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Luciano Pires -

 

Luciano Pires: No programa de hoje temos Letícia Zamperlini e Christian Lohbauer. Letícia é vice-presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio, membro do Conselho Superior do Agronegócio e fundadora do movimento De Olho no Material Escolar, que tem como objetivo revisar os conteúdos escolares e, dessa forma, oferecer aos alunos, dados mais concretos sobre a realidade desses setores.

Muito bem. Mais um LíderCast. Esse aqui foi meio assim, improvisado. Porque eu convidei uma pessoa e vieram duas. E aí eu tive que fazer correndo aqui, arrumar o meio ambiente aqui para receber os dois. Foi meio assim, na última hora. Mas como sempre, eu começo contando como as pessoas chegaram até aqui.

A Letícia foi assim: nessas minhas andanças pelo agro, eu acabei fazendo uma pancada de coisa. Eu fiz uma série de lives sobre o agro. Eu criei um grupo no Telegram chamado Confragro, Confraria do Agro. E ali o pessoal traz um monte de informação. Um belo dia, eu acho que apareceu um material teu. Alguém publicou: tem um negócio legal, que tem uma moça que está fazendo aí. Ela está mexendo com um negócio de educação. Eu fui fuçar. Eu descobri. Aí alguém me passou o teu contato. Eu falei: ah… trocamos umas ideias. Tentamos nos encontrar algumas vezes. Não deu certo. Um belo dia, a gente conseguiu marcar. Aí ontem à noite marcado para agora. Ela pega e me manda uma mensagem: Luciano, o Christian está aqui comigo. Posso levar ele comigo? Eu falei: mas claro. Traz ele aí. Então vamos lá. Na última hora a gente veio. Está tudo apertadinho aqui. Mas o coração é grande.

Eu começo sempre o programa com três perguntas que são fundamentais, que são as únicas que eu exijo de vocês coerência. O resto, vocês podem chutar à vontade tá? Mas essas três são complicadas. No caso da Letícia, eu abro mão de uma, se ela quiser. No teu não. Tem que ser as três tá? Então a pergunta é: seu nome, sua idade e o que você faz? Começa a Letícia.

Leticia: Obrigada Luciano. É um prazer estar aqui com vocês. E gosto muito também do seu programa. Eu tenho acompanhado. Mas meu nome é Letícia Jacintho. Eu tenho 40 anos. Acabei de fazer.

Luciano Pires: Parabéns.

Leticia: E sou produtora rural. Eu fiz Administração de Empresas. Eu trabalho com fazenda. Eu sou vice-presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio. E hoje em dia, presidente do De Olho no Material Escolar.

Luciano Pires: De Olho no Material Escolar?

Leticia: Isso.

Luciano Pires: Vai dar um samba. Por isso que eu te chamei aqui né? É produtora aonde? Em que lugar?

Leticia: Barretos.

Luciano Pires: Barretos? Barretos. Já teve aí o Henrique, do Hospital do Coração. Esteve conosco aqui. E o Christian?

Christian: Oi Luciano. Tudo bem? Olha: o meu nome é Christian Lohbauer. Eu tenho 54 anos. Eu vou fazer 55 no dia 05. Cabalísticos os números. 55 no dia 05. Estou pensando bem na loteria.

Luciano Pires: 55 no dia 05?

Christian: É. E eu sou cientista político, de formação nas Sociais na USP. Eu fiz mestrado, doutorado. Mas eu tenho uma vida executiva aí, que eu passei por várias coisas e acabei caindo no agro há 18 anos atrás. E fui trocando de posições.

Luciano Pires: Executivo em empresa do agro?

Christian: É. Geralmente, em entidades de representação. Eu dirigi a Associação Brasileira dos Exportadores de Frango. Depois a Associação Brasileira dos Exportadores de Suco de Laranja. E depois eu fiquei cinco anos na Bayer.

Luciano Pires: Sim.

Christian: Que as pessoas acham que é muito medicina, mas é muito agrícola.

Luciano Pires: Sim, sim.

