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Luciano Pires: Bom dia, boa tarde, boa noite. Bem-vindo, bem-vinda a mais um LíderCast, o PodCast que trata de liderança e empreendedorismo, com gente que faz acontecer. Hoje o convidado é Pedro Almeida, que é jornalista e professor de literatura, com curso de extensão em marketing pela universidade de Berkley. Pedro atua há 30 anos na gestão de editoras de pequeno e médio porte, e de Publisher em editoras de grande porte, nas áreas de ficção, não ficção e autoajuda, tendo realizado diversos projetos nacionais e internacionais. Foi membro do conselho curador do Prêmio Jabuti, e recentemente abriu uma unidade da Livraria Drummond em São Paulo. Pedro ama livros, e fez disso a sua profissão. Uma conversa animada sobre o mercado editorial e seus desafios no Brasil. Muito bem, mais um LíderCast, como sempre eu comunico como é que o meu convidado veio parar aqui hoje. Isso aqui foi muito recente cara, eu fui no lançamento do livro da Paula Schimdt, aliás, um livro imperdível né, ali na Livraria Drummond, ali no prédio lá do Conjunto Nacional. Eu estou lá, me apresentam, esse aqui é fulano, que legal, vamos conversar uma hora? Vamos. Quanto tempo faz, 1 semana?

Pedro Almeida: É, eu acho que mais ou menos isso.

Luciano Pires: Deve ter sido isso, 1 semana né? Estamos nós 2 aqui então. Olha, eu começo aqui o nosso papo com 3 perguntas, que são as únicas que são fundamentais. Você pode chutar à vontade depois, mas essas 3 tem que fazer direitinho, tá? Então as perguntas são, seu nome, sua idade e o que que você faz?

Pedro Almeida: Pedro Almeida, 52, vou fazer 53 próxima semana, e sou editor de livros, estou completando 30 anos de edição de livros no Brasil.

Luciano Pires: Caramba, trabalhando com livros no Brasil 30 anos. 30 anos? Você começou em 80 e?

Pedro Almeida: 93.

Luciano Pires: É claro, 80 seriam 43. Isso aí, 93. Eu estou tentando situar no tempo onde que você estava. 93, pós-Collor, você começou pós-Collor, né?

Pedro Almeida: Exatamente. Você me lembrou agora, porque eu sou carioca, vim para São Paulo porque eu fui militar e vim trabalhar pela FAB, no controle de tráfego do aeroporto de Congonhas, é minha especialidade. E aí quando eu chego em São Paulo, meu horizonte de abre e eu vou acabar me encaminhando para a área do livro. Você lembrou do Collor, porque eu tinha 18 anos quando cheguei em São Paulo, em 89, acho que é isso, e eu estava juntando dinheiro para comprar meu primeiro carro. E assim por 2 ou 3 meses esse plano foi frustrado pelo golpe do Collor.

Luciano Pires: Você sabe que eu sou um dos raríssimos brasileiros que levou vantagem com o Collor né?

Pedro Almeida: É?

Luciano Pires: O plano Collor me ajudou assim imensamente. Mais ou menos, 1 semana praticamente antes do plano Collor, eu fechei um acordo para comprar uma casa, comprei uma casa. Molecão ainda, peguei o apartamento que eu tinha, vendi meus carros, peguei todo o dinheiro que eu tinha, entreguei para o cara, comprei a casa e fechei com ele o pagamento da diferença para a casa em parcelas em dólar. Então eu dei para ele as notas promissórias, 12 notas promissórias de U$ 500 dólares, 1 semana antes do Collor.

Pedro Almeida: Nossa.

Luciano Pires: Quando o Collor veio e congelou, eu não tinha 1 tostão no banco, tinha zero no banco e tinha uma dívida em dólar que virou 1 para 1.

Pedro Almeida: Você não estava na equipe da Zélia Cardoso?

Luciano Pires: Eu não sabia de nada, e quando eu fui ver, de repente a minha dívida que era gigantesca, virou uma dívida pequenininha.

Pedro Almeida: Claro, ninguém tinha dinheiro, mas estava na vantagem em relação aos outros.

Luciano Pires: Pois é. E o que eu vi de pavor, né, o pessoal todo que perdeu tudo que tinha guardado, comigo acabou que deu certo. Mas, não alivio não, o Collor continua sendo aquilo que ele é. você nasceu onde?

Pedro Almeida: Eu nasci no Rio, sou de uma família grande nordestina, meus pais são de Sergipe. Então somos 11, eu sou o “onzemo”, brinco com isso, então o décimo e décimo primeiro nasceram no Rio de Janeiro. O restante todo em Aracaju.

Luciano Pires: O que que o seu pai e sua mãe fazem, ou faziam?

Pedro Almeida: São parecidos né, essa idade começou… sou o mais novo, minha irmã mais velha está com 77 anos, e meu pai faleceu aos 92 anos, 5 anos atrás. Foi para o Rio, porque era ex-combatente, foi pracinha, que foi para a Segunda Guerra. Entra acho que depois da guerra ele foi para o Rio de Janeiro, que é onde o exército tinha uma base sólida, então trabalhou como jornalista, mais basicamente depois da guerra, ele foi meio que aposentado. Os traumas de guerra não ajudam muita gente, poucas pessoas conseguem ter uma vida comum, depois de uma guerra.

Luciano Pires: É, e você falar isso no Brasil é meio estranho, porque o que que é guerra?

Pedro Almeida: As pessoas não sabem, não tem ideia.

Luciano Pires: É muito uma visão romantizada.

Pedro Almeida: Eu mesmo tinha, quando eu nasci, meu pai já tinha 45 anos. Naquela época, era uma idade de avô, e eu mesmo não sabia muito os motivos porque meu pai foi para a guerra. E eu descobri recentemente, porque o Brasil entrou na Segunda Guerra por causa de uma história que é meio, tem algumas versões, mas o que é fato é que 3 navios brasileiros foram afundados no litoral de Sergipe. Então, os sergipanos mais do que qualquer outro brasileiro se sentiram impelidos a participar, e ele foi com 17 anos, foi como voluntário. Então, eu não sabia disso até 3, 4 anos atrás. Assim, como alguém com 17 anos vai topar ir para uma guerra em outro país, né?

Luciano Pires: Mas é natural, porque com essa idade aí cara, primeiro que você é invencível, você jamais vai tomar um tiro. E se você tomar, você é o homem de aço cara, vai bater e ricocheteia, ele não entra em você a bala, a gente é invencível. Então, a molecada vai com o ímpeto mesmo. O duro são os caras que mandam a molecada para lá, né?

Pedro Almeida: É, isso eu imagino que sim, que assim, havia essa diferença de gerações. Hoje, parece que alguém com essa idade, talvez com 21 ou 24 anos não tivesse o mesmo ímpeto, então comparo gerações, mas também é isso, né, como foram capazes de mandar gente dessa idade, sem nenhuma experiência, para o campo de batalha.

Luciano Pires: Você era o mais novinho da molecada, qual era o seu apelido quando era criança?

Pedro Almeida: Como criança? Tinha um pouco de tudo, né? Um pouco ruim. Mas tinha uma brincadeira com “parapedro”, tinha… em geral mais era diminutivo, Pedrinho, né?

Luciano Pires: Pedrinho. O que que o Pedrinho queria ser quando crescesse?

Pedro Almeida: Engenheiro Agrônomo. Meu sonho era ser Engenheiro Agrônomo, e a minha família era muito, era numerosa e era pobre, bem pobre, no subúrbio do Rio de Janeiro. E aí eu nunca quis ser miliar, por conta dessa história toda já de família. Meu pai ter ido para a guerra era um trauma de família. E tinha alguns militares na família, porque era uma possibilidade de ascensão para pessoas pobres. E aí quando deu uns 14 anos, eu falei, puts eu estou vendo ao meu entorno e todo mundo com problemas no Rio de Janeiro, sempre teve um problema de oportunidade maior do que de outras grandes cidades, ou até pequenas, mas que tem mais campo de trabalho. E eu falei, vou tentar isso, porque eu sabia que ir para a Força Aérea era uma possibilidade de, se eu pegasse, escolhesse bem, em 2 anos eu tinha formado, eu poderia ter uma garantia, era um emprego com garantia. Mas isso me tirou do plano de ser engenheiro agrônomo, porque dependia de fazer uma faculdade longe, lá no Rio de Janeiro havia a faculdade rural, que era bem distante. Então era um pouco complicado, era mais frequentada por filhos de fazendeiros, coisa assim.

Luciano Pires: O que que te capturou para essa coisa do agrônomo? Você está no Rio de Janeiro, um cara urbano.

Pedro Almeida: Então, meus pais não eram, meus pais vinham de roça, de fazenda, de sítio. Então, sabe aquela coisa de você ouvir a cantilena de que a vida no campo era boa, coisa assim? E eu particularmente gosto muito de animais, numa casa, num subúrbio claro, com quintal, no Rio de Janeiro, eu sempre tive criações. Todo tipo de animal eu tive, eu insistia, eu mesmo ganhava dinheiro o suficiente, criança, para poder comprar e ter as criações. E mudava de ideia e trocava por outra, como uma criança pode fazer né? Tinha minha certa independência com isso. E também sempre gostei de plantas. Então por exemplo, minha família era muito ligada a uma instituição social, e eu, o que que eu fazia quando criança para ajudar? Eu fazia vasos com plantas e eles levavam para vender. Então assim, eu tinha já um interesse em agronomia, agropecuária, né? Não sabia bem o que que era, mas era um pouco desse rescaldo da família, da origem de campo, fazenda, sítio, vida no mato.

Luciano Pires: Mas o sonho não dá cara. Não deu. Como faz isso?

Pedro Almeida: Aí quando eu vi a realidade, eu falei assim, puts, eu vou procurar uma profissão que me de alguma responsabilidade que eu não estou vendo nos meus irmãos, no meu entorno, meus amigos, e que assim, é militar, mas eu vou procurar um lugar que seja menos militar possível, uma profissão que me leve para o aeroporto. E o controle de tráfego aéreo te joga no aeroporto.

Luciano Pires: Cara, pelo que eu sei controle de tráfego aéreo é a profissão de maio índice de estresse cara.

Pedro Almeida: É verdade.

Luciano Pires: De enfarto, de burnout, o que que é aquilo cara? Você chegou mesmo a sentar e fazer o trabalho de controle de tráfego olhando os…

Pedro Almeida: Meu trabalho era mais de comunicação de informações. Trabalhava na sala de tráfego, porque assim, havia 3 posições, existia o próprio controlador do tráfego que fica na torre, existe o meteorologista, que está ali todo tempo vendo o tempo e indicando condições, e o telecomunicações, que está naquela época, eu ainda peguei o Telex, eu era preparado para o Telex, para a comunicação via Telex.

Luciano Pires: Morse.

