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Luciano Pires: Bom dia, boa tarde, boa noite, bem-vindo, bem-vinda a mais um LíderCast, o PodCast que trata de liderança e empreendedorismo com gente que faz acontecer. No episódio de hoje, temos o chefe de cozinha japonesa Guilherme Campos, paulista, que há anos mora no Rio de Janeiro, Guilherme é a tal ovelha negra que decide parar com o estudo formal na sétima série para buscar o seu propósito ou aquilo que eu gostaria de fazer, passa pelo jiu jitsu, pelo exército e outras atividades, até começar a vender sushi na praia, e um dia se torna chef de cozinha de um dos mais importantes hotéis do Brasil, o Hyatt do Rio de Janeiro. Uma saborosa conversa que mostra como a disciplina no esporte é importante e que a consciência de estar preparado e atento para as surpresas que a vida nos traz faz toda a diferença.

Muito bem, mais um LíderCast, sempre começo contando como é que o meu convidado veio parar aqui. Estava a Barbara Stok, que trabalha comigo aqui, junto com a sua irmã Bruna, comemorando o aniversário da Bruna, no hotel onde a Bruna trabalha, coordenadora lá no Hyatt lá no Rio de Janeiro, e elas foram até o restaurante japonês que tem no Hyatt, e tiveram uma surpresa, passado um tempo lá, ela dá um alô para mim, fala, cara, estive lá no restaurante, foi muito legal, conheci um cara sensacional, chef do restaurante, você precisa conversar com ele, ele tem uma história de vida muito legal, esse aí dava um LíderCast. Bom, ele veio parar aqui em São Paulo, aí eu descubro aqui na chegada que o cara é paulista e mora no Rio de Janeiro, ou seja, morou em São Paulo e morou no Rio de Janeiro, mas chegou aqui dessa forma, então, foi um contato direto que a Bárbara teve, então vamos ter o que que você vai ter para contar. Nós temos três perguntas que são as principais no início do programa, você pode chutar à vontade no programa, essas três não, essas três você tem que… seu nome, sua idade e o que que você faz.

Guilherme Campos: Meu nome é Guilherme Campos, tenho 51 anos, e sou chef de comida japonesa.

Luciano Pires: Chef de restaurante japonês. Nasceu aonde?

Guilherme Campos: Eu nasci aqui em São Paulo, lá na Pro Matre, na Joaquim Eugênio de Lima, vivi aqui sempre nesse eixo assim, lá na casa dos meus avós, na rua Caconde, pela Brigadeiro Luiz Antônio, no Clube Pinheiros, onde eu fui sócio desde que eu nasci, e em Moema, que é o bairro.

Luciano Pires: Você estava no miolinho, você ficou no miolo de São Paulo. Moema é onde nós estamos aqui, a gente está na divisa de Moema com Indianópolis, nós estamos bem na divisa aqui, ele já se acostumou aqui com o pedaço. Você tem irmãos?

Guilherme Campos: Tenho duas irmãs que vem depois de mim e um irmão caçula, somos em quatro.

Luciano Pires: Seu pai e sua mãe fazem o quê?

Guilherme Campos: Meu pai é médico, hoje trabalha com consultoria para hospitais, e minha mãe, depois que todo mundo seguiu seu rumo, ela resolveu que era a vez dela, então ela foi, se formou em direito…

Luciano Pires: Cara, que legal, depois dos filhos adultos?

Guilherme Campos: É, direito canônico, não satisfeita, fez lá aquela sequência até ter ido recentemente buscar o seu diploma de doutorado em direito canônico lá no Vaticano, desse jeito.

Luciano Pires: Que idade ela tem?

Guilherme Campos: Ela tem 71.

Luciano Pires: Seu pai?

Guilherme Campos: 72.

Luciano Pires: Que legal, os dois superativos assim.

Guilherme Campos: Demais. Meu pai superatleta, a gente tem esse histórico esportivo na nossa família, porque meu avô foi jogador profissional de futebol, jogou na seleção brasileira.

Luciano Pires: Teu avô? Quem era teu avô?

Guilherme Campos: Essa é para os são paulinos de plantão, tinha aquele trio de zaga famoso, que era Rui, Bauer e Noronha, meu avô é o Rui Campos, desses três, ele jogou no São Paulo, jogou no Palmeiras, jogou na seleção brasileira também, e acho que o maior marco assim que a gente lembra assim das histórias, é da copa de 50, que se não me engano o Brasil o perdeu para o Uruguai assim, mas…

Luciano Pires: Perdeu dentro do Maracanã, tudo ganho, com a vitória pronta na mão.

Guilherme Campos: Então, por essa razão meu pai superativo, superesportista, eu cresci vendo meu pai jogar futebol, e depois problemas de joelho assim, hoje ele religiosamente todo sábado e domingo, acorda lá cinco e meia da manhã, vai lá para o Pinheiros, joga as partidas dele de tênis e volta, e isso é uma coisa que não muda, e para a gente isso é muito importante.

Luciano Pires: Pela orelha, você deve ser jiu jitsu.

Guilherme Campos: É verdade, e eu comecei a lutar jiu jitsu em 91 com um grande amigo meu, que eu conheci lá em Santa Catarina, via lá todo mundo falar do jiu jitsu, e eu não sabia o que que era, está acostumado a ver luta de troca de golpe, soco, chute, e aí ele aplicou lá um golpe em mim assim, eu fiquei sem ação e falei, quero aprender, isso foi em 91, e durante muitos anos o jiu jitsu foi o meu grande motivador.

Luciano Pires: Você foi para competição e tudo?

Guilherme Campos: Nada muito expressivo, mas esse era o meu grande desejo, e foi também um dos motivos que fez com que eu mudasse de São Paulo para o Rio foi o jiu jitsu, porque naquela época o jiu jitsu do Rio de Janeiro ainda era anos luz à frente do jiu jitsu aqui em São Paulo…

Luciano Pires: Você foi lá nos Grace?

Guilherme Campos: Também, um pouco mais para frente, mas o que foi o grande possibilitador da minha ida para o Rio são dois irmãos, amigos meus, que a tia deles tem um restaurante já de 50 anos, lá em Vargem Grande, que é um bairro do Rio de Janeiro, que parece um Embu das Artes aqui, é um bairro rural assim, não é muito longe. E eu comecei a ir para o Rio de Janeiro aos finais de semana, saindo daqui de São Paulo, ia lá passava o final de semana e voltava, então eu comecei a gostar do estilo de vida do Rio de Janeiro, chinelo de dedo, a praia, esse tipo de coisa, então eu me identifiquei bastante com o estilo de vida, então já falei, bom, aqui é o lugar onde eu moraria.

Luciano Pires: Que idade você tinha?

Guilherme Campos: Eu tinha 21, 22 assim.

Luciano Pires: Já está crescido, deixa eu voltar um pouquinho antes. Como era seu apelido quando você era criança?

Guilherme Campos: Sou demais, como eu andei… no clube eu tinha um apelido, no clube me chamavam de Sapão, aí tem alguns que chamam até hoje, aqui em Moema, o pior de todos que era Ratão, e…

Luciano Pires: Cara, só bicho, o que que é isso aí, alguma característica?

Guilherme Campos: Por causa que tinha as orelhas muito grandes, aí uma hora… o Sapão veio do polo aquático que eu joguei bastante tempo lá no clube e tinha lá um desenho da época que era um tal do Doutor Terror, e tinha um personagem do desenho que era meio feinho assim, sem pescoço, que era o Sapão, aí acabou que eu detestava esse apelido, aí eu entendi que quando você para de reclamar, os caras param de chamar.

Luciano Pires: Quanto mais você reclama, mais vai ser. O que que o Sapão queria ser quando crescesse, cara?

Guilherme Campos: Então, o Sapão, ele sempre foi muito inquieto, porque aconteceu um negócio muito legal, em 1980, meu pai recebeu uma proposta de trabalho para ir ser o médico de uma empresa que estava fazendo a expansão telefônica no norte da Nigéria, em uma época que a Nigéria era segura.

Luciano Pires: Sim, em que ano era isso?

Guilherme Campos: 80.

Luciano Pires: Nos anos 80.

Guilherme Campos: Não, 1980 mesmo. E aí foi, ficou seis meses, e voltou, e falou, vamos embora todo mundo. Então, em 1980, com oito anos descemos lá na Nigéria, moramos em três cidades, em três cidades? Em duas cidades, moramos em Zara primeiro, que é bem no deserto assim, perto, se eu não me engano, da fronteira… não sei direito, mas tinha lá um fenômeno de uma tempestade de neve pacífica que chamava Hamatan, se eu não me engano…

Luciano Pires: Neve?

Guilherme Campos: Não, de neve não, de areia, desculpa, perdão. E depois quando terminou as obras lá nesse lugar, a gente foi para a capital, Lagos, então lá em Zara foi meio isolado, mas morava em um apartamento na Abílio Soares e dois dias depois estava em uma casa gigante no meio do mato, então era muita aventura, muita diversão, nós irmão sempre unidos assim.

Luciano Pires: Quanto tempo você ficou lá?

Guilherme Campos: Lá em Zara acho que a gente ficou uns 8, 10 meses, depois a gente mudou para Lagos é uma cidade que basicamente é composta de duas ilhas, Vitória e Icoi, e a gente morava nessa ilha de Icoi, onde tinha o Icoi clube, e nesse Icoi Clube eu passei a fazer amizades, e esses meus amigos eles eram filhos de pessoas que trabalhavam na Nigéria também, então australiano, americano, libanês, e também tinha esse outro lance, que já sabendo que a gente aprenderia inglês, minha mãe muito esperta botou a gente para estudar em uma escola italiana, então a gente estudava na escola italiana, aprendemos a falar italiano já criança, e nos finais de semana a gente ia para o clube, para as atividades esportivas, lazer, tudo, e eu fui fazendo essas amizades, então tinha um que era filho do executivo da Agip, outro que o pai dele trabalhava na Unicef, o outro era da Golf, que eu lembro disso. Então, o que aconteceu? Eu tive contato com diferentes culturas muito cedo, dois anos depois quando a gente voltou, eu achei tudo muito chato, então eu saí daqui estudando na terceira série no Mackenzie, lá em Higienópolis…

Luciano Pires: Itambé?

