
LíderCast 290 – José Teiga Jr
Luciano Pires -Luciano Pires: Bom dia, boa tarde, boa noite, bem-vindo, bem-vinda a mais um LíderCast, o PodCast que trata de liderança e empreendedorismo com gente que faz acontecer. No episódio de hoje temos José Teiga Júnior, um advogado que nunca advogou, mas com espírito empreendedor criou diversas empresas atuando no segmento de vidros automotivos e no mercado de capitais, até que se aventurou a construir uma escola e pronto, Teiga começou com a idealização e construção do Colégio Dom Henrique, em Osasco, e um dia o bichinho da educação o mordeu, com a aquisição do Colégio Tutor e do tradicional colégio Marillac, ambos na cidade de São Paulo, criou a Rede Ápice para a formação de líderes para a vida. Uma conversa fascinante sobre empreendedorismo, sonhos e educação.
Muito bem, mais um LíderCast, sempre começo o programa contando como é que o meu convidado chegou aqui, esse é aqui é mais um daqueles casos em que uma agência de comunicação, não vou lembrar o nome dela, como é o nome da agência?
José Teiga Jr: Circular.
Luciano Pires: Circular Comunicação mandou para mim o release, falou tem um sujeito aqui interessante, a história dele é mais ou menos assim, aí eu dou uma olhada meio por cima e aí lá no meio tinha a palavra mágica, educação, aí eu falei, deixa eu pegar ele aqui, então. Eu começo o programa com três perguntas, que são as únicas que você não pode errar, depois você chuta à vontade, essas três você fica na onda, seu nome, sua idade e o que que você faz.
José Teiga Jr: Justíssimo, fácil essas três, meu nome é José Teiga, tenho 38 anos, e o que eu faço, hoje eu estou à frente de uma rede de educação, acho que é isso que eu faço hoje.
Luciano Pires: Você é dono de escola?
José Teiga Jr: Sou dono de escola.
Luciano Pires: Que legal, escola para criancinha, crianção, adulto, formação de que?
José Teiga Jr: A gente trabalha… se fala na educação básica, que não é nada básica hoje, porque a gente prepara a criança e o jovem aí tanto para a vida, quanto para Enem, quanto no autoconhecimento, então de básica não tem nada, mas a gente atua aí dos dois aos 17 anos.
Luciano Pires: Vai dar samba aqui, cara. Você nasceu aonde?
José Teiga Jr: São Paulo, Osasco City.
Luciano Pires: Ali em Osasco, que legal, tem irmãos?
José Teiga Jr: Tenho dois irmãos, sou o mais velho de três, minha irmã está com 36 anos, meu irmão 30 anos.
Luciano Pires: O que que o seu pai e a sua mãe fazem, faziam?
José Teiga Jr: Meus pais são portugueses, acho que fica meio óbvio, meu nome é José Manoel não é à toa.
Luciano Pires: Nasceram os dois lá em Portugal?
José Teiga Jr: Meu pai nasceu lá, minha mãe nasceu aqui, mas os meus avós por parte de mãe os dois nasceram lá, meu pai conheceu a minha mãe porque ele era amigo do meu avô, meu pai teve bar, lanchonete, restaurante e padaria, e meu avô também atuava nessa área, aí em uma das conversas com o meu avô, acho que deu uma carona para o meu avô em casa, aí como ele disse, conheceu as filhas do Patrício, aí uma das filhas era a minha mãe, e foi aí que começou o romance deles aí. Meus pais sempre atuaram no ramo de alimentação, bar, lanchonete, restaurante, padaria, como bom português raiz.
Luciano Pires: Lá em Osasco sempre?
José Teiga Jr: Não, teve um tempo que nós moramos em São José do Rio Preto, moramos um bom tempo em São José do Rio Preto, morei de um ano até oito anos, lá meu pai tinha um bar no centro, acho que chamava de Bassitt.
Luciano Pires: Esse bar é de quem nasceu em São José do Rio Preto, eu sou de Bauru, então meu bar é igual o teu.
José Teiga Jr: Justo, lá meu pai teve bar, teve padaria, teve um bom tempo em Osasco, teve em São Paulo, na região do Jaguaré, e de forma geral sempre com alimentação e sempre eu costumo falar que meu pai sempre foi muito bom em guardar dinheiro, ele nunca teve grandes rendas, grandes fontes de rendas, sempre trabalhou muito, mas sempre fez valer cada real.
Luciano Pires: Como todo português, como um bom português. Como era teu apelido quando você era criança?
José Teiga Jr: Zezinho, meu pai é Zé também, meu pai é José Manoel Teiga, eu sou José Manoel Teiga Junior, então…
Luciano Pires: O que que o Zezinho queria ser quando crescesse?
José Teiga Jr: Zé e Zezinho…
Luciano Pires: Pensa, 8 anos você estava em São José do Rio Preto, aí vocês vieram lá para…
José Teiga Jr: Nós viemos de lá para Osasco.
Luciano Pires: Para Osasco, então nesse período aí, com essa idade, 8, 9… queria ser o que?
José Teiga Jr: Difícil saber, difícil lembrar o que eu queria, meu pai sempre meio que me encaminhou para o comércio, eu me lembro que na primeira série, sete anos, ele me deu um saco de brinco, brinco, bijuteria que ele tinha comprado de alguém na lanchonete e ele me deu para vender na escola, então ele já estava implantando em mim um MBA aí de negócios com sete anos. Eu lembro durante algum tempo falar em ser juiz, que eu achava legal, agora não sei da onde veio essa ideia, mas eu falava que ia ser juiz, eu tinha um primo… ainda tenho um primo, mas nós tínhamos um convívio maior, mesma idade, ele também falava em ser juiz, então a gente conversava, eu não sei se eu copiei dele ou se ele copiou de mim, eu sei que no final teve influência porque eu me formei como advogado, eu sou advogado de formação, costumo brincar que eu não uso para nada, porque tomei um rumo totalmente diferente, nunca assinei um processo, por isso que eu brinco que eu não uso para nada.
Luciano Pires: Chegou a fazer a OAB?
José Teiga Jr: Tenho OAB, pago todo ano regularmente lá, pago a taxa da OAB, mas concluí pensando em um dia talvez dar aula, foi bem engraçado porque quando eu estava no terceiro ano da faculdade, eu tinha plena convicção que não seria advogado, juiz, concursado, nada, com três anos de faculdade já tinha três anos de empresa, três anos de loja…
Luciano Pires: Loja de que?
José Teiga Jr: Loja de vidro de carro.
Luciano Pires: Mas então, então espera aí, você deu um salto aí, que eu queria pegar essa tua… a desconexão da padaria, do bar, você não voltou para assumir o bar do seu pai.
José Teiga Jr: Eu lembro que todas as férias de julho meu pai dava férias para um garçom e eu tinha que cobrir o garçom, eu acho que por isso que eu fugi de bar e padaria, porque chegava junho na escola, os coleguinhas todos felizes que vai curtir férias, afins e tal, e eu falava, puts ao invés de acordar seis da manhã para ir para a escola, vou acordar quatro e meia para ir para a lanchonete, então para mim era pesado julho, mas foi uma escola maravilhosa, eu não gostava, mas muitas vezes o aprendizado está onde você não gosta, está onde não é confortável, e eu aprendi muito sem dúvida.
Luciano Pires: Você sabe que hoje o teu pai ia preso?
José Teiga Jr: Preso?
Luciano Pires: Teu pai seria preso…
José Teiga Jr: Ah de fazer isso? Sim…
Luciano Pires: Teu pai hoje ia para a cadeia. E você não teria a oportunidade que você teve, se você olhar para trás hoje, que idade você tinha lá quando você trabalhava de garçom?
José Teiga Jr: 10, 11 anos.
Luciano Pires: 10, 11 anos, você consegue olhar hoje para lá e elencar assim, sem maior compromisso, cinco atributos que você fala foi fundamental para mim? Estou perguntando porque já vieram vários caras como você, sentaram aí, e vieram me contar eu virei um puta vendedor porque eu estava atrás do balcão e ali eu aprendi como atender o cliente, outro veio dizer, eu virei um baita professor porque eu era obrigado a ajudar a minha mãe, sempre sobra alguma coisa ali, que é essa coisa da responsabilidade e tudo mais, o que que você aponta, que você fala, cara, que bom que eu fiz isso?
José Teiga Jr: Cara, eu costumo falar que meu pai sempre teve uma educação pelo exemplo, meu pai sempre deu bons exemplos. Eu lembro que de sábado a gente ia para o Ceasa comprar legumes, verduras, frutas para a lanchonete dele, e eu lembro um sábado, eu estava com muito calor, eu estava morrendo de sede, e eu queria porque queria comprar uma garrafa de água, aí o meu pai falou, não, a gente não vai comprar uma garrafa de água, a gente não precisa comprar uma garrafa de água, vamos ali, aí ele me levou em um lugar que ele sabia que tinha uma torneira, aí ele se ajoelhou no chão para beber água na torneira, aí ele bebeu água, eu bebi água, ele falou assim, a gente acabou de economizar quatro reais. Sabe? Até me emociona, são coisas simples, mas me ensinou o valor do dinheiro, sabe, valor de economizar, valor de se preocupar com coisas pequenas, então eu tive um MBA muito bom aí. Outra coisa que me marcou muito, nessas idas ao Ceasa mesmo, a negociação, era surreal, surreal. Um dia específico, a gente entrando no Ceasa, um cara saindo, o meu pai nunca foi muito comunicativo, não era um cara expansivo, e ele deu boa tarde para um cara X e perguntou, quanto tu pagou nessa caixa de tomate? Eu achei estranho, eu falei, meu pai não é de puxar assunto, ficar conversando com os outros, o que que ele está fazendo? Aí depois que ele perguntou, aí ele falou, você viu o que eu fiz? Eu falei, vi, não entendi. Aí ele falou, agora quando eu chegar na banca para comprar tomate, eu já sei o preço do Ceasa, já sei o preço que estão pagando, então eu não chego no cara perguntando, não chego no cara falando quanto que é, eu chego falando, se aquela caixa que o cara estava carregando custava seis, eu chego lá, olho, está no mesmo nível, eu já falo, e essa caixa de quatro? Aí o cara sabe que não está tratando com leigo, então o cara negocia em valores mais interessantes. Então, eu tive um bom ensinamento aí sobre economia, negociação e comprometimento, eu não lembro do meu pai atrasar ou faltar ao trabalho, nunca, era sempre horário, compromisso e… eu acho que você pediu cinco aí, te dei três bem marcantes.
Luciano Pires: Você estava na escola fazendo advocacia e montou uma empresa de vidro de carro, o que foi?
José Teiga Jr: Não, o primeiro trabalho, trabalho mesmo foi em um estacionamento, eu trabalhava em um estacionamento, tinha 15 anos, aí eu saía da escola, ia para o estacionamento cobrir o horário de almoço, o estacionamento abria manhã e noite, e à tarde não abria, tinha um restaurante que precisava que o estacionamento fosse aberto para atender os clientes do almoço, como era pouco cliente me contrataram porque… hoje não poderia, mas na época eu recebia um valor simbólico lá, cento e poucos reais, seria um terço de um salário mínimo na época.
Luciano Pires: Você não movimentava os carros, não?