Pedro Almeida: Isso, código Morse. Telégrafo, Telex na verdade é uma máquina, para quem não conhece, é uma máquina que transmite o código Morse. Então quer dizer, eu lia, eu era capaz de ler fitas, né?

Luciano Pires: Morse você lia?

Pedro Almeida: Isso, você lê como você está lendo um texto. Você aprende, ouve, é um alfabeto.

Luciano Pires: Atenção, essa aqui é para vocês e os milleniuns mais novinhos. O código Morse ele conversa assim, pi, pi pi, pi pi, e o sujeito vai ouvindo os pi pi, e ali ele vai construindo palavra.

Pedro Almeida: O alfabeto é formado sempre por um ponto e um traço. Então é isso, pi é um ponto, pi pi é um traço. Então, você forma o alfabeto inteiro com essa combinação.

Luciano Pires: Você conseguia compreender, você lia fita em Morse?

Pedro Almeida: Sim, sim.

Luciano Pires: Cara, que doidera.

Pedro Almeida: Porque a gente é preparado para a comunicação, no aeroporto é um Telex, Telex é uma máquina que faz isso para você, na época, estou falando aí dos anos 90. Mas, eu era preparado para me comunicar com telégrafo, que aí naqueles filmes que vocês assistiram aí, que a mensagem vai vindo, e a pessoa foi compondo as palavras, né?

Luciano Pires: Sim.

Pedro Almeida: Eu posso dizer que é um tipo de libra, né, do código de libras, né?

Luciano Pires: Mas aquilo deve ser uma loucura hein cara? O ambiente ali de… porque nós estamos falando em que época isso? Isso é…

Pedro Almeida: Anos 90.

Luciano Pires: Anos 90. Bom, um pouco antes do caos aéreo né?

Pedro Almeida: É, 1 ou 2 anos depois, se não me engano, acontece aquele acidente em Congonhas.

Luciano Pires: O da TAM?

Pedro Almeida: O da TAM, é.

Luciano Pires: O da TAM que caiu para cá, não o de lá?

Pedro Almeida: O que caiu no lado da Washington Luiz.

Luciano Pires: Tá, não foi do Focker?

Pedro Almeida: Também teve esse, sempre teve um caos ali, aquele aeroporto é complicadíssimo. Era um dos mais complicados pelo volume de tráfego, né, já houve, na minha época já havia casos da diferença entre um pouso e decolagem pela mesma pista, com 12 segundos. Isso é muito pouco tempo.

Luciano Pires: Caramba, não dá para pensar.

Pedro Almeida: Já havia isso, é uma loucura.

Luciano Pires: E fala uma coisa, como é que é esse ambiente? É aquilo mesmo, o estresse…

Pedro Almeida: Hoje mudou muito, é muito mais automatizado, tem muito sistema de controle, mas seguramente é um estresse, porque você está controlando aí muitas aeronaves, em um aeroporto grande como esse, muitas aeronaves com 500, 600 pessoas dentro. Então, é bem difícil. E as condições do tempo, ainda não dá, assim, os aviões são mais bem preparados, mas as condições do tempo você não consegue prever tudo. Você vê o que aconteceu agora a pouco no Sul do país, né?

Luciano Pires: Sim.

Pedro Almeida: Com todos os nossos sistemas, a gente não conseguiu evitar, prever uma tragédia daquele tamanho. Então, ainda é arriscado. A questão com o voo é o seguinte, há pelo menos 10 sistemas de proteção de alarmes que precisa que todos eles falhem para que aconteça uma tragédia. Então, pode ser que alguém desligue um sistema ou outro, mas são 10 sistemas. Então, é ainda bastante seguro. Mas, o nível de tensão é imenso.

Luciano Pires: Pois é, é que acidente aéreo é uma coisa espetaculosa, então se você for olhar o índice, eu corro muito mais risco indo de automóvel para Bauru, do que voando de avião para lá e para cá. Mas ninguém quer saber disso, porque é tão espetaculosa… meu pai fala uma coisa, eu falo pai, todo dia, você acha que o dia que você vai estar dentro do avião vai ser o dia que o avião vai cair? Ele fala, não, pode ser que seja o dia do piloto.

Pedro Almeida: E para quem acontece, é 100%.

Luciano Pires: Pois é, que loucura. Meu caro, mas e aí, você ficou ali algum tempo e depois?

Pedro Almeida: Fiquei ali tempo mínimo, quando você faz uma escola militar, ali é uma escola militar que eu fiz em Guaratinguetá, então eu entro com 16, saio com 18, formado sargento, especialista em telecomunicações. Descobri esses dias aí, agora a gente faz as reuniões anuais da turma, né, todo ano a gente faz uma reunião em um lugar, esse ano foi em São José dos Campos, e que minha especialidade 10 anos depois que eu saí foi dissolvida, né, virou… porque a tecnologia melhorou, então não havia tanta necessidade.

Luciano Pires: E eu acho que agora, daqui a pouquinho, a inteligência artificial vai fazer isso com o pé nas costas.

Pedro Almeida: É, vai ser…

Luciano Pires: Vai tirar avião do chão, vai botar avião no chão, e um homem vai estar lá dentro só para…

Pedro Almeida: O pouso e decolagem já pode ser feito muito assim, tem todas as guias, que é só não errar as guias. Se o carro já consegue fazer isso sozinho. Eu fiquei, quando você se forma em uma escola dessas, você então assim, está usando o dinheiro público, você fez concurso, tudo, mas passou, e tem então obrigação de trabalhar pelo menos por 5 anos. E foi exatamente o tempo que eu fiquei, porque eu já depois de formado, eu percebi que os meus horizontes em São Paulo se abriram, e aí eu vou fazer, vou estudar, vou fazer outras coisas. Naquela época o marketing estava surgindo no mundo e eu acho que no Brasil, não havia nem escolas disso. Tudo que eu aprendi naquela época de Marketing, foi com livros importados. Você lia, estava lendo os grandes nomes do marketing no mundo, que ainda são importantes hoje, mas que estavam desvendando para a gente aqui no Brasil também isso, e aí eu vou trabalhar né, primeiro em uma instituição de comunicação, e depois eu entro efetivamente no mercado editorial trabalhando exatamente como um diretor de marketing dentro de uma editora. E aí de diretor de marketing para editor, foi um pulo, porque editor são áreas muito, tem semelhanças, porque o editor ele está sempre… editor está em todas as profissões.

Luciano Pires: Eu levei anos para conseguir incorporar a ideia de que eu sou editor, e imaginar que o Steve Jobs era um editor. Que pegava peças, editava, juntava e fazia uma coisa melhor.

Pedro Almeida: Ele chegou a um público, chegou necessidade e preparou. Um cozinheiro é um editor.

Luciano Pires: Editor de comida.

Pedro Almeida: É, ele entende os sabores, entende o público, paladar. Então, eu comecei a levar projetos, como diretor de marketing, levar projetos. Puts, eu acho que isso aqui é interessante, ainda não tem nada parecido, isso tem algum diferencial, e foi dando certo, e o editor nasce nesse momento assim, editor de livros, né?

Luciano Pires: Sim. Mas já trabalhando em editora?

Pedro Almeida: Já trabalhando em editora.

Luciano Pires: O período anterior, você passou, foi o que você falou, você esteve na revista Visão?

Pedro Almeida: Não, não. Eu trabalhei como diretor editorial em uma ONG LBV, foi por um período, e aí cuidei de livros, revistas, editorial, departamento de tradução, material que você mandava traduzir para “trocentas” línguas para a ONU, que se fazia muito. Mas a parte de revista, já estava me aliando ali ao campo editorial mesmo. E aí eu, quando eu saio, eu vou trabalhar em uma editora como diretor de marketing, e aí foi um pulo, eu diria que seria minha estreia mesmo no mercado de trade. Trade é o mercado, vamos dizer assim, real, não é o mercado de governo, que o mercado de governo você editor edita para o governo, e não é o que eu fazia antes, porque eu estava editando para uma instituição. Aí eu estou editando para o público, é aquela iniciativa mesmo que você está conversando, tentando entender o público leitor e conversando com ele.

Luciano Pires: Que ano que foi isso aí, você lembra?

Pedro Almeida: Isso, 1998.

Luciano Pires: 1998, pré bolha da internet, pré bug do ano 2000, mas 98 já o mercado editorial brasileiro, já não era o que era nos anos 80.

Pedro Almeida: Não, já tinha mudado muito. Acho que foi o período que começaram a sair, existir as listas mais vendidos, e elas meio que orientavam um pouco o mercado. Nós estávamos vivendo ali naquele momento, um grande boom do esoterismo. Paulo Coelho vai ascender nesse momento, aí todo mundo está querendo encontrar os outros nichos ligados a isso, porque a gente vive de ciclos.

Luciano Pires: Você é do ramo, evidentemente você sabe disso. Mas, eu li outro dia essa história de como é que o Paulo Coelho explode, porque eu estava interessado, falei deixa eu entender a fórmula desses caras que vende muito, como é que funciona. E a história do Paulo Coelho é sensacional, porque ele escreveu o livro dele, O Diário de um Mago, lançou por uma editora pequenininha lá no Rio Grande do Sul, não aconteceu absolutamente nada com o livro, e ele conta que em algum momento o editor ligou para ele, e falou, “cara, esquece, não é a sua praia, vai fazer outra coisa”. E aí tempo depois, não sei se foi questão de anos, 2 anos depois, uma coisa assim, ele muda o livro para uma outra editora, e ali acontece alguma coisa e vira o Paulo Coelho que nós conhecemos hoje. É isso aí?

Pedro Almeida: Assim, essas histórias assim, elas toda hora elas são um pouco modificadas. Eu não acompanhei tanto, eu já entendi quando eu chego e pensando mesmo como editor, vejo um movimento acontecendo. A gente estava… tem uma parte também que é nesse momento, e eu não sabia assim explicar de forma ampla, mas, nós estávamos vivendo um momento que foi uma febre de esoterismo em tudo, não sei se você vai lembrar, todo mundo falava de anjos, duendes, gnomos. Havia uma rede chamada Além da Lenda, lembra disso?

Luciano Pires: Lembro.

Pedro Almeida: Todo o shopping tinha as lojinhas de incenso, as modas de religiões orientas estavam assim… as terapias orientais, era feng shui, era massoterapia, era shiatsu, todas essas coisas. Não é desrespeitoso o que eu vou falar aqui não, que a gente pode dizer assim, um pouco exotéricas, estava muito alta. Então é uma busca espiritual das pessoas que estava levando para isso. Quando Paulo Coelho surge, eu mesmo ficava tentando como categorizar ele, porque as pessoas olhavam para Paulo Coelho, para os livros dele, O Alquimista principalmente, e pensava que ali era um livro de autoajuda e não era um livro de autoajuda. E assim, não existia esse gênero, porque ele não era um livro de autoajuda, era uma ficção em que as pessoas tinham uma noção de que estavam aprendendo alguma coisa com ela. Eu passei a chamar no ambiente privado de ficção de autoajuda. Houve outras pessoas que fizeram isso no passado, mas Paulo Coelho transformou, criou histórias de ficção que as pessoas achavam que estavam aprendendo algumas lições de vida. E isso impulsionou. Então, eu penso que foi o momento que não se controla, não foi uma mudança de casa editorial, foi o momento. Eu já vivi outras fases assim de ver autores que eu lancei em um momento e outro, e por causa do momento aconteceu. Não foi um movimento dele especificamente, nem da própria editora.