Guilherme Campos: Itambé. E voltamos na quinta-série… e voltamos eu na quinta-série, então tive… dos meus irmãos eu fui quem tive mais dificuldade de retomar os estudos, mas o que me chamava a atenção estava acontecendo fora dessa esfera, que era o bicicross, o BMX daquela época, que teve aquele filme do ET, que teve aquela parte que os caras… aquilo ali encanta qualquer criança, então encantou a mim também. Então, ganhei de natal uma bicicleta daquela, aquela Caloi Cross Extra Light. E assim, o clube fazendo muito esporte coletivo e procurando um jeito de fazer esses esportes mais radicais, eu sempre tive skate, e aí começou essa febre do skate, e aí eu já peguei essa febre também, e aqui em Moema teve uma cultura muito forte do skate nessa época, muito forte, tanto que na época a grande concentração de skatistas profissionais era aqui em Moema, aqui atrás tem a Jurema, onde tinha uma loja, eu esqueci o nome agora, mas tinha uma pista de skate na frente, então era a concentração.

Luciano Pires: Isso é anos 90?

Guilherme Campos: Não, 80.

Luciano Pires: Final dos 80?

Guilherme Campos: 86, 87 assim. Então, o que que acontecia? Eu perdia o interesse por tudo aquilo que me era oferecido dentro de casa e passei a ir atrás das coisas que eu achava mais interessante, claro que isso trouxe alguns desentendimentos, alguns conflitos, mas ali começava a construção de uma identidade de maneira inconsciente.

Luciano Pires: Mas você não olhou um caminho, falou, cara, vou ser um skatista profissional, falou, vou ganhar minha vida com o que?

Guilherme Campos: Então, ainda não tinha tido essa percepção, mas já tinha experimentado trabalhar. Então, o que aconteceu? Quando eu comecei mal na escola, minha mãe me colocou para trabalhar de office boy no laboratório de análises clínicas do meu padrinho, eu acredito que era… porque você deve imaginar o que carrega um office boy de laboratório de análises clínicas, então passava, pegava as coletas e trazia para o laboratório, só que ao mesmo tempo isso me deu liberdade, então eu ia para o centro da cidade, galeria do rock titular, então primeiro salário, já fui lá, comprei três discos do Iron Maiden e virei herói onde eu morava, na escola e tudo. E era mais forte do que eu, eu admito, então eu tive sempre a sensação de que o rotineiro, aquilo que estava sendo oferecido para as minhas irmãs e para o meu irmão não era o que eu queria, só que ao mesmo tempo não podia me comportar dessa maneira. Mas eu tenho uma família muito bem estruturada, graças a Deus, meu pai e minha mãe são muito apaixonados um pelo outro até hoje, é uma coisa muito legal, hoje moram todos no mesmo prédio, exceto o meu irmão que mora ali atrás do clube, mas mora no nono andar, minha tia, irmã do meu pai, no oitavo, minha irmã com o marido e meu sobrinho, e no sétimo, minha mãe, meu pai e as filhas postiças lá, que é a cachorra e o cachorro. Então, a impressão que eu tenho é que como eles foram pais muito cedo e uma frase da minha mãe sensacional, foi a gente vai sempre estar aprendendo a ser pai dos nossos filhos, porque eles sempre estão à frente, eles sempre vêm com uma novidade, a gente tem que se adaptar, não se aplica essa cartilha. Então, eu experimentei muita coisa, mas ainda não tinha definido o que eu queria, e aí em 90, eu fui para o quartel servir o exército, servir lá em Brasília, batalhão de guarda presidencial, fiquei exatos 400 dias, e foi uma…

Luciano Pires: 90 você pegou o FHC?

Guilherme Campos: Não, entrou… saiu Sarney, entrou Collor.

Luciano Pires: Em 90 isso aí, 90, 91 Collor, depois entra o Itamar.

Guilherme Campos: Porque eu lembro de fazer… tirar serviço lá na casa da Dinda, lá na beira do lago, então assim, é a mesma coisa, de novo uma mudança, estava aqui no clube, na piscina com os meus amigos, tudo, três dias depois já estava lá em Brasília, naquele calor insuportável, fardado e, sabe, tendo que conseguir suportar aquilo tudo, na verdade.

Luciano Pires: Como é que você foi parar lá? Por que que você não serviu aqui em São Paulo?

Guilherme Campos: Eu fui parar lá eu acredito que porque com essa idade eu já tinha porte, e eu acho que é pelo tempo que você se alista, eu acho que tem um… você se alista durante meses, então eu acho que quem se alista primeiro tem preferência para esses lugares.

Luciano Pires: Você escolheu ir para lá?

Guilherme Campos: Não, aqui na Abílio Soares já foi logo… eu já entendi o que seria, porque o cara perguntou assim, o que que você quer, você quer trabalhar estilo guarda noturno, lá no batalhão de guarda presidencial, ou você quer ir para fronteira fazer segurança mesmo e sai na porrada?

Luciano Pires: Eu falei, quero ir para a fronteira sair na porrada. Bom, então você vai para Brasília, porque você já aprende que soldado não escolhe nada. E aí fui parar em Brasília, e a minha experiência no quartel, embora não fosse realmente o que eu queria fazer, foi muito boa, porque ali eu comecei a entender melhor esse universo fantástico que é o ser humano, então desde o cara que nunca tinha tomado um banho frio ao cara que nunca tinha tomado um banho de chuveiro, e todo mundo tendo que se entender. E aí eu tive uma pessoa lá que foi muito importante para mim que falou, o tenente fulano está de olho em você e ele quer que você seja armeiro dele, então você tem um mês para ter sua farda tinindo, alta costura, seu coturno brilhando que nem um espelho, e na hora de fazer ordem unida, de gritar, você grita, você bate o pé, porque é isso que vai fazer ele te escolher. Dito e feito, fui armeiro, e isso me trouxe alguns benefícios, eu tinha lá um pelotão que eu tinha que tomar conta do armamento, aprendi aquelas coisas lá de manutenção de fal, de pistola, nos escalões mais avançados, mas eu tinha um tempo que eu tinha possibilidade de leitura e música, então tinha lá meu aparelhozinho de som, meu skate no armário, e tinha sempre um livrinho, um negocinho diferente, então eu li muito no quartel, e eu gosto de ler, eu gosto de material gráfico impresso bastante, a gente está nessa era digital, tudo, mas eu tenho também…

Luciano Pires: Não passou pela tua cabeça de seguir carreira militar?

Guilherme Campos: Olha, nem um pouco, não porque ao mesmo tempo que isso que eu estou falando foi um ganho pessoal, as coisas que eu ia via lá eu não achava muito legal…

Luciano Pires: E ia botar você em uma rotina que é a mesma coisa que você falou dos teus irmãos, estava sendo oferecido uma rotina que era o que ia acontecer lá, a menos que tivesse uma guerra e tudo mais que cai na porrada.

Guilherme Campos: Porque assim, o que eu vi lá são… isso mesmo, ajuda demais hoje, até para o meu comportamento assim, eu vi muita gente fazendo muito abuso de poder mesmo, de maltratar os outros, de fazer essas coisas assim, porque ali faz parte, e aí você vê que é gente que não teve a mesma estrutura, a mesma formação, as mesmas percepções, e também tendo que se virar com os recursos que tinham para poder ter aquilo, porque 90% entra no serviço militar obrigatório e acaba engajando com o serviço militar assim de carreira, que vai ser até um máximo suboficial, porque apareceu, e o que eu queria estava do lado de fora, não era aquilo, porque mesmo lá eu não mudei o meu estilo de vida pessoal. E aí quando terminou o quartel aconteceu um negócio muito legal, eu conheci… comecei a namorar uma amiga da minha irmã que tinha um cunhado que trabalhava, que conhecia alguém que trabalhava naquele programa ShopTour, você lembra disso?

Luciano Pires: Claro que eu lembro, você acabou de me lembrar um nome… eu gravei aqui um LíderCast semana passada e a gente estava comentando, eu comentando do jornal Primeira Mão aqui em São Paulo, que depois desembocou… e era o ShopTour, eu não me lembrava o nome de jeito nenhum, obrigado, acabou me lembrar, o ShopTour, aquele esquema de classificados que estava no jornal, depois vai para a televisão e vira um programa. Legal, cara.

Guilherme Campos: Que ali era assim, eu cheguei lá sem nada de conhecimento, era operador de vídeo tape na época do omatic, aquelas fitas tijolo, e foi um negócio que eu adorei, trabalhava de…

Luciano Pires: Era o Calebe que estava lá?

Guilherme Campos: Era.

Luciano Pires: Era o Calebe.

Guilherme Campos: Esse cara também foi muito legal comigo, muito importante. Então, eu saio do quartel e já caio logo no colo lá do pessoal, comecei trabalhando lá como operador de videotape, então o que a gente fazia? De segunda a quinta a gente gravava as externas, sexta-feira era editado, e sábado e domingo, eles compravam um horário na Record, e tinha a veiculação dos programas. Então, eram três apresentadores diferentes, quatro, na verdade, dois eram locutores da 89, uma outra era uma atriz, e a outra era uma apresentadora mesmo, que começou, que ela era locutora de campeonato de surf. Eu lá operador de videotape com VT a tiracolo, o monitor a outro tira colo, segurando o pau de fogo lá, iluminação, anotando na… acho que era a Dália, as informações, estamos aqui na loja do Luciano, essa camisa tamanho P, M e G vai pagar 24 reais, então anota P M G, 24, porque tinha o gerador de caracteres, apareciam as letras conforme as peças iam aparecendo. E eu fiquei nesse trabalho dois anos.

Luciano Pires: Cara, o Shop Tour foi um fenômeno cultural aqui em São Paulo, o que eles faziam, o que acontecia ali era impressionante, eu falei ali naquele LíderCast aquele dia, agora você me ajuda, que você estava na rua lá, aconteciam coisas do arco da velha, ia ao ar no sábado que na segunda-feira ia ter uma promoção na loja de camisa de fulano de tal, cara, segunda-feira fechava a rua, eram cinco mil pessoas na loja, o cara vendia aquele estoque em um instantinho, e era um doideira, cara, eu me lembro que eu comprei o meu primeiro celular em uma promoção do ShopTour, quando não tinha celular, estava começando, você não tinha onde comprar ainda, me aparece no ShopTour um maluco na Paulista vendendo celular, eu fui lá, cara, saí de lá com o celular no bolso, foi um fenômeno cultural, nunca mais se repetiu aquilo, porque parece que a fórmula depois se esgotou, muita gente fazendo aquilo e esse lance de todo mundo ir correndo em um lugar para aproveitar a oportunidade parece que terminou, mas enquanto aconteceu foi uma doideira.

