita gente tentando fazer, não recebem essa informação do jeito que elas devem receber, uma doutrina. Assim, o meu filho, tem 12 anos, ele recebe na escola informação sobre o MST, ele recebe informação sobre o método Gush, ele recebe informação sobre agricultura familiar e alimento sem agrotóxico, e não recebe… pode receber, não vou negar nada disso, pode ensinar, professores geografia, meus ex-colegas querem ensinar isso? Ensina, mas eles têm obrigação de mostrar o desenvolvimento do oeste da Bahia no algodão, na soja e no milho, que há 20 anos atrás era terra de ninguém, não tinha nada, hoje é a maior produtividade de algodão do mundo.

Luciano Pires: inint 47:44 Magalhães…

Christian Lohbauer: Magalhães, eu quero que meu filho tenha orgulho disso, ele tem que ir lá ver, pelo menos ver um vídeo, as frutas de Petrolina, a produção de melão de Mossoró, a produção de uva no Rio Grande do Sul, a produção de frango de Rio Verde, assim, tem um universo de coisas que dão orgulho da competência dos brasileiros, que eles fizeram com a sua própria competência e inteligência, os moleques não têm na escola, irmão, tem alguma coisa muito errada acontecendo, e essa é a nossa obrigação, porque a turma que já ficou adulta, 25 e tal, não vamos recuperar, já receberam uma doutrinação de que agricultura é não sustentável, exploradora do trabalhador, mata índio, não paga imposto, monocultura, destrói meio ambiente, usa veneno, envenena a água, é um negócio horroroso nos livros escolares etc. Então, nossa função, se não dá fazer política e mudar o mundo, nem ser Jesus Cristo, é fazer isso, ensinar as crianças, as gerações que estão chegando, o que que o Brasil é realmente pelas imagens e pela realidade que você pode ver.

Luciano Pires: Quem é que vai fazer isso se os pais dessas crianças estão com a cabeça feita?

Luciano Pires: Você está ouvindo o LíderCast, que faz parte do ecossistema Café Brasil, que você conhece acessando mundocafebrasil.com, são conteúdos originais distribuídos sob forma de PodCasts, vídeos, palestras, e-books e com direito a grupos de discussão no Telegram. Torne-se um assinante do Café Brasil Premium, através do site ou pelos aplicativos para IOS e Android, você pratica uma espécie de MLA, master life administration, recebendo conteúdo pertinente de aplicação prática e, que agrega valor ao seu tempo de vida, repetindo, mundocafebrasil.com.

Luciano Pires: Nós saímos da discussão da esfera da tecnologia, que não se discute, você sai esfera da tecnologia, saiu da esfera econômica e entrou na esfera cultural também, fiz um trabalho, em 2014 eu mergulhei no intestino do agronegócio, que eu fiz o circuito Aprosoja, 21 cidades no Mato Grosso inteirinho, e ali foi maravilhoso, porque eu entrei lá dentro, eu brinco sempre, eu falo, cara, eu estava apertando a mão do cara que planta, sabe? Aquela mão grossa… eu estou aqui desde os anos 70, eu briguei com onça, essa coisa toda, você fala, cara, olha o que os caras construíram aqui. E aí eu contava, eu falava o seguinte, o problema não é mais contar que vocês são bons, não é dizer que vocês têm competência, isso todo mundo já sabe que tem, o teu problema é uma escola de samba entra na Marquês de Sapucaí com um enredo demonizando o agro, com a ala do agronegócio com todo mundo de motoniveladora, moto serra na mão, e criando uma destruição, o teu problema é uma novela das oito que entra no ar onde o fazendeiro é o explorador, isso é cultural, essa luta não é… tecnologicamente vocês estão muito bem, é outra área, e não tem ninguém no agro preocupado, olhando isso de uma forma, como que eu vou dizer, holística, eu quero olhar todo o processo, o que significa um problema cultural como esse, resolve eu atacar a escola só? Não, eu preciso atacar a escola, tenho que atacar a editora, mas… e aí eu estou puxando o gancho aqui para chegar no De Olho no Material Escolar, que de uma forma muito simplista, um grupo de pais do agronegócio preocupados porque o filho ia para a escola e voltava com a cartilha, com o livrinho dizendo que o pai dele e a mãe dele eram bandidos, eram… tudo isso que você falou de ruim, e o cara ficava, como assim o meu filho está aprendendo… vamos nos organizar aqui para a gente tentar de alguma forma combater essa desinformação, não é nem desinformação, essa informação vilipendiada. E ali o que me chamou atenção quando eu conheci o projeto de vocês, era que tinha uma coisa lá que dizia o seguinte, não precisa falar nada além da verdade, eu quero que você venha aqui onde eu moro e me veja utilizando esse veneno que você está brigando, venha ver eu usando, eu não vou fazer nada, eu só vou usar e vou te mostrar como é que se usa, e aí você tira a conclusão se isso é ruim ou não. Ou seja, elimina a narrativa do meio do caminho e venha ver in loco, e aí muda a cabeça de quem vai lá. Conta um pouquinho, como é que está esse projeto, por que que você chegou nele, como é que você chegou nele?