José Teiga Jr: Não, eu só cuidava de entrada e saída e validava se o ticket tinha carimbo, se não tinha, tinha que cobrar o ticket. E eu ficava lá nesse estacionamento, eu não sei como eu adquiri, nem da onde veio, mas eu criei um hábito, uma paixão por saber o preço das coisas, minha literatura preferida era o Jornal Primeira Mão, que é um jornal de classificado.
Luciano Pires: Cara, esse jornal virou o mercado de ponta a cabeça, eu tenho um pouquinho mais de idade que você, bem mais, eu acompanhei o surgimento de tudo isso, o Primeira Mão quando surgiu foi uma coisa assim, o que nós tínhamos até então era os classificados do Estadão, então no domingo o Estadão, sem brincadeira, era dessa grossura, era um baita de um jornal gigante e tinha os classificados lá dentro, milhões de pequenos anúncios lá, e alguém bolou essa história de fazer um jornal só de classificados que foi esse Primeira Mão, e quando ele surgiu era uma novidade, ele surgiu aqui, depois, a partir dele surgiu um programa de televisão que deram lugar a tudo o que você conhece hoje aí. Mas quando surgiu naquela época era um negócio tão absurdo que o programa ia no ar na televisão, eu não vou me lembrar agora o nome do programa, ele ia no ar e aparecia ali, tem uma loja de camisas no Brás, na rua tal, tal, tal, nesse sábado de manhã nós vamos ter ali uma campanha vendendo um pouco mais barato. Cara, sábado de manhã fechava a rua, porque o mundo ia na loja, a loja… o negócio era um absurdo, e aí isso mostrou um mercado maravilhoso, mas o Primeira Mão foi quem desbravou esse caminho aí, cara.
José Teiga Jr: Legal, eu não tinha noção, eu lembro que ele saía duas ou três vezes por semana, não saía todos os dias, e eu comprava sempre, eu meio que pegava o jornal de ponta a ponta, queria saber preço de carro, preço de instrumento musical, preço de games, bicicleta, sei lá, lia o jornal de ponta a ponta e com o tempo lendo esse jornal, eu comecei a achar coisas que eu considerava pechincha. Eu lembro da ocasião que eu achei um cavaquinho da Giannini, que sei lá, por ver outros anúncios eu percebi que valia pelo menos 500 reais, por 150 reais, aí eu liguei no telefone, nessa época não existia WhatsApp, não existia essas coisas, aí liguei, aí era uma senhora, ela me explicou que o filho dela tinha ido embora do Brasil e deixou o cavaquinho e ela estava vendendo, aí eu chorei ainda, ela me deu um desconto, não vou lembrar de quanto, aí eu tinha um outro problema, que ela morava perto do Minhocão, e eu não tinha a menor ideia que lugar era aquele, aí eu sabia que se eu falasse para os meus pais, para a minha mãe que não sabe disso até hoje, ela não deixaria ir, aí eu fui sem avisar, arrumei ônibus, trem, metrô, fui, comprei o cavaquinho, voltei com o cavaquinho, anunciei e vendi por 500 reais, aí eu achei tipo, um negócio. Aí comecei a fazer muito isso, eu lembro de ter comprado cavaquinho, bicicleta, telescópio, computador, virou um mini negócio.
Luciano Pires: Tudo pelo Primeira Mão?
José Teiga Jr: Tudo pelo Primeira Mão e um jornal chamado Correio Paulista, que era menor e eu conseguia anunciar de graça, então eu acabava comprando pelo Primeira Mão e vendendo nesse Correio Paulista, que era um jornal que eu conseguia fazer anúncio gratuito. E meu, deu supercerto, até que eu dei um tiro errado, como se diz, eu comprei um lote de CD de Playstation, na época o CD de Playstation era como se fosse 10 reais, e eu comprei 300 CDs a coisa de 400, 500 reais, muito barato, só que eu não conseguia vender de novo no jornal, eu não conseguia vender em lote de dez, não conseguia vender um, não conseguia vender o lote, aí virou um problema esses CDs na minha vida, não sabia o que fazer com eles, aí eu tive uma ideia de tentar deixar em um banca de jornal para vender, na verdade não deixar, tentar vender para uma banca de jornal, cheguei na banca de jornal para vender…
Luciano Pires: Isso na cara dura?
José Teiga Jr: Na cara dura, peguei os CDs, falei, vou deixar na banca, porque tem um monte de molecada, molecada passa na banca e compra, era o Playstation 1 ainda na época, aí eu cheguei no cara da banca, o cara me apresentou uma palavra mágica que mudou o meu negócio, o cara me apresentou o tal do consignado, eu não sabia o que era o tal de consignado, não sabia que era assim que as bancas trabalhavam, aí o cara me falou, banca não compra nada, você deixa aí, se vender eu te pago, se não vender, eu te devolvo. Eu falei, meu, desse jeito é muito fácil para o cara da banca, ele não vai falar não para mim, aí eu fui, comprei uns suportes de CD, aí deixei dez em uma banca, dez na outra, aí fui deixando, quando eu vi, eu estava comprando CD de Playstation lá nos árabes lá, lá na Galeria Pajé e deixando nas bancas para vender, uma vez por semana por semana eu ia para o centro comprar CD com os árabes, e é engraçado que hoje eu olho, eu tinha 15 anos, 16 anos, sei lá, era um moleque, um jovem e me achava o negociador, me achava o empresário, engraçado a visão que a gente tem da gente mesmo. Eu negociava com os árabes, com os libaneses que tinham lá, com os chineses de igual para igual, eu não percebia que eles me olhavam com curiosidade, porque eu acredito que existia muita curiosidade do outro lado. E fazia negócio e ganhei muito dinheiro com isso, ganhei um dinheiro significativo, então esse foi meu primeiro negócio.
Luciano Pires: Como é que você fazia o controle? Era muita banca de revista?
José Teiga Jr: Cheguei a ter 11 pontos de venda.
Luciano Pires: Você tinha que fazer uma planilhazinha para controlar direitinho o dia de passar lá?
José Teiga Jr: Não, porque assim, na banca eu comprava o suporte, então o suporte de CD geralmente era de 20, 10 ou 30 gavetas, eu sempre deixava cheio, então eu deixava o suporte cheio, chegava lá, o que estava faltando para completar o suporte era venda. Então, ficava fácil o controle.
Luciano Pires: E você acertava com o cara na hora lá, foram 10…
José Teiga Jr: Toda semana eu trocava, eu tirava os que estavam lá, ele me pagava os vendidos e eu repunha, entendeu? Vendeu três, estou te deixando aí a 8 reais cada um para ele vender a 10, 12, que era o preço, aí vendeu três, ele me dava 24 reais, eu deixava outros 10.
Luciano Pires: Você emitia uma nota fiscal para ele, tudo bonitinho.
José Teiga Jr: Com certeza emitia nota fiscal, com certeza. Aí deixava e funcionava, e cheguei a ter uma loja mesmo, não minha, 100% consignado, mas cheguei a ter uma lona dentro do Shopping Continental, que foi um, vamos dizer, um upside aí no modelo de negócio, aí essa loja tinha mais de 100 CDs de Playstation 1, 100 CDs de Playstation 2…
Luciano Pires: Que você abastecia?
José Teiga Jr: Eu abastecia, controle remoto, memory card, cheguei a ter dois, três videogames na loja, é um grande parceiro aí e em ajudou muito, me ajudou muito porque profissionalizou o negócio, então essa era a maior loja, eu tinha duas lojas, essa muito grande, uma média e o resto banca de jornal.
Luciano Pires: Tudo sem nota?
José Teiga Jr: Tudo sem nota.
Luciano Pires: Está certo.
José Teiga Jr: Para começar, CD de Playstation era pirataria, porque eu comprava lá na Pajé, então errado por errado, eu nem sabia o que era certo, o que era errado, não tinha essa percepção, com 15, 16 anos não tinha essa percepção. Então, fui tocando esse negócio aí, aí entrei na faculdade de direito, mantive esse negócio, entrei na faculdade com 17 anos, e meu pai tinha um imóvel em Osasco que existia uma loja de vidro e não estava pagando.
Luciano Pires: Vidro?
José Teiga Jr: Vidro automotivo.
Luciano Pires: Já era vidro automotivo?
José Teiga Jr: Já era vidro automotivo e o cara não estava pagando o aluguel, aí meu pai viu o filho muambeiro e falou, filho, chega de ser muambeiro, vai lá tocar essa loja. Aí falou, eu falei que não queria, porque o ano era 2001, eu ganhava em torno de 3 mil reais por mês em 2001 fazendo isso, sei lá, quanto que daria atualizando hoje aí, mas eu acho que daria uns 15 mil reais…
Luciano Pires: 22 anos…
José Teiga Jr: Acho que daria uns 15 mil reais, eu imagino…
Luciano Pires: 3 mil reais em 2001? Vai falando aí, enquanto você fala, eu tento descobrir aqui.
José Teiga Jr: Pois é, para mim era mais do que suficiente e na loja era muito difícil eu manter essa renda. Aí meu pai me explicou que eu precisava profissionalizar, precisava ir para um negócio melhor e tal, eu sempre tive uma grande admiração pelo pai, pela minha mãe e com o incentivo deles eu fui para a loja, aí foi aí que começou a loja automotiva, a loja de para-brisa, foi exatamente aí nessa época, em 2002, eu tinha 17 anos. Com 17 anos não dá para abrir CNPJ e não dá para ficar informal, aí minha mãe veio junto também, minha mãe veio de brinde com a loja, que eu falo, tivemos muitos momentos bons e ruins, minha mãe sempre foi muito generosa, coração, então a gente tinha um caderninho de fiado lá que eu queria morrer, eu queria morrer com ela.
Luciano Pires: Ainda estou acertando teu valor aqui, mas eu errei aqui, não é 2003, é 2023. Agora vai dar… corrigiu aqui, 17.823, que é uma boa grana, limpinho na tua mão.
José Teiga Jr: Sim, renda mensal trabalhando duas vezes por semana, imagina, era um dia para compras, que eu ia lá para o… eu comprava também em uma favelinha que chama Dom Pedro, em Osasco, lá no quilômetro 18, com Duda, se o Duda tiver ouvindo aí, um abraço, e comprava também muito com os árabes na Pajé, mais com os árabes mesmo, eu gostava de negociar com eles, foi uma escola maravilhosa, primeiro com o meu pai no Ceasa, depois com os árabes na galeria Pajé, eu acho que esses caras em negociação põem muito MBA no bolso, então eu fiz um bom curso aí de vendas, negociação e afins. Aí veio a loja, aí estava eu e minha mãe na loja, alguns muitos desentendimentos, eu acho que eu sempre tive muitas certezas, tanto é que eu tinha segurança para tocar o negócio com 15, 16, 17 anos…
Luciano Pires: Mas quando você pegou a loja, você desfez o negócio dos CDs ou continuou?
José Teiga Jr: Ele meio que começou a ficar em segundo plano, que a ideia era a loja, eu tinha um dinheiro guardado, tinha o equivalente a 13 mil reais na época, que se for ver agora sei lá quanto daria, 50 mil reais, vamos dizer assim, então cobriria dois anos de despesa de um menino de 17 anos, então eu estava relativamente tranquilo. Então, eu fui colocando mais energia na loja, até coloquei para vender os CDs na loja, mas não deu certo, o modelo de negócio das bancas era o caminho certo, não na loja, aí acabei subcontratando um primo meu como representante para visitar as bancas, aí não deu certo, ele só queria jogar os jogos, não deu muito certo, porque ele realmente gostava de vídeo game, eu jogava, mas nunca fui.