Guilherme Campos: Eu acredito que esse tenha sido o embrião daquilo que está até hoje no ar, que é um programa de venda hoje…

Luciano Pires: Canais, tem canais assim hoje, tem canal inteiro.

Guilherme Campos: Porque nessa época não tinha internet, depois vem a internet e já facilita isso tudo.

Luciano Pires: O Calebe ficou rico com essa história, depois ele encheu o saco e…

Guilherme Campos: Aí ele foi anunciar Lojas Americanas, que ele foi garoto propaganda das Lojas Americanas bastante tempo.

Luciano Pires: Mas ele teve alguma coisa no meio do caminho que tipo assim, me enchi o saco e por convicção vou parar com isso aqui tudo, vou me isolar, aconteceu alguma coisa que ele saiu do ar, mas foi um cara importante que criou um…

Guilherme Campos: Não, e para mim também muito importante, é um cara por quem eu tenho muita gratidão e carinho, mesmo sem nunca mais ter visto. E aí o que aconteceu? Em uma dessas férias foi quando eu fui lá para o sul conhecer esse pessoal do jiu jitsu, aí comecei a treinar o jiu jitsu, e comecei a me interessar. Até agora eu não falei nada de escola porque eu parei de estudar na sétima série do ginásio, isso deixou todo mundo em choque na família, dali então eu fui por conta própria fazendo…

Luciano Pires: Você parou no Mackenzie?

Guilherme Campos: Parei no Mackenzie, fiz algumas outras incursões para terminar o ginásio.

Luciano Pires: Pessoal, para quem está nos ouvindo ainda e a garotada, de millenium para cima, millenium, Z e Alfa, Mackenzie não era uma escolinha qualquer, Mackenzie era uma potência, uma baita escola, eu sou mackenzista, me formei no Mackenzie em 77, me formei lá, aquilo era uma potência, uma baita escola, então quando você abandona o Mackenzie é um choque.

Guilherme Campos: Um choque total, principalmente na minha casa, na minha família, que pegou todo mundo desprevenido e eu, na verdade, eu admito que eu perdi.

Luciano Pires: Como assim perdeu?

Guilherme Campos: Perdi o foco, o entusiasmo, perdi, não consegui, porque esse tempo que a gente ficou fora, na verdade, foi uma grande lacuna da terceira série para a quinta série, a gente fazia lá um curso de correspondência aprovado pelo MEC e tudo, mas não era a mesma coisa, os meus irmãos conseguiram dar continuidade, até porque voltaram no pré, no maternal, a minha outra irmã alguns anos mais cedo assim do primário para o ginásio, mas já não consegui, de verdade.

Luciano Pires: Que idade você tinha para estar na sétima?

Guilherme Campos: Estava com os meus 14, 15.

Luciano Pires: E aos 14 anos você toma a decisão de que não vou estudar mais, se eu fizesse isso na minha idade, meu pai me dava uma surra e me botava de volta na escola, vai de qualquer forma.

Guilherme Campos: Então, aconteceu alguma coisa parecida assim, mas como a família, meu pai, meu ídolo, meu herói, não foi desse jeito, então nós vamos compensar de alguma outra maneira, ele foi me oferecendo as atividades.

Luciano Pires: Ele te deu suporte, então?

Guilherme Campos: Deu, porque não era… o fato de eu não estar indo para a escola não era…

Luciano Pires: Vagabundagem.

Guilherme Campos: Acabou sendo, porque foi uma decisão mal tomada, mas eu lembro que eu me formei em autocad R3, pode ser?

Luciano Pires: Você foi fazendo cursos paralelos?

Guilherme Campos: Exatamente, entendeu? Sempre procurando… embora tenha deixado de ir para a escola, a estrutura continuou me sendo oferecida. E aí já me encontrei no ShopTour, e aí eu tive ali alguns problemas com a mudança de direção, não consegui me adaptar porque a minha evolução dentro da empresa, do Shop Tour foi do operador de videotape para cameraman, só que o cameraman era no estúdio, e eu não aguentava mais ficar trancada no estúdio, ar condicionado e tudo. E também mais uma vez aquela sensação de que as coisas legais estão acontecendo fora dessa atmosfera, então aqui falando já a terceira vez onde o de fora me interessa mais, e nesse caso, o de fora era o jiu jitsu, crescimento, aquela sensação de pertencimento à academia de jiu jitsu e todas aquelas amizades sólidas que você constrói no tatame apertando o pescoço, tendo o seu braço torcido e tudo, isso realmente cria laços muito fortes. E em um determinado momento, eu decidi que voltaria a estudar, porque os meus amigos aqui de Moema eram policiais civis, então eu… tudo bem, vou estudar, vou fazer o supletivo. Me matriculei em um supletivo lá na Rua Flórida, chamado Ceci, que não era moleza, que era realmente… supletivo era só no nome, mas que escola boa, que negócio maneiro, tem um professor de matemática que eu nunca vou esquecer que se chama Fuad, que é um gênio na maneira de fazer você entender, ele era um gênio, um gênio, espero que esteja com saúde, porque aquilo ali são aquelas pessoas que mudam a vida das pessoas, e ali eu retomei o gosto pelo estudo. Então, eu fiz esses dois anos de supletivo e já estava inscrito na Polícia Civil, passei, tipo, em décimo primeiro lugar, de 50 questões eu acertei 48, no teste teórico, e estava esperando nesse momento, eu já estava bastante envolvido com o jiu jitsu, tinha essa vontade de trabalhar na polícia, e estava esperando o Diário Oficial sair para levar os documentos, e estava demorando, demorou um mês, dois meses, três meses, quatro meses, até o dia em que eu tive a brilhante ideia, mãe, vou passar o final de semana lá no Rio de Janeiro, vou lá fazer um jantar com os meus amigos e volto domingo. Quando eu cheguei lá, tua mãe, era para ter levado os documentos hoje, da polícia. Voltei que nem um louco, foi aí um pai de um amigo, mais um outro, acabou que eu cheguei no cara, o diretor lá da Acadepol, que era quem permitiria eu fazer a prova, ele perguntou para mim, o que que você estava fazendo no Rio de Janeiro? Eu falei, eu fui fazer um jantar de sushi. O cara falou, jantar de sushi lá no Rio de Janeiro, então espera mais um ano. Eu falei, mas pelo amor de Deus, eu fiquei me preparando, estou esperando. Meu amigo, sai daqui senão eu te prendo. Foi aquele balde de água gelada absurda e vi que não era aquilo que tinha que ser para mim, porque eu resolvi voltar a estudar, estudei dois anos, era um dos melhores alunos da escola, me dediquei, passei em décimo primeiro lugar não sei de quantos candidatos na prova, e aquilo ali acabou comigo, e eu disse que tinha ido fazer um jantar de sushi no Rio de Janeiro, por quê? Porque paralelo a isso tudo, começou a febre do sushi aqui em São Paulo, e meus amigos do clube se reuniam para fazer sushi, então ia na Liberdade no sábado, comprava os ingredientes, comprava o peixe domingo na feira da Lavandisca e ia para casa de alguém e começava a cozinhar o arroz e começar a fazer sushi por hobby, de brincadeira, no final das contas eram cinco pessoas, que a gente rachou, compramos equipamento, a panela elétrica, o ralador, a tábua de corte e tudo, esse final de semana sushi na casa do Luciano, legal, então a pessoa… a gente comprou, gastamos isso, faz a divisão da despesa, tudo, todo mundo come e beleza, e final de semana vai ser na casa do Guilherme, e assim foi indo. Então, é quando as histórias se encontram, eu antes de sonhar que um dia trabalharia com sushi, eu já comecei a fazer sushi de brincadeira, como hobby para estar entre os meus amigos.

Luciano Pires: Você reparou que teve dois momentos chaves na tua vida, dois momentos de mudança, eu não a continuidade aí depois que o cara falou para você, vai embora que não é para você isso aqui. Mas olha que dois momentos interessantes, naquela vez lá no exército, quando você chegou para o cara, se você tivesse dito eu não quero ir para a porrada, eu quero ir para o guarda noturno, o cara tinha mandado você para a porrada, tinha mudado a tua vida, e agora se você não tivesse dito que tinha ido para o Rio de Janeiro fazer sushi, você teria sido aceito e teria mudado a tua vida também, por duas respostas que você deu, que você não tinha como controlar, você não sabia o que vinha pela frente, mas nas duas respostas que você deu, teve uma encruzilhada, e elas jogaram você para um lado, poderia ter sido para outro lado, cara, e a tua vida seria completamente diferente.

Guilherme Campos: E são as verdades absolutas, porque é o que tinha que ser, eu acho que tudo é perfeito, na verdade, eu acho isso mesmo, eu acho que tudo é perfeito e é uma maneira muito simples assim de entender.

Luciano Pires: Você gosta de artes marciais, então seja água. A água é isso, ela bateu em uma pedra, ela bate, contorna a pedra, continua, tem uma descida, ela desce, continua, seja água.

Guilherme Campos: Porque essa questão da perfeição é um negócio que é assim, é muito simples, eu tenho dois filhos, um gênio da informática de 24 e um futuro campeão de MMA de 22, e tenho uma garota também de 8 anos, Geovana, que precisava deixar essa atmosfera um pouco cor de rosa, que é de um outro casamento, mas essa questão do tudo é perfeito, o que dá a vida é o sol e ninguém precisa interferir em nada para ele fazer esse percurso que ele faz repetidamente, então acho que tudo já é perfeito, acho que a gente… sem o sol não existe nada, não tem o ar, não tem a comida, não tem energia, não tem nada, e ele faz isso sozinha, não precisa da interferência, então se tiver sensibilidade de entender que tudo funciona direito, a gente que acaba estragando, entendeu? Acho que começa a perceber melhor as coisas.

Luciano Pires: Você não acha que essa filosofia que você está passando para mim é perigosamente próxima do Zeca Pagodinho dizendo deixa a vida me levar, vida leva eu?