Christian Lohbauer: Não, então, para te dizer que no De Olho do Material Escolar eu cheguei porque eu conheci a Letícia em uma dessas reuniões das entidades agrícolas, porque depois da Fiesp, eu passei pela representação da exportação de frango, depois para a exportação de suco de laranja e depois para uma empresa química dessas grandes, que me levou à presidência da Associação das Empresas de Defesa Vegetal e Biotecnologia, nesse últimos 20 anos isso que eu fiz, essas entidades, paralelamente tem o Partido Novo, mas para pagar as minhas contas, não foi ciência política, foi esse trabalho da política do lado de cá do balcão, representando interesses setoriais em Brasília, no estado, enfim. Então, eu fiquei muito próximo desse universo, me formei nesse universo do agronegócio e posso falar de boca cheia, porque eu já vi, eu já entrei em fábrica que faz a molécula nova, eu sei quanto tempo demora, eu sei quando você tira uma molécula da Alemanha transforma ela em um defensivo, eu te conto de ponta a ponta como funciona isso, e te digo, é desleal o que fazem no mundo, e a agenda vem da Europa, nós somos os maiores compradores da agenda europeia do mundo, porque os argentinos, os sul africanos, os alemães, os americanos, os canadenses, eles olham os europeus e falam, tá bom. O Brasil quer copiar a agenda europeia, nós somos os franceses, eu sempre falo isso, o Brasil é o seguinte, é um país americano, com cultura americana, está nas Américas, tem uma agricultura de Estados Unidos, de grandes empresas, grandes investimentos, competência tecnológica e se comporta como francês, o ambiente regulatório é francês, a universidade é francesa, as forças armadas são formadas na França, é tudo francês, então é um problema existencial profundo, de conflito mental. Então, a gente copia a agenda europeia e a agenda europeia hoje é anti química, por questões que também vão tomar nossa conversa inteira, mas as químicas alemãs, Bayer, Basf, e Syngenta, que é Suíça, as antigas inglesas, francesas, não conseguem mais conversar na Europa, estão arruinadas, não conseguem se comunicar com político, nem conservador, então a gente compra esse tipo de agenda, nos livros escolares estabelece pela ideologia que foi construída nesses últimos 25 anos, que o alimento brasileiro está envenenado, toda semana aparece um gênio falando que o alimento brasileiro está envenenado, um estudo da Fiocruz, um estudo da Greenpeace, um estudo do WWF, o alimento brasileiro está envenenado. E aí a gente fala, bom, eu estou aqui para dizer para você, a hora que você quiser para debater com você aonde que está escrito, qual é a pesquisa que você fez, qual é o estudo que você tem para dizer isso, porque eu te conto todo o outro lado e te garanto que não está. Aliás, um país que exporta alimento para 150 países, está exportando alimento envenenado para o mundo inteiro?

Luciano Pires: Se o argumento técnico não resolve, vai no econômico, vai no bolso do cara, você acha que o gringo, o americano vai comprar o alimento envenenado para botar na casa dele? Ah, mas é que lá não envenena, o daqui sim. Como? Se é a mesma cultura.

Christian Lohbauer: Sabe o que está acontecendo agora, Luciano, no mundo? Nós estamos assistindo, nós vamos estar vivos para ver, o europeu, a família média europeia hoje gasta 14% da sua renda em comida, então eles estão nessa onda linda de green deal, de que agora é só orgânico, vamos aumentar os índices de resíduo para não aceitar mais importação de país que usa agrotóxico, um monte de coisa, é uma parafernália de coisa, porque eles entraram nessa agenda, problema deles, quando chegar o alimento a custar 25, 30% da renda, eles vão mudar de ideia rapidinho, nós vamos assistir, estamos assistindo já, na Holanda está acontecendo.

Luciano Pires: A questão de energia agora na Alemanha…

Christian Lohbauer: De energia. A Holanda, eles acabaram… fechar as fazendas pela emissão de dióxido nitroso das fazendas leiteiras, que tudo concentração de produto muito concentrada, suínos e bovinos, então realmente tem um excesso de dióxido nitroso, tem um efeito sobre os lençóis, tem que cuidar daquilo ali, solução? Fecha as fazendas. E a população holandesa indeniza gente que está há 150, 200 anos produzindo leite, derivados de leite, como assim? Como é uma democracia ainda, que teve eleições recentes que aconteceram, surgiu um partido dos camponeses holandeses, elegeu 14 senadores, não existia o partido, para reagir à essa loucura, insanidade, insensatez que é essa agenda. Se os europeus querem ir para essa agenda, o problema é deles, o problema é trazer isso para cá, entende? É uma coisa que você fala, como está acontecendo isso, por quê? Porque os franceses aqui da universidade, da Fiocruz, acham que estão na Europa, sei lá onde eles acham que estão, e hoje, graças ao agronegócio a média de gastos da família brasileira em comida é mais de 50%, porque podia ser 80, é mais de 50 aqui ainda. E o alimento aqui é barato.