Luciano Pires: Mas olha que insight interessante você tem, você desenvolveu um modelo de negócio, comprovou que ele funcionava e deu muito certo, e a única coisa que você trocou nesse modelo foi a pessoa que fazia, o modelo continua igual, cara, está aqui, é isso que você faz. Trocou a pessoa e deu errado o negócio porque a pessoa não estava focada, não tinha o tesão.
José Teiga Jr: Eu acho que o ponto é que ele gostava dos jogos, então ele pegava para testar, jogava tanto que às vezes acabava riscando e gastando tempo com isso. Eu costumo falar que o negócio de vídeo game deu certo porque eu não gostava de vídeo game, então eu ficava focado no negócio, eu via como um negócio, não via como um hobby, acho que ele viu muito mais como um hobby, por isso que não rolou. Voltando para a loja, isso era 2002, aí começamos uma loja, aí com alguns desentendimentos entre eu e minha mãe, metodologias de gestão e acreditar diferente, e ela me via como um menino, e eu era um menino, 17 anos, e 2005 nós abrimos uma segunda loja, ela ficou em uma loja, e eu fiquei na outra, aí o negócio começou a ganhar mais corpo, aí viraram quatro lojas acho que em torno de 2011 viraram quatro lojas, aí passava uma raiva absurda, nossa senhora, era roubado em uma, enganado na outra, tive uma escola muito boa aí, 2011 eu tinha 25 anos, tive uma escola muito boa. Aí estava meio bagunçado os negócios da loja, aí eu meio que dei uma diminuída nas lojas, das quatro, uma com a minha mãe, então problema dela, ela toca a loja, duas eu… uma eu vendi, consegui vender legal, a outra eu fechei, aí peguei esse dinheiro fui para a bolsa de valores.
Luciano Pires: Isso você estava estudando ainda?
José Teiga Jr: Não, já tinha me formado, eu me formei em 2008, já estava formado, já tinha OAB e não usava. Aí fui para a bolsa de valores investir, em 2009 eu já brincava na bolsa, em 2009 eu já brincava na bolsa, mas foi com esse dinheiro da loja que começou a ficar mais legal, aí investi na bolsa, nessa época a bolsa estava crescendo bastante…
Luciano Pires: Cara, 2009, você estava saindo daquele horror de 2008, a bolsa tinha acabado de quebrar, estava todo mundo assustado.
José Teiga Jr: E eu entrei nesse momento sem saber que ela tinha apanhado em 2008, então eu peguei uma época de upside muito legal, eu lembro de vender carro e comprar um carro velho, eu tinha um Punto zero, vendi o Punto zero, comprei um Honda 92 para poder pôr o dinheiro do Punto na bolsa, de tão legal que estava. Aí meio que dei uma viciada, comecei a negligenciar a loja de tanto que eu olhava para a bolsa, e percebi que alguma coisa ia dar errado, começava a se falar em dar errado a bolsa, aí saí da bolsa e fui atrás do que fazer com o dinheiro, na época eu tinha acredito que em torno aí de 200 mil reais, aí fui atrás do que fazer, era meu patrimônio, vamos dizer assim, era a loja e esses 200 mil reais. Aí eu fui atrás do que fazer, o que que dá para fazer com esses 200 mil reais? Como bom filho de português, imóvel, aí comecei a olhar imóvel, terreno, casa, salão, comecei a olhar tudo, e nessa de olhar imóvel eu vi uma esquina que era perfeita para ser uma escola, agora como é que eu sabia que era perfeita para fazer uma escola? Eu namorava uma menina que o sonho dela era ser dono de escola, porque a mãe dela era diretora, então aprendi sobre o ramo da educação com ela e com a mãe dela, conversando com elas e com o ambiente delas, e na época, 2010 isso, 2010, eu tinha plena convicção que casaríamos, então eu montaria uma escola para ela tocar. E acabei comprando esse terreno, não tinha todo o dinheiro, o terreno era mais caro, pedi a ajuda do meu pai…
Luciano Pires: Era um terreno só?
José Teiga Jr: Era um terreno.
Luciano Pires: Quer dizer, você comprou um treco para construir uma escola em cima, você não fez plano de negócio, você não foi ver se dava para ganhar dinheiro com isso, nada?
José Teiga Jr: Não, eu comprei um terreno que servia para fazer uma escola, esse era o ponto. E eu não tinha o dinheiro, eu tinha menos da metade do dinheiro, o terreno era, sei lá, 600 mil reais, eu acredito, e eu fui atrás do meu pai para comprar junto, comprar de ameias, como ele fala. Aí falei com ele, ele falou, não, não quero, já tenho imóvel, estou em paz, quero minha aposentadoria e não quero. Aí falei, lascou, agora não sei como fazer e fiquei com essa dúvida na mão, comecei a olhar alguns terrenos mais baratos, aí o meu pai perguntou para um amigo corretor de curioso, e descobriu que o terreno valia 720, 750 e estava a 600, aí meu pai mudou de ideia, mudou de ideia e falou, eu compro junto, vamos comprar. Aí negociamos com a imobiliária, compramos o terreno juntos, aí não sei o que que aconteceu, nunca perguntei para ele, mas logo depois ele desistiu, eu não sei se ele entrou para me dar coragem, se ele desistiu mesmo por conta própria, se minha mãe puxou a orelha dele porque ele já tinha imóvel demais e era para cuidar da aposentadoria e não sei, eu sei que ele desistiu, aí quando ele desistiu, ele perguntou para mim, eu não quero mais, você dá conta? Eu não tinha coragem de falar para o meu pai que eu não daria conta, eu falei, dou conta. Dá mesmo? Não, pode deixar, pode deixar que eu dou conta. Aí fiquei devendo 100 mil reais para ele, com um juros significativo, eu lembro que os juros em banco nessa época era um ponto alguma coisa, e o dele era 3%, aí eu perguntei para ele porque que era 3% o dele, e ele falou, ué, você falou para mim que está ganhando de 6 a 8% por mês, então 3% para você é tranquilo pagar. Mais uma escola, aí…
Luciano Pires: Deixa eu fazer uma especulada aqui que está interessante, nessa cadeirinha esteve sentado aí todo tipo de empreendedor, e um dos caras mais fantásticos que eu vi sentado aí foi o ex-ministro Ozires Silva, que fundou a Embraer, sentou aí e ele contando como é que foi a Embraer, como é que lançou a Embraer, ele falou, cara, Embraer foi o seguinte, os generais abriram um mapa, pegaram um terreno, vai ser aqui, vem cá, você é o presidente da Embraer, toma um cheque, vai lá e faz a Embraer. Uma tomada de decisão que hoje em dia não tem pé nem cabeça, primeiro que se você resolver fazer uma coisa em um terreno, você vai ter que tirar alvará até da… cara, fazer um estudo ambiente, meu, hoje em dia é impossível. Mas foi uma decisão assim, vai lá e faz, ele foi e fez a Embraer. No teu caso, você teve um insight ali, esse terreno é legal para fazer uma escola, mas eu não sou do ramo de educação, eu não fiz plano de negócios, eu não fiz merda nenhuma, você foi lá e comprou o terreno, que é o tipo da decisão que você não tomaria hoje batendo o olho e vou e faço.
José Teiga Jr: Não, eu estava falando sobre isso esses dias, o nível de risco que eu tomo hoje é muito baixo comparado ao risco que eu tomei na minha jornada, várias vezes eu cheguei… tomei o risco da falência que fala, captar mais dinheiro, sempre fiz muito empréstimo, captei mais dinheiro do que podia pagar algumas vezes, entrei em negócios que eu não sabia se faria sentido ou não, por exemplo, eu comprei esse terreno sem ter o dinheiro de metade do terreno, então eu entrei para o terreno, fiquei com uma dívida gigante, coisa de um mês ou dois depois acabou o namoro, então já não dava mais para fazer a escola, porque não tinha quem entendesse, quem tocasse a escola…
Luciano Pires: A imagem que eu faço, cara, é de você botar um avião para voar, você está correndo com ele na pista, de repente ele vai decolar, você mete… acelera lá embaixo, vai turbina, consome combustível, aquela força gigantesca, até o bicho, quando ele chega lá em cima e atinge a altura de cruzeiro, aí está tranquilo tudo, aí vira um conservador, não mexe, não me enche o saco, não quero turbulência, mas para chegar lá você teve que correr todo tipo de risco, que é uma coisa que eu não sei se deve à deidade, garotão de tudo é um puta de um inconsequente, você é o super-homem, você não vai perder para ninguém, você é invencível, imbroxavel, imorrível, deixa vim que eu vou tirar da frente. Quando você chega lá nos teus 40, opa, não é bem assim, eu vou ter que tomar um pouco de cuidado, então essa coisa impetuosa teve leva a construir alguma coisa, mas na hora de manter você tem que botar o pé no chão e falar, não dá mais para correr esse tipo de risco que corria lá atrás, você já enxergou assim, você já olhou isso desse ponto de vista?
José Teiga Jr: Eu gostei da figuração aí com o avião, achei que faz muito sentido, mas tem alguns pontos muito relevantes que é hoje eu tenho o que perder, quando eu comecei eu não olhava para isso, e eu realmente não tinha, eu estava pequeno, estava construindo, mas que nem hoje nas nossas empresas têm mais 400 colaboradores, então tem mais de 400 famílias. Então, quando eu erro não é mais para mim que eu estou errando, eu estou impactando a vida de muita gente negativamente, e quando eu acerto, eu consigo dar chance melhor para essas pessoas, então hoje eu sempre penso no todo, eu acho que essa maturidade de visão vem com os anos, porque às vezes a pessoa não construiu, mas a pessoa de 50 não toma risco, não acha que é o super-homem que é a de 20, no fundo que não tome risco nenhum, mas é muito mais ponderado.
Luciano Pires: Minha filha, ela é designer de interiores, montou uma empresa que é o nome dela Gabriela Pires Designer de Interiores, Gabriela Pires Interiores, e começou aqui na salinha ali de baixo, senta aí, aí a coisa começou a crescer, alugou um espaço, montou a empresinha dela e começou a contratar umas meninas para trabalhar com ela, a primeira, a segunda, a terceira, aí outro dia ela contratou mais uma e veio mostrar para mim, pai, dá uma olhada, a rede social da menina mostrando a reunião que ela está fazendo com os amigos dela de despedida do Bradesco, ela pai, a menina largou o emprego no Bradesco para vir trabalhar comigo. E isso é uma carga brutal, eu estou mexendo na vida das pessoas. Você falou um negócio interessante, quando é eu comigo, manda ver, se tiver que passar fome, eu passo, eu me incomodo… quando tem alguém que depende de mim e se eu fizer uma cagada eu vou… aí o bicho pega, e isso é uma lição de amadurecimento que é brutal, o boleto não é só teu, se eu não pagar o boleto, tem 10 carinhas dependendo de mim, muda tudo, você amadurece em meses.