Guilherme Campos: Desde que você saiba que está sendo levado, entendeu? Eu acho que é isso, deixa ela te levar, mas saiba que você está sendo levado e em algum momento você precisa agarrar a sua unha na pedra, e em algum momento você precisa flutuar para não arranhar a barriga na mesma pedra, eu acho que é isso, eu concordo total. Então, o que aconteceu? Depois desse dia da polícia, eu frustradasso, entendendo muito assim o que que tinha acontecido, eu vinha…

Luciano Pires: O que que tinha acontecido, cara? Aquele delegado não gostava de sushi? O que que era… ele achava que isso era coisa de…

Guilherme Campos: Eu acho que foi, na verdade, aquele cara foi um anjo na minha vida…

Luciano Pires: Sim, mas eu não consigo ver um policial truculento todo delicado fazendo sushi, isso não é coisa de macho.

Guilherme Campos: Você está entendendo?

Luciano Pires: Deve ter sido isso…

Guilherme Campos: Provavelmente e se foi, fica aqui a recomendação, encontre uma pessoa dessa na sua vida, porque essa foi uma pessoa que eu vi uma única vez na vida…

Luciano Pires: E que mudou sua vida.

Guilherme Campos: Absolutamente, entendeu? Então assim, deixa a vida me levar, mas saiba que está sendo levado, então ali naquele momento eu falei…

Luciano Pires: Não é para ser aqui.

Guilherme Campos: É isso, tudo o que eu pude fazer, eu fiz, tudo, não tinha mais nada que estivesse ao meu alcance, que dependesse de mim que eu pudesse ter feito. Eu falei, então aqui se encerra esse ciclo, e por motivos que… foi a melhor coisa que me aconteceu não ter entrado na polícia. Então, aqui o nosso projeto da polícia não deu certo…

Luciano Pires: Só uma provocação aqui, se tivesse entrado na polícia, você tinha morrido lá?

Guilherme Campos: Com certeza absoluta, com certeza absoluta, com certeza. Então, de novo, com certeza não estaria aqui hoje, porque demorou um tempo para eu conseguir domar algumas naturezas, porque como eu fui muito experimentador, eu sempre tive muita disposição e muita atitude.

Luciano Pires: Você era o cara que ia sair na frente, sai da frente, deixa eu ir na frente, sai daí, me dá aqui que eu resolvo, ia tomar um balaço na…

Guilherme Campos: E principalmente por um senso de justiça que eu tenho até hoje muito forte dentro de mim, entendeu? Então, talvez… eu ia me expor com certeza, não era falta de coragem, mas talvez uma falta de inteligência emocional que tenho hoje e não tinha no momento, entendeu?

Luciano Pires: Que idade você tinha quando aconteceu isso?

Guilherme Campos: Isso eu tinha 24 para 25.

Luciano Pires: É a época que nós somos invencíveis, 24, 25 só me para a kriptonita, se não for ela, nada pode comigo.

Guilherme Campos: Então, e foi justamente… aí tudo bem, cheguei em casa, falei, e já falei, vou mudar para o Rio, vou mudar para o Rio, cansei disso tudo, não quero mais, vou mudar para o Rio. Com essa intenção do jiu jitsu e fazendo sushi de brincadeira, e aí começa a outra parte de… então, o que que aconteceu? Eu saí dessa estrutura toda que eu tinha dentro da minha casa, graças a Deus meus pais sempre oferecendo nada muito exagerado, mas o básico que a gente tinha, e o principal, muito amor dentro de casa principalmente, muitos bons princípios assim de respeito, de solidariedade, muita… atmosfera da minha casa muito sadia, graças a Deus, tanto que eu falo da minha casa, hoje morando fora metade da vida. Então, quando eu cheguei lá resolvi morar no Rio, então tipo saio daqui de Moema, de uma casa legal, fui morar em um quartinho lá no meio do mato, então o que que eu vou fazer para me manter? Arrumei lá uns empregos que não… estoquista de loja de biquíni, não dava certo, não me encontrava, e aí um amigo meu que vendia açaí na praia falou, você não sabe fazer aqueles Califórnia lá, aqueles negócios? Por que que você não traz aqui para a praia para vender?

Luciano Pires: O que que o teu amigo fazia?

Guilherme Campos: Açaí.

Luciano Pires: Na praia.

Guilherme Campos: Não, ele fazia em casa e vendia na praia.

Luciano Pires: Não, vender açaí na praia eu consigo entender, vender cerveja na praia também, vender coco também, agora comida japonesa…

Guilherme Campos: Então, vamos lá. Lá na zona oeste do Rio, tem um lugar lá, um dos lugares mais lindos do mundo, que é a prainha, antes de Grumari e depois da praia da Macumba, tem a prainha, que é uma reserva ecológica, não constrói prédio, não constrói nada, é a praia do surf, e amigos dos amigos, principalmente esses dois irmãos frequentavam lá, eu sempre ia em companhia deles, e aí acabou que eu conheci na praia esse cara vendendo açaí, e a gente foi estreitando e tudo, eu falei, tá legal, boa ideia você deu, vou começar a fazer sushi e vender na praia. Fui lá arrumei uma caixa de isopor de salmão, fui no mercado, comprei um fardo de bandeja de isopor, na loja que tinha lá os ingredientes japoneses comprei as coisas, fiz os Californias, enrolei, embrulhei com PVC, cheguei na praia, vendi tudo no primeiro dia, tipo, em duas horas. Eu falei, que legal isso, então corre, volta, compra mais e já faz no dia seguinte. E assim foi indo.

Luciano Pires: Vendendo sushi na praia?

Guilherme Campos: Na praia, de camelô.

Luciano Pires: Eu sou ignorante, eu não sei nada de comida japonesa, o que eu sei de comida japonesa é que eu como muito e amo, adoro, mas não sei nada, e sei algumas coisas meio históricas assim, o arroz protege o peixe, não deixa o peixe estragar, umas histórias assim que… a história dele eu fui pesquisar. Mas quando você fala para mim que você estava vendendo sushi na praia no Rio de Janeiro, com um sol de 48 graus, sensação térmica de 62, eu acho que é o tempo de você abrir a tampa e ele estragar, como é que era isso aí?

Guilherme Campos: Assim, eu pegava garrafa pet vazia, fazia tang de laranja, congelava, então vendia o sushi e dava o suco de cortesia, o tang era o gelo, e não usava peixe, usava só cani, porque o Califórnia é manga, pepino e kani, o kani como é industrializado ele melhor, então tem um truque lá que você faz que você esmaga o cano para tirar o excesso de água, ele não hidrata tanto a água, ele aguenta bastante tempo em uma caixa de salmão com tampa, lacrada assim, ele mantém.

Luciano Pires: Mas você já tinha essas manhas técnicas naquela época?

Guilherme Campos: Ah, porque eu já fazia esse sushi de brincadeira com os meus amigos já há bastante tempo…

Luciano Pires: Mas não na praia.

Guilherme Campos: Não, não fazia na praia, mas depois de tudo o que eu já tinha experimentado, a gente vai aprendendo. Porque teve uma passagem aqui que eu esqueci de falar depois do ShopTour, que eu conheci no ShopTour um cara do cinema, então eu fui trabalhar indiretamente na indústria de filme comercial, só que eu trabalhava no catering, eu trabalhava em uma cozinha industrial que fornecia alimentação para as produtoras, e esse foi o primeiro lugar que eu comecei a fazer sushi e vender, ah você faz sushi? Faço de brincadeira. Então, faz umas bandejas assim, traz umas cem peças para a gente incrementar as nossas saladas no serviço, então eu era o responsável, pegava a comida na cozinha industrial, levava, servia, recolhia tudo e voltava, e ia à noite para o supletivo, e alguns dias eu fazia o sushi e já levava o sushi pronto de casa mesmo, então essa foi a primeira vez que eu comercializei, então eu já tinha um pouco de já entendia como os ingredientes se comportavam. E aí na praia um conhecido lá que comprou o sushi, estava com a esposa, e a esposa trabalhava em uma loja lá no Barra Shopping e falou, se você levar lá na loja, as meninas compram tudo. Eu falei com a loja, está tudo bem, três dias depois eu já estava dentro do shopping muito bem arrumado, com sacola da Yes Brasil, cheio de bandeja de sushi, chegava na loja, todo mundo me via bem arrumado, achando que fosse comprar alguma coisa, não, não, não, tem o cara do brigadeiro, tem o cara da salada de fruta, do sanduíche natural e tem eu com o sushi agora, e comecei a vender sushi no shopping. Então, essa virou a minha rotina sozinho, de segunda à sábado eu vendia no shopping, o que que sobrava do sábado no shopping eu levava para a praia e domingo eu vendia só na praia, então de domingo os caras já estavam esperando o cara do sushi chegar, que comer sushi na praia era meio legal, então já levava o sachezinho de shoyu, os hachi, gengibre, wasabi, tudo arrumadinho, e assim foi indo. Até o dia que um amigo meu, que já não está mais entre nós, ele era iluminador da pista de dança de um empreendimento lá no Rio que chamava Dado Beer, era do Sul, aí eles abriram no Rio, depois aqui em São Paulo.

Luciano Pires: Sim, eu conheci o dono da Dado Beer em Porto Alegre.

Guilherme Campos: Então… e aí o responsável pelo sushi da Dado Beer era meu conhecido aqui de São Paulo, e quando esse meu amigo iluminador da pista de dança da Dado Beer comentou que lá tinha sushi e descreveu o cara, eu falei, é o fulano, vou lá, cheguei lá, o cara me viu, e aí, você está fazendo sushi ainda? Eu falei, daquele jeito. Ele falou, quer trabalhar? Eu falei, claro, lógico que eu quero. Então, você tem lugar na louça. Fui para a louça.

Luciano Pires: Ele perguntou se você estava fazendo sushi e botou você para lavar louça, é isso?

Guilherme Campos: Porque a louça…

Luciano Pires: É o começo.

Guilherme Campos: Porque você não lava só a louça, lava a louça quando o restaurante está funcionando, mas antes de funcionar você cozinha um arroz, corta uns pepinos, faz toda aquela preparação.

Luciano Pires: E aquilo financeiramente era melhor para você?