Luciano Pires: Então, você está dizendo que nós somos 50 contra 14 lá na Europa. Isso explica muita coisa.

Christian Lohbauer: Muita coisa, e o mundo inteiro, você sabe qual a importância da Europa para o nosso mercado de exportação para vários produtos? Ainda é grande, mas assim, eu estava no frango em 2018, indústria exportadora, eles eram 20% da exportação de frango brasileiro, o Brasil é o maior exportador de frango do mundo, há muito tempo, hoje é 12. O que está acontecendo é isso, o mundo quer comer, vai comprar, está comprando, os Europeus que façam o que eles bem entenderem, agora não vem exportar a agenda, por que que eu trouxe esse assunto para a conversa? Porque eles estão exportando a agenda, e impressionante como o Brasil compra isso, esse grupo do poder que está agora no Brasil é o repetidor master da agenda europeia, é um negócio… igual papagaio, ele nem olha o país em que ele está, ele repete, toda a burocracia de Ministério do Meio Ambiente, de Anvisa, de Ibama desse governo é papagaio de política europeia, não se aplica a realidade brasileira, então é o Brasil lutado contra ele mesmo, enquanto a oportunidade está passando para a gente aproveitar, esses caras estão se digladiando contra o interesse da sociedade.

Luciano Pires: E indo para a ruptura, e indo para… nem senta aqui para conversar, nem isso, porque… seu fascista, você vai sentar comigo para conversar, seu fascista? Não tem…

Christian Lohbauer: Destruidor de floresta, vendedor de veneno, essa conversa do ESG também, ESG fala assim, escuta, ESG, vocês perguntaram para os caras das Americanas o que que é o G? Que eles têm lá o relatório das Lojas Americanas quanto que eles emitem, quanto que a frota emite de carbono, quantos homossexuais, LGBT tem nos funcionários, é lindo, só que o G é governance, é transparência na apresentação dos seus números, os caras deram um estouro de 40 bi e ninguém vai falar do ESG das Lojas Americanas, é uma agenda só, é um pacote de bobagem, embalado de coisa bonita, save the planet, que a gente tem que conseguir debater.

Luciano Pires: De novo, a questão é cultural, a questão é…

Christian Lohbauer: Culture kampf, que tinha… Bismarck, à época do Bismarck, na Alemanha Imperial, culture kampf, que era uma questão religiosa da igreja contra a chegada da social democracia alemã, dos mineiros de carvão.

Luciano Pires: Eu quero chegar no Christian político, mas antes disso eu vou… vamos estressar esse assunto do De Olho no Material Escolar, porque ele merece, cara, está crescendo, desde que eu conversei com vocês cresceu bastante, eu vejo muita gente entrando lá, me associei, pago a mensalidade ali como um associado, recebo muita informação ali, e sei que está sendo feito um trabalho muito sério ali de… não é de confronto, mas é de conversa, então o De Olho no Material Escolar entra em contato com a editora que soltou o livro cheio de bobajada e ao invés de ir lá com o dedo na cara xingar, ele senta e fala, eu estou te mostrando o livro aqui, e aqui está o outro lado.

Christian Lohbauer: Não, e leva, a coisa mais bonita de tudo é o seguinte, leva quem eles quiserem para ver, além das escolas, que é uma organização complexa, ela leva os alunos para visitar as feiras, Ribeirão Preto, Cuiabá, Não Me Toque, Cascavel, todas do Brasil, todas as feiras agrícolas, quando a criança vai ver, qualquer pessoa, na verdade, vai lá e vê, que não é todo mundo que pode, é o que a gente falava no início da nossa conversa aqui, vai lá e vê, antes de falar bobagem, vai lá e vê, desarmado, vai desarmado, vai lá e vê, as crianças vão, ficam alucinadas.

Luciano Pires: Eu tinha uma tese, houve um tempo em que eu pensava que o presidente da república era um cara poderoso, que podia mandar e desmandar as coisas, e eu dizia o seguinte, se um dia eu for presidente da república, eu vou baixar uma lei que vai obrigar o seguinte, qualquer estudante do Brasil, não importa de que, não interessa se é médico, advogado, professor, ele não tira o diploma dele sem um estágio de 15 dias no agronegócio, vai lá, vai lá ver, vai passar 15 dias no Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, na Bahia, tem que passar por lá, sim, mas vou fazer medicina, não interessa, você vai passar lá, aí você volta e recebe o teu certificado.

Christian Lohbauer: Você falou de projeto Rondon, eu vou colocar aqui para você, quem sabe a gente consegue fazer o negócio acontecer um dia, devia ter um novo projeto Rondon para os brasileirinhos irem conhecer o Brasil, entender as profundezas do Brasil passando por esse universo da produção de alimentos, que é um negócio muito grande, é muito diverso, muito desigual, inclusive, você vai em uma fazenda de 150 mil hectares e vai na produção de manga lá em Petrolina que tem 20 hectares e exporta para o Japão, são mundos diversos, mas todos estão vinculados à uma coisa só, produção de comida, isso é uma vocação desse país, então a gente devia se orgulhar disso, a gente devia se sentir grande, se sentir útil como sociedade, e nós estamos fazendo o contrário. Então, eu acho que você tem razão, o projeto Rondon que passa pela produção, e educa as pessoas, o De Olho tem essa pretensão, mas é uma organização, para padrões nacionais, o Brasil é um país gigante, está indo bem, as editoras se convenceram, agora nós estamos tentando os governos, só que você chega no governo atual…

Luciano Pires: Vocês estão visitando a editora independente de MEC, nada, vocês foram na editora?