Christian: E, paralelamente, eu tive uma trajetória de construção de um partido político, que é o Partido Novo. Onde não estou mais. Mas eu me dediquei bastante à construção. E me candidatei também em 2018.

Luciano Pires: É. Nas horas vagas, candidato a vice-presidente da República.

Christian: É. Um pouco mistura aí. Mas sempre perto da política, de algum jeito. Porque a trajetória profissional é muito vinculada à representação.

Luciano Pires: Sim.

Christian: Mas eu estou aqui como intruso. Na verdade, eu vim aqui com o meu título, nessa conversa contigo e com a Letícia. É como membro do Conselho da Associação que a Letícia dirige.

Luciano Pires: Perfeito.

Christian: E é nessa condição que eu quero participar da conversa.

Luciano Pires: Então, quem está nos ouvindo aqui, eu já vou assumir de público aqui. Eu já falei para ele lá fora e já falei para a Letícia. O Christian, eu vou catar ele aqui para fazer um programa focado na questão da política e tudo mais. Hoje aqui a gente vai ficar foco no agro. Vamos para cima do agro né? Então, o que me chamou a atenção no teu trabalho foi quando mandaram para mim – eu não lembro o que era. Era um artigo, alguma coisa. Eu não me lembro exatamente o que era – falando que alguém estava fazendo um trabalho de verificar os livros escolares. O que estava sendo passado para lá. Que aquele negócio está dominado. Que os caras contam mentira a respeito do agro e tudo mais. E é uma coisa extremamente… é um ponto nevrálgico dessa história de mudança cultural no Brasil. Se não fizerem a cabeça da molecada, não vai acontecer nada com esse país aqui. E os caras já sabem que é fazendo a cabeça das crianças que eles vão ensinar como que é? Que o seu pai é um explorador. É o dono da firma? O seu pai é o dono da firma? Ele é um explorador. Aí o moleque chega em casa: mas não é? Eu vejo. Mas não é? Mas essa molecada está com a cabeça toda virada, porque tem alguém utilizando esses materiais para contar narrativas. Não precisa nem ser mentira. Basta dar o viés que eles dão ali. E durante muito tempo isso foi tratado como lenda né? É mentira. Não é assim. O kit do Bolsonaro aquela vez. Tem um kit. Virou lenda. Mas quando você está num negócio e começa a mexer. E começa a pôr a mão, são absurdos, um atrás do outro. E eu não sabia que tinha alguém focado nisso. E começando a mexer né? Me conta o que está acontecendo? Da onde veio isso? O que é essa história? De onde brotou a ideia de começar a entender o que está acontecendo e tentar mudar alguma coisa no material escolar?

Leticia: Então Luciano? No começo, a gente achou que fosse uma única escola. Depois a gente falou: não. Parece que é uma única editora. E na hora que a gente foi pesquisar é praticamente quase todas as editoras do Brasil. A gente já analisou. Nós analisamos já 16. Temos um…

Luciano Pires: Quem é nós?

Leticia: A Associação De Olho no Material Escolar. Hoje em dia a gente tem – eu acho – quase 70 associados, entre pessoa física e jurídica. Faz um ano que nós estávamos como movimento. E em junho, no começo de julho desse ano, a gente se formou como Associação.

Luciano Pires: Como nasce isso? De um grupo de WhatsApp? De pais incomodados? Como é que nasce?

Leticia: Na verdade, de pessoas que estavam estudando com as crianças. Pais, mães, avôs. E nasceu daí. Depois ele abrangeu muito mais gente que tem preocupação com a educação. Então não só do agro, mas como outros temas. Gente, a educação não está formando da maneira como a gente deveria. Desde a escola pública quanto a escola privada. E a gente resolveu fazer algo pelo Brasil, de maneira voluntária. Então nos juntamos. Dividimos em grupos.

Luciano Pires: Nasceu em algum lugar? Você consegue dizer: foi na cidade tal, na região tal? Como é que foi? Ou foi por WhatsApp?