José Teiga Jr: Eu acho que não só a parte do sustento financeiro dessas pessoas que estão na empresa, mas também do alinhamento de sonhos, eu tenho no meu time pessoas que estão comigo aí, minha jornada tem 21 anos, eu tenho pessoas que estão há 14, 15 anos comigo, que compraram meu sonho lá atrás, e estão comigo até hoje, se a pessoa está comigo até hoje é porque ela comprou meu sonho, ela acredita e se eu quebrar, se eu tomar um risco desmedido, não é mais meu sonho só que eu estou prejudicando, eu estou prejudicando o sonho de mais pessoas, e isso é uma puta responsabilidade, meu pai falou uma vez para mim, como é que eu durmo, como é que eu ponho a cabeça no travesseiro sabendo que tem tantas pessoas dependendo de mim? Aí eu falei, pai, eu nunca percebi que eram tantas, sabe? Eu sempre fui tendo preocupação com as pessoas, mas nunca fiz a correlação de que cada um ali é uma família de três ou quatro, então é muita gente. E eu sempre penso em fazer a coisa de forma consciente, ponderada, lógico que eu vou errar, erro para caramba, mas hoje eu tomo riscos em proporção bem menor, costumo falar que não dá mais para dar all in, então quando você está construindo você dá all in, quando entrou na obra da escola, eu cheguei a ter uma dívida de mais de um milhão no banco, surreal, eu tinha… 2012 eu tinha 26 anos… 2011 foi a obra, 26 anos, eu devia mais de um milhão no banco, surreal, o dia que eu percebi, que eu peguei uma parte no Itaú, uma parte no Bradesco e uma parte na Caixa, que a obra foi pedindo, eu fui pegando, o dia que eu somei os três assim, que eu falei, gente, a dívida é gigante e a parcela é maior que a minha renda, foi duas coisas que eu percebi, eu estava tão no ímpeto de construir e de crescer que só fui, fui indo e quando eu…
Luciano Pires: Isso era a construção da escola?
José Teiga Jr: Isso era a construção da escola.
Luciano Pires: Quer dizer, você assumiu todo esse risco para construir uma escola sem ter feito ainda um plano de negócios, nada, vou levantar uma escola. Como é que um cara que sabia vender CD de game, sabia vender vidro de automóvel, se mete a construir uma escola, cara, sem saber que tamanho tem que ser a porta de entrada, que altura tem que ser a janela?
José Teiga Jr: Esse é um bom ponto, eu perdi a namorada e a sogra que iam tocar a escola na época e arrumei outro sócio, foi muito engraçado como é que eu arrumei esse outro sócio, ele era cliente meu da oficina, e eu conhecia ele do bairro e eu sabia que a esposa dele trabalhava com educação, a gente se encontrou na padaria do bairro sem querer, eu ia raríssimas vezes na padaria, nunca perguntei para ele se fazia parte da agenda dele, mas eu ia raríssimas vezes, aí um belo dia de manhã eu estou lá na padaria, ele chega, aí vem puxar assunto, aí ele começa a falar mal do negócio dele, o meu estava bom, porque eu estava conseguindo pagar as parcelas, mas por educação você fala mal também, eu acho que quando um empresário chega falando mal do negócio dele, você fala mal do seu, acho que é uma política social.
Luciano Pires: Confortá-lo.
José Teiga Jr: Acho que é uma política social, é igual a pessoa, bom dia, você fala bom dia, você não fala, não, péssimo dia, é uma política social. Aí conversando, ele me falou, meu negócio está ruim, eu vou montar uma escola para a minha mulher, ele falou, eu já sabia que o meu não ia rolar, que eu não tinha quem tocasse. Aí ele falou, eu falei, você vai montar aonde? Aí ele falou, tal lugar. E seu terreno que tamanho que é? Ele falou, tal tamanho. Você vai ser meu concorrente? Falei para ele. Ele, como assim? Falei, o terreno ali assim e assado, melhor localizado que o seu, maior que o seu, eu vou começar a construir uma escola mês que vem. Mentira, eu não tinha dinheiro, ele já sabe que é mentira, essa ele já sabe. Não tinha dinheiro. Aí ele falou, duas no mesmo bairro é complicado. Aí eu falei para ele, por que que você não constrói no meu terreno, e a gente vira sócio? Ele falou, quanto que você acha que gasta para construir? Aí eu errei feio, eu falei que ia gastar 800 mil reais, gastamos mais de 2 milhões. Aí ele falou, quanto você pagou no terreno? Eu falei 600. Ele falou, o que passar dos 600 a gente divide meio a meio? Eu falei, o que passar a gente divide. Ele falou, se minha mulher topar está fechado o negócio. Aí marcamos uma reunião na casa dele, eu lembro, esse dia foi muito marcante para mim porque eu sentei na cozinha e comecei a fazer o tal de business plan, era uma folha de caderno, uma caneta vermelha, sei lá porque que era vermelha, e eu começava a fazer conta de quantas salas teria, quantos alunos teria, quanto custaria, quanto faturaria e eu cheguei à conclusão que a gente ia ganhar 100 mil reais.
Luciano Pires: Mas você foi olhar outra escola para você quanto é que era, quanto custava a mensalidade, você fez um estudo de mercado, alguma coisa assim? Foi no guts, foi tudo na…
José Teiga Jr: Não fiz, acho que foi tudo na… eu costumo falar no sabor do vento, molha o dedo, ergue para cima e vai, eu acho que eu tinha uma noção de quanto ganha uma pessoa, acha que um professor ganhava o equivalente, quanto paga um aluno, fiz a conta de quantos alunos ia ter por sala, cheguei à conclusão que a gente ia ganhar 100 mil reais.
Luciano Pires: Cara, vocês fizeram tudo errado, tudo errado.
José Teiga Jr: Tudo errado não porque deu certo, mas…
Luciano Pires: Mas o método está todo errado.
José Teiga Jr: Tudo no chutômetro, e ele comprou meu chutômetro, ele perguntou umas três vezes assim, sério mesmo que vai dar 100 mil reais? Falei, sério, com convicção. Teve dois momentos em que eu falei para ele com convicção, mas era convicção furada, esse foi um deles, que eu falava, vai dar, ele perguntou umas três vezes, eu falava, acho que depois das três ele acreditou, e também em outro momento que ele falou assim, olha, eu não entendo nada de obra, falou assim para mim, você entende de obra? Falei, entendo. Falou, mas você entende mesmo? Nunca tinha feito um banheiro, nada. Entendo, pode deixar que eu toco. E era muito engraçado porque ele comprou mesmo a ideia, acreditou e eu falei, e agora? Aí fomos atrás do projeto, aí para caber o número de alunos para dar os tal dos 100 mil reais, tinha que fazer cinco andares, eu falei, como é que eu nunca fiz um banheiro, vou fazer um prédio de cinco andares? Aí comecei a ficar nervoso, aí comecei a ficar preocupado, aí comecei a ir atrás de engenheiro, arquiteto, aí e caro, tudo caro, aí surgiu, não sei porque via o tal do pré-moldado, nossa, aquilo foi uma benção na minha vida, falei, meu, cair não cai.
Luciano Pires: Que não era uma novidade.
José Teiga Jr: Não era uma novidade, mas eu não era da área da construção, para mim tudo era novidade, eu não sabia que aquilo que existia, eu descobri nessa época, eu não sabia, aí descobri o tal do pré-moldado, quando eu descobri que eu falei, meu, não vai cair, minha preocupação era fazer uma escola que caísse, caísse o prédio, Deus me livre. Aí eu falei, não vai cair mais, então 90% dos problemas estavam resolvido, aí fomos atrás das empresas de pré-moldado, começamos a negociar com uma, negociar com outra, eu trouxe para a mesa de negociação a negociação dos árabes lá da galeria Pajé, eu lembro que meu sócio nessa época me deu um feedback, que ele não ia mais sentar em uma mesa de negociação comigo, porque ele tinha vergonha, porque eu era muito agressivo, e consegui um negócio maravilhoso no pré-moldado sendo agressivo, negociando com um, com outro, e ele falou, olha, muito bom, mas eu não sento mais com você não para passar vergonha. Deu muito certo, fechamos o pré-moldado…
Luciano Pires: O que que é passar vergonha em uma negociação?
José Teiga Jr: É que o cara falava, por exemplo, olha, o pré-moldado vai ficar um milhão, por exemplo, o projeto de pré-moldado vai ficar um milhão, então obrigado. Como assim obrigado? Não, não, está muito fora do que a gente está encontrando no mercado, acho que não vale nem a pena gastar energia. Aí o cara, não, mas como assim, senta aí e conversa, o que que você tem? Eu não tinha, tinha em torno de 800. Falava, eu tenho por 620 mil reais. Aí o cara começou, não, é muito pouco, começaram a fazer conta, fazer conta, aí eles falaram, a gente consegue por 650, aí quando eles chegaram perto. Eu olhei, não, mas eu tenho por 620 com bloco e baldrame, que era a parte. Aí o cara, não, não dá, não dá. Falei, então não dá, muito obrigado, vou embora. Aí fui embora, aí meu sócio falou um monte para mim porque o preço dos caras era bom, eles chegaram, que a gente tinha 800, eles chegaram em 650, aí meu sócio falou que não dava e tal, que passava vergonha. Eu falei, calma, foi a primeira conversa, deixa o cara pensar um pouco. Aí os caras ligaram o fecharam, passou um tempo os caras ligaram e fecharam, abraçaram, compraram o peixe.
Luciano Pires: Você sabe que o negócio da negociação é interessante, isso vale para a vida da gente em qualquer estágio da vida da gente, que é quem tem o poder da barganha, quem é o dono da barganha? Eu estou desesperado para comprar um produto teu e você tem o produto e vai me vender, você tem o produto da barganha, se eu estou louco para comprar, você vai definir o preço e eu vou pagar. Se eu posso escolher qualquer um para comprar e você está desesperado para me vender, virou, agora o poder da barganha é meu. O que você fez foi isso, você tirou o poder da barganha da mão dos caras, botou no teu colo, chutou, e cara, não quer, tchau, estou indo embora, e ao estou indo embora, você está levando embora, barganha é sua, você acaba levando a vantagem. Que é o que fazem os… o mercado árabe é exatamente isso aí, ele olha para a tua cara, custa 10, aí entra outro, para você é 15, para você é 25, e quem der mais acaba levando.
José Teiga Jr: Eu percebi que… eu li recentemente o William Ury, é um dos papas da negociação aí, ele tem um livro bem legal, Como Chegar Ao Sim, recomendo aí para quem tiver ouvindo e gosta ou precisa ou trabalha na área de negociação, puta livro, e uma das coisas que ele fala no livro para não fazer, é exatamente o que eu fiz, ele fala, não marque posições, foco na negociação, quando eu bato na mesa e falo, vou embora, eu estou marcando uma posição, entendeu? Então, eu estou marcando uma posição que não me interessa fazer negócio com você, está muito longe, pode dar certo, mas pode dar errado, é o famoso all in, que eu costumava dar muito na época e hoje não rola mais.
Luciano Pires: É porque você está com o risco lá, o cara pode falar tchau e você teria perdido os 650.