Christian Lohbauer: Algumas editoras falaram assim, tá bom, vai, vocês não vão atrapalhar meu contrato aqui? Não, o nosso interesse não é atrapalhar o contrato de ninguém assim, manda uma pessoa tua para o Mato Grosso com a gente para ela ver, a gente leva, ela pode escolher o lugar que ela quer, a gente não vai escolher para você, vai aonde ela quiser. Começaram a fazer isso, as pessoas que foram, das editoras, foram lá olhar, fizeram os seus vídeos, vai conversar com elas hoje, vão falar, eu vi um Brasil que eu não conhecia, que pode ser o Brasil de todos, todo mundo pode viver dessa pungência, desse conhecimento, ter esse orgulho, resgatar a sociedade toda, entende? Então, isso foi feito com as editoras e nós estamos tentando fazer com os governos. Com o governo federal ficou impossível, então travou, estamos tentando com os estaduais que não editam a maioria dos livros, a boa parte dos livros são federais, só alguns estados, como São Paulo, Paraná, fazem os livros escolares nos estados. Mas o livro, Luciano, é que a gente falava antes, os livros já estão passando, hoje o universo de comunicação, ele é eletrônico, então também é um desafio você falar com a molecada pelo Tik Tok, é muito rápido, velocidade, nós estamos falando do livro ali porque vai para milhões de brasileirinhos, mas precisamos mexer nas redes.

Luciano Pires: É que eu não me conformo, o agro tem um poder, ele tem dinheiro, ele tem o poder para organizar uma… como é que eu… eu dei um nome para isso, que eu chamei de uma central de inteligência, uma central de contra inteligência, o que que é isso? É um organismo que está, que pega a linha toda, inclusive, na palestra que eu fui, eu lembrei o exemplo do Got Milk, lembra do Got Milk nos Estados Unidos? Que acontece lá, o pessoal do leite, toda a cadeia do leite, do cara que cria a vaquinha, até o cara que embala e vende e distribui, olha para o mercado e fala, está caindo o consumo de leite, o que que está acontecendo? Está crescendo o consumo de suco, refrigerante, vamos nos juntar e montar uma campanha com aqueles anúncios que todo mundo aparece com o bigodinho, e que desemboca no vencedor das 500 milhas de Indianápolis, ganhou a corrida, ao invés de champanhe, ele joga leite na cabeça, ele toma leite ali. E aquilo é uma campanha cultural, aquilo é lançado para mudar culturalmente…

Christian Lohbauer: Tem várias campanhas, eu tenho acompanhado essa turma toda aí, hoje tem quase 50 associações representantes de setores agropecuários no Brasil, 50 grandes, Aprosoja, a Única, a Croplife, a Bag, enfim, são 50 de setoriais, gente, muita empresa, muita gente, muito executivo, recursos, já tentamos de tudo nos últimos anos, até o Pelé o pessoal chegou a contratar uma época aí, não encontramos uma solução. Eu acho que a solução é o que nós estamos fazendo aqui, é com as gerações que estão chegando, porque… e não é propaganda, nem comunicação de massa, é um outro tipo de coisa, que lógico, lutar contra uma novela da Globo que continua falando que o fazendeiro é um canalha, então também tem esse problema, com todos esses professores de geografia e história que foram doutrinados nas suas escolas nos últimos 30 anos, continuam ensinando as crianças nas escolas ricas que tem veneno na comida… então tem um problema aí estrutural para resolver, mas é só com as gerações que estão chegando, de um jeito nas novas mídias, e nas escolas, porque pelo padrão tradicional, a Austrália fez com o algodão a mesma história, fez uma campanha de algodão australiano, tem várias campanhas mundiais que os países se transformaram em referência daquele produto, esse daqui, esse país aqui podia ser referência em todos, fala aí um agrícola qualquer, até o trigo.

Luciano Pires: Isso que eu ia comentar, eu ia falar para você, eu fui em 2014, eu não me lembro se foi em 2014 ou 17, que eu fiz outra vez, me levaram em um campo lá, tudo amarelinho. Mas o que que é isso aqui, cara? Trigo. Como trigo? Trigo. Nós estamos botando trigo aqui e está dando certo.

Christian Lohbauer: Sabe onde eles estão tirando trigo agora? No Ceará.

Luciano Pires: No Ceará.