Guilherme Campos: Não era financeiramente melhor do que eu ganhava por conta própria, mas era consistente e me daria base…

Luciano Pires: Para você programar, posso levar adiante, eu sei que todo mês tem…

Guilherme Campos: Porque como já era muito prazeroso mesmo fazer essas coisas que eu fazia mesmo vendendo na praia, eu já tinha a paixão pelo negócio, e ali eu tinha certeza que eu poderia aprender em uma outra esfera, até então era lazer, era hobby, era brincadeira, e ali eu entendi que eu teria chances de estar dentro do negócio, não estar anexo ao negócio. E aí comecei lavando louça por causa de alguns atributos, por exemplo, uma vez um cara queria trocar o peixe branco por salmão em inglês, ninguém sabia, e eu fui e falei, você quer troca peixe branco por salmão? Silêncio gritante, o lavador de louça fala inglês? Já quiseram que eu fosse garçom, falei, não, muito obrigado, prefiro continuar aqui fazendo as coisas que vai chegar o meu momento, vou sair da louça e vou assumir o próximo posto, o que é natural. E tinha algumas outras coisas lá, experiência de vida mesmo para manter as pessoas em harmonia, porque como tem esse negócio da luta e a minha presença, dificilmente alguém entrava em umas, então a minha presença por mais que fosse meio que temerosa para os outros, fazia já com que as pessoas se comportassem da maneira mais educada dentro do ambiente. Então, foi tudo acontecendo de maneira natural. Nesse lugar eu fiquei dois anos e meio, aí…

Luciano Pires: Chegou a sushiman ou não?

Guilherme Campos: Cheguei, mas ali era aquela coisa bem legal, entrava 11 horas da manhã saía às duas da manhã e dormia na praia, porque não dava para voltar para Vargem Grande que não tinha ônibus, e fiz tudo o que tinha para fazer para não chegar atrasado, eu fiz. Mas nesse lugar o mais legal de tudo é que eu vi uma garçonete ali que era interessante, queimada de praia, bonita, e é a mãe dos meus dois filhos, então a paternidade foi o que… porque com o exemplo que eu tenho dentro de casa, meu pai e minha mãe, meu pai sempre saindo para fazer plantão, meu avô que morreu quase trabalhando, era da bolsa de cereais em São Paulo, esse é o exemplo que eu tenho em casa, tipo, acorda, faz a barba, se troca, sai para trabalhar. Então, no dia que eu soube dessa gravidez não planejada…

Luciano Pires: Não tinha casado?

Guilherme Campos: Não tinha casado, mas até então a única coisa que até então eu não tinha feito era experimentar, experimentamos, fomos felizes no tempo que a gente ficou juntos, ainda somos, temos uma relação sadia para caramba, tipo, frequentamos as casas e tudo, os meninos moram lá com ela, mas foi a paternidade mesmo que me serviu de norte, então mais um motivo para.

Luciano Pires: Acontecem duas coisas na vida gente que botam você na trilha: filho e boleto, então não tem como…

Guilherme Campos: Eles chegam juntos.

Luciano Pires: E quando o filho chega aumenta o número de boletos.

Guilherme Campos: E aí o que que aconteceu? Aconteceu uma outra coisa muito legal, um dia a gente estava lá trabalhando, aí me chega um japonês, fica olhando a vitrine assim, falou, mas deixa a vitrine tão bagunçada assim, deixa arrumadinha, essas pontas de peixe você pega, bota num potinho. Ah que legal, porque eu trabalho em um restaurante assim e assim. E para a gente aprender coisa nova, como é que a gente faz? Ele falou, compra livro. Não tinha internet nessa época, compra livro. Então, lá não abria segunda-feira, mas eu saí várias vezes domingo à noite de lá, viajei durante à noite, vim para a casa dos meus pais, cumprimentei meus pais e na hora de voltar para o Rio, descia na Liberdade, na livraria, comprava um livrinho e ia esmerilhando ele no ônibus para chegar e fazer uma coisa diferente na terça-feira.

Luciano Pires: E o livro provavelmente era em japonês?

Guilherme Campos: Não, tinha em português, mas tipo era muito pobre, muito fraco, mas aí começou… as coisas começaram a acontecer, então tipo, tenho hoje uns 150 livros assim.

Luciano Pires: Você está ouvindo o LíderCast, que faz parte do ecossistema Café Brasil, que você conhece acessando mundocafebrasil.com, são conteúdos originais distribuídos sob forma de PodCasts, vídeos, palestras, e-books e com direito a grupos de discussão no Telegram. Torne-se um assinante do Café Brasil Premium, através do site ou pelos aplicativos para IOS e Android, você pratica uma espécie de MLA, master life administration, recebendo conteúdo pertinente de aplicação prática e, que agrega valor ao seu tempo de vida, repetindo, mundocafebrasil.com.

Luciano Pires: Deixa eu usar de novo a minha ignorância aqui total comida japonesa, em comida em geral, se você me largar em uma cozinha eu acho que eu queimo a água de tão ruim que eu sou, não sei fazer nada, sei fazer um ovo mexido, ovo mexido e olhe lá. Quando você fala em comida, o cozinheiro vai cozinhar, tem um estilo de comida que é uma mistura intensa de coisas, mistura isso com aquilo, dá uma quarta coisa, e você vê essa mistura, quando eu digo é uma amálgama, aquilo vai virar um caldo, que vira um molho, que você põe, vira uma massa, é tudo uma mistura, meio que coisa de alquimista aquilo lá. Quando eu olho para a comida japonesa, eu não vejo a mistura, eu vejo uma montadora, é uma linha de montagem, então você não mistura o arroz com o peixe, o peixe está em cima do arroz, e a combinação daquele peixe com aquele arroz naquela temperatura, daquele jeito dá um… me parece que são dois estilos completamente diferentes de cozinha, de tratar comida, foi isso que te atraiu na comida japonesa, essa coisa de montar coisinhas?

Guilherme Campos: Então, eu sou muito manual, eu gosto muito de desenhar, adoro uma papelaria, sou muito da mão, da ponta dos dedos. Na verdade, o que me fez querer fazer sushi foi a vontade de comer, que eu bem com o pessoal do restaurante, eu aposto alto que não vai atravessar aquela porta alguém que gosta de comer mais do que eu. Em relação à essa característica da confecção do prato do sushi, eu gosto muito da preparação, eu gosto do cuidado que o nabo requer para ser feito, eu gosto da simetria das rodelas do pepino, eu gosto de sentir o bico da faca correndo no osso do peixe, sabendo que eu não estou desperdiçando, eu gosto de pequenos detalhes, e ao mesmo tempo da dinâmica e procurar sempre aperfeiçoar aquilo que já é bem feito, tipo, esse é o meu maior desafio.

Luciano Pires: É um artesanato, é um artesanato, quando fica pronto, a beleza do prato que vem para a tua mesa e você olha aquela… tudo colorido, cada coisa de um jeito e pega aquela explosão de sabores, eu amo a cozinha japonesa, estou falando com você aqui, já está me dando…

Guilherme Campos: Vou encostar ali daqui a pouco.

Luciano Pires: Você assistiu… tem uma série chamada Billions, você já assistiu?

Guilherme Campos: Não.

Luciano Pires: É uma série, chama Billions, está na Netflix lá, ela se passa em Nova York, e a história é em torno de um procurador da justiça e um bilionário que tem uma empresa lá de investimento e tudo mais, e é um querendo sacanear o outro. E esse bilionário tem um segundo cara na empresa, que é um diretor dele lá, que é um cara que gosta muito das comidas e tudo mais, e a característica dessa série é que eles vão para restaurantes em Nova York que existem de verdade, então eles filmam dentro do restaurante, se passa ali a coisa, e o chefe vem, é tudo verdade, lugares que existem. E em um dos capítulos eles vão em um restaurante japonês que é um O, então o cara vai lá porque é um artista que está lá fazendo, e sentam lá, tem um monte de rapazes sentados, está todo mundo de terninho, aqueles riquinhos sentados ali, e o cara está conversando, batendo papo com o outro, e um dos caras que pega a comida, chega com a comida japonesa, ele pega lá o sushi, enche de shoyo a coisinha, e começa a pegar o sushi e chup, chup, chup, e vai batendo, e o cara que vai falando aqui, começa a conversar e começa a ver aquilo, começa a ficar nervoso. Aí ele levanta, vai no cara, dá um tapa, para, o sujeito aqui é um artista, estudou a vida inteira para fazer um sushi e você vem aqui e fode o sushi desse jeito, ele dá um escândalo, ninguém entende nada, mas ele fica indignado de ver o cara na hora de comer destruir aquilo que o artista fez ali. E ali que eu me toquei, realmente é uma arte, o cara não está só montando uma coisinha ali.

Guilherme Campos: É uma arte e silenciosamente a gente divulga uma parte da cultura japonesa que é maravilhosa como um todo através da culinária. Tanto que tem um senhor para quem eu já trabalhei, que ele foi nomeado embaixador da culinária japonesa no Brasil, mas é pelo consulado, coisa séria mesmo, esse foi um prêmio, um título que quem ganhou teve também um outro cabeleireiro e uma senhora que faz cerâmica seguindo as mesmas técnicas de como é feito em uma determinada região do Japão, se eu não me engano. Só que hoje a gente está falando de um segmento culinário que já tem os seus subprodutos, porque assim, até a importação ser facilitada do jeito que foi, depois de 1991, porque até então o que se via, por exemplo, de carro importado que se via na rua era Mercedes redonda e Alfa Romeo quadrado, e aí…

Luciano Pires: Aí o Collor assina aquele papelzinho.

Guilherme Campos: Exatamente, aí você começa a ver Audi, Mitsubishi, Nissan, Pathfinder, aquelas coisas, nos mercados aparecem aqueles biscoitos Danish Buttercockies, aqueles biscoitos da lata, o M&M, o Kit Kat, e o salmão também, porque até então antes disso, a iguaria mais elegante do restaurante era o salmão defumado, que nego trazia do free shop, e alguns outros ingredientes que tripulante de companhia aérea acaba contrabandeando, então trazia em um voo dos Estados Unidos para cá, do Japão para cá, alguns lugares acabavam tendo. Basicamente os restaurantes abasteciam em Santos, no CEASA, mas eram os peixes locais, atum e peixes locais. Com o crescimento do mercado e a entrada do salmão, começa a fazer experimentações, até aparecer um canapé delicioso, que na minha opinião é o melhor cartão de visita da gastronomia mundial, que é o hot philadelfia.

Luciano Pires: Qual que é?

Guilherme Campos: O hot philadelfia.

Luciano Pires: Hot Philadelfia, como é que é ele?