José Teiga Jr: Exatamente. Aí sempre tem aquela, o cara fala tchau, aí depois você liga para o cara, já aconteceu, o cara não te ligou fazendo o preço que você queria, aí você liga para o cara e fala, olha, o outro lá que tinha feito mais barato está pedindo o dobro do seu prazo, qual que é o seu prazo mesmo? Aí o cara fala, vou fechar com você por causa do seu prazo, você é mais caro, mas eu vou fechar por causa do prazo. Então, sempre dá para fazer uma tal de repescagem. Aí fizemos a negociação, construímos de pré-moldado, aí o resto da obra teve muita dúvida, teve um muro de arrimo que eu não sabia o que que era muro de arrimo, aí o cara me perguntava na obra, como é que vai fazer o muro de arrimo aqui? Eu falava, não, só um minutinho, que eu não tinha engenheiro e arquiteto, tinha um arquiteto que fez a planta, para pagar barato…
Luciano Pires: Alguém projetou a escola…
José Teiga Jr: Nós compramos a planta de um andar, porque como o prédio era cinco andares, eu negociei com o arquiteto a planta de um andar para pagar barato e repliquei, então nós tínhamos uma planta baixa de um andar.
Luciano Pires: Mas como é que tu sabia que ia aguentar, cara, um em cima do outro? O cálculo estrutural…
José Teiga Jr: O cálculo estrutural veio do pré-moldado, então o pré-moldado fez o esqueleto lá que ia aguentar um em cima do outro, tudo certinho, aí o cara do pré-moldado falava, você quer sobrecarga de uma tonelada, de 800, 900 ou 700 quilos por metro quadrado? Aí eu falava, só um minutinho, igual do muro de arrimo, Google, qual a sobrecarga ideal para a laje em uma escola? Aí o Google, ah tem que ver se vai ser na sala de informática, porque tem [ambiente] de computador, se não vai ser… mas usa-se geralmente 700 quilos por metro quadrado, aí eu chegava no cara do pré-moldado, vou querer de 700 quilos, com propriedade, porque eu aprendi com o Google. O muro de arrimo a mesma coisa, que muro de arrimo vai ser aqui? Aí eu falei, Google, quais as opções de muro de arrimo? E não esquece nunca mais, aí aprendi muro de gabião, muro de estaca encaixada, muro de solo grampeado, qual que é o ideal para cada tipo de terra, terra mais úmida? Porque lá era úmido, aí fizemos de solo grampeado, aí já sabíamos que era de solo grampeado, aí você vai cotar o muro, só que você não fala mais como leigo…
Luciano Pires: Você já fala como…
José Teiga Jr: Eu queria cotar muro de arrimo aqui, eu acredito que o melhor aqui é solo grampeado, você faz, não faz? Ai se o cara falava que não era, mas, por que não é? Que o solo grampeado atende assim, assado, dava até uma aulinha para o cara, me divertia. E deu certo, teve alguns problemas óbvio, teve alguns problemas, acho que obra sem problema até hoje a gente não sabe fazer, sempre dá alguma coisinha, mas funcionou, a escola está lá, tem 12 anos, 2000 e…
Luciano Pires: Tá, mas você levanta um prédio, o prédio, eu diria que o prédio é um terço da escola, é um terço da escola, você tem dois terços ali para complementar, então você tem agora eu vou ter que arrumar professores, vou ter que arrumar um método, e depois eu vou ter que arrumar aluno, tem toda uma confusão. Quando você estava naquela de construir a escola, aquilo virou o teu objetivo, aquilo era o teu futuro, era ali que você ia investir para… aquilo que você ia ser quando crescesse ou aquilo era uma aventura que você estava fazendo, se não der certo eu vendo, como é que você olhou aquilo?
José Teiga Jr: Naquele momento eu me apaixonei por construção, a escola era um investimento, era uma diversificação de renda, mas eu me apaixonei pela construção, eu lembro de na loja eu já com a obra, tinha fechado uma negociação com o cara do drywall, por exemplo, que a divisão das salas ia ser de drywall, coisa de 140 mil reais, negociamos, fechou por 95, então ganhei lá 45 mil reais em uma negociação de drywall, estava felizão, aí cheguei na loja, um cara para trocar a fechadura da porta do Palio, era 90 reais de venda, eu pagava 40 e o cara queria porque queria pagar 60 e eu fiquei quase uma hora discutindo com esse cara para ele pagar 75 reais na fechadura, aí eu entrei em uma badzinha assim, gastei 1 hora para ganhar desse cara aqui, sei lá, 30 reais, e lá em meia hora eu economizei 45 mil, não quero mais a loja, aí eu comecei a largar a loja, aí eu comecei a largar a loja e ficar muito mais presente na obra, eu tinha para mim que eu seria construtor, entendeu? Eu tinha que essa seria a minha profissão dali para frente, e depois com o dia a dia na operação da escola, mudou.
Luciano Pires: Então, mas aí para a operar a escola você não podia fazer como você fez na construção, vou no Google, olho, encomendo, mando botar, calcula para mim, o bicho pega, operação de escola é um negócio seríssimo, até porque você está lidando com um tipo de produto ali que cara… sem contar que tem um monte de pai para te encher o saco, tem segurança de criança, tem todo… eu não estou nem falando da questão educacional e tudo mais, tem um universo que… você fazia ideia desse universo, você terminou a escola e falou, bom, agora eu vou me meter a contratar professor, vou botar um diretor, como é que você abraça uma loucura dessa, cara?
José Teiga Jr: Nessa parte aí eu tive muita ajuda, toda a parte de documentação, você tem que fazer um projeto de documentação para dar entrada na delegacia de ensino, é gigante, sei lá, mais de mil páginas para ter documentação para abrir uma escola, é bem complexo. Nós contratamos a minha ex-sogra, que ela era especialista nisso, ela era diretora em colégio e ela fez toda a parte de documentação para a gente. A parte de professores, a sócia, esposa do sócio trouxe da escola que ela veio, então ela saiu de uma escola e todo mundo que sabia que era bom, ela comprou o passe, foi muito… comprou o passe mesmo.
Luciano Pires: Você levou ela como diretora?
José Teiga Jr: Ela foi como… mulher do sócio e nós combinamos que ela cuidaria do pedagógico e eu cuidaria do administrativo, ficou definido dessa forma, então toda a parte pedagógica ficou a cargo dela, esse peso aí de arrumar professor, definir metodologia, por pessoal para trabalhar, formar time pedagógico ficou dela, e eu fui atrás de um líder administrativo, se ia ter financeiro, se não ia ter financeiro, se o administrativo dava conta, se não dava, parte comercial, quais as ferramentas de venda, captação de aluno. Então, a gente fez um time muito bom.
Luciano Pires: Você está ouvindo o LíderCast, que faz parte do ecossistema Café Brasil, que você conhece acessando mundocafebrasil.com, são conteúdos originais distribuídos sob forma de PodCasts, vídeos, palestras, e-books e com direito a grupos de discussão no Telegram. Torne-se um assinante do Café Brasil Premium, através do site ou pelos aplicativos para IOS e Android, você pratica uma espécie de MLA, master life administration, recebendo conteúdo pertinente de aplicação prática e, que agrega valor ao seu tempo de vida, repetindo, mundocafebrasil.com.
Luciano Pires: No começo da nossa conversa aqui, quando eu perguntei o que que você fazia, você falou que você estava trabalhando com crianças, fazia uma formação que não era só a formação educacional de escola, era uma formação para a vida como um todo, e deixou claro para mim que você tem uma visão que está muito além de construir uma escola para ganhar dinheiro. Quando você estava nesse momento que você está contando aqui agora, ela cuidando da parte educacional e você cuidando da administrativa, você não tinha ideia de que ia abraçar essa coisa de mudar a vida de pessoas, e dar à criança uma visão de mundo, não havia uma visão tipo assim de propósito de vida, você não tinha?
José Teiga Jr: Mas além de não ter a ideia, eu tinha a plena convicção de não rolaria, eu não queria, para mim era uma segunda fonte de renda e um investimento, eu gostava muito do setor automotivo e tinha me descoberto na obra, para mim obra era o caminho do sucesso da minha vida, então ficava muito a cargo dela e eu tentava não me meter, tentava fugir até da parte pedagógica, só que a gente ficava na mesma sala, então às vezes ela pedia minha opinião, pedia a minha ideia, pedia o meu ponto de vista…
Luciano Pires: Com a escola já rolando?
José Teiga Jr: Com a escola rolando.
Luciano Pires: Você… só um pouquinho antes da gente… tinha um número mínimo de estudantes ali para aquilo ficar viável, não é?
José Teiga Jr: Tinha, tinha sim.
Luciano Pires: E vocês tinham que conquistar essa estudantada toda lá, tinha um projeto de marketing para buscar essa molecada, simplesmente inaugurou a escola e falou venha quem quiser, como é que é? Deus cuida disso, como é que foi?
José Teiga Jr: Não tinha marketing e até ano passado não tinha um marketing propriamente dito, eu fiz um curso agora em fevereiro desse ano, estou meio perdido porque esse ano rolou muita coisa, fiz um curso agora em fevereiro desse ano, chama Equity +, e nesse curso eu entendi como é que funciona o marketing, pela primeira vez eu entendi, enxerguei valor, saí de lá e contratei uma líder de marketing, hoje temos, naquela época e depois disso até muito pouco tempo atrás era por tentativa e erro, quais são as possibilidades? Adesivar a traseira de ônibus, vamos fazer alguns. Outdoor? Vamos fazer alguns. Carro de som? Faz alguns também. Panfleto na padaria? Vamos deixar. Aquela toalhinha de mesa? Vamos pôr nos restaurantes com o nosso nome com giz de cera.
Luciano Pires: E o que que funcionou?
José Teiga Jr: Não sei, não sei.
Luciano Pires: Boca a boca.
José Teiga Jr: No começo eu não vou saber o que funcionou, eu acredito que a gente acertou muito no CEP.
Luciano Pires: Na localização da escola.
José Teiga Jr: Eu acredito que o CEP, a localização foi mágico, porque…
Luciano Pires: Que bairro é, onde fica?
José Teiga Jr: Fica em Osasco, o bairro chama Umuarama, próximo ao centro, próximo à matriz do Bradesco Cidade de Deus, e tinha acabado de surgir um condomínio ali com 18 torres, um condomínio novo para a faixa de renda aí de casal jovem, então em função desse condomínio que surgiu, a região ali, e era uma região que eu conhecia, porque eu tinha minha empresa de vidros ali, minha empresa de vidros existia na época da escola e existe até hoje minha primeira empresa, está lá nesse mesmo endereço, e meu sócio também era daquela região, então a gente conhecia muito a região, a gente tinha muita convicção que cabia. Como o colégio pega um ponto em que ele pega um pouco da avenida e um a vielinha sem saída, ele fica muito visível, então um predião de cinco andares, na época no bloco mesmo, no bloco de cimento, não tinha… não sobrou dinheiro para pintar, foi acabando ao longo da obra, mas chamava atenção. A gente entrou bem agressivo para conseguir os primeiros alunos, porque até a gente tinha dúvida se ia ficar pronto o colégio, ficou pronto em dezembro para dar aula em fevereiro.
Luciano Pires: O negócio dessas escolas é isso, ela dá uma data para ficar pronta, se ela perde aquilo, ela perdeu o ano.