Christian Lohbauer: O trigo é uma cultura de mundo temperado, o Brasil sempre importou trigo, o único que produzia era o Rio Grande do Sul, o Paraná um pouquinho, e sempre teve dependência para o pãozinho de cada dia, então era Argentina, Canadá e Estados Unidos de onde vinha o trigo, às vezes Ucrânia, bom, há quatro anos atrás começou a turma com uma modalidade nova genética de trigo da Embrapa, desenvolveu em Goiás, foram para Tocantins, norte da Bahia, Ceará, em dois anos o Brasil vai ser autossuficiente em trigo, tropical, você vê algum desses globais falando isso? Tem que pegar um doido desse global e falar assim, escuta, vem cá, amigão, vem ver isso aqui, é produção de pão, isso é comida, nós não vamos mais importar, nós vamos produzir em casa, nenhum país no mundo tropical faz isso. Não, fica essa coisinha, desmatamento…

Luciano Pires: Mas vamos lá, eu convido você que está vendo a gente aí, dá uma olhada lá De Olho no Material Escolar, é uma associação, qualquer pessoa pode fazer parte e está fazendo um trabalho muito legal de comunicação. É bem legal.

Christian Lohbauer: É barato, cabe no orçamento do indivíduo, das empresas, e é um trabalho muito bom.

Luciano Pires: Legal. Mas então, você está lá no agro presidindo, como é que você falou o nome da…

Christian Lohbauer: Não estou mais.

Luciano Pires: Não, não, você estava lá presidindo a?

Christian Lohbauer: Croplife.

Luciano Pires: Croplife, como se não tivesse pouca coisa para te encher o saco na vida, você decidiu que ia entrar na política e foi parar como candidato a vice-presidente da república em 2018. Cara, o que que… qual é o grau de loucura que tira um ser humano do seu dia a dia normal para jogá-lo nesse liquidificador que é a política?

Christian Lohbauer: Então, tem um pouco do que a gente estava conversando assim, eu fui estudar a política, porque eu gostava da matéria, daí eu em algum momento tentei ir para política mesmo de verdade, foi em 2005, no PSDB, eu ajudei lá o governo do Serra, fui secretário adjunto em 2005 durante um ano aqui em São Paulo, quando ele foi prefeito, para entrar na vida da política mesmo, mas eu ainda estava na fase que não conseguia pagar as contas, então voltei para a vida executiva, sempre gostei, sempre acompanhei.

Luciano Pires: Quando foi isso?

Christian Lohbauer: Foi em 2005, quando o Serra foi prefeito.

Luciano Pires: Então, antes de continuar deixa eu fazer uma voltinha lá, você tinha sofrido um choque gigantesco quando você saiu de dentro da USP e caiu em cima da Fiesp, consigo entender o choque, e agora você sai da Fiesp e entra no ambiente da política, que é o serviço público, que não tem nada a ver com o que tinha na Fiesp, quer dizer, é o segundo choque, como é que foi você chegar naquele ambiente acostumado com meritocracia, com…

Christian Lohbauer: E é tão terrível que eu fiquei um ano e voltei para o lado de cá, eu fiquei no governo… por que que eu fui? Primeiro porque mudou o mandato na Fiesp, terminou e teve um outro presidente eleito, então ele quis trocar todas as equipes profissionais e eu apareceu uma oportunidade para eu ir para o governo, eu falei, eu vou para o governo de um cara como Serra, primeiro escalão, que eu nunca fui PT, que na época era oposição ao PT, contra o governo da Marta, renovação de quadros, eu falei, é uma oportunidade de eu entrar na política, e entrei, não consegui fazer absolutamente nada, não entendi nada, depois que passou um tempão que eu entendi o que estava acontecendo. Assim, entrei em um universo completamente diferente, falei, não é para mim, não entendi, tenho conta para pagar, fui embora. E só voltei a me interessar e trabalhar por esse processo político quando a gente fundou o Partido Novo em 2011, então eu já trabalhava na instituição de suco de laranja, mas ao mesmo tempo, como cidadão, eu me dediquei a construir um partido político, a fundar, construir um partido político, então a gente fez todo o processo, junta 500 mil assinaturas, registrar nos cartórios eleitorais, demorou 5 anos para fazer isso, de 2011 a 2016, eu participei desse projeto assim como liderança, junto com o João Amoedo, que foi o cara que pensou e bancou, porque isso custa, advogado etc., e a gente fundou o partido político, porque eu achei a transformação… eu acredito ainda, mas hoje, depois desse tempo todo, eu acho o seguinte, que é através da política que a gente muda a sociedade, ok, mas a experiência brasileira e a história brasileira, e a história que a gente viveu, já faz quase 12 anos que a gente fundou o partido, não é o tempo da minha vida, vai ter que ser a turma que está chegando, porque a minha eu já dediquei, já dediquei 12 anos a isso praticamente, por quê? O que eu estava te dizendo, fundamos, registramos, sem fazer chicane, não vou entrar em detalhe aqui o que que é, porque todo mundo pode imaginar, não precisamos de nenhuma chicane, então demorou 5 anos para você registrar o partido, reunir 500 mil assinaturas, nós recolhemos 1 milhão e 200 assinaturas, por quê? Porque você entrega mil assinaturas no cartório eleitoral, o sujeito tem 60 dias para te devolver, que ele faz conferência manual, ele te devolve todas e fala, não aprovei nenhuma, por quê? Não preciso te dizer, a lei está do meu lado. Esse é o nível do negócio, então a gente não podia reapresentar, não podia litigiar, a gente ia buscar mais, foi assim que a gente fez. Registrou em 2016, entrou nas eleições regionais, entendemos como funcionava, entramos na de 2018 com candidato para tudo, presidente, vice-presidente, senador, governador e tivemos um sucesso, ficamos em quinto lugar, atrás de Bolsonaro, Haddad, Ciro, Alckmin e a gente, na frente do Henrique Meirelles, na frente da Marina, na frente do Álvaro Dias, nós éramos os ilustres desconhecidos, nós inint 01:13:14 não pudemos ir para a televisão, então foi um negócio muito legal, elegemos o Zema, governador de Minas e levamos uma bancada de 8 deputados federais, então deu certo, provamos que dá para fazer, trazer gente nova, com dinheiro privado e de governar e fazer boas performances no executivo e no legislativo. Mas aí vieram as coisas da vida, divergências internas em função do alinhamento Bolsonaro e Lula…