Leticia: Não. Em Barretos na verdade tem bastante gente. Porque lá a gente já estava fazendo esse trabalho dentro da escola. Então tem vários integrantes que são de Barretos. Aí o que aconteceu que a gente começou a juntar outros lugares? Eu estava ouvindo o Ricardo Arioli um dia falando. E ele fez uma entrevista com uma mãe, com a Heloisa Sversuti que é lá de Barra do Garças, no Mato Grosso. E eu consegui o telefone dela. Eu liguei e falei olha: tem alguma coisa que a gente está vendo aqui, em comum. E aí ela trouxe algumas outras pessoas. No início a gente começou… eu não sei nem te falar. Porque está em 12 estados agora. Então cada pessoa que entrou tem uma história relacionada a isso. E…

Luciano Pires: Tá. Antes de você me contar como é que a coisa funciona e tudo mais. Eu quero saber da mãe. O que te incomodou? O que você pegou na mão, que olhou e falou cara: estão fazendo alguma coisa com a cabeça do meu filho. Como é que foi isso?

Leticia: Na verdade, o start maior, que a gente falou: chega. Nós vamos ter que mudar isso aqui de alguma maneira. Foi a minha menina de 10 anos. Ela estava estudando sobre os índios. E estava lá no material didático escrito que a soja do Mato Grosso do Sul tem sangue de criança indígena. Não compre o biodiesel do Mato Grosso do Sul, porque tem sangue de lideranças indígenas. Então eram uns índios com uns cartazes bem grandes. E ela teve essa aula. E a professora pediu para que eles escrevessem – isso estava também no material didático, que era para ser conduzido assim – que eles escrevessem se colocando no lugar daquele indígena, que os pais se mataram, que os pais se drogam, alcoolizam, por conta dos fazendeiros que tiram as terras deles e desmatam e tudo mais. Então ela teve que escrever. E aí como estava na pandemia. E lá em casa ninguém tem celular, nem iPad, nem nada. Eu sou mãe das antigas ainda. E ela falou: mamãe, você pode mandar essa minha tarefa para a professora? E aí na hora que eu li estava lá: eu sou um índio muito oprimido, por conta dos produtores rurais que entraram na minha terra e acabaram com a minha cultura. E no final ela coloca assim: meus pais se mataram por conta das dificuldades da vida. Aí eu falei: não. Chega. Acabou. Tipo: você não vai estudar mais com esse material. Não tem mais condições. Aí liguei para a professora. Eu fui na escola. E a partir disso, a escola começou até a grampear parte do material e falar: isso aqui não vai ser dado. Porque está as incongruências. Assim, muito desatualizado. E algumas coisas até criminosas. Tem alguém matando índio. Tudo que estava falando naquela apostila. Isso daí é coisa de criminoso. Não é coisa de produtor rural.

Luciano Pires: Sim, sim. E a sua filha não conseguiu enxergar o pai e a mãe…

Leticia: Não. Ela conseguiu…

Luciano Pires: Como os carrascos dos índios ali?

Leticia: Ah não…

Luciano Pires: Porque ela chegou em casa e falou: mas minha mãe não machuca uma mosca. O meu pai também não. Como é que eles dois estão…

Leticia: Não, não. Então? Ela achou aquilo lá completamente incongruente. Lá em casa eles estão treinados já. Eles mesmos já pegam meu celular, tiram foto e já mandam para o dossiê. Eles já sabem tudo que está errado. Porque vivem no dia a dia né? Mas ela teve que escrever daquela maneira. E não foi só ela. Eu liguei para várias mães e falei: pega todas as redações. E vamos na escola conversar né? E todas as redações tinham o mesmo preâmbulo ali.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: O mesmo conteúdo do texto.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Porque foi o que foi pedido na escola. E isso tem acontecido bastante com as provas também. Tipo olha: a gente sabe que responde. Que vem de acordo com o material didático. Mas depois, a criança escreve embaixo: isso não está correto, tal, tal, tal. O problema é quando é múltipla escolha.

Luciano Pires: Sim. Ou quando bota uma charge lá, um cartum, uma ilustração né?