José Teiga Jr: Em teoria a escola tem que estar pronta até agosto, é o que a delegacia de ensino pede, mas a gente manteve um bom relacionamento, assumiu alguns compromissos e tinha muita gente na obra, então eles deram um voto de confiança para a gente que a gente não estava pronto em agosto, mas estaria pronto até a data, e começamos o primeiro ano com 121 alunos, o número mágico é 500 alunos para pagar as contas, então deu prejuízo no primeiro ano, deu prejuízo no segundo ano, no terceiro ano chegou no zero a zero de se pagar, agora o breakeven mesmo de pagar o investimento, levou uns sete anos.
Luciano Pires: Sete anos?
José Teiga Jr: É, sete anos.
Luciano Pires: Quando é que dá o click em você e você olha e fala, meu, acho que isso aqui não é só ganhar dinheiro não, acho que tem um propósito aqui? Eu estou batendo na palavra no propósito porque me pareceu que em algum momento você é conquistado por essa missão de cuidar da garotada toda e transforma isso em um propósito de vida. Não sei se estou certo.
José Teiga Jr: Eu tive alguns momentos, mas a convivência no dia a dia com a parte educacional, com a parte pedagógica foi me contagiando, eu fui me envolvendo, me interessando e participando mais e mais, mas eu tive um momento que me marcou muito, foi já no segundo colégio, eu já me intrometia no pedagógico, mas foi no segundo colégio que a gente adquiriu, e nesse colégio, ele estava precisando de uma reforma, estava precisando de uma energia, e nós colocamos, fizemos uma bela reforma, fizemos uma inauguração para os pais, eles ficaram muito felizes em ver que o colégio estava se renovando e uma mãe me pegou na mão assim e falou, parabéns, fico muito feliz de ver um jovem como você investindo na educação. Aquilo mexeu muito comigo, aquilo me marcou muito e…
Luciano Pires: A palavra certa vindo da pessoa certa na hora certa muda tudo cara, para o mal e para o bem, para o mal e para o bem.
José Teiga Jr: Aquilo ali acho que foi um momento principal, a virada de chave mesmo, naquele momento ali… eu não percebi naquele momento, óbvio, aquilo ali me impactou, eu dei uma travada, porque até ali eu olhava como um negócio, como um investimento, por mais que eu já tivesse participando de alguma coisa no pedagógico, eu ainda olhava como um investimento, mas a partir daquele momento ali eu acho que eu falei, é isso, é isso que eu quero, quero formar crianças e jovens que vão ter sucesso, que vão conseguir ser um adulto que se conheça, que…
Luciano Pires: Que idade você tinha?
José Teiga Jr: Isso foi 2019, eu tinha tenho 38 agora, 34 anos.
Luciano Pires: 34, tá bom, uma boa idade para arrumar um propósito, normalmente surge aos 40, 40 e pouco, você pegou aos 34, está bom.
José Teiga Jr: Eu acho que tinha propósito de ter independência financeira, mas mudou, aí mudou…
Luciano Pires: Para algo maior.
José Teiga Jr: É, algo de mais valor e nossa, mudou total, hoje ainda tenho a empresa no setor automotivo, é grande, nós somos um dos cinco maiores do Brasil quando fala de para-brisa e trabalhamos com borracha também, tem mais de 100 colaboradores, temos uma operação online muito forte, tenho algumas outras empresas menores, mas o foco está total na educação.
Luciano Pires: Você cresceu, ampliou, hoje não é uma escola só?
José Teiga Jr: Hoje somos quatro escolas, nós somos duas escolas construídas, tiradas do chão, feitas do chão até o prédio e duas adquiridas. E eu ainda não sei qual que é melhor, tirar do chão é legal porque você chega em uma região que muitas vezes precisa e consegue fazer uma entrega legal, em um preço interessante e traz novidade para aquela região que está carente de uma escola assim. E adquirir uma escola também é bom, que nem essa última que a gente adquiriu, tem 83 anos, então é uma escola tradicional, é uma escola que estava em um momento difícil, ela já teve 3 mil alunos, hoje tem 300 alunos, então estava em um momento bem difícil, fizemos um belo projeto, vamos investir um 12 milhões lá de retrofit, que é dar aquela atualizada, reformada, mobiliário, e acreditamos muito.
Luciano Pires: Todas têm o mesmo nome?
José Teiga Jr: Não, cada uma tem um nome, são duas em Osasco, chama Dom Henrique I, Dom Henrique Quilômetro 18, que o pessoal não gosta lá que fala que é o II, eles ficam magoados, tem que falar Dom Henrique Quilômetro 18, tem o Tutor, que fica na Aclimação, Colégio Tutor, e essa última é o colégio Marillac, que fica em Santana, perto do Campo de Marte.
Luciano Pires: Mas você tem uma… eu vou te dar um LíderCast para você ouvir, uma história muito louca de um professor que também… fazedor de universidade, assim, sai do zero e monta… e chega a ter 1 milhão de alunos para você ter uma ideia, você tem um método de ensino, tem um método que está por trás, tem alguma assinatura de vocês ou não, ou cada escola vai por sua conta?
José Teiga Jr: Assim, tem alguns valores que são fundamentais para nós, um dos valores que é fundamental para nós é ensinar para crianças e jovens o empreendedorismo, ensinar sobre dinheiro, tem um desconforto na escola tradicional, que a criança chega na escola, aí ela está criativa, desinibida, aí ela vai, pega e faz uma pilha com as cadeiras, aí a professora chega e fala, não faz isso, organiza as cadeiras, senta na cadeira, cadeira é para sentar, não é para empilhar. Aí a criança aprende, aí ela fica mais velha, o professor fala, copia da lousa, aí ela fica mais velha, o professor fala, faz a prova. Aí essa criança vai para o mercado de trabalho, ela chega no mercado de trabalho, ela olha para o chefe e fala, chefe, o que eu faço?
Luciano Pires: Sim, toda podada.
José Teiga Jr: Toda podada, perdeu a autonomia, perdeu a independência…
Luciano Pires: Criatividade.
José Teiga Jr: E aprendeu que ela tem que esperar a ordem, o direcionamento de alguém, isso me incomoda, então a ideia é dar autonomia, tanto é que um dos motes… legal, interessante.
Luciano Pires: Professor Carbonari, você vai ouvir isso aqui, cara, é uma doideira, chegou a 1 milhão de alunos.
José Teiga Jr: Show de bola, vou ouvir sim.
Luciano Pires: Vou te mostrar depois.
José Teiga Jr: Tanto que um dos motes que a gente acredita e carrega é protagonistas do seu futuro, protagonistas da sua história, ou seja, cara, entende o que você quer, cria a sua história, não fica esperando o professor, não fica esperando o chefe na empresa, não fica esperando o coleguinha, entendeu? Aprende, aprende a aprender, aprende a adquirir conhecimento, porque a nossa geração já tem que estudar sempre, já não pode se dar ao luxo de não estudar mais, acabou aquele negócio de fazer uma faculdade e usar o que aprendeu na faculdade o resto da vida, e ser um empresário, funcionário, ou empreendedor de sucesso, acabou isso, hoje o cara tem que estudar sempre, então essa geração vai ter que estudar sempre, então a gente busca ensinar o prazer e a importância de aprender, então a gente tenta ensinar a aprender, a gente ensina a lidar com dinheiro, a gente ensina que o juros do cartão de crédito não é legal, que o juros compostos tem que ser usado a seu favor.
Luciano Pires: Cara, se tivesse isso aí na… se isso compusesse o básico da garotada no Brasil, na escola brasileira como um todo, mudava a história do país, o Brasil do ponto de vista de educação financeira é um pavor, cara, a gente trata muito mal, a gente não sabe economizar, não sabe gastar, não sabe comprar, não sabe nada, trata o dinheiro como se fosse uma coisa, sei lá, a ignorância nesse sentido é muito complicada, e eu vi que as tentativas de trazer isso para dentro do mundo do ensino trombaram com questões ideológicas, isso é coisa de capitalista, isso é coisa de empresário, aqui não é assim, o empresário é mal, então tem toda uma conversa aí que atravanca e essa coisa não vai. E acho que a iniciativa individual, determinadas escolas falar, não, espera um pouquinho, aqui vai ter, pode provocar uma diferença grande.
José Teiga Jr: A gente tem também algumas dores, que nem eu não esqueço uma vez, a gente estava ensinando exatamente sobre cartão de crédito, a gente pega aula de matemática sobre juros compostos e traz para o mundo real, então ensina sobre investimento, que se você investir, o segredo do investimento não é o aporte e sim o tempo, então é melhor um pequeno aporte muitos anos, por causa dos juros compostos, do que um grande aporte pouco tempo. A gente explica isso e explica o tal do cartão de crédito, que é os juros compostos contra você, não a seu favor. E foi engraçado que pós essa aula nós tivemos um pai que foi na escola reclamar, porque o que ele faz com o dinheiro dele é problema dele, e se ele está endividado com o cartão de crédito a escola não tem nada a ver. O que que a gente deduziu que aconteceu? O aluno chegou em casa cheio de conteúdo, feliz com o que aprendeu e quis ensinar o pai, e o pai acho que se ofendeu com o filho querendo ensinar a ele como usar um cartão de crédito, entendeu? Então, é complicado, lógico que é um caso pontuado, é minoria, a grande maioria gosta, vê valor, mas o ser humano é um bichinho complexo, então a gente lida e imagina, hoje no grupo temos 2200 alunos, então são 2200 pais, 2200 mães, uma série de avós, alguns tios, amigos, então são muitas pessoas, muitas pessoas, e você ensinar um aluno, ensinar um jovem, você tem que conscientizar um pai. Hoje a gente fala muito, não está como eu gostaria, mas a gente já fala muito em escola para pais, entendeu? Pegar os pais…
P Tem uma frase de Napoleão Bonaparte que é uma delícia, que ele fala, se você quiser educar uma criança, comece 25 anos antes dela nascer, que é exatamente isso, pais, se você não fizer um trabalho… e no Brasil a gente tem uma… tem uma separação entre família e escola que é um negócio terrível, cria-se um muro entre um e outro, e hoje em dia não tem mais como dissociar, porque o celular do moleque está em casa, está na escola, eles estão cruzando informação o dia inteirinho, não tem mais… aquela separação acabou. E eu acabei de fazer um levantamento agora, eu te contei a história do Café com Leite, e a gente para orientar o trabalho que nós estamos fazendo, eu fiz um levantamento, a gente fez uma enquete com mãe, só mãe, não queria pai, só mãe, preparamos uma enquete só com mães, depois nós vamos fazer uma só com pais, e a enquete queria descobrir das mães o que que as preocupava do ponto de vista da educação dos filhos, então tinha lá várias perguntas e tudo mais, e de repente vem o gráfico e assim de longe, em primeiro lugar, 40% do que elas falaram que era preocupação, e o segundo lugar era, sei lá, 12%, 40% eram questões morais e éticas, e depois vinha acesso a conteúdo não sei o que, bom, um monte de coisa lá, mas o interessante é que em primeiro lugar veio uma questão moral e ética que não é necessariamente problema da escola, a escola pode ajudar orientando, mas isso é em casa. Então, elas falam a minha maior preocupação com relação à educação dos meus filhos diz respeito a mim, então como é que… não dá mais para dissociar essas coisas, você não tem como dizer A em casa e a escola dizer B, e você querer encaixar, essas coisas têm que trabalhar em conjunto. Eu te comentei também que eu tenho um conhecido, já considero amigo meu, que montou uma escola cristã lá em Petrolina, e eles estavam com essa história toda, tem que ser uma escola cristã, não é uma escola religiosa, ela não é nem católica, nem evangélica, ela é cristã, baseada nos princípios e valores cristãos. E ele colocou isso como missão de vida, porque ele falava, cara, está todo mundo perdido, todo mundo desorientado, se a gente não fizer um trabalho aqui para atrair essa turma toda para dentro da escola, então traz as mães, faz evento com mãe, com pai dentro da escola para integrar essa turma toda, não adianta, cara, ele não vai conseguir conviver com uma célula dissociada da sociedade. E isso é uma tremenda de uma dificuldade hoje em dia, é muito mais difícil do que era na minha época, na época era tudo redondinho, cara, quadradinho, tem hora para entrar, para sair, a professora, o professor tinha um poder gigantesco, a professora entrava em sala de aula era molecada em pé, cantando o hino, era uma coisa impressionante, hoje em dia caiu por terra. Então assim, conceito de autoridade, hierarquia hoje está bem complicado.