Luciano Pires: Eu entrevistei o Leandro Narloch logo que o livro dele explodiu, o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil.

Pedro Almeida: Eu estava nessa editora.

Luciano Pires: Você estava nessa editora, Leya.

Pedro Almeida: Leya.

Luciano Pires: Era Leya, isso. E ele contou para mim, eu sentei com ele e falei, cara, me dá o caminho das pedras, em uma entrevista, está até aí gravado, ele já tem no Café Brasil. O que que você fez? Ele falou, “cara, eu trabalhava na mídia, na Exame, na Veja, e assim que eu me afastei para fazer meu livro falei, pô, conheço todo mundo aqui e vou fazer um barulho gigantesco. Escrevi o livro, mandei para uma editora, o editor viu, achou que estava muito sério, eu levei de volta e reescrevi o livro com mais humor, com mais pegada, e aí esse amigo meu editor saiu daquela editora e foi para uma editora nova chamada Leya. E aí me chamou lá. Chamou, eu fui lá, fechamos o esquema, lancei o livro e não aconteceu absolutamente nada”. Ele falou, “bicho, 2 meses depois, 3 meses depois, eu chateado, com meus amigos na Veja, não aconteceu nada, o livro não vendia. De repente, numa mesma semana, sem ter nada, do nada”, eu acho que é o Rui Costa, não… como que é? O que escreveu o livro Chateaubriant? Rui Castro, o rui Castro pega e faz uma notinha ou no jornal do Brasil, ou no O Globo no Rio de Janeiro, faz uma notinha e na mesma semana o outro que é o letrista das músicas do Lulu Santos, “nada do que foi será…”, esqueci também. Bom, ele publica uma notinha também, e sai uma notinha, e por um acaso, eu não sei de onde, não sei por onde, saíram 2 notinhas falando que o livro era legal. Cara, ali a coisa explode, o livro começa a vender e não para mais, e vira um fenômeno. Se você perguntar para mim o porquê, eu não tenho a menor ideia. Quer dizer, isso que você falou é interessante, não é a mudança da casa editorial, é um conjunto de regras, alinhou os planetas ali e deu certo.

Pedro Almeida: O que Narloch fez, inclusive um dos livros que eu trouxe para você hoje, foi ele quem me indiciou para publicar. Eu penso que assim, havia um momento, eu não sei até que ponto o Narloch tinha consciência disso, porque a gente teve durante muito tempo uma crítica, aquela revisão histórica que havia pelo menos na minha adolescência, sobre Tiradentes realmente fez aquilo tudo, havia uma revisão histórica de vários fatos do país, aquela história do grito do Ipiranga, então houve isso. E o que o Narloch fez, foi assim, ele pegou um momento que eu estive, vou dar um passo atrás, eu estive uns anos antes em um movimento que eu estava na W11 Francis, com o Wagner Carelli, e que lançamos lá o Stupid White Men, do Michael Moore. Então naquele momento ainda não havia uma predominância de uma crítica da esquerda à direita, e o Michael Moore fez isso com Tiros em Columbine, ganhou, então foi o auge. Quando vai acontecer o Narloch, é mais ou menos 2010, então passaram-se aí 8 anos, a crítica já estava virando para começar a fazer uma revisão de toda a idolatria que tinha sobre Che Guevara, Zumbi, e o Narloch pegou isso e colocou em um livro simples, prático, divertido, essa ideia que foi dada a ele funcionou muito bem, e foi um estouro. Esse é o tipo de fenômeno que jamais, ninguém consegue repetir se quiser fazer. Eu lembro de um autor que eu público, Jacob Petry, que público já há uns 15 anos ou mais, e aí ele conheceu aquela autora do Comer, Rezar e Amar. Me falha o nome agora. E aí ela publicou outros livros, eu mesmo já avaliei livro dela, e ela reconhece que ela jamais conseguirá repetir aquele feito, porque não dependeu dela. Foi um livro interessante, em um momento certo. É uma parte que a gente chama, eu costumo chamar quando eu dava aulas, de o imponderável, quando todas as coisas se alinham e funcionam.

Luciano Pires: Eu tenho visto uma coisa muito parecida, fazendo um paralelo agora aqui, com esse mundo do digital. Tudo o que está acontecendo no digital aí, e eu tenho feito algumas experiências, lançamento de curso, aquela coisa toda, você não consegue explicar. E quando consegue, é conversa mole. Como era conversa mole das agências de publicidade antigamente, eu vou fazer campanha, a campanha vendeu isso. Cara, é conversa mole, se deu certo, deu por causa… e se der errado, o que aconteceu? Ninguém sabe. Então, tem essa coisa mesmo do… o elemento que o pessoal costuma chamar de sorte, a tal da sorte. Então, o livro pode ser espetacular, em todo lado, cantor, música, filme. Tem filmes espetaculares que não acontece nada com o filme, como é que você explica o filme não rodar? E eu acho que com o livro, é mais dramático ainda, porque o livro tem uma coisa interessante que é a quantidade de lançamentos é um negócio brutal. Então, eu não sei como estão os números hoje, vou te chutar um número e você que está no ramo me diz aí. Mas, da última vez que eu olhei, era uma coisa assim, eram 90 títulos por semana, uma coisa assim, até mais que isso.

Pedro Almeida: É bem mais que isso.

Luciano Pires: É muito mais que isso.

Pedro Almeida: Agora, assim, exatamente nesse momento, quando eu digo nesse momento, estou falando dos últimos 3 meses, todas as editoras deram uma boa de uma freada em números de lançamentos. Livro é uma coisa interessante, até ingrata, porque cada livro é um. O cara está começando do zero. Não é como você lançar a pasta de dente, e a pasta de dente com limão. Não, continua sendo pasta de dente. Cada livro você tem que fazer uma comunicação muito específica. Então lançar muitos títulos no momento em que o mercado não está aquecido é complicado. Mas este ano mesmo, por exemplo assim, eu sei de uma editora, vou falar dela bem, Alta Books, está publicando 400 títulos, ela, uma única editora publicando mais de 400 títulos esse ano.

Luciano Pires: No ano? Isso é mais de 1 título de livro por dia.

Pedro Almeida: É.

Luciano Pires: Essa é uma.

Pedro Almeida: É uma.

Luciano Pires: Qual é o número que você faria hoje por semana, o que que é?

Pedro Almeida: Não tenho esse…

Luciano Pires: Depois eu te conto porque que eu estou falando por semana.

Pedro Almeida: Tá bom. Olha, nós chegamos esse ano, minha editora chegou esse ano a publicar, foi o mês que a gente mais publicou, publicamos 11 títulos num mês.

Luciano Pires: No mês, a sua editora?

Pedro Almeida: A minha editora. Então assim, eu diria que a gente pode contar aí, pelo menos, com o dobro desse número que você está falando.

Luciano Pires: 180. Eu vou te contar porque que eu estou falando. Quando…

Pedro Almeida: Só para um número concreto, o número de SBN’s, para quem não sabe SBN é aquele selinho que tem lá…

Luciano Pires: É o RG do livro.

Pedro Almeida: É o RG do livro. No ano passado, foram 141 mil.

Luciano Pires: Caramba. Tá certo, aí envolve tudo, reedição, mudança.

Pedro Almeida: É mais… reedição, ela não ganha SBN, é só quando você faz o livro do zero.

Luciano Pires: Deixa eu te contar porque que eu perguntei isso para você. Quando eu lancei o meu Brasileiros Pocotó, foi o meu segundo livro, o primeiro foi o Meu Everest, lancei pelo esquema normal, editora, tudo como tem que ser no mercado, e ali eu desbundei com o mercado.

Pedro Almeida: Foi a editora Gente?

Luciano Pires: Não, na época foi a Geração.

Pedro Almeida: Eu me lembro de todos os detalhes.

Luciano Pires: Lancei em uma editora, só que eu era um cara de marketing cara, então eu saio da empresa e monto um plano de marketing para lançar um livro, e vou lá na editora, junto os caras e vou agir com eles da mesma forma que eu agia no mercado. Então chego lá, senta todo mundo, reúne a equipe todinha, então aqui está o plano de marketing. Para livreiros, vai ser esse approach, para o mercado esse approach, e tem uma cara de autoajuda para esse aqui. Ali é uma cara de aventura, aquilo é um diário, cara, eu fiz um puta de um projeto e falei, cara, eu montei um projeto para vender 30 mil livros.

Pedro Almeida: Naquela época vender 3 mil livros era best seller.

Luciano Pires: Eu, 30 mil eu queria vender. E os caras me olhando com aquela cara, quem que é esse mané que chega aqui sem saber nada? Eu, vamos lá, então vamos embora. E aí entrei com a minha máquina toda, vou fazer, e comecei a notar que não tinha reação. Ué, mas como assim? As coisas não acontecem, não dava. Aí pinta uma feira do livro, pô, vamos na feira. Não, espera aí, não vamos não, a gente só investe se valer. Então espera um pouquinho, deixa eu botar meu livro aqui, meu livro em pé no aeroporto. Não, calma, não é bem assim, tem que falar… tem que pagar. Você compra para poder botar seu livro em pé. Como assim? Então tá bom, então vou comprar.

Pedro Almeida: No aeroporto é Lasselva.

Luciano Pires: Então vou comprar, vou botar dinheiro, eu compro. Não, não adianta, porque está tudo comprado pelas grandes editoras. Cara, e aí eu descobri que não tinha o que fazer e um belo dia eu sento com eles lá, e puto da vida, porque eu não vi o livro acontecer, e aí eu chego lá, me lembro que eu vou em uma reunião e vem um diretor deles e senta na minha frente, cara eu estou decepcionado. Ele vira para mim e fala, cara, você vendeu 6 mil livros, fica tranquilo, você está muito bem, seu livro é um best seller. Eu, o que? 6 mil? Eu quero vender 30 (mil). Bom, aí eu vi que não ia rolar, não tinha como, só haveria investimento no livro se ele começasse a vender. E ele só venderia, se tivesse investimento. Bom, aí eu desbundei. Na minha segunda rodada foi o Brasileiros Pocotó. Aí eu lanço de forma independente, por uma editora que nunca lançou livro, Carolina Toledo na Rádio Nova Brasil, e o livro é lançado e começa aquela puta dificuldade também. Eu fiz um barulho, vendeu 18 mil exemplares, foi uma coisa legal. Só que chegou em um ponto que para um livro continuar, tinha que ter uma editora, nós não íamos fazer.