Guilherme Campos: É um hot roll, que é com queijo, porque de dez pessoas uma não come sushi, mas vai junto no restaurante para não ficar de fora, aí ela vai, prova aquele negócio, que é delicioso, não dá para dizer que não é, porque é saboroso, e muda a vida, e tipo, é um trauma, tem um tabu, vamos no japonês hoje porque agora eu como comida japonesa e tudo. Então, isso aí, o salmão é um grande facilitador e um grande impulsionador do crescimento, do calor do mercado e da propagação disso tudo.

Luciano Pires: E hoje já tem uma cozinha japonesa brasileira, tanto que traz o japonês, bota o cara aqui, o cara olha para aquilo e fala, não reconheço isso que eu estou comendo aqui.

Guilherme Campos: Eu acho que são produtos diferentes, e eu tenho certeza, na minha condição de brasileiro, que o brasileiro gosta de comida bem saborosa, tipo, a moqueca você não quer saber qual é o peixe, tem que ter dendê, leite de coco, pimentão e coentro, churrasco cada um tem sua preferência de carne, mas gosta da carne com sal grosso e cada um com o seu ponto, porque não existe, na verdade, um ingrediente que seja unanimidade nacional, fora que as regiões do Brasil têm as suas culinárias específicas, eu prefiro de todas a mineira, para falar a verdade.

Luciano Pires: Eu, se pudesse morrer comendo, eu queria morrer em Minas.

Guilherme Campos: Mas também tem a baiana e também tem a manauara que são diferentes entre si, mas o que todas têm em comum? São muito saborosas. Então, quando te coloca algo que não tem essa explosão de sabor na sua boca e depois te botam esse mesmo algo com um tempero que vence o sabor do peixe, a aceitação é maior, então por essa razão, por causa do paladar do brasileiro já ser muito dinâmico exigente ao mesmo tempo, esse inint fusion que é o sushi onde se dão as fusões das etnias culinárias ganhou o Brasil e é famoso, e tem muito brasileiro fazendo esse sushi fusion fora do Brasil e concorrendo de igual para igual com restaurantes tradicionais japoneses.

Luciano Pires: Bom, tem para todo mundo aí.

Guilherme Campos: Lógico.

Luciano Pires: Como é que você vai parar no Hyatt? Isso que eu estou vendo, você está com camiseta aqui, está escrito inint 01:07:42 market, esse é o nome do restaurante?

Guilherme Campos: Não, essa aqui é a camisa que eu trouxe agora do Japão, que eu vim…

Luciano Pires: Você foi para lá?

Guilherme Campos: Fui.

Luciano Pires: Como é que você vai parar no Hyatt? Vou virar chef do restaurante japonês do Hyatt?

Guilherme Campos: No Hyatt foi assim, tem um amigo meu que mora no Japão, que ele ganhou aqui o concurso há alguns anos, aqui não, no Japão, um brasileiro ganhou o concurso de melhor sushiman do mundo, chama Celso Amano.

Luciano Pires: No Japão?

Guilherme Campos: No Japão, legal para caramba, e é meu amigo.

Luciano Pires: Tem alguma coisa que brasileiro tem com japonês que eu não consigo explicar, ele pega as artes marciais japonesas, transforma e vira uma das melhores do mundo, é uma fusão de culturas que deu muito certo.

Guilherme Campos: Para caramba, por isso que eu, como eu falei assim um pouquinho antes, a gente não pode esquecer da responsabilidade de estarmos divulgando a cultura japonesa que já existe milhares de anos antes da gente ser descoberto, então é legal ter esse respeito, essa noção mesmo de qual é o lugar de cada um. Mas então o que aconteceu? Me ligou, olha, eu posso dar o seu nome para um amigo meu que está trabalhando no Rio, ele está precisando de mão de obra. Eu falei, pode. E aí deu o telefone para o cara, a gente entrou em contato, eu indiquei algumas pessoas lá para ele, também não me preocupei em saber se conseguiu ou não, e quando chegou o final do ano de 2021, 2021? 2021, eu tenho o costume de pegar as últimas mensagens assim do WhatsApp e mandar aquele feliz natal, feliz ano novo e disparar para todo mundo, aí veio esse cara, oi oi oi, você conseguiu resolver seu problema? Ele falou, não resolvi, não consegui, estou indo embora daqui do hotel, porque o meu irmão vai morar nos Estados Unidos, minha mãe vai ficar sozinha, não quero deixar ela sozinha, vou ter que voltar para São Paulo, posso dar o seu telefone? Porque vai precisar de gente. E foi em um momento que eu não estava muito a fim, para falar a verdade, porque algumas coisas aconteceram antes, eu não estava a fim, é o quarto hotel que eu trabalho, é hotel é uma outra pegada, a gente fala do hotel 5 estrelas, eu não queria mais naquele momento a rotina da barba, do uniforme impecável, eu já estava muito mais interessado em um jeito muito mais pessoal de fazer as coisas. Mas uma oportunidade, a gente não pode dizer não, eu falei, claro, pode dar. Aí me liga a menina do RH perguntando se poderia fazer uma entrevista comigo, eu falei, pode, claro, o hotel é perto da minha casa, pode, vai ser um prazer. Aí fui, fiz a entrevista com a moça do RH, eles levantam lá os seus dados, veem se você tem as condições para trabalhar no hotel, como eu falei, o fato de falar outras línguas e já alguns anos de experiência contaram bastante, e aí passaram as festas, aí entra em contato comigo o chefe executivo do hotel, você poderia vir aqui conversar comigo? Era para ser uma conversa de uma hora, durou cinco. Ai tudo bem, conversei, ah que legal, hotel legal, estrutura, beleza e tudo.

Luciano Pires: É o Hyatt?

Guilherme Campos: É, sensacional. Aí no começo do mês de janeiro eu vim para São Paulo para estar aqui com meus pais, natal e ano que eu não passei com eles, dar um beijo neles, e fomos na casa do meu irmão, e meu irmão é casado com a minha cunhada, que ela é gerente geral de um hotel aqui em São Paulo, e eu comentei com ela assim, estava fazendo… ele perguntou para ela, amor, você resolveu o negócio do hotel? Aí, pois é, estou concorrendo a uma vaga em um hotel lá no Rio de Janeiro para trabalhar. E ela falou assim para mim, é mesmo, que hotel? Eu falei, é um Hyatt. Ela falou, opa, não é um Hyatt, é no Hyatt, se eu fosse você já via isso… resumiu, entrei lá para comer pizza e saí querendo que me ligassem. Foi realmente ela que me deu… porque assim, eu estava meio triste, eu estava meio frustrado, porque eu me especializei demais e eu não tinha para quem fazer, por quê? Eu me especializei demais na comida raiz tradicional, técnicas de conservação antes de terem inventado a geladeira, o sushi mesmo é uma dessas técnicas, o arroz cru avinagrado protegendo o peixe cru, que depois de um certo tempo passou a ser cozido e aproveitado, que antes era descartado o arroz cru, aí começaram a cozinhar o arroz por questões históricas. E aí lá a gente entendeu que talvez fosse ali que eu conseguisse, por quê? Porque vem muita gente de lugares onde sushi é feito por japonês. Então, eu falei, acho que é isso mesmo, então em duas horas de conversa comendo pizza eu entrei lá…

Luciano Pires: Vou para a primeira divisão.

Guilherme Campos: Exatamente, mas onde seria uma grande chance de readquirir o entusiasmo, porque onde eu tive alguns momentos onde eu readquiri o entusiasmo, porque bem ou mal são vários anos fazendo a mesma coisa, muitas vezes os projetos não saem do jeito que a gente planeja e as coisas acontecem, então nesse momento nesse de outubro, quando eu dei o meu telefone para o cara, até esse dia em janeiro assim onde teve essa conversa, já estava tudo sendo preparado, eu acredito, só que eu não estava ciente disso. E aí me chamaram para fazer um jantar de apresentação, e no meio da minha preparação para esse jantar, me deu um estalo e eu perguntei para o chefe executivo, eu falei, tem mais alguém concorrendo à vaga ou sou só eu? Ele falou, não, tem, veio um cara aqui ontem, e inclusive, ele falou que você era a maior inspiração dele. E ali eu tinha o meu cardápio, a minha sequência do que eu ofereceria no jantar, um mapa para eu não me perder, aí eu peguei o papel, rasguei e joguei fora, que eu falei, se eu sou inspiração para esse cara, metade disso que está escrito aqui, que são os meus autorais, ele sabe fazer, então não posso chegar eu sendo o copiador, peguei, rasguei e joguei fora. Fui lá, olhei para os ingredientes, estabeleci outras conexões assim, fiz o jantar e fui aprovado, graças a Deus.

Luciano Pires: Quer dizer, você se improvisou? Você saiu do plano pronto, joga tudo fora, improvisa… cara, isso é roteiro de cinema, bicho.

Guilherme Campos: Porque foi naquele tempo que eu falei assim…

Luciano Pires: Você gosta de jazz?

Guilherme Campos: Eu gosto.

Luciano Pires: Já ouviu Ella Fitzgerald?

Guilherme Campos: Claro.

Luciano Pires: uma loucura, você sabia que ela surge no mundo artístico como dançarina, ela vai lá no Apollo Theater para fazer o concurso de dançarina, e entra lá, quando ela viu tinham três grupos dançando muito melhor do que ela e as duas que estavam com ela, ela falou, não vou dançar, não, eu vou cantar, pegou o microfone e nasceu ali Ella Fitzgerald, foi assim, cara, nasce ela ali.

Guilherme Campos: Que legal essa história.