Luciano Pires: Você tinha um elemento ali dentro do partido que é terrível, cara, chama-se ser humano, e para mim é ali… quando eu fui tentar entender o que tinha acontecido, eu falei, cara, trombou naquilo que aqueles gregos, sabem o que aqueles gregos falaram há 2 mil anos atrás, trombou nos gregos lá atrás, mesma encrenca.

Christian Lohbauer: O fato é que o partido perdeu muito em 2020, perdeu em 22 muito, e ele está tentando sobreviver aí e a vida passou, então está aí tentando sobreviver, eu ainda dou minhas contribuições, a questão é a política fez parte e continuará fazendo da minha vida, eu acho, mas a gente pode fazer outras coisas que podem ajudar a sociedade a prosperar e tal, isso que nós estamos fazendo aqui agora, vamos conversar sobre coisas interessantes com gente inteligente, colocar à disposição das pessoas para elas poderem ouvir, sem radicalismo, com ciência, com número, dados, fatos, vamos? Se a gente conseguir audiência, como você já tem, é uma contribuição política que você faz, talvez seja melhor.

Luciano Pires: Eu conversei com bastante gente, como eu estou conversando com você aqui, vários políticos, vários técnicos, sabe, gente técnica mesmo, uma entrevista maravilhosa com a Ilona Back inint 01:14:52 que ela entra com a faca nos dentes para mudar o Ministério da Educação e quase morre no processo, porque ela fala que aquilo consumiu ela de tal forma, que ela… até que o sistema a expulsa de lá. E toda vez que eu termino de conversar com as pessoas, eu olho para aquilo e falo, cara, pinta-se um cenário que é tão complexo, é tão horroroso, é tão complicado, que a impressão que eu tenho é que não adianta, sabe, a Ilona até botou uma… ela falou, era um trem que eu estava levando, e os caras só punham vagão no trem, não tinha outra locomotiva para ajudar, era só vagão, chega uma hora o trem não anda mais, então tudo feito para impedir que as coisas aconteçam. Você falou, entrei, fiquei um ano e não consegui fazer absolutamente nada, porque o próprio sistema, ele te expele, tipo assim, não me incomode. Cara, isso precisa de um choque, isso precisa de um choque, e eu não sei que choque é esse, uma guerra é um choque, um inimigo comum te ameaçando, todo mundo vira amigo, acabou a polarização na hora, uma grande tragédia, um choque, como é que a gente faz para conseguir um choque desse sem ter que sofrer uma tragédia?

Christian Lohbauer: Nossa, você está falando a pergunta mais importante de todas assim, primeiro assim, também concordo, é choque, os Estados Unidos resolveu uma parte do problema com a Guerra Civil, outros países na Segunda Guerra resolveram com a destruição total, a Coreia também, enfim, tem exemplos históricos de destruição total para a reconstrução, não aconteceu no Brasil, o Brasil é uma história permanente de cooptações, Raymundo Faoro na veia, os donos do poder, cooptação, cooptação, cooptação, não tem conflito, aqui não tem ruptura, o PT não foi ruptura nenhuma, nunca foi, era para ter sido, não foi, então não tem ruptura. Como é que faz em um país como esse? Bom, primeiro que as coisas mudam muito devagar, você fala, Christian, mas o Brasil é melhor hoje do que era há 20 anos atrás? É, é melhor, mas é assim melhor, podia ser um metro, é assim. Então, a nossa velocidade é essa, nós não vamos ver… ah mas vai virar Venezuela? Não, não vai, acho que não vai virar, vai virar Argentina? Não vai virar também. É um processo, é uma cultura, é uma história, é uma país muito grande, com diferenças regionais, então ele vai muito devagar, eu gostaria muito de ver e teria que ser por uma ruptura, que ruptura, a história ensina o que? Ruptura do tipo guerra, endemia, morte por doença, invasão estrangeira, guerra civil…

Luciano Pires: Catástrofe natural.