Pedro Almeida: A distribuição.

Luciano Pires: Aí eu pego o livro, levei para a Panda. A Panda pega o livro, e aí eu me lembro que nesse processo antes de eu levar para a Panda, eu pego o livro e vou visitar distribuidor de livro. E fui parar lá cara, não sei onde que é, Pari, Penha, não sei que lado que é aquilo, do outro lado da marginal do Tietê, numa distribuidora grande, que era uma mulher que era a dona da distribuidora.

Pedro Almeida: Eu sei quem é, mas não lembro o nome. Pode ser Cleusa, não?

Luciano Pires: Eu não vou me lembrar o nome. Eu me lembro que eu chego lá para falar com ela, entro na sala dela, sou Luciano Pires, está aqui meu livro Brasileiros Pocotó, que está na rádio. Ela pega o livro, e começa a fazer assim com o livro, capa, branca essa capa, eu olhando aquilo e falando, cara, vem cá, o que que está acontecendo? Eu estranhei, ela virou para mim e falou, dá uma olhada atrás de você. Está vendo aquela pilha ali? Tinha uma pilha de livro dessa altura. Ela falou, isso aí chegou ontem, dessa pilha que você está vendo aí, 2 vão vender, o resto vai ficar tudo para trás, entendeu? E eu sou a responsável por definir qual desses, por descobrir qual vai vender. E a hora que eu olhei aquilo eu falei, ela falou que isso chegou ontem, provavelmente amanhã chega outro pacote desse, e eu fui entender o tamanho da encrenca. Com esse número que você me deu de 180 por semana, sei lá, 4 mil títulos diferentes em 1 ano, não tem nem espaço para expor, nem cabe.

Pedro Almeida: 141 mil.

Luciano Pires: 141 mil, não há espaço. Imagina que você é dono de uma livraria, como é que você vai votar em pé, ou vai colocar… não tem como, é fisicamente impossível lidar com uma quantidade como essa.

Pedro Almeida: O que ela fazia, eu lembro, estou tentando lembrar o nome, ela já faleceu. É uma figura do livro, foi muito importante, e a distribuidora ela, naquela época havia distribuidores, para vocês que estão ouvindo, distribuidores faziam essa peneira. Então as grandes editoras vendiam direto para as redes, havia Siciliano, Lasselva, aquelas livrarias de aeroporto, depois da Saraiva, estou falando, mas que não existe mais, e outras menores nos estados, e as distribuidoras faziam as pequenas livrarias de pequenas cidades, pequenas livrarias das grandes cidades também. Então elas tinham que fazer uma peneira muito grande. Então ela fazia uma aposta errada, era um problema, porque a coisa do manuseio, envio, retorno do livro que não vende, era um problema. E com o livro existe isso, o que não vende tem que ser devolvido e os custos desse transito todo. Então, era bastante complicado mesmo.

Luciano Pires: Era um negócio pavoroso. Aí eu entendi o tamanho da encrenca, falei não, o livro é um negócio muito complexo, para você estar em pezinho e fazer barulho, não é qualquer um e não tem nada a ver com o conteúdo do livro.

Pedro Almeida: Porque é essa parte que a gente está falando do imponderável. A gente viu tantos livros que tinham conteúdo, minha vida inteira vi livros com conteúdo tão interessantes serem desprezados, e tão rasos serem incensados, não é que isso sempre acontece. Eu gosto de pensar, aprendi isso na prática do livro, que um livro, se um livro ele entra nessa vibe positiva, de venda, de procura, é porque ele conseguiu se comunicar bem, de alguma forma.  E obvio, ele está oferecendo alguma coisa que os outros não ofereceram. Por exemplo, vou dar um exemplo mais recente né, para o público, o próprio… a fama que aconteceu com a história do Crepúsculo. É uma história que em termos de conteúdo e de escrita, ela é fraca, ninguém faz um elogio, mas ela conseguiu captar uma geração de jovens com aquela história de amor, que entra em outros aspectos. Uma geração que foi criada como leitora, com Harry Potter. Então, você oferece 6, 8 anos depois, uma história de amor com fantasia, com a idade dos personagens, com a idade dos leitores, dos mesmos leitores. Então, aqueles leitores de 12 anos, está agora com 18, 20, e essa é uma história de amor. E aí o fato de haver poucas histórias como aquelas para esse público, faz com que aquela seja boa. Claro, um grande investimento em marketing mundial, essa força não foi criada no Brasil, então ainda faz parte do imponderável. E foi um grande sucesso.

Luciano Pires: Se você uma dica para quem estiver nos ouvindo aqui, já deve ter assistido, mas tem um filme chamado Yesterday, que conta a história daquele garoto que vai parar em uma dimensão onde não existiam Beatles, né? O livro, a permissão do filme é sensacional, o filme tem momento que são antológicos, mas é um filme médio, no fim eu falei que podia ter sido muito melhor explorado. Mas, quem assistiu ali viu, tem toda uma demonstração de como funciona a indústria musical para se fabricar um ídolo, se fabricar um sucesso. Aquela reunião dos caras de marketing, todo mundo lá para definir a capa do livro, e ele horrorizado.

Pedro Almeida: Essa parte me interessou, até uns anos atas eu tinha uma coluna que era tentar explicar esses fenômenos a partir de filmes para outros editores, e gente curiosa do mercado, porque muitos filmes retratam isso. Um deles, eu gosto de citar, é o Conversando com Deus. Não sei se você lembra desse filme?

Luciano Pires: Esse eu não vou lembrar.

Pedro Almeida: Conversando com Deus, é a história de um homeless, um mendigo em Nova Iorque, que assim, alguém que tinha uma via regular e de repente vira um mendigo, um morador de rua em Nova Iorque. E aí ele começa a escrever como se ele tivesse conversando com Deus, e ele oferece esse livro para uma pequena agência, que vai apostar nele. E nesse filme, conta a história de como ele, isso tudo aconteceu, e sobretudo a negociação de um livro excêntrico, e a briga pelas editoras. É interessantíssimo. Outro filme que conta um pouco essas coisas de bastidores, é Studio… Last Days of the Disco, acho que é isso, que tem um ambiente também editorial, aquela disputa para quem vai descobrir um novo best seller. E as coisas que as pessoas tem que fazer para tentar transformar um autor, ali tem uma história assim de um autor inexpressivo em um autor relevante.

Luciano Pires: Me fala uma coisa, você, a gente sabe que historicamente o livro no Brasil, é tratado de uma forma… é um daqueles cases que você fala, lembra da bolachinha como que é? É fresquinho porque vende muito, e vende muito porque é fresquinho, né? E o livro aqui também, ele vende pouco porque é caro, e ele é caro porque vende pouco. Logo, o brasileiro não tendo condições de comprar um livro, ele não lê. Portanto, não se forma um mercado leitor, e a gente tem aqui um país de 200 milhões de habitantes, não seis e é lenda isso, mas o Brasil tem menos livrarias do que a cidade de Buenos Aires. Então a gente chega em uma situação como essa, de fazer um business com potencial que o Brasil tem, mas com essa incapacidade que o brasileiro tem de consumir livros como deveria ser, é muito complicado.

Pedro Almeida: Eu penso assim, tem um pouco do fator econômico todo aí, mas o principal não é o preço do livro. Eu vou demonstrar porque, e aí já abrindo com a resposta que é assim, o livro não é caro, ele é desprestigiado. Uma pessoa simples, uma pessoa que ganha salário mínimo, ela é capaz de ter um smartphone, mas ela não compra um único livro. Então assim, ele não é um produto que alguém entende, ou que a nossa cultura explica que ele dá algum tipo de vantagem, ascensão ou a médio e longo prazo.

Luciano Pires: Quer dizer, um livro é mais barato do que um prato numa cidade como São Paulo. Um sujeito de classe média gasta em um restaurante para comer 1 prato, mais do que o preço de um livro.

Pedro Almeida: Normalmente, mas reclama do preço do livro.

Luciano Pires: E a comida vai.

Pedro Almeida: E a comida… assim, só que o livro, você estava contando a sua história do Everest, eu fiquei pensando numa coisa que eu sempre me preocupei, quando eu trabalhei muito com autores nacionais, é o seguinte, o livro é um produto que ele até pode ter sido escrito em 6 meses, tem gente que fala em 3 eu acho mentira, nada, é pouco tempo. Mas, mesmo que ele tenha sido escrito em 3, ele é fruto de uma vida. E aí ele tem um momento de um lançamento que se não acontece bem ele é passado para trás, ou seja, vem o lançamento do mês seguinte e come ele, e aquele trabalho que as vezes foram muitos meses, mas também o resgate em termos de pesquisa e de anotações de 10 anos, é jogado, é desprezado depois de 3 meses de lançado. Então assim, a gente não tem essa noção, essa condição assim, é muito comum ainda ver as pessoas achando que o livro é algo que tem que ser dado, que deve ser grátis, porque o valor sobre ele está perdido. Eu tenho problema de ficar misturando os assuntos, e vou pulando. Uns anos atrás eu estava tentando explicar para o nosso próprio mercado editorial, ou seja, eu estava falando dentro do mercado, uma coluna de imprensa que eu tinha, como é um erro incrível você quando tem uma população, a população está sempre brigando, nosso mercado editorial está sempre brigando pelos mesmos leitores, e não em formar leitores. E quando ele pensa em formar leitores, fazia aquelas campanhas em que colocava pessoas, se eu estou pensando em formar leitores, atrair pessoas ou mostrar a importância do livro para o futuro das pessoas, de vida, ascensão social, que seja, eu tenho que colocar algo que as atraia. E quase toda campanha que se fazia com livros, era feitas por quem? Por gente que não se comunicava com novos leitores. Até provoquei na época assim, olha, não adianta colocar Fernanda Montenegro para tentar atrair novos leitores, porque as pessoas que entendem que Fernanda Montenegro é um bom… já leem, já leem, elas já gostam de teatro, já gostam…

Luciano Pires: Está falando para convertido.