José Teiga Jr: Eu sinto muito e falo um pouco sobre isso, que assim, na nossa geração, os nossos pais, a prioridade deles não era necessariamente criar o filho, estar perto do filho, o pai acreditava que ele dando comida, colocando em uma boa escola, ele está fazendo uma boa criação, então o pai não acompanhava o emocional do filho. Aí nós crescemos, eu cresci em um cenário, nessa linha onde o meu emocional não era prioridade, meus pais me davam afeto, carinho, mas não estavam olhando para o meu emocional. Aí eu cresci, quando a minha geração tem um filho, esse filho, ele é sobrecarregado de emoção, é o tal do prêmio de participação, então você vai fazer um campeonato de futebol na escola, a gente tem que dar medalha para todo mundo. A criança tem que aprender a perder, o jovem tem que aprender a perder, tem que viver esse desconforto, porque ele não vai ter prêmio de consolação no mercado de trabalho, ele não vai ter prêmio de consolação no mundo real, e se a gente não ensinar isso enquanto é jovem, quando for adulto, vai ser um problemão, porque ele não vai saber como lidar com aquilo, porque ele chega em casa com um desenho, a mãe fala, nossa, é o melhor desenho que eu já vi na minha vida, você é um artista, filho, o pai, fala, nossa, vou fazer um mural, a avó pega e faz uma foto, e a criança acredita que ela realmente é um artista, entendeu? Porque ela está ouvindo das pessoas que ela ama, ela está ouvindo do círculo de confiança dela, e ela sai com aquela crença, que ela fala, eu nem me esforcei tanto nesse desenho, porque a criança sabe o quanto ela se esforçou, e estão falando que é incrível, então eu não preciso me esforçar tanto, qualquer coisa que eu faço que eu nem me esforço já é incrível para o mundo, porque a visão de mundo daquela criança é o pai, é a mãe, é a avó…
Luciano Pires: O mundo gira em torno dela.
José Teiga Jr: Exato, o mundo é o que está perto dela, então assim, a criança…
Luciano Pires: Não, é mais do que estar perto dela, gira em torno dela, é o querer dela, é a importância dela, é a hora que ela quer, o que ela quer, se não ela grita, papai e mamãe vem todo mundo correndo paparicar, e ela vai lá fora e descobre que o mundo não gira em torno dela.
José Teiga Jr: Um exemplo que eu acho legal para ilustrar isso, essa bolha, essa superproteção dos pais hoje, é aquele que a criança chega na praia e fala, pai, tem vida no mar? Aí pai pega aquele baldinho de areia da criança, que é a bolha, pega um pouco de água e fala, filho, tem vida aqui? Aí a criança fala, não, não tem. Então, filho, então não tem no mar. Então é isso, o pai fala, aqui na sua bolha, filho, você é protegido, não tem decepção, não tem perda, não tem arrependimento, não tem frustração, e a criança acredita que o mundo é aquilo. Então, hoje é muito complicado esse ponto, é um conflito muito grande, porque a gente gostaria de ensinar para a criança que perder faz parte e ela tem que tirar daquilo um aprendizado.
Luciano Pires: Eu gosto de um lance do… gosto muito do MMA, o UFC e tudo mais, e teve um lance interessante que o Aranha, o Spider, o Anderson Silva ganhando de todo mundo, o cara campeoníssimo, o maior atleta do MMA, ele vai lá, entra no octógono e toma um murro no queixo lá do Chris Weidman e perde, e perdeu o título e foi uma zebra. Aí vou conversar com ele, falo, e aí? Ele falou, cara, agora eu posso dizer que eu sou um atleta completo, entendeu? Porque eu experimentei tudo, cara, eu tive todas as vitórias e tive a derrota, então eu completei, agora eu estou completo. Sem aquela coisa do gosto da derrota, ele não poderia… e tem um monte de casos lá de caras que usam aquilo para dar a volta por cima, apanhei, espera aí, encontrei uma deficiência e vou usar isso para dar a volta por cima, quando você elimina isso, e protege… lá no… o material de apresentação do Café com Leite, quando eu vou nas empresas para mostrar e tudo mais, eu abro com uma frase do Walt Disney, onde ele estava sendo muito criticado porque o pessoal falou o seguinte, meu, você faz uns filmes aí onde a coisa mais legal é o vilão, tem uns puta vilão maravilhoso, para de dar esse foco no vilão. Ele falou, espera um pouquinho, o mal existe e ele está aí, e quando eu trago o mal para o meu filme não é uma questão só de valorizar o mal, eu estou mostrando que ele existe e mais, eu estou mostrando que ele pode ser derrotado, se eu não mostrar, as crianças não vão ter nem a chance de reconhecer o mal no momento em que ele aparecer. Então, esconder isso e superproteger, você vai criar um bando de frouxo, que a hora que o bicho pegar, essa molecada não tem para onde correr, não tem referência nenhuma.
José Teiga Jr: Perfeito, a gente fala muito isso, o pai sabe disso, o pai e a mãe, ele tem convicção disso, quando a gente pede para ele olhar para jornada dele e ver onde que ele aprendeu, onde que ele saiu da zona de conforto, onde que ele desenvolveu, ele vai lembrar de uma situação difícil, ele vai lembrar de um sofrimento, ele vai lembrar de uma dor, aí quando a gente fala, pai, está vendo como foi importante para você?
Luciano Pires: Quando que vocês falam com o pai assim?
José Teiga Jr: Então, a gente tem algumas reuniões de pais, tem alguns encontros, alguns eventos, mas ainda não é suficiente, a gente precisava de mais approach, mais uma aula mesmo.
Luciano Pires: A escola dos pais que você falou, é bem legal isso.
José Teiga Jr: O pai, ele sabe disso, mas quando ele tem que fazer a escolha de deixar o filho dele ralar o joelho, cair da bicicleta ou ficar segurando, instintivamente ele fica segurando, entendeu? É contra instintivo ele deixar o filho ralar o joelho, mas é importante, e como ele ralou muito o joelho quando era criança, porque o pai dele deixava, ele sentiu muita dor no joelho e ele não quer que o filho dele sinta tanta, e acaba privando de toda a dor. Então, realmente a gente está com um problema muito grande com essa geração, que são as bolhas, a superproteção, que vai encontrar um cenário diferente do mundo real, e a gente tem isso tanto dos pais, quanto do próprio mundo real. A nossa geração olhava para o cara de sucesso e o cara de sucesso é o cara que trabalhou muito, é o cara que estudou muito, que colocou muitos anos de energia e foi construindo de grão em grão para chegar lá, essa era a nossa referência de sucesso, a referência dos jovens hoje é cara que estava no banheiro tomando um banho, teve uma ideia ali, em cinco minutos colocou na internet, alguém comprou por um bilhão, aí ele fala, eu não tenho que me esforçar, eu tenho que ficar parado para que a ideia brilhante venha, aí a gente fala, mas se você não tem nem repertório, dá onde vai vir essa ideia brilhante? Primeiro você precisa adquirir repertório, conhecimento em diversas áreas, para que aí você tenha uma ideia brilhante.
Luciano Pires: É o fenômeno Neymar, todo moleque quer ser o Neymar, só que para um Neymar tem dois milhões de jogadores que nunca vão dar certo na vida, não vão dar certo, não vão ganhar o que ele ganha, mas ele é a estrela visível, aquele youtuber, o Luva de Pedreiro que sai do zero e de repente está fazendo um post e ganhando 120 mil reais um post, cara, isso que eu quero ser, e é muito fácil, é muito simples, não tem chefe me enchendo o saco, pego o meu celular, faço uma gravação, pinto o meu cabelo, faço a cara bonita e o pessoal me dá dinheiro, é muito atraente é muito… e a vida não é isso, a vida é brigar, é quebrar a cara, é se arrebentar. E a escola tem um papel fundamental, eu tenho visto com bastante esperança uma visão nova de empresariado olhando para a escola de um jeito diferente, sabe? Fazendo com que a escola encampe coisas que ela não fazia antigamente, acho que a escola entendeu que ela estava fadada a desaparecer porque o mundo estava engolindo a escola, o mundo estava mais importante que a escola, a televisão estava mais forte que a escola, a internet, tudo ficou mais forte que a escola, e ela começa a perder o espaço. E de repente aparece uma série de pessoas aí com uma visão diferente, a escola vai ser um lugar atraente, essa história desse amigo meu lá que eu te falei, é sensacional, o cara monta uma escola que a molecada quer ficar lá dentro, eu quero ficar aqui, porque aqui é legal, desde a construção do prédio até o sistema de ensino dos caras, então é… e chega a ser uma coisa até desigual, porque você vai ter que brigar com o celular, você vai ter que brigar com o youtuber, vai ter que brigar com a Galinha Pintadinha, e a gente veio com o Café com Leite nessa esteira, eu vou criar um tipo de conteúdo que a gente possa servir para neutralizar esse monte de porcalhada que tem aí fora, que não tem compromisso com coisa nenhuma, eu quero é faturar, lembra? Eu quero ganhar dinheiro, eu não tenho nenhum compromisso de construir cidadão e tudo mais. Então, a gente foi para cima disso e eu acho que, cara, é um trabalho sensacional, e ver um garotão assim envolvido nisso, já como liderando esse negócio é grande. O que que vem pela frente, cara? O que que vocês estão… já botaram a IA lá dentro? A IA já está chegando, como é que está?