Christian Lohbauer: Invasão de marciano, não sei, mas se não for assim, ruptura institucional de dentro, ou seja, ruptura das instituições, não acho que funciona, eu já namorei com a ideia, não consigo ver.

Luciano Pires: Não, eu acho que o Brasil… nós temos uma capacidade de esculhambar, até golpe a gente esculhamba, cara, tudo a gente esculhamba, e cara, eu não sei de onde a gente conseguiria fazer, e agora eu estou conectando com o que você falou lá atrás e para mim ficou muito claro, você tem o ambiente, você tem o agro indo em uma velocidade, você tem a indústria ficando um pouco para trás, você tem a política lá atrás, cara, ela fala, vamos mudar a lei? Vamos, 5 anos discutindo, a reforma que nós acabamos de discutir agora, tributária, cara, há quanto tempo está discutindo esse assunto?

Christian Lohbauer: 30 anos, e de reforma não tem nada, é uma simplificação banal, com um monte de problemas lá na frente.

Luciano Pires: Então, é essa velocidade que nos impede de andar, agora sem ela a gente não faz nada, até porque eles desmontam o que você tentar fazer.

Christian Lohbauer: Eu acho que assim, é o que você falou, está construído do jeito que está, está errado, a gente falava antes de começar o programa dos membros do supremo, não vamos entrar aqui nas pessoas físicas, mas o supremo está montado de um jeito que vai dar errado, está interferindo na vida de outros poderes. Então assim, nós estamos em uma situação difícil, mas eu vou te falar uma coisa que assim, tenho pensado nos últimos meses e é uma coisa que pode soar um pouco estranha, mas acho que ajuda a responder, o que vai salvar o Brasil é, no fundo, é o Brasil paralelo, é o Brasil contraventor.

Luciano Pires: Eu estava pensando exatamente nisso, enquanto você falava, eu falava, cara, conexão com o que esses meninos fizeram com o Brasil Paralelo.

Christian Lohbauer: Não, eu costumo usar, eu estou brincando com as palavras…

Luciano Pires: Não, eu entendi, mas casou direitinho, eu estava pensando aqui agora, enquanto você falava, eu estava pensando, eu não posso terminar o programa aqui com nós dois… espera um pouquinho, tem saída? Tem, olha nós dois onde estamos, em uma iniciativa individual que começa com três garotos do nada, quatro garotos do nada, sem grana, sem nada, e não levou 20 anos, em 4, 5 anos os caras constroem uma coisa a partir da iniciativa individual, quer dizer, eles não foram buscar um órgão do governo para… embora muita gente diga, não tem, os 4 encontraram um caminho, construíram um negócio bem feito e estão mudando vida de muita gente, estão criando uma alternativa. Então, se você pega um case como esse do Brasil Paralelo, pode existir isso aqui em outras áreas? Claro que pode, o Brasil está cheio de ilhas de eficiência, ilhas de eficiência, eu palestrante, viajei o Brasil inteirinho, cada lugar que eu chego, eu me assombro, como que existe isso aqui? Existe. Mas vem cá, vocês falam com o outro lá de Pernambuco? Não, a gente não se fala, nem sabemos quem são. Mas cara, tem um povo lá fazendo o que vocês estão fazendo aqui, junta força. E acho que essa pungência da sociedade que quer fazer mudança é que pode ser o caminho para o Brasil mudar, e acho que tem uma lição com essa história desses meninos.

Christian Lohbauer: Eu não tenho dúvida que é isso, outros países vizinhos aí não tem isso, é uma pungência da sociedade civil, mas eu também me referia a um paralelismo meio perigoso que é o seguinte, tem um Brasil aí que não está nos números oficiais do IBGE, que não está nos números da Receita Federal, que não está nos números do CAD, que não está nos números, não está.

Luciano Pires: E é grande.

Christian Lohbauer: Eu chuto que é metade.

Luciano Pires: É grande, eu imagino que sim.

Christian Lohbauer: Esse país vai salvar o Brasil, a gente conhece dois apertos de mão, gente que está trampando, construindo e fazendo e não existe, você não conhece? Eu conheço. Então, eu não estou propondo isso, mas assim quanto mais ineficiente for esse modelo de estado que a gente tem, quanto mais… ainda mais esse governo agora que acha que consegue controlar, quanto mais você quer controlar, menos você controlar, esses caras vão tentar controlar, controlar, controlar e não vão controlar nada.

Luciano Pires: E no Brasil, onde a gente é o rei de encontrar saidinha para tudo quanto é coisa.

Christian Lohbauer: É um paradoxo você falar isso, porque a gente não pode promover a ilegalidade, mas o estado vai ver, já está vendo que ele não consegue nada e a sociedade vai se virar sozinha. Por que que não acontece isso na Venezuela, então? Porque o caminho deles foi invertido, eles eram dependentes do ouro negro, sempre foram importadores de tudo, nunca desenvolveram nada, não tem o espírito empreendedor da sobrevivência porque eles eram muito ricos, a gente não era, a gente sempre foi pobre, então a gente foi saindo pela beirada, Argentina idem, ela sempre foi rica, e cometeu erros gravíssimos, enfim, Argentina é uma outra história. Nós não, aqui a turma, ela vai.