Pedro Almeida: É, isso, e a gente faz isso o tempo todo, mas a gente gosta de fazer isso. Quando eu digo a gente estou falando o mercado editorial para ele mesmo, gosta de fazer isso, a gente fica feliz com isso, e não consegue atrair. Essa ideia de que o livro é uma coisa cara vem daí também. O jovem acha que é muito tranquilo de pagar em 10 prestações um celular de R$ 900,00 u R$ 1 mil reais, mas acha muito caro um livro de R$ 30,00 ou R$ 50,00. Porque na verdade, o hábito de ler é o problema. Eu vejo, um exemplo prático, eu falei que ia demonstrar. Em 2002 eu estava trabalhando na W11 Francis, que era uma editora que publicou vários livros, e um dos filhos era Francis porque foi criado em parceria com a viúva do Paulo Francis, a Sônia Nolasco. E aí nós lançamos lá uma série de fantasia de um autor inglês, creio que seja inglês, [T Eight White], que são 5 livros, pentalogia, é isso? Não sei. Que vai dar origem a saga do Rei Arthur. Essa é uma saga acho que criada nos anos 30 ou 40, que vai inspirar aquelas sagas das As Brumas de Avalon, que a autoria é Marion Bradley Zimmer, acho que é isso, fez. Ela pegou todas as personagens do [T Wight White] e usou os femininos. Então, Marlin, ela bota Morgana, em Lancelot bota Guinevert, vai trocando, vai dando importância para os femininos. Bom, isso é algo que menos importa. Publiquei nessa época de 2002 essa saga, um livro custava em 2002, eu tinha registro disso, até print, R$ 39,90.

Luciano Pires: R$ 39,90, 2002. Não era um livro barato não.

Pedro Almeida: Isso para jovens, é uma coisa na linha token, fantasia. 10 anos depois eu estava na Larousse, e resolvi republicar o livro que estava fora de catálogo. E publiquei o livro e estava custando, a gente colocou preço de capa de R$ 29,90. R$ 10,00 a menos. Então assim, as editoras, o mercado todo, assim, teve, obvio, alguns ganhos de escala, tudo, foi permitido isso. Mas assim, o livro não se tornou mais caro, qualquer pesquisa que se faça sobre isso vai ver que não se tornou mais caro, e a gente continua falando do preço. O problema não é o preço. O problema é que a gente tem uma base de leitores muito pequena, e a gente só vê desincentivo. Outro dia estava assistindo um programa de humor, era um recorte desses shorts, desses vídeos, e era aquela Lady Kate, lembra dela? Katiuscia alguma coisa, a humorista. E aí tinha aquela coisa do ping pong, ela falou assim, tal coisa, um perfume, um livro, “não”. O livro é desprestigiado. A gente perdeu, não sei, imagino que nós somos aqui contemporâneos, na infância a mensagem que os pais davam para as crianças da minha infância, estou para fazer 53, é de que o livro era uma ferramenta de ascensão de cultua, só se extraía coisa boa dali. Então, a gente tinha essa mensagem muito clara. Eu penso que hoje a grande parte não tem essa mensagem. Nós temos um grupo de heavy users, leitores vorazes, jovens, muitos leitores vorazes, que inundam as Bienais, mas ainda é uma parcela muito pequena da população. Toda a pesquisa que se faz e se faz não sei se é ano a ano, ou a cada 2 anos, costuma dar os mesmos resultados terríveis. Nenhuma mudança, nenhuma melhora no índice de leitura. A maior parte dos livros no Brasil que é lido ou está entre os didáticos, os religiosos. Então, didáticos é assim, é meio que os livros obrigatórios, que geralmente as pessoas deixam de ler, param de ler depois que se formam. Ou vão para os técnicos, ou param de ler definitivamente, e os religiosos que são por devoção. Mas, o número de leitores nosso, e nesses relatórios sempre aponta Luciano, algo em torno de 45%, 46% de leitores. Eu acredito, e eu não estou falando eu acredito por achismo e nem nada, pela experiência desses 30 anos, que os nossos leitores não passam de 10%. Nossos leitores não são mais que esses.

Luciano Pires: Você está falando em 20 milhões de pessoas, em uma população dentro de 200 milhões…

Pedro Almeida: Sim, aquela pessoa que lê pelo menos 1 livro por ano. Os outros, estão… isso tem vários motivos que pode se discutir, a gente está tentando as mesmas políticas de fomento, da leitura há 30, 40 anos, desde a redemocratização, nada está funcionando. E a gente continua fazendo as mesmas coisas, oferecendo para criança livro que é escrito 1 século atrás, que foi criado para adulto 1 século atrás, lendo hoje para criança, com preconceitos, tentando colocar nossos gostos de adulto.

Luciano Pires: E você tem uma concorrência do livro que chega a ser até injusta. Cara, eu moleque começando a ler, a minha mãe tinha uma amiga e o marido dela tinha coleção de quadrinhos da Disney que era um negócio impensável, do número 1 do Pato Donald até… todos eles encadernados, e na sala dele. Então, eu frequentava muito lá, e ele me deixava sentar e eu nos quadrinhos, comecei a ler quadrinhos. Aí fui para o livro. Livro, tinha uma professora minha que eu fazia aula particular com ela, e ela tinha uma biblioteca maravilhosa e com tudo do Monteiro Lobato ali. E ali eu me lembro de eu chegar antes da aula, ou depois da aula, ficar sentado na sala dela lendo livro, lendo livro que era dela lá. E eu fiz viagens maravilhosas, e assinei o Clube do Livro, chegava uma caixinha para mim com livro, cara, era uma coisa de louco. E eu moleque imagina, chegar uma caixa com meu nome Senhor Luciano Pires, o livro me tornou um cidadão ali. Então a minha relação com o livro sempre foi essa coisa da aventura, eu mergulhava dentro dele, era aquela leitura que eu saía, tinha que me chamar, “Lucianinho”10 vezes, para eu poder acordar, porque eu estava enfiado dentro do livro. Mas também não tinha opção, não tinha sequer um gravador VHS, na minha época, não tinha nem um VHS ali do lado.

Pedro Almeida: As distrações que nós ganhamos nas últimas décadas, assim, são desafiadoras. Mas…

Luciano Pires: Mesmo hoje com a idade que eu tenho, cara, é difícil eu sentar para ler um livro sem a tentação desta porcaria aqui, desse celular estar do meu lado, estar no meu colo, estar do meu lado em algum lugar, e ele está vivo, ele não é um treco inerte, ele é vivo.

Pedro Almeida: Sim.

Luciano Pires: Ele vibra, dá um toquezinho, faz alguma coisa, aí eu vou ler, o bicho está lá quieto, de repente dá uma vibrada e aquilo basta para… algo importante aconteceu, pare a leitura do livro e vá para lá. Imagina, isso comigo que tenho 67 anos. Como é que um garoto de 10 anos não vai sucumbir? Pô, eu tenho um livro morto na minha mão, que é um monte de papel, que não faz nada. Na outra mão, eu tenho um aparelhinho iluminado, conversa com todo mundo, é complicado.

Pedro Almeida: Então, o livro pode estar nessas plataformas, nas plataformas digitais também. O que já se sabe é que esses equipamentos, eles dispersam bastante, mesmo para leitura. Tanto que já tem pesquisa tirando os livros digitais de sala de aula. Foi interessante ver, porque isso aconteceu, eu não lembro se é um país nórdico, eu não sei se Noruega ou Suécia, que decidiu tirar todos os livros digitais de sala de aula, porque estava se discutindo de colocar no Brasil todos os livros didáticos em formato digital. E aí se deu um breque nisso, porque precisa estar se mostrando que se perde na compreensão, no aprendizado. Eu acho que a coisa tem que ser atacada em vários pontos, não dá para demonizar nem a geração e nem a tecnologia, mas tentar atrair. Eu vejo que num caso muito específico, e aí o uso do livro em uma sala de aula, por exemplo, podia dar vários exemplos, mas assim, a gente quando se pede no vestibular, estou falando com um jovem adulto, alguém de 15 a 18 anos pelo menos, quando pede a leitura de um livro, é sempre um livro que não se comunica com a idade dele, e ainda assim a pessoa não precisa ler o livro para responder aquelas perguntas. Geralmente assim, vai perguntar de raça, religião, época, contexto social e histórico. A história se perdeu.

Luciano Pires: E a história que você está falando é a contação de história?

Pedro Almeida: A história daquele livro. Então assim, a gente fica discutindo aqui detalhes toscos, e a gente ainda… hoje acho que parou, pelo menos não tem chegado a mim, mas, durante o tempo que eu estou no mercado eu via debates em universidades de professores de literatura discutindo se Capitu tinha ou não traído Bentinho, como se fosse a coisa mais importante daquele livro. E aí você vê o problema. Se os professores estão falando, preocupados com isso, estão colocando a atenção nisso, por outro lado o livro oferecido para as crianças, não são livros para crianças. Então assim, não acho, eu sou um dos que não acredita que você enquanto está formando leitor, primeiro fica com essa obrigação de torná-lo um crítico literário. Então assim, ele tem que se tornar leitor. O que que ele precisa? Gostar da história, se envolver com a história, assim como ele se envolve com as redes sociais, ele tem que se envolver com aquilo, e não ficar procurando ali pelo em ovo, qual é a problematização que eu vou ter aqui nessa história, de raça, de religião.

Luciano Pires: Isso é muito chato.

Pedro Almeida: Então você…

Luciano Pires: Você viu o Enem agora? Cara eu tive a pachorra de dar uma olhada no Enem, e eu fiquei muito mais chocado, não me chocou a questão da doutrinação, da ideologia, o que me chocou foi a qualidade do que estava escrito ali, a qualidade, a redação da questão é péssima. O texto que os caras escolheram para analisar é pavoroso, é tudo ruim. Não tem como você olhar para aquilo e falar, pô, me deu algum prazer aqui.

Pedro Almeida: De onde que saiu essa pergunta? Eu vi um programa, um autor falando exatamente a mesma coisa. Eu concordo plenamente com você. A qualidade da pergunta, da redação da pergunta, dos termos usados que não são nem dicionarizados, ou seja, não é de uso corrente.

Luciano Pires: Como que é? Pragatização.

Pedro Almeida: Assim, a gente lê, adulto, e não sabe do que se trata. Assim, a gente tem uma noção do que ele está querendo dizer, mas estão colocando isso num exame nacional de adolescentes pelo Brasil. Eu acho um profundo desrespeito. Não à toa nós estamos com os nossos índices como dos piores do mundo, não à toa.

Luciano Pires: Você está ensinando para a molecada que leitura é isso. O que que é leitura? Leitura é isso, essa coisa pentelha, chata, não é curtição.

Pedro Almeida: Tem um ciclo que eu já identifiquei anos atrás, foi objeto de estudo meu, de como esse ciclo se consagra. Então você primeiro fica oferecendo para as crianças, uma leitura obrigatória, chata, desconectada com a realidade dela, porque sinceramente assim, está em formação o leitor? Não de Machado de Assis gente, ele está em formação. Não estou falando que o leitor formado, leitor formado tem que ter suas escolhas e universitário sobretudo. Mas, está em formação, ali no ensino básico, ensino fundamental médio, de uma leitura conectada com a realidade, porque ela aprende ali a não gostar. Ela aprende como foi no Enem, o que que o aluno faz, eu acho que isso foi bastante respeitoso, o que que eu preciso dizer aqui para passar na prova?

Luciano Pires: sim, exatamente.