Leticia: É.

Luciano Pires: Você falou do índio. O problema do índio. Mas a gente sabe que isso aqui é geral né? Então eu vou dar uns pitacos meus aqui de fora. Quando eu fui fazer o Circuito Aprosoja, um dos assuntos que me interessava muito era a questão do desmatamento, o pessoal acabando com a Amazônia, aquela coisa toda, aquela conversa toda. E uma das grandes desmistificadas que eu fiz ali foi quando eu recebi um trabalho de satélite feito pelo pessoal da EMBRAPA, um levantamento do Mato Grosso inteirinho. E mostrou que o Mato Grosso tinha 65% totalmente preservado. E que na verdade…

Christian: Era internacional…

Luciano Pires: Pois é.

Christian: Internacional, por satélite da NASA, 66%.

Luciano Pires: Isso aí. Aí quando eu olhei aquilo eu falei: cara. Aí eu fui estudar essa questão toda de desmatamento. Porque essas coisas não acontecem de graça. Não foi alguém que inventou da cabeça que morreu um índio. Não. Em algum momento morreu um índio. Em algum momento, alguém desmatou. Em algum momento, um minerador entrou lá, um garimpeiro e sujou a água. É claro que essas coisas acontecem em qualquer segmento. E aí eu pego a história da conquista lá. A nossa conquista da região do Mato Grosso, do Amazonas. Volto para os anos 70 e lembro aquela história toda de conquistar o interior né? Então, os Estados Unidos conquistaram de trem e o Brasil conquistou de avião né? Então é completamente diferente um do outro. Mas se aquela história… cara, se nós não dominarmos esse terreno, alguma entidade estrangeira vem e vai dominar. Então, o governo militar pega e diz o seguinte: alô gauchada, alô os paranaenses vem cá.  Se vier para cá, se assentar na terra e desmatar, eu te dou o título. O que significava que o Estado não só incentivava como precisava que as pessoas… então, a primeira leva que chega é uma leva de desmatador. Os caras entram para conquistar e desmatar. Depois que eles estão assentados, aí eles deixam de ser o desmatador, para ser o cara que vai plantar; que vai criar o gado, etc. e tal. Então, quando eu olho para um cara dos anos 70 que cria uma história e boto o dedo na cara dele e falo: o seu avô era um desmatador. Eu deixei de lado essa questão histórica. Precisava ser ou não era possível conquistar aquilo tudo. E alguém pega essa história dos anos 70 e transforma isso hoje em dia. Então, agronegócio? Desmatadora. Todos eles são. Onde eu quero chegar? Essas coisas não nascem de uma narrativa, do nada. Elas têm um pé na história. Então quando você vai combater alguém vem: é, mas eu conheço um cara que foi preso. Eu conheço um que é bandido. Eu também conheço. Mas não são todos bandidos. Pelo contrário. Quando eu conversei com o pessoal lá do Mato Grosso, eles se mostraram indignados com o bandido. Falaram: tem um cara que está desmatando. Esse cara nos sacaneia cara. Nós não queremos papo com ele. Eu quero botar esse cara na cadeia. Porque eu não sou igual a ele. E alguém vai pegar isso, vai transformar num todo. E vai botar no livro escolar e vai dizer: todos são assim. Isso é muito perverso. E acontece com índio, com agrotóxico, com tudo mais. É uma história complicada. Como é que você… agora eu quero saber o teu lado, do ponto de vista corporativo. Você está numa empresa que é um puta business mundial e que tem que dar lucro. Ela tem o negócio dela. Como é que essa questão social bate em vocês? Eu estou armando uma pergunta aqui, porque depois eu vou contar um outro negócio lá na frente. Como é que isso bate? Ou não bate?

Christian: É. Primeiro, na apresentação eu acabei falando da Bayer. Mas hoje eu dirijo a CropLife Brasil, que é uma associação de 50 empresas, entre as quais, a Bayer. A Bayer, a BASF, a Syngenta, a CORTEVA. SUMITOMO, IHARA e mais 45 empresas de defensivos agrícolas ou agrotóxicos, para quem não gosta. Biodefensivos e sementes. Toda a tecnologia vegetal está integrada ali nessa CropLife Brasil, que é a instituição que eu dirijo hoje. Então até cabe na pergunta.