Luciano Pires: E a gente tem exemplos, Christian, quando você organiza um processo que ele é de fácil entendimento, é um processo de uso muito fácil, que não te obriga a construir nada, a ter uma super inteligência, pix, por exemplo, você implementa, todo mundo pula dentro, eu quero ser legal, claro que eu quero, eu quero pagar minha porção nesse processo todo e quero ajudar o Brasil a crescer, agora eu não posso ter diante de mim uma máquina que torna a minha vida um inferno, porque ela me empurra para a ilegalidade, eu não quero ser ilegal, por favor, eu não quero, mas chega na hora que ela te empurra para isso. Eu não vou nem te contar as histórias que eu tenho, a gente vai ficar aqui até o ano que vem. Meu caro, estamos chegando aqui na nossa… a gente só… nem falamos de tudo que era para falar, legal, a característica desse bate papo aqui é exatamente essa, não tem um papel na mão, não tem roteiro, não tem nada joga a ideia e a gente vai trocando uma ideia aqui, que quando você tem um interlocutor que, sabe, isso aqui é um jogo de… quem falou isso uma vez foi o Rubem Alves há uns anos atrás, ele falou que era aquela diferença do jogo de tênis para o jogo de praia de lá, como é que chama?

Christian Lohbauer: Frescobol.

Luciano Pires: Frescobol, o tênis, o objetivo é fazer você errar, e nós estamos no frescobol, o objetivo é fazer os dois acertarem, a bola fica no ar, então a ideia é fazer isso aqui, é propor que seja positivo, tem que ser positivo para você, positivo para mim, para quem está ouvindo a gente, ninguém está puxando o tapete de ninguém, não estou aqui para arrumar treta com você, para dizer que você está errado ou não, até porque nós estamos em um ambiente que está exigindo da gente, cara, eu quero ideias, tragam aqui, bota aqui, fala contra mim, mas seja dissidente, não seja negacionista, venha como dissidência calcada em fatos, por favor, tomara que você me convença, porque se você me provar que eu estou errado, eu saio da discussão maior do que eu entrei, você vai sair igual, você ganhou, mas você sai igual, eu perdi e saio maior do que entrei. Então, esse tipo de visão que eu acho que pode ajudar a gente a fazer esse país escapar, nós estamos muito… tem muita gente com certeza absoluta aqui, cara, em todos os níveis, e isso aí eu acho que está prejudicando muito o crescimento da gente aqui.

Christian Lohbauer: Concordo.

Luciano Pires: Meu caro, quem quiser entrar em contato contigo, quem quiser saber o que que você anda fazendo, nem perguntei onde que você está agora, quem quiser conhecer o teu trabalho todo, como é que é, onde a gente vai?

Christian Lohbauer: Rapaz, eu nem pensei nisso, eu tenho Instagram.

Luciano Pires: O Instagram é um bom caminho, é um arroba fácil…

Christian Lohbauer: Professor Christian.

Luciano Pires: @professorchristian, o Christian tem H?

Christian Lohbauer: Ch.

Luciano Pires: @professorchristian, entra lá e dá uma cutucada ali em você.

Christian Lohbauer: Entra lá, que me encontra lá, o que eu estou fazendo, que não é muita coisa no momento.

Luciano Pires: Já saiu livro ou não?

Christian Lohbauer: Qual livro?

Luciano Pires: O teu livro, cara, como, quem tem uma história de vida como a tua tem que ter um livro.

Christian Lohbauer: Legal você falar isso, fico feliz, eu já pensei, mas falo, será que alguém vai se interessar? Não sei, preciso ter um insight aí.

Luciano Pires: Vai sim, vai sim, faz que nem eu, eu já lancei 10 e pergunta, você ganha dinheiro com isso? Só perco. Então, por que que você faz? Porque o dia que eu me for, o livro fica.

Christian Lohbauer: Deixei o meu legado, isso…

Luciano Pires: Meu caro, bom te ver, um abraço, muito obrigado por estar aí, nos vemos em uma próxima conversa livre como essa daqui, espero que você tenha gostado, isso aqui é uma ideia que nasceu da tentativa de trazer a discussão da liberdade para um bate papo como esse aqui, livre, sem amarra, a gente pode falar quase tudo aquilo que a gente queria, mas a gente ainda vai voltar para aquele Brasil onde você podia falar na boa.

Christian Lohbauer: Vai voltar.

Luciano Pires: Nos vemos em breve.

Luciano Pires: Muito bem, termina aqui mais um LíderCast, a transcrição deste programa você encontra no LiderCast.com.br.

Voz masculina: Você ouviu LíderCast com Luciano Pires, mais uma isca intelectual do Café Brasil, acompanhe os programas pelo portalcafebrasil.com.br.