Pedro Almeida: O que que eu tenho que dizer nessa redação? Aquela redação, é um absurdo, o que que eles querem ouvir? E me recorda muito uma coisa que eu explicava em cursos para autores quando eu fazia no passado, que era a diferença entre uma redação que você escreve na infância, porque você estava com o objetivo de agradar o professor, e quando você escreve um livro, que é comunicar, criar uma sentença, uma história interessante, que se conecte com muita gente.

Luciano Pires: E envolva pessoa, né? Tem uma história interessante que eu me lembro uma vez…

Pedro Almeida: Só para voltar. Parece que o Enem está no meu exemplo da infância, está infantilizando os alunos, obrigando eles a responderem exatamente o que o professor quer.

Luciano Pires: Mas é isso que eu quero pegar. Eu lembro uma vez, era um processo de seleção numa empresa, e uma questão que tinha lá que era a questão que mais barulho fez era o seguinte, eu vou te dar aqui uma pedra, uma coisa assim, você tem uma pedra na sua mão, e está aquele prédio e eu quero que com essa pedra você determine o tamanho de prédio. Que altura tem o prédio? Então tinha lá uma resposta correta que era a altura do prédio, e os candidatos iam lá responder. Então os caras, eu subo lá com um cronometro, eu jogo a pedra e cronometro o tempo que a pedra leva para cair. Não, pego uma sombra, e cada um inventava uma história toda, e tinha um número X que era a altura do prédio. E aí o cara depois conversando, bicho a gente aprovou o cara que errou a altura, porque o objetivo da pergunta nunca foi saber a altura do prédio. Eu queria entender como é que era o processo de pensamento que esse cara tinha, eu queria ver se o cara era engenhoso para tentar encontrar uma solução. Então, tem o cara que vem com uma solução maravilhosa, não achou a altura do prédio, mas só pela…

Pedro Almeida: Criatividade.

Luciano Pires: que é isso que deveria acontecer. O Enem devia trazer o que? Eu não quero tirar Machado de Assis lá de dentro, da geração, não quero que um cara escreva lá, temos um novo Machado de Assis. Não, deixa eu ver como que ele concatena a ideia, se ele tem começo, meio e fim. O português dele está meio assim, mas tá bom, o cara consegue formatar, ele conseguiu dizer o que ele pretendia, então, tem um diamante bruto aí que pode ser lapidado.

Pedro Almeida: Saber se ele é capaz de concatenar ideia, de pensar, de refletir, mesmo que seja o oposto do que os avaliadores poderiam querer. Mas isso não vai acontecer nesse Enem.

Luciano Pires: Exatamente, é porque você já ideologizou, ele é feito para doutrinação. Mas vamos voltar para o nosso esquema do livro aqui no Brasil. Bom, você montou então a Drummond.

Pedro Almeida: Isso, antes eu montei Faro, a Drummond é nossa livraria.

Luciano Pires: A editora chama-se?

Pedro Almeida: Faro Editorial.

Luciano Pires: De quando que é?

Pedro Almeida: Ela é de 2013.

Luciano Pires: Então você trouxe o mercado em…

Pedro Almeida: 93, fiquei 20 anos trabalhando para outras editoras.

Luciano Pires: Não contente em se ferrar trabalhando para os outros, você resolveu fazer a sua?

Pedro Almeida: É, então, porque teve umas coisas assim, primeiro que depois assim, eu trabalhei por muito tempo e tive alguns momentos de livros que alcançaram bastante sucesso Então, tive, quando digo sucesso, é um livro que se comunicou com muita gente, isso que me interessou sempre. Então, num momento foi Marley e Eu, em outro momento foi Nicholas Sparks, então livros que chegaram a vender… o Nicholas tinha vários títulos, Marley e Eu era um só. Marley e Eu chegou acho que a vender, um diretor da empresa me disse que já chegou a vender 10 milhões de exemplares. Nicholas Sparks ele vendia naquela época, em torno de 5 milhões por título, ele tinha uns 7 títulos. Então em algum momento falei assim, puts, eu acho que sou capaz de criar uma editora viável. Então, juntei na sociedade com o Diego Drummond, que dá nome a livraria, que ele tem uma raiz lá dos mineiros, os Drummond de Minas.

Luciano Pires: Ele tem sangue do Drummond de Andrade, tem?

Pedro Almeida: Tem. A mãe é escritora, sobrinha neta alguma coisa assim, Regina Drummond também é escritora. E já teve uma livraria com esse nome, então a Faro a gente juntou nossas expertises, ele mais na área comercial, foi CEO da Larousse, Scala, então ele tinha uma ponta e eu outra. Eu editorial, marketing, essas coisas, juntamos e criamos a Faro e temos aí há 10 anos. E na época da pandemia, a gente percebeu, eu vou falar da livraria, na época da pandemia a gente percebeu primeiro que muitas livrarias fecharam e não abriram mais. E como o Diego ele é vice-presidente da Câmara do Livro, há muitos anos, ele recebia propostas de gente assim, “olha, a livraria tal fechou no shopping tal, você não quer dar uma olhada? Porque todo shopping gosta de ter uma livraria, infelizmente não como loja ancora, mas, para ter uma livraria para ter um acervo de ofertas de produtos em cada shopping.

Luciano Pires: Mas não facilitam, né, porque o aluguel é um negócio…

Pedro Almeida: Nesse caso, ofereceram uma livraria montada, que a loja fechou, muito bonita, em São Paulo, e com aluguel até baixo. Mas quando eu, com conhecimento de mercado, saímos de lá e eu fiquei encantado, a loja estava pronta para reabrir. E a gente, nós somos editora, é um outro ramo, acha que é a mesma coisa, mas não é.

Luciano Pires: Você faz livro.

Pedro Almeida: Faço livro, mas não vendo para o público.

Luciano Pires: Sim.

Pedro Almeida: E aí nós, eu conversei com um cara que está há mais tempo no mercado de livrarias, é um cara que esteve à frente da Saraiva por muitos anos, e eu perguntei, e ele falou, aquele shopping naquela loja não tem público para livro, porque era um lugar ruim, um andar muito alto, afastado. A localização da livraria era ruim no shopping. Não à toa, fechou.

Luciano Pires: Que região que era?

Pedro Almeida: Frei Caneca. Já respondi tudo. E aí…

Luciano Pires: Movimentado.

Pedro Almeida: Movimentado, mas o local não era bom para livraria. Talvez fosse para restaurante, para outra coisa, mas para livraria não era. Isso, sabe aquela coisa que você não quer fazer negócio? Não, meu foco são selos, 5 selos para cuidar, a editora. Mas a gente falou, vamos dar uma olhada em outra coisa na região, e aí fomos circular pela região da Paulista e descobrimos que há uma loja que é originária da Livraria Cultura, estava fechada havia quase 3 anos, fechada.

Luciano Pires: Para quem não é de São Paulo, não sabe do que nós estamos falando, São Paulo tem ali o Conjunto Nacional, um prédio superfamoso na Avenida Paulista, e a parte debaixo dele parece até um shopping, que na verdade a grande entrada do prédio é como se fosse um shopping, e tem várias lojas lá dentro. E a Cultura fez um complexo de lojas, então a Cultura tinha lá dentro acho que 3 ou 4 livrarias, né? Que eram separadas, mas eram todas Cultura.

Pedro Almeida: E aí quando ela abriu a livraria grande, ela abandonou essa livraria original que era menor, não havia necessidade de ter tudo. E nos últimos anos, ela entrou em recuperação judicial e estava havendo vários problemas de distribuição. Nós mesmos já tínhamos parado de distribuir, porque você sabe, esse processo de recuperação judicial a empresa que entra, ela dá calote. A Saraiva fez isso, a Cultura fez isso também. Então depois do terceiro calote, a gente parou de distribuir. Então várias editoras não estavam mais distribuindo livros para a Livraria Cultura. Então foi o que a gente observa ali, poxa, nós queremos estar aqui, nós não temos outro lugar, São Paulo perdeu essa praça de lançamentos, então resolvemos correr o risco e abrir uma livraria. Sabe aquela coisa, comprei um zoológico, aquele filme, abrimos uma livraria, decidimos. Não foi uma coisa tão impensada assim, nós buscamos um parceiro que é o Vitor Tavares e os sócios que são do grupo Loyola de livrarias, ou seja, eles já têm expertise, já são distribuidores de mil editoras. Então, a gente estava começando já com alguém que já tinha essa expertise. Apenas era um branding novo, a Loyola, as livrarias apesar de ter todo tipo de livro, ela tem muito foco no público católico. São 5 livrarias em São Paulo, acho que 1 em Campinas, e 4 em São Paulo. E aí a Drummond nasceu com a proposta de ser uma livraria de interesse geral, sem nenhum viés. Assim, nosso interesse, isso eu aprendi lá nos anos 90 trabalhando com uma pessoa ligada à Livraria Cultura, que assim, que a livraria, a função dela é oferecer tudo o que for permitido, e o leitor quem tem que decidir o que vai ler. A vezes fala assim, tem um banner lá de um autor de esquerda. Eu falo assim, sim, no mês que vem vai ter o seu, porque não somos uma livraria ideológica. Nós vamos oferecer tudo, todos os públicos, e não estamos ali fazendo curadoria, ou ser uma espécie sem poder dizer tudo, editor da sociedade. Não seremos editores da sociedade, né?

Luciano Pires: Sim.

Pedro Almeida: Nós vamos oferecer livro, todo livro que puder, tiver leitores e serão livros que tem que dar liberdade, liberdade para leitura, liberdade para cultura, e essa é a nossa função ali e abrimos esse…

Luciano Pires: E num momento assim que, se você perguntasse para mim qual é o investimento que eu não devo fazer, eu diria livraria. Porque eu vi um comentário essa semana, alguém comentando de que estava sendo lançado um livro em X lugar e o cara dizendo o seguinte, cara, vai custar mais caro para mim ir lá e voltar para a minha casa, do que comprar o livro. O livro é mais barato que a ida e volta para esse lugar. Eu lancei meu último livro mais recente, lancei na travessa do Shopping Iguatemi. Cara, o cara escrevendo para mim, bicho, eu não vou, é muito caro o estacionamento lá, é complicado. Mas o que eu quero dizer, você pega uma cidade como São Paulo, é muito difícil, logisticamente é um terror. É claro que você está num ponto legal, porque aquele ponto é um ponto nervoso da Paulista, tem muita gente passando lá.

Pedro Almeida: Tem acesso de metro, coisa que facilita muito.

Luciano Pires: Mas isso não era um problema antigamente. Antigamente o ir à livraria, tanto que quando a Cultura abriu aquela livraria, aquilo era uma Disney dos livros, aquilo era maravilhoso, aquele dragão, aquilo era lindo. E era um momento, estar ali dentro e ali consumir naquele café caríssimo que ele tinha lá, mas estar ali, sentar naquele chão, tinha um lance diferente ali, que quando você perde aquilo, quem nunca vivenciou aquilo vai falar bobagem, não preciso disso, compro pela Amazon e chega na minha casa.