Luciano Pires: Claro.

Christian: Porque eu estou representando e respondendo e esclarecendo. Tentando esclarecer para a opinião pública o que é essa dimensão, não só do “veneno” ou do remédio para a planta ou, também, da biotecnologia, da alteração genética da semente da planta. Que também tem uma agenda muito contra no mundo inteiro. Não sabe se faz mal, etc.

Luciano Pires: O transgênico né? O tal do transgênico que…

Christian: Exatamente.

Luciano Pires: Que faz mal.

Christian: Então assim, o trabalho, assim, é… o que faz uma entidade como essa? Ela tem que comunicar tudo isso de uma maneira convincente, pedagógica. Para que as pessoas entendam qual o benefício que isso traz. A relação que isso tem direto com a sustentabilidade. Defender os interesses dessas empresas, dessas instituições nas instituições políticas, no Congresso, legislação, na ANVISA, no IBAMA, etc. E auxiliar o produtor na terra. Porque são produtos complexos. Muitas vezes, para você usar, você tem que ser ensinado. Você tem que ser treinado para usar. Porque se for usar errado, aí sim pode ter um efeito não desejado. Então assim, é um trabalho muito… quase que ingrato. Porque essa agenda – como você já colocou na introdução – ela é uma agenda… assim como nas escolas ensinam todas essas coisas que a Letícia organizou no De Olho para começar a transformar. Um dos temas principais que está nos livros escolares é que a gente está envenenando o alimento que a gente consome. Que as agros também estão envenenando. E a gente tenta dizer que para que isso aconteça, quando você coloca uma molécula nova no campo, tem um processo tão longo de controle Luciano. As pessoas não têm ideia do que elas estão falando. Duzentas mil moléculas são testadas para você colocar uma no campo. No Brasil demora 18 anos para você passar por todo o sistema regulatório. Desde a pesquisa, até o sistema regulatório brasileiro colocar uma molécula, um fungicida para combater a ferrugem da soja, demora 18 anos. Então é uma coisa assim, muito, hiper, mega regulada e controlada. Não há por que ter medo. E eu digo aqui com segurança e tenho que repetir isso sistematicamente: o alimento que o brasileiro produz hoje, soja, milho, suco de laranja, café, frutas, hortifrúti. É absolutamente seguro. Não há nenhum estudo científico. Eu desafio aqui todos os seus milhões de ouvintes a trazer um estudo científico que mostre que o Brasil tem alguma contaminação de alimento ou das águas. Não há. Existe – e aí vai longe essa conversa – é uma agenda muito maior do que os defensivos, do que os agrotóxicos, que está na linha do Save the Planet, o alimento orgânico, do alimento mais fresco, dos food systems. De toda uma agenda complexa aí, que enfim, entra em mudanças climáticas, animal welfare, etc. Que é uma agenda – não quero misturar com o canal aqui – é uma agenda política. Uma agenda ideológica que está no mundo aí, que gera essa confusão mental nas pessoas, inclusive nas crianças.

Luciano Pires: Especialmente…

Christian: E a saída tem que ser mostrar para as crianças como é que as coisas são. E elas decidem no que elas querem acreditar diante das evidências científicas, que é o que a gente tem na mão.