José Teiga Jr: A IA foi bem legal, logo que chegou até mim as informações do ChatGPT, acho que é o principal player aí quando fala de IA, aí eu marquei uma apresentação para os nossos professores, aí eu preparei uma pequena aula sobre como funcionava a ferramenta, e como usar a nosso favor, entendeu, e como usar. E a gente foi fazendo desafios para o ChatGPT, então a gente pediu, por exemplo, monta uma prova de física para alunos de seis anos, e o tal do ChatGPT monta e tal, falou do raio, mas com uma linguagem infantil, é surreal. Aí pedimos para ele montar uma gincana envolvendo coelho e peças de ar condicionado, aí ele montou uma gincana com coelho e peças de ar condicionado, é surreal, foi surpreendente para os professores, e eu acho importante a gente ter isso. A escola tem que falar na linguagem que o aluno quer ouvir, eu estava lendo um pouco esses dias, não sei porque raios fui para em Immanuel Kant, aí fui no Youtube ver qual era o vídeo com mais views de Emmanuel Kant, aí se você entrar no Youtube você vai ver, é surreal esse vídeo, eu recomendo aí que os ouvintes façam isso, porque o vídeo com mais views sobre Kant, o cara começa assim, por que que o Batman nunca matou o Coringa? Essa é a primeira pergunta de abertura do vídeo. Aí você fala, o que que isso tem a ver com Kant, não tem nada a ver, aí o cara começa a explicar que o Batman é um cara, ele não age pelo resultado, ele age de acordo com as crenças dele, e nas crenças dele matar é errado, então mesmo sabendo que o Coringa, ele vai prender o Coringa, o Coringa vai escapar e vai matar mais gente, ele não mata o Coringa, porque ele segue a filosofia de Kant, e o seu valor está na sua atitude pelas suas crenças, se ele fosse um consequencialista, como Maquiavel, ele ia pensar na consequência, matar o Coringa e acabar com o problema, mas meu, você chegar em uma sala de aula e perguntar para os alunos por que que o Batman não mata o Coringa? Pronto, você ganhou os alunos, ao invés de você falar, Immanuel Kant nasceu em tal lugar, no ano tal, eles não querem mais saber disso. Então, eu acredito que a linguagem que a escola traz, muitos temas ainda não é legal, a escola tem que mudar a linguagem, tem que ir para uma linguagem mais jovem, porque o assunto não é ruim, o que é ruim é a forma de apresentar.
Luciano Pires: De apresentação, é verdade. Isso é uma discussão antiga, cara, isso não começou hoje não, é que agora com a tecnologia que está aí, você não consegue mais proibir celular na sala de aula, não dá, porque um jeito eles encontram de botar lá. Já que vai ter que estar, eu vou usar ao meu favor, eu vou ter que fazer uma aula que, baixa um negócio aí, entra no celular e põe alguma coisa aí.
José Teiga Jr: A gente define o celular de acordo com algumas faixas etárias, mas para o grande temos a crença que o celular é importante e que tem que ensinar a usar o celular a favor, exatamente o que você falou, por quê? Porque ele vai chegar no mercado de trabalho, não existe um profissional no mercado de trabalho sem celular, então se a gente tirar da escola, a gente vai estar deixando de preparar ele para o mundo real e é papel da escola ser um mini ecossistema, ser um mundo real controlado, então o celular é uma ferramenta, está presente na vida de todo mundo, como é que a gente vai pegar o jovem nesse ambiente controlado onde a gente vai preparar ele para o mundo mesmo e vai tirar a principal ferramenta de todo mundo? Não faz sentido. O que faz sentido é ensinar ele a usar o celular a favor dele, a entender que tem um número de horas que é legal, tem um número de horas que não é legal, isso vale para tudo, para celular, para televisão, para fazer esportes tem um número de horas que é saudável, tem um número de horas que não é, para leitura a mesma coisa, então tudo tem que ter uma ponderação do uso, inclusive o celular, então a gente explica a ponderação do uso, explica como usar, entendeu? E está na luta…
Luciano Pires: E o desafio de vocês vai ser fazer com que a criança não entregue para o celular a responsabilidade por pensar, não entregue para o ChatGPT, o meu objetivo, a criança devia entender, o meu objetivo na escola não é tirar nota boa, o meu objetivo é aprender. Então, se o ChatGPT faz tudo, eu não aprendo nada e tiro um 10, lá na frente eu vou pagar a conta, não aprendi porcaria nenhuma, mas tirei um 10 porque o ChatGPT fez, quer dizer, sai de lá um ignorante do jeito que entrou e o que era função da escola não aconteceu, que foi ensinar. Cara, isso aí vai ser doido, que eu fico lembrando de eu fazendo trabalho de escola moleque com a garotada de hoje, com as ferramentas que tem na mão, e um professor tendo que analisar isso tudo, bater o olho no texto e falar quem fez esse texto aqui não foi o moleque, esse texto aqui é do ChatGPT, logo ele não aprendeu nada.
José Teiga Jr: É difícil o professor pegar hoje da onde veio o texto, não rola mais. O que o professor tem que fazer é mais discussões em sala de aula e esse trabalho que um moleque fazia em casa, que é o que a gente fazia de buscar na Barsa, a gente buscava na Barsa, na Britânia, esse trabalho não existe mais esse modelo de trabalho, esse trabalho tem que ser feito dentro da escola, então você pega os alunos, põe na biblioteca, ou põe na sala Google, e fala, gente, vamos estudar a Caverna de Platão e traçar uma correlação dela com os heróis da Marvel, quero ver a correlação mais interessante. Você acabou de criar uma ideia legal, tipo, Caverna de Platão eu não quero saber, mas heróis da Marvel eu sei, e como é que eu vou correlacionar o que eu sei com o que eu não sei? Primeiro ele vai ter que aprender por conta própria sobre a caverna para depois criar a correlação, entendeu? E depois vai apresentar isso, eu acredito que é uma dor de boa parte de quem está no mercado de trabalho é a tal da oratória, é a tal da apresentação, e a escola tem muitas oportunidades de desenvolver isso.
Luciano Pires: As aulas vão virar workshop, cara, não é mais aula, cara, é workshop.
José Teiga Jr: A gente acredita no aluno como protagonista, uma coisa que a gente adota nas nossas escolas agora é não existe mais a parede da lousa, e sim a lousa móvel, porque a lousa pode estar em poder do professor, em poder do aluno, no meio da sala, em um canto, porque de certa forma, a lousa gera empoderamento, então tem muito professor que fica ali perto da lousa, perto da mesa e ele se sente protegido, como autoridade e detentor da informação, não cabe mais isso, a informação está aí, está na internet, está disponível para todo mundo, não tem mais detentor da informação, o importante é a discussão de ideias, é a troca de conhecimento.
Luciano Pires: Em uma sociedade que cancela quem pensa diferente. Bicho, está cada vez mais complicado. Cara, o que que vem pela frente aí? Para a gente caminhar para o nosso final aqui, o que que vocês estão inventando moda aí, mais escola, vai construir mais prédio, cara?
José Teiga Jr: Virão mais escolas, temos seis colégios aí em negociação avançada.
Luciano Pires: Seis?
José Teiga Jr: Seis em negociação.
Luciano Pires: Você está para pular de quatro para dez, é isso?
José Teiga Jr: Não quer dizer que fecharemos os seis…
Luciano Pires: Sim, mas isso em potencial.
José Teiga Jr: Geralmente a negociação com colégio demora, coisa de um ano, dois, tem muita coisa que entra em jogo, então temos seis em negociação, e temos o grande desafio do Marilac, que temos hoje, tem uma equipe grande lá já trabalhando e quando entrar dezembro aí começa para valer, os alunos saem e a obra entra com força, temos esse desafio. E agora pôr no papel a nossa metodologia, que a nossa metodologia, essa ideia de uma aula mais no poder do aluno, tal, funciona, faz parte da nossa identidade, só que ainda não está no papel, então com quatro unidades ok, a gente consegue fazer rodar, mas com cinco, seis, dez, quinze, vinte, quantas virão, a gente precisa ter isso no papel muito claro, o que é valor para a gente, o que a gente acredita, o que é formar o cidadão, o que é formar o cara, a moça que vai saber administrar as próprias emoções, que vai falar, estou com raiva, tenho o direito de estar com raiva, mas isso não me dá o direito de ser cruel, eu tenho que saber porque que eu fiquei com raiva, como é que eu ressignifico isso, e a gente tem um monte de adulto que não aprendeu isso com os pais, óbvio, porque os pais também aprenderam isso, não é culpa deles, não culpem seus pais, pelo amor de Deus e também não aprenderam na escola, e faz falta, hoje faz falta, então a gente tem que olhar para isso para que pare de fazer falta, para que os problemas sejam coisas menores, coisas, sabe, mais corriqueiras e não um medo de pegar um microfone na apresentação da empresa, não, isso não pode, a gente tem que trabalhar isso.
Luciano Pires: E se a escola der essa… abraçar também esse tipo de desafio, cara, vai ser uma beleza para mim como diretor que eu fui de empresa, contratar alguém que já viesse com esses atributos na mão seria fantástico, e a escola nunca se preocupou em formar gente com atributos que fossem além da matemática, geografia, história, agora que está abraçando isso tudo. Bom, meu caro, sensacional a história aí, gostei dessa tua pegada aí de empreendedor e gostei especialmente dessa visão de empreendedorismo aí, de como a visão de vou construir alguma coisa em determinado momento se transformou em uma missão de vida, então vou construir algo para ganhar dinheiro, de repente, cara, você descobre que tem uma coisa mais importante do que isso aí, que é o trabalho que você está fazendo hoje que é mais do que nobre, por isso que eu gosto da educação, por isso que a hora que eu vi que o pessoal mandou o teu material lá, estava escrito educação, eu falei vou trazer ele aqui.
José Teiga Jr: É muito gratificante trabalhar com educação porque você tem convicção que você consegue ter um impacto real na sociedade, você consegue ter um impacto real no país, e você contribui com a próxima geração, então sei lá, brilha os olhos, eu acho que por isso que quem entra na educação não sai mais, é muito engraçado, a gente tem uma piada interna de que o bichinho picou, porque muita gente de outras áreas está caindo na educação hoje, é um setor que está recebendo muita novidade de outros setores, e quem entra não sai, porque é um mundo fascinante, é um mundo de infinitas possibilidades, e é mundo que precisa de energia.
Luciano Pires: E que só tem a crescer, não é, cara? Você falou uma coisa lá no começo, ninguém mais vai parar de aprender para o resto da vida, eu sou um estudante para o resto da minha vida, se eu parar, eu sou atropelado, o mundo passa por cima de mim.
José Teiga Jr: Hoje, a informação é mais rápida do que a capacidade de aprendizagem de qualquer um, então antigamente levava 50 anos para ficar ultrapassado, depois 20, depois 10, hoje em um ano já está ultrapassado.
Luciano Pires: Agora 15 minutos já mudou tudo. Meu caro, obrigado pela visita aí, adorei o papo, adorei o trabalho de vocês aí, se tiver uma chance depois eu vou querer ir lá conhecer a escola.
José Teiga Jr: Obrigado eu, muito bem-vindo.
Luciano Pires: Essa aventura de vocês aí. Grande abraço. Espera aí, esqueci, quem quiser conhecer, me dá aí a rede social, vai para onde?
José Teiga Jr: Vamos lá, gente, meu nome é José Teiga, então vocês podem me encontrar como José Teiga, a rede é como Rede Ápice, e dentro da Rede Ápice vocês vão encontrar todos os colégios, os dois Dom Henrique, em Osasco, Colégio Tutor, Aclimação, e Colégio Marillac, em Santana.
Luciano Pires: E rede social @rede…
José Teiga Jr: @redeapice.
Luciano Pires: Rede Ápice, Rede Ápice?
José Teiga Jr: Sim.
Luciano Pires: Perfeito, grande abraço.
José Teiga Jr: Obrigado, meu amigo.
Luciano Pires: Muito bem, termina aqui mais um LíderCast, a transcrição deste programa você encontra no LiderCast.com.br.
Voz masculina: Você ouviu LíderCast com Luciano Pires, mais uma isca intelectual do Café Brasil, acompanhe os programas pelo portalcafebrasil.com.br.