Pedro Almeida: Não tem a mesma energia.

Luciano Pires: Foi-se toda a mágica em torno do encontrar o livro. Aliás, eu falei diferente, eu entro naquela livraria e o livro me acha, entendeu? E aí ele me chama, eu vou lá e volto para casa feliz.

Pedro Almeida: Tem uma coisa Luciano, que é bem interessante, a gente percebeu isso e foi um dos motivos de eu abrir, a gente nunca imaginou que seria o negócio dos sonhos. Apesar de a gente achar que é o ponto dos sonhos, mas a livraria física é muito necessária, porque eu já tinha percebido isso antes, foi objeto de artigos dentro do mercado que eu fiz no passado, toda hora falava assim Magalu entrou para vender livros. Assim, as livrarias .com, elas facilitam a vida de muita gente, mas elas não promovem o livro. Elas só vendem aquilo que você já sabe que quer. E como que você sabe que quer? Uma curadoria, como você faz, que envia para os seus seguidores, e as pessoas podem decidir onde vai comprar, e quando você frequenta uma livraria. Não é raro uma pessoa chegar em uma livraria, olhar um livro e depois comprar na Amazon. Mas ela tocou ali, se não tiver esse momento do passeio, de você ir na sessão, eu gosto de história, você vê as novidades, nós temos 40 mil títulos ali, você precisa tocar nele, descobrir se ele… se a capa é legal, se o papel é bom, se a leitura é boa, se o texto agrada. Isso não vai acontecer em uma .com.

Luciano Pires: Você está tocando em um assunto, outro dia eu tive aqui um LíderCast aqui, onde eu estava falando mais ou menos isso aí, fazendo um comparativo com a gente ouvindo música nos anos 70, 80 e 90, que o comprar o bolachão com aquela capa maravilhosa, abrir, tirar lá de dentro com todo o cuidado, botar no toca-discos, ir lá com a agulha com o maior cuidado, terminou o lado A, botar lado B, tinha todo um ritual em torno disso aí, que cara, quando você estava falando para mim o negócio do livro eletrônico, tudo mais, eu comparo o seguinte aqui. Eu falo para você, vamos falar sobre sexo? Vamos? Cara, eu quero trepar com o livro, entendeu? E o que que significa isso? Eu quero pegar ele na minha mão, eu quero sentir o peso do bichinho, eu quero pegá-lo, na hora que eu segurá-lo, a proporção do tamanho com a largura dele, aquilo tem uma beleza que eu só sinto pegando nele. E a hora que eu começo a folhear, e vou passando aquelas páginas, e de repente tem uma ilustração maravilhosa lá dentro. Aí eu viro e sinto o cheio do livro na minha mão. Quer dizer, vou carregar ele comigo, ele está encostado no meu corpo. Tem todo um ritual em torno disso aí, que você usa visão, tato, você vai ouvir a página virando, tem audição ali, olfato está ali, é quase… só falta comer o livro, entendeu? Só faltou comer o livro. Então tido isso se perde, como se perdeu com o disco. Qual é a graça que se tem você comprar a música no Itunes, baixar a música aqui.

Pedro Almeida: É o que você disse, eles não saberão.

Luciano Pires: Exatamente, porque não viveram aquela… aí o pessoal, ah, você está sendo antigo. O mundo muda. Eu sei que muda cara, mas se me permita dizer que a gente perdeu muito, porque quando, você comentou um negócio aqui interessante. Cara, se eu for direto ao ponto, eu perdi tudo o que passou pelo caminho. Era eu consultando a Barsa, consultando a Conhecer para encontrar uma coisa e sendo obrigado a passar pelo mundo inteiro ali, contra chegar no Google, digitar no Google e aparecer na cara o que eu quero ali. Então, tem 2 momentos diferentes, eu não vou dizer que um é melhor que o outro. Eu vou dizer que esse aqui me estimulava de uma forma que o Google não estimula, o Google vai direto ao ponto. É a mesma coisa que eu estou falando o PodCast que eu fiz, Café com Leite, o PodCast para público infanto-juvenil, em áudio, e a gente se recusa a ir para vídeo. Cara, mas por que? Porque o áudio você viaja, é que nem livro, estou lendo e estou viajando. No vídeo não, o vídeo eu estou inerte sentado na frente dele e assistindo. Eu não posso nem fazer outra coisa, porque se eu fizer e tirar o olhar de lá, eu perco o que está acontecendo. Com o áudio, não. Então, essas nuances todas vão acontecer dentro de uma livraria.

Pedro Almeida: Sim. E é isso que eu estava comentando assim. Às vezes você tem uma sessão, você pode inclusive descobrir né, você vai descobrir coisas que talvez ninguém do seu círculo vai te apresentar livros, isso acontece, esses dias teve um autor que eu publico que foi na livraria, ele é diplomata de fora e aí ele falou, nossa, descobri 3 livros aqui que eu não sabia que existiam. E é um rato de livraria, quando existia, então hoje ele só está vendo fora, e a gente falava tanto de dar oportunidade, abrir a diversidade, e estamos perdendo isso. E a gente perde isso, outro dia eu ouvi um comentário muito bom, porque desculpe, é o jeito de falar, mas assim, as vezes o bom dessas gerações novas é que elas já dão a resposta, e ela falou assim, eu vou esperar a promoção do livro tal para poder comprar na .com na hora da Black Friday. Mas se não fosse essa livraria, eu não teria conhecido esse livro. Ele já mostra o problema e a coisa. Então assim, isso já vem acontecendo um movimento, no Brasil nós estamos hoje, quando digo estamos é o mercado profissional, está discutindo muito os estabelecimentos e algumas regras que foram estabelecidas no passado em alguns países, que para preservar a existência de livrarias, como espaço de descoberta. Sem elas, olha gente, vocês vão ficar na lista dos mais vendidos, e não vão sair dela. E a lista dos mais vendidos assim, nem sempre elas refletem exatamente os mais vendidos, porque há muita compra corporativa, muito outro tipo de compras por seguidores, que necessariamente não estão lendo nem avaliando o livro. Isso acontece, vocês têm que fazer o filtro.

Luciano Pires: Mas você está falando uma mudança no mercado, eu fui lançar o meu livro mais recente que é o Merdades e Ventiras né, e o meu anterior tinha sido o Cafezinho, bom, faz uns 3 ou 4 anos que eu tinha lançado. Fui lançar o novo, falei lá vou eu, peguei o planejamento, sentei para fazer o planejamento, aí eu comecei a olhar e falei, espera um pouquinho cara, não tem mais Jô Soares para eu ir lá falar do meu livro. Aliás, não tem lugar nenhum na televisão que fale de livro, não existe mais. Bom, tá bom.

Pedro Almeida: Lembra que eu estava falando do desprestígio?

Luciano Pires: Sim.

Pedro Almeida: Está aí.

Luciano Pires: Não tem mais, bom, legal. Então, que rede de livrarias que eu vou trabalhar? Mas as redes estão acabando, não tem mais Saraiva…

Pedro Almeida: Acabou Lasselva, acabou Siciliano, não tem mais Cultura, não tem mais Saraiva.

Luciano Pires: Fenac, foi tudo para o saco. Vai acabar as redes também. Então, não dá para trabalhar rede. Então espera aí, deixa eu conversar com assessorias de imprensa, e liguei para 2 ou 3. Teve uma delas que foi assim antológico, eu conversando com 2 senhoras que são donas de assessoria, vamos lançar teu livro. Cara, eu me senti em 1822, não é nada mais disso.

Pedro Almeida: Só pela descrição, de São Paulo a assessoria?

Luciano Pires: Eu acho que era cara. Mas eu falei, não é mais isso, dá vontade de falar, dona, não é mais assim. Não adianta você acionar, o jornalista nem vai abrir, mudou, não é mais isso. E aí eu encontrei, cara, não tem o que fazer. Eu vou ter que encontrar algum influencer que fala para uma bolha, que por mais que seja influencer, se for influencer de 11 milhões de seguidores, esse público não é de livro.

Pedro Almeida: Não.

Luciano Pires: Não é de livro. Se for influencer de livro, é uma bolhinha, ele vai falar para meia dúzia. Então eu vou ter que pegar 4, 5, 7, mudou completamente Pedro. Se eu repetir o que eu fiz lá atrás para lançar livro, hoje em dia nem tem mais como fazer chegar na frente.

Pedro Almeida: Não funciona, não tem funcionado. Assim, e essa parte de quem está influenciando a compra de livros, mudou demais. A gente por exemplo, a gente nunca teve no Brasil uma imprensa que falasse de outro livro que não fosse aquele livro que agrada exclusivamente as pessoas de humanas. A gente nunca teve uma imprensa de livros que falasse de outro livro. E a gente tem isso no restante do mundo, revistas de livros, que falam de qualquer assunto, que fazem resenha de qualquer assunto. E aí eu vou me estender, então basicamente nossos cadernos culturais, se prendiam aos livros que eu chamo de altamente literários. E aí por exemplo, um livro de ficção que não é altamente literário, ele nem era considerada. Então, nós temos assim, muita gente fala assim, ah, mas a gente só consome estrangeiro. Por que? Porque o mercado editorial, a imprensa cultural e o público, esse combinado, e não vou falar quem veio primeiro, sempre desprezou os brasileiros que não publicavam desse tipo de literatura que agrada a imprensa cultural brasileira, que é a tal da literatura de proposta. A gente viveu desde os anos 60 para cá, principalmente, todo livro para ele ser bem recebido pela imprensa, ele tinha que ser algo assim, se comparado a música, seria algo como o tropicalismo. Ele tinha que ter uma mensagem.

Luciano Pires: Tinha que ter um movimento, uma intenção de mudar o mundo, de…

Pedro Almeida: Um movimento revolucionário, de mudar o mundo, de falar sobre um problema social, isso contaminou basicamente o nosso cinema, você vê o nosso cinema, ele é isso que fala para dentro e não consegue ir para fora porque só fala dessas mesmas coisas. A gente vive nesse circulo que vive se reproduzindo, e não consegue reproduzir nada além disso. E quando alguém sai disso, a gente reclama. Quando Paulo Coelho surgiu nos anos 90, final dos anos 90 e com esse sucesso no mundo, o que que a gente fez? O que que nossa imprensa cultural fez?

Luciano Pires: Detonou.