Luciano Pires: E histórias assim tem de montão, bate uma luz, você fala, para, deixa eu seguir a minha… eu tenho uma história, você viu que você subiu uma escada aqui, é o Bohemian Rhapsody, por que que é o Bohemian Rhapsody? Eu faço o Café Brasil aqui há séculos, desde 2006, em 2011 eu fiz um episódio chamado Bohemian Rhapsody, é o Café Brasil 275, e ele é todo roteirizado, eu sentei, escrevi o roteiro todo, aquela história que o mundo está tudo feito, está tudo aí, está tudo resolvido, eu pesquisando a música, eu entro no Youtube e encontro todas as faixas, todas as trilhas do Bohemian Rhapsody, voz, guitarra, baixo, tudo separado, e foi uma coisa que alguém botou ali, ficou alguns dias e depois tiraram fora, esses alguns dias era exatamente quando eu entrei para pesquisar, e eu peguei aquilo, baixei tudo e escrevi o roteiro, legal, então eu vou desmontar a música, quando eu estiver falando, eu vou mostrar para o pessoal como é cada parte da música e escrevi o roteiro todo, olha, então vou mostrar para você a guitarra, vou mostrar para você isso aqui, aqui a voz do Freddie Mercury, e vim gravar aqui, nesse lugar aqui. Sentei para… minto não era aqui não, foi no outro estúdio, essa mesinha aqui no outro estúdio, sentei para… e estou fazendo a gravação, meu editor estava ali e eu gravando, quando chegou nessa parte de desmembrar tudo, eu olhei para o roteiro e falei, não, esquece o roteiro, e aí você ouve a gravação, eu falo, bom, agora eu vou fazer uma sacanagem com vocês, aí eu comecei a improvisar, eu vou levar vocês comigo para dentro do estúdio na Inglaterra, no ano tal e tal e tal, imagina que você está aqui no estúdio, tem uma janela de vidro na tua frente e lá dentro o Queen está o montando a música, então olha aqui, olha a guitarra, e agora dá uma olhada aquele é o Freddie Mercury que entra cantando assim. Isso eu inventei na hora, do nada, cara, isso transformou aquele episódio em um dos melhores episódios de PodCast já gravados no Brasil, eleito por quem faz PodCast, e mudou completamente a história do PodCast Café Brasil, e acho que impactou muito a história do PodCast no Brasil, porque ele mostrou todas as possibilidades que você tinha para trabalhar arte de uma forma que ninguém tinha feito ainda, por isso que eu fiz aqui, tem uma marca antes, você entra aqui tem Freddie Mercury, você sobe a escada com Bohemian Rhapsody. Mas é o que aconteceu com você, cheguei na hora aqui, tira o roteiro, deixa eu criar, e acho que aí veio uma coisa que é meio inexplicável, aquela coisa da energia criativa que você tem passa para a comida, e a hora que eu for comer o teu sushi, ele é diferente, tem algo ali que eu não consigo explicar o que é, mas você botou energia ali, e essa energia vem, passa pelo microfone, se você se emociona contando alguma coisa para mim aqui, vai passar pelo microfone e vai pegar o ouvinte do outro lado lá, bate nele aqui que tem uma energia passando junto.

Guilherme Campos: Sem dúvida, a energia, ela é tudo e por isso que a gente precisa, eu acredito que a gente tem que estar sempre cuidando disso.

Luciano Pires: Você tem que estar preparado. Você me contou uma história de jiu jitsu, você está lá embolado com o cara, você está embolado e buscando uma oportunidade de dar uma chave de calcanhar, uma chave de braço, alguma coisa nele, você só vai conseguir fazer, se você tiver repertório para isso, é a mesma coisa, deixa eu olhar para os ingredientes e montar na minha cabeça, se você não tem repertório vai sair arroz com peixinho em cima.

Guilherme Campos: É o vocabulário.

Luciano Pires: Repertório, o que serve para o… MMA é isso, o que que é o MMA a não ser a somatória de todas as lutas e na hora que você está lá no meio, no calor, tem um cara tentando te acertar e você tem que em uma fração de segundo mudar e, cara, saí do judô e fui para o muay thai, na hora, só com repertório, só com muito treinamento.

Guilherme Campos: Essa comparação assim do jiu jitsu, ela é… eu não parei de lutar, eu treino hoje na medida do possível, pelo menos uma vez na semana, que é sagrado, mas eu consigo praticar no meu dia a dia as coisas que o jiu jitsu me ensinou, e eu acho que é muito legal porque o jiu jitsu te ensina mais quando você admite ter perdido, do que quando você tem a sensação de ter vencido, entendeu? Porque é isso, ainda mais no ambiente de trabalho que eu digo que é o solo sagrado, em local de melhoria contínua, você sempre perde alguma coisa para poder ganhar outra, e isso tem muito a ver com a energia que a gente fala assim que não dá para interpretar direto qual é a energia, eu só sei que entra por uma mão, sai pela outra e deixa alguma coisa em você, é cíclica e tem que estar muito atento para não errar tanto nas tomadas de decisão, que esse é o meu papel fundamental no ambiente de trabalho, que é fazer com que os meninos possam oferecer mais do que eles saibam que eles podem, que é isso, porque tudo bem, fiz alguns sacrifícios, isso para mim já não é problema, porque no meu ambiente social, eu não posso ir porque eu tenho que trabalhar, e no meu ambiente de trabalho, eu tenho costumes diferentes da maioria dos meninos que trabalham comigo, porque cada um com a sua realidade…

Luciano Pires: Cada um com a sua história.

Guilherme Campos: …Mas quando elas se misturam, eu acho que eu fui tão feliz e tão beneficiado que muito mais do que a aquisição de conhecimento ou dos atributos técnicos, eu tento devolver para os garotos a minha experiência de vida para que eles consigam se encaixar nessa equação de que a disciplina faz a pessoa melhor.

Luciano Pires: Você tem que ser um Fuad para eles, aquele professor que te ajudou lá atrás, é que você vai ter que ser para eles.

Guilherme Campos: Chef de cozinha hoje é cool, o que era… todo garoto nos anos 90 queria ser publicitário, eu quero ser o Washington Olivetto, com a gravatinha colorida. Hoje em dia ser chef é cool e se você ligar a televisão nos canais pagos, tem seis mil programas com chef de cozinha, e alguns que marcaram, então você vê que o cara é um puta de um brutamonte, é uma coisa meio assim militar, uma puta hierarquia, o cara entra lá, chegou o chef, todo mundo com medo do cara, o cara é um mão pesada. E fica até meio folclórica essa história, chef de cozinha é o cara que chega lá e… e na verdade, esse cara está conduzindo um time, é o time que se o time não andar direito, o prato lá na frente não vai sair tão legal, não é só uma linha de montagem, até pode ser, montar a gente monta, agora tem um quê que é a tua marca, se você precisa trocar o chef, vai trocar a comida que está lá, mesmo que seja a mesma turma fazendo. Como é que você pegou a manha para coordenar uma equipe, você fez aula de liderança, você aprendeu com alguém? Você contou em um determinado momento aqui que você estava vendo um monte de gente fazendo coisas que você achava que era um horror e que talvez tenham te ensinado o que não fazer, isso eu não quero ser. Como é que foi isso?

Guilherme Campos: Acho que uma soma das experiências pessoais, porque eu já vi cada fulano aí tomar atitude assim com as pessoas que nossa, é muito vergonhoso, então como é que é? Eu tenho assim, eu acho que o local de trabalho é sagrado e para estar em lugar sagrado você tem que ser digno daquele espaço, então você tem que ter muito respeito pelo seu colega de trabalho que está bem ou mal de braços dados defendendo o mesmo objetivo, as pessoas chegam nos locais, no restaurante com ambições diferentes, as pessoas trabalham por… tem gente que trabalha pelo dinheiro, tem gente que trabalha por necessidade, tem gente que trabalha porque pode escolher trabalhar ali, tem gente que… então assim, o quartel me ensinou a observar muito as pessoas.

Luciano Pires: O exército?

Guilherme Campos: Demais.

Luciano Pires: Ontem eu escrevi um episódio do Café com Leite, que é um PodCast que a Barbara apresenta, que a gente fala de motivação e lá no meio tem uma explicação dizendo que tem dois tipos de motivação, que é intrínseca e a extrínseca, intrínseca é a de dentro para fora, eu vou porque eu amo fazer, e aquilo me motiva a sair, querer fazer o melhor de mim, porque eu amo fazer isso, e a extrínseca eu amo porque eu vou ganhar alguma coisa, então eu vou trabalhar porque eu preciso do dinheiro, então isso me motiva a ir, eu vou pelo dinheiro, no final do dia você me paga, está feito e acabou, e outro fala, não, eu vou porque eu acho um tesão ir e se eu ganhar dinheiro é melhor ainda, quando a motivação é intrínseca é a melhor de todas, o cara é um artista, a extrínseca é mais comercial.

Guilherme Campos: Eu concordo absolutamente com isso, Luciano, porque ser muito apaixonado pelo assunto realmente é o meu maior motivador e conseguir superar as jornadas que não são moles, que é puxado em questão de carga horária, fazendo o que gosta, as coisas ficam mais fáceis, porque você está sempre entusiasmado, então lá com o pessoal hoje, eu consigo compartilhar as experiências minhas do dia a dia, e assim, a gente tem o nosso programa de feedback e tudo, o meu feedback, ele é instantâneo.

Luciano Pires: Eu estava pensando isso aqui agora, ia até fazer uma brincadeira com você, ia dizer o seguinte, quando você está lá na frente, você está preparando, você não está no fio da navalha, você está no fio da katana, da espada…

Guilherme Campos: Bisturi.

Luciano Pires: Cara, você está em um fio ali que se você errar, meu amigo, é na hora, o prato volta, o prato volta com o cliente puto da vida porque você errou, e por isso que eu tenho meio… eu penso o seguinte, eu nunca trabalharia com comida na minha vida, eu não consigo me ver trabalhando com comida, sabe, essa coisa de mexer coisas que a pessoa vai botar para dentro dela, eu não consigo me ver… eu não sei se por essa coisa do feedback imediato, da responsabilidade, o cara vai comer o que eu estou fazendo, se eu errar aqui… então, acho que tem uma carga de responsabilidade aí que é gigantesca. E aí acho que todo mundo tem que saber isso, até a moça que limpa a mesa, até a pessoa que vai limpar a mesa, ela tem que saber que ela está em um ambiente onde alguém vai ingerir o resultado do trabalho que ela faz, porque é grupo ali, ela é só uma parte de um grupo maior.

Guilherme Campos: Verdade. E a gente tem um time muito entrosado, mas personalidades absolutamente diferentes, então para alguns eu preciso chegar de uma maneira um pouco mais…

Luciano Pires: Incisiva.