Pedro Almeida: Detonou ele. Hoje está todo mundo aí, hoje que eu digo, 10 anos atrás, bajulando ele porque ele se consagrou no mundo. Mas, nós tivemos muita vergonha dele, quando digo nós, nossa imprensa cultural falou muito mal dele, tentou destruí-lo de todas as formas. Eu me recordo de um episódio muito significativo do Roda Viva, que quem era entrevistado era José Mindlin, e alguém fez uma pergunta assim, vários jornalistas falando assim, o que que você acha da literatura de Paulo Coelho? E o Mindlin falou, e acho que todo mundo pode ter mesmo gênio como o Mindlin pode errar, eu acho que ele errou, ele falou assim, “Paulo Coelho está para a literatura assim como o bispo Macedo para a religião”. E todos os comentaristas riram. Você acha o que? Quando eu estava lá começando na carreira do livro, fazendo a minha faculdade de letras, todo mundo rindo de Paulo Coelho, se eu gostasse de Paulo Coelho o que que eu faria? Jamais assumiria isso para alguém, eu iria aprender a ter vergonha de ler um livro de Paulo Coelho. Então assim, a nossa lide cultural estava insinuando isso, e foram 2 décadas ensinando a gente a ter vergonha da literatura de entretenimento, da literatura de início, da literatura de formação. Você falou que começou a ler livros depois de quadrinhos. Eu fui assim, com Monica eu já vi várias pessoas do meu meio falando assim, ninguém vira leitor lendo quadrinhos. Claro que vira. Vou tentar evitar uma palavra idiota, claro que vira. Você pode não ter virado, e o senhor pode não assumir. Mas o que mais a gente vê é gente que percorreu até um caminho de literatura de formação com coisas mais simples e depois renega, porque para entrar nessa bolha, fica renegando toda essa cultura de acesso que é importante, dessa literatura de acesso. E fica achando que vai dizer que sempre leu Proust, [Paud] e outros.

Luciano Pires: Eu faço um paralelo, eu já escrevi sobre isso, tá, com a minha relação com a música, falei cara, eu saio de Bauru e chego em São Paulo curtindo Benito de Paula. E eu me lembro que eu cheguei no Mackenzie, sentei com uns amigos lá, um dia na hora do almoço, eu idiota me atrevo a falar de Benito de Paula e quase fui destruído pela elite onde eu estava lá, porque onde já se viu gostar de Benito de Paula? E eu não acreditava, os caras tocando Milton Nascimento, e umas músicas ininteligíveis para mim, cara, que ciosa, né? Mas a convivência, eu fui aprendendo, e de repente estava eu lá curtindo aquela música, curtindo música popular brasileira é legal, aí eu vou para rock e do rock eu cresço mais dentro do rock, chego no jazz, fico alucinado. Meus anos 90, eu consumi o que tinha de jazz, você olha em volta aqui. E aí cheguei na música clássica, e da clássica eu fui para ópera, entendeu? Então dá para ter uma curva de aprendizado. Mas, começou no Benito de Paula.

Pedro Almeida: E desde que se tenha liberdade, isso é importante.

Luciano Pires: Sim, mas começou lá embaixo, e aí você vem… não dá para começar aqui em cima. Se eu tivesse, tentaram me começar na ópera, eu ia ficar horrorizado, o que que é essa mulher gritando? Que saco isso aí. Eu quero dar um balancinho ali. Mas, teve uma construção ali, né? Livro é igual, mesma coisa.

Pedro Almeida: E tem ponto de partida, e a minha crítica aí a esse período que houve isso tudo, isso se permanece de outras formas, está sempre se recriando, é esse preconceito. Eu estou falando sempre de formação, tá, não estou dizendo, não estou defendendo qualidade de nenhuma obra aqui não, estou falando de formação. E eu acho que cabe a quem está lá liderando a vanguarda literária, não ser preconceituoso, e não ofender. Porque assim, na minha época havia essa coisa, as pessoas liam por exemplo, Zibia Gasparetto eu tinha vergonha de ler. Zibia Gasparetto, para quem não sabe, era uma escritora espírita dos anos 2000.

Luciano Pires: Zibia Gasparetto?

Pedro Almeida: Isso. E as pessoas liam e falavam isso não é literatura, você tem que… no sentido de ter vergonha. Olha, num país tão pouco leitor, qualquer livro tem que ser um mérito, porque as pessoas largaram Paulo Coelho e Zibia Gasparetto, e foram para essas letras de funk que só falam palavrão. Então assim, em parte foi essa coisa do elitismo. Em parte, é aquilo que eu venho comentado sobre oferecer para criança um desserviço de literatura, ou seja, uma literatura que está desconectada com ela. E quando eu falo desconectada, não é assim, então vamos oferecer um erro crasso, literatura de favela. Não, não, não é essa bobagem. Há literaturas ótimas que não precisam ficar se focando em tronar a criança um crítico literário ou um revolucionário. É muito pelo contrário. Se é para divertir, para incentivar a leitura, ela tem que ser interessante, agradável, divertida, como você olha assim, não é nenhuma mágica, porque o Harry Potter fez tanto sucesso. É uma história de fantasia.

Luciano Pires: Mas que conquista a garotada. Mas acho que esse é o ponto, eu se tivesse filho pequeno eu ia procurar hoje dar para ele um livro que o conquistasse, e não um livro que ele precisa ler. Não, o que está sendo feito que conquista? E cara, sei lá onde que vai chegar. Eu tenho visto que está cada dia mais complicado, imagino como o business deve ter ficado muito mais complexo. De um lado a tecnologia atinge um patamar maravilhoso, o custo de fazer um livro hoje acho que é menor do que era lá atrás.

Pedro Almeida: Seguramente.

Luciano Pires: O custo de distribuir, pelo contrário, sempre foi um pavor, é um negócio ininteligível no Brasil.

Pedro Almeida: Muitas editoras estão buscando, estão se concentrando nas livrarias .com, as lojas virtuais, porque elimina bastante o custo.

Luciano Pires: Logística.

Pedro Almeida: Só que nós, particularmente, nós não só porque temos livraria, nós gostamos de estar na livraria. Nós temos um promotor em cada uma das 7 grandes cidades do país, e lá ajeitando nosso livro, colocando ele espelhado, de frente, não de lombada.

Luciano Pires: Você quando chegar na livraria e ver um livrinho em pé, saiba que alguém pagou para ele estar em pé. Ali não foi por acaso não.

Pedro Almeida: Hoje não está se pagando.

Luciano Pires: Não se paga mais?

Pedro Almeida: Não.

Luciano Pires: Como não?

Pedro Almeida: Não, não se paga. Depende, porque há tão pouca oferta de livro em quantidade, que a livraria ela faz sua curadoria, ela decide pelo número de exemplares que ela vai pegar, se aquele livro vai para a estante ou vai ser espelhado.

Luciano Pires: Tá, se for muito exemplar, espelha que é para vender.

Pedro Almeida: Isso, e a proporção é essa. Se a pessoa, para a pessoa que não está indo na livraria buscar um livro, é proporção de 1 para 10. Então, 1 livro de lombada, vende-se 1 livro se ele tiver de lombada, e vende-se 10 se ele estiver espelhado.

Luciano Pires: Esse é o número mesmo?

Pedro Almeida: É.

Luciano Pires: Cara, que sensacional isso.

Pedro Almeida: Porque a pessoa ouviu num PodCast, viu na internet, ouviu numa matéria, ou algo que se relaciona com ela, passeou pela livraria, esbarrou, essa é a sua área da propaganda. E as vezes é a oportunidade.

Luciano Pires: Que interessante cara. Então vamos lá meu caro, só deixa eu ver como é que nós estamos de tempo aqui, acho que nós já chegamos na nossa… é uma coisa que eu tenho muito cuidado aqui cara, de não fazer programas longuíssimos, aquela encheção de saco, não. Tem mais para falar, a gente se encontra depois e fala de novo. Vamos lá então, primeiro a editora. Se eu quiser encontrar sua editora, saber como é que eu compro, onde é que eu vou?

Pedro Almeida: faroeditorial.com.br. Nós temos outros selos, então a Faro é o selo principal, nós temos o selo Moby Dickens, é um selo infantil de livros ilustrados para criança. Milk Shakespeare, nós gostamos dessa brincadeirinha.

Luciano Pires: Isso é para teenagers?

Pedro Almeida: Juvenil, é livro mais juvenil. O selo Aves Raras, que é o livro liberal conservador, política, filosofia, tem um pouco de tudo, economia. E o Faro que é o selo principal, que tem ali livros de ficção, não ficção, autoajuda, é o selo que engloba tudo.

Luciano Pires: Legal. A livraria?

Pedro Almeida: A livraria, Drummond Livraria, fica ali no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, 2073. Tem o site, Instagram a gente coloca mais coisas. Ontem teve um lançamento fantástico do Padre Marcelo Rossi, ficou o dia inteiro, de 10 da manhã as 10 da noite, autografando mais de 2 mil exemplares. 2.021, pelo que eu vi.

Luciano Pires: O Fiuza também lançou lá, foi uma loucura também. Fila saindo na rua.

Pedro Almeida: Fiuza lançou lá, foi, foi incrível, o Fiuza também.

Luciano Pires: Mas o padre, que coisa cara.

Pedro Almeida: Incrível, incansável e pessoas de toas as origens, vem pessoas de longe, caravanas, assim, é incrível como ele movimenta.

Luciano Pires: que coisa impressionante.

Pedro Almeida: Foi incrível.

Luciano Pires: Mas então a Drummond está lá, tá bom. E se eu for no site, eu consigo comprar pelo site também?

Pedro Almeida: Consegue. O site ainda está, é um site primário, então, mas no site tem um WhatsApp que dá para pedir, encomendar livros e livraria faz entregas.

Luciano Pires: Mas os livros da Faro também estão na livraria CaféBrasil.com.br. Se você entrar na livraria nossa lá, os livros da Faro estão lá dentro.

Pedro Almeida: Estão lá, descobrimos hoje que vários deles.

Luciano Pires: Alias a Paula lançou por vocês?

Pedro Almeida: Lançou.

Luciano Pires: O livro da Paula Schimdt foi selo…

Pedro Almeida: Selo Aves Raras, já está em reimpressão. A reimpressão do livro dela chega essa semana.

Luciano Pires: Que legal.

Pedro Almeida: E ela está lá em Balneário Camboriú fazendo lançamento.

Luciano Pires: Está rodando o Brasil com o lançamento?

Pedro Almeida: Isso, isso.

Luciano Pires: Que legal.

Pedro Almeida: Já fez São Paulo, Rio, e está sendo muito bem recebida.

Luciano Pires: Pedro, seja bem-vindo ao LíderCast. Baita conversa legal aqui de 2 antes de livros, não tem como a conversa ser menos do que legal. Mas vamos conversar mais.

Pedro Almeida: Muito obrigado pelo convite.

Luciano Pires: Fazer um bem bolado aí.

Pedro Almeida: Estou sempre a disposição.

Luciano Pires: Tá bom, grande abraço cara.

Pedro Almeida: Obrigado.

Luciano Pires: Muito bem, termina aqui mais um LíderCast, a transcrição deste programa você encontra no LiderCast.com.br.

Voz masculina: Você ouviu LíderCast com Luciano Pires, mais uma isca intelectual do Café Brasil, acompanhe os programas pelo portalcafebrasil.com.br.