Guilherme Campos: Incisiva, porque alguns comportamentos, eles estão sendo observados pelos outros e não posso deixar parecer tolerância, nem conivência porque é desrespeito com os outros, porque eu chamo atenção de um por determinado motivo e outro vai e faz e eu não tenho a mesma atitude, isso é desrespeitoso, isso faz a pessoa achar que é só com ela, que o outro faz… e não é isso, e pelas personalidades tem gente que não tem problema que eu chame atenção e corrija na frente de quem está consumindo, mesmo porque é uma demonstração de respeito e seriedade com a pessoa que está consumindo, e dizendo, a gente não está aqui de brincadeira, isso aconteceu, são ossos do ofício, mas ao mesmo tempo os pronomes de tratamento são os melhores, meu amor, príncipe, brother, amigão, porque eu tenho nome escrito no uniforme, então eu não preciso falar meu nome, então a pessoa senta no balcão, boa noite, tudo bem, esse aqui é o fulano, esse aqui é o ciclano, esse aqui é outro, e aquele ali é nosso estudante de gastronomia, estagiário, que se Deus quiser vai ser minha patroa no futuro, quando eu já estiver com a muleta, não tiver condições, mas ela vai me deixar empalhado lá na cozinha dela, entendeu? Então, é uma atmosfera familiar. E assim quando começa que percebo que os garotos começam a se desentender, para, para, para, para, pontua, isso aqui é uma rua sem saída, e vão os dois bater de cabeça, porque estão os dois olhando para cima ou para o chão…

Luciano Pires: Jiu jitsu de novo, jiu jitsu, deu um tapa, fiquei puto e te dei uma porrada, o que acontece no jiu jitsu? O mestre para na hora, meu, parou.

Guilherme Campos: Não pode porque não tem espaço para vaidade, não tem isso, sabe, não tem, então olha, você, por favor, você me desculpa, mas isso não pode se repetir, por quê? Porque isso passa do balcão para fora automaticamente tem o meu carimbo, e eu não carimbo receita falsa, entendeu? Automaticamente tem o meu carimbo, então não pode, isso aqui não pode ir, não está dentro do nosso padrão. Então, a pessoa que vem aqui, você está em um restaurante dentro de um hotel 5 estrelas, as estrelas pesam sobre todos nós e principalmente sobre mim se alguma coisa der errado.

Luciano Pires: Você fez uma somatória aí que vai ficando cada vez pior, você está em um restaurante dentro de um hotel 5 estrelas fazendo comida japonesa, qualquer um desse sozinho já uma encrenca, os quatro juntos, meu caro, pelo amor de Deus.

Guilherme Campos: Então, isso é legal para dizer que a pressão já vem no pacote, entendeu? É um ambiente de pressão e aí o que acontece? Viver sob pressão repetidamente, consistentemente, e pressão e pressão e pressão, te consolida a personalidade.

Luciano Pires: Sim, você vai ter que ficar mais forte ou você espana, ou vai espanar.

Guilherme Campos: E aí o que acontece? Lá no hotel todo cozinheiro trabalha de branco, nós trabalhamos de cinza, e a gente trabalha de cinza, porque o esquadrão da limpeza do hotel, que é área de stewarding, que lava as louças, que faz a limpeza pesada, usa cinza, então eu pedi que os nossos uniformes fossem cinza para homenagear os invisíveis do hotel, então tipo, isso é verdade. Outra coisa, 5 horas desce todo mundo, desce todo mundo 5 horas, vocês só andam em bando, vocês sentam na mesma mesa, vocês andam juntos, vocês vão buscar sobremesa junto, vocês fazem tudo junto, não quero ver um de vocês desgarrado, se estiver sozinho está errado, você só anda em bando, vocês só andam juntos, por quê? Repetidamente a tarefa, a responsabilidade, e repetidamente esse momento de descontração que é quando você come, descansa e vê o telefone e conversa e brinca, isso cria aquela relação de confiança, entendeu? Para que quando você precisar de ajuda, você poder olhar para o cara e falar, me ajuda aqui que eu estou precisando sem se sentir diminuído. Então, meus meninos andam tudo junto.

Luciano Pires: É por isso que a gente só ganha copa do mundo quando o time treina, treina, treina e eu não preciso olhar para saber que o meu atacante está no canto direito, que nesse desenho de jogada aqui é claro que ele estará lá, a gente se conhece tanto que eu posso mandar a bola que eu sei que ele vai estar lá, quando não tem esse trabalho todo em equipe… agora vem cá, uma coisa me chamou atenção, está chegando aqui já no final, isso tudo que você está falando não é aquela tal rotina lá no começo que você não queria para você, o fato de você estar como chef ali fazendo os mesmos pratos todo tempo, isso não cria a tal da rotina, você não tem medo disso ou de novo, você gosta tanto de fazer o que você faz que você ultrapassou a questão da rotina?

Guilherme Campos: Eu acho que a questão da paternidade me fez dar valor à rotina, o fato de ter essa fissura mesmo no meu trabalho, na minha profissão, faz com que a rotina não seja rotineira, e a dinâmica da rotina me permitindo desenvolver novas maneiras de fazer essa rotina, fazer com que a rotina seja interessante. Então para responder melhor a sua pergunta, eu estava sempre procurando, até o dia que eu encontrei. E é isso, tipo, total, eu sou muito… e colho muitos bons frutos para falar a verdade, e essa rotina é o continuar o legado do exemplo que eu sempre tive dentro de casa, vendo o meu pai acordar, botar a roupa branca dele e sair, a gente ir buscar no plantão, ver meu avô, isso tudo, que é o que meus filhos sempre viram, meu filho mais novo, que quer ser atleta profissional de luta, está se preparando para isso, esses dias a gente estava conversando, tudo, ele falou assim para mim, eu sempre vi você saindo para trabalhar feliz, entusiasmado, você não acha que eu tenho esse direito também? Me quebrou. E aí a gente estabelece um deadline e fala, legal, então você tem todo um suporte que a gente puder te dar até tal, e aí depois se não der certo, eu vou trabalhar com você no sushi, entendeu? Então, tipo essas mensagens de que a gente precisa de vez em quando, porque sempre bate uma, será que eu estou fazendo certo, será que eu não estou exagerando, será que eu não estou… não poderia fazer de uma outra maneira, que hoje todo mundo fala de reinvenção, mas como um objetivo a ser alcançado, um poder que você precisa adquirir, eu já acho que a reinvenção, ela é instantânea e muito mais do que você parar para se reinventar, eu acho que isso acontece frequentemente.

Luciano Pires: Sim, se você estiver evoluindo, se tiver evolução…

Guilherme Campos: Da mesma maneira que os pequenos sacrifícios assim, você está toda hora fazendo pequenos sacrifícios, estou vendo escrito Hollywood ali, veio a letra y, eu falo do y para todo mundo, a sua vida é cheia de y, o seu dia é cheio de y, se você for só para o lado esquerdo do y, depois de um grande tempo você vai acabar fazendo uma volta que vai botar você de novo para baixo, você vai voltar para o mesmo lugar, então seja mais inteligente nas suas tomadas de decisão, entendeu?

Luciano Pires: Corra o risco e tudo mais.

Guilherme Campos: É.

Luciano Pires: Para terminar aqui, como é que é ser pai de um sujeito que vai ganhar a vida tomando porrada na cara?

Guilherme Campos: É horrível.

Luciano Pires: Como é que é isso, você já assistiu lutas dele?

Guilherme Campos: Não, ele está começando, ele fez uma luta lá ainda, ia fazer outra agora, mas quebrou o dedo, eu precisei… ele falou, vou lutar assim mesmo, eu falei, só de saber que tu está com os teus dedos ruins, já entra perdendo, sem querer o cara dá-lhe um chute… esse menino botou quimono com dois anos a primeira vez, hoje ele tem 22, nunca parou de lutar, já tem isso nele.

Luciano Pires: Mas ele estava no jiu jitsu?

Guilherme Campos: Ele começou no judô, migrou para o jiu jitsu naturalmente, aí para melhorar as quedas dele do jiu jitsu, ele foi para o wrestling, treinou wrestling um tempão, foi atrás…

Luciano Pires: Ainda não tem porrada.

Guilherme Campos: Não…

Luciano Pires: Judô, jiu jitsu, wrestling não tem porrada.

Guilherme Campos: E aí lá no wrestling, o que que aconteceu? Quem sedia a Confederação Brasileira de Wrestling é o pessoal da Nova União, Dedé Pederneiras lá do Rio, que é o mestre do José Aldo, e nos treinos de wrestling para o José Aldo, nos campings, que é o preparatório para as lutas, meu filho acabou se envolvendo com eles, isso se deu de maneira muito natural pelo ambiente que ele vivia, e aí ele foi atleta da seleção brasileira, já fez umas viagens, lutou, foi campeão de um monte de coisa, outras vezes não, tudo, mas aí fez a sua primeira luta de MMA televisionada e tudo, eu fiquei apavorado para falar a verdade, sabendo que o menino luta tem 20 anos, é meu filho, não, fiquei apavorado, mas no final das contas ele foi inteligente, ele ganhou de um cara lá que tinha 12 anos a mais que ele, se não me engano, e meu xará ainda…

Luciano Pires: Mike Tyson que fala uma frase que é maravilhosa, todo mundo tem um plano até tomar o primeiro murro na cara.

Guilherme Campos: Sensacional.

Luciano Pires: Tomou, desmonta tudo e agora tenho que me virar aqui. Maravilha. Guilherme, quem quiser, então, conhecer, como é que é o esquema? Vamos até o Hyatt no Rio de Janeiro, só tem um Hyatt lá?

Guilherme Campos: Só um.

Luciano Pires: Só tem um Hyatt lá. Vamos até o Hyatt do Rio de Janeiro, vamos procurar o chef do restaurante japonês, dizer que ouviu o LíderCast e ele vai fazer um sushi especial ali para você.

Guilherme Campos: Com muito prazer, com muito prazer, entusiasmo e alegria.

Luciano Pires: Legal, quem quiser trocar uma ideia com você, você está em rede social, alguma coisa assim?

Guilherme Campos: Tenho o Instagram.

Luciano Pires: Como é que é o @?

Guilherme Campos: guilhermebacampos, tudo junto, abreviação de Guilherme Barbosa Campos, guilhermebacampos, e estou à disposição.

Luciano Pires: Meu caro, a próxima ida ao Rio, me espera, eu vou lá.

Guilherme Campos: Já estou te esperando.

Luciano Pires: Um grande abraço.

Guilherme Campos: Muito obrigado, cara, que legal.

Luciano Pires: Muito bem, termina aqui mais um LíderCast, a transcrição deste programa você encontra no LiderCast.com.br.

Voz masculina: Você ouviu LíderCast com Luciano Pires, mais uma isca intelectual do Café Brasil, acompanhe os programas pelo portalcafebrasil.com.br.