Luciano Pires: E ouvindo vocês dois fica na minha cabeça o seguinte: cara, o Estado não se preocupa com isso. O Estado não está nem aí com isso. Tanto que esse material escolar que você estava dizendo não é o material que o professor resolveu comprar e botar na sala de aula. Não. Isso vem indicado né? Está dentro de um menu. Alguém, em algum lugar, escolheu esse livro. Alguém leu o livro. Alguém falou: esse aqui pode. E aí compraram os seus milhões de exemplares e criaram uma programação que foi entregue para todas as escolas do Brasil ali. E aí, de repente, eu vejo a iniciativa individual. Foram pais e mães que começaram a se mexer e estão montando esse processo para tentar. Eu quero salvar o meu filho. Porque o Estado não vai fazer isso. Não tem ninguém se preocupando com isso. O Ministério Público não foi lá. Que é isso cara? Nunca se mexeu né? Eu estou interessado nessa ação individual. Nessa coisa de… você já deixou claro para mim: quando eu vi minha filha incomodada, eu falei: isso tem que parar. E não foi difícil você encontrar outros pais que estavam preocupados com isso. Aliás, aconteceu agora na pandemia, com essa história de home school. Um monte de pai começou a ver o que os filhos estavam aprendendo. Eu recebi cada coisa que vocês não fazem ideia. Como é que essa coisa começa a se organizar? Você começa com uma coisa assim… você falou que era um movimento né? E o movimento não tem CNPJ. É um grupo de pessoas que começam a se organizar. E faz como pressão ir conversar com a diretora da escola? O que era que vocês…

Leticia: É. Na verdade foi o que eu te disse né? A gente no começo achou que era um problema da escola. Mas logo a gente percebeu que era um problema das editoras. Então, muitas pessoas tinham esse desconforto. Igual você falou: na pandemia muitos pais ficaram mais próximos. E eles tiveram o privilégio de não só ver o material, mas como também, assistir às aulas né?

Luciano Pires: Sim, sim.

Leticia: Ouvir as aulas.

Luciano Pires: Sim, sim.

Leticia: Porque o material do professor, ele, geralmente vem muito pior do que o do aluno. Ele vem mais denso. Então elabora mais aquele assunto. E então esses pais se juntaram. A gente começou. Foi surgindo de forma orgânica. E fomos nos organizando. E aí a demanda foi muito maior por projetos. O que vocês podem fazer? Como que a gente pode se juntar? Como que vai conversar com a Secretaria da Educação? E como é que a gente vai coordenar essa equipe no país afora? Porque eu mesma não conhecia presencialmente assim, muita gente né, do movimento.

Luciano Pires: É tudo voluntário?

Leticia: É tudo voluntário. Então a gente resolveu se organizar em projetos. E aí desses projetos também, você precisa de dinheiro para poder tocá-los né? Para isso precisou da Associação. Por isso a gente fundou. E começamos com esses associados, pessoa física e jurídica. E para os projetos, a gente vai atrás de financiamento, etc. Vai atrás né, das associações do agro, da educação. E sempre mesclando esses dois setores.

Luciano Pires: Tem muita informação chegando aí com exemplos de livros assim né? E não é só. Livros com a agenda trans, com a agenda da linguagem neutra, com a agenda política, com a agenda do meio ambiente. Todas elas são… do aquecimento global e tudo mais né? Você falou que isso vem da editora?

Leticia: Isso. É…

Luciano Pires: Como é que é isso aí? Eu quero saber tem gente criando né?

Christian: Não é da editora. Na verdade – se me permitir interromper – a editora, ela fez o trabalho que o governo de plantão pediu. E as editoras são empresas como qualquer outra. O governo apresentou um conteúdo, cumprindo um contrato. O conteúdo não é de interesse da editora. Então quando você falou de Estado e governo.

Luciano Pires: Sim.

Christian: Sem falar de conspiração aqui. Mas o que aconteceu no Brasil, vamos colocar aqui francamente para o debate aberto.

Luciano Pires: Sim.

Christian: É que nas últimas décadas o Estado se preocupou sim. Na verdade, o governo se preocupou com o que ia entrar no material…

Luciano Pires: E fazer a cabeça das crianças.

Leticia: É. E foi isso que aconteceu. Desculpa. É fato porque é história. Está comprovado. Você pega o que eram os livros escolares em 1994. E pega o que eles eram em 2006. Você vê a diferença do conteúdo que as editoras aceitaram. Então assim, as editoras na verdade, elas fizeram o trabalho delas.

Luciano Pires: Tem demanda, eu te dou o produto.

Christian: É. Eu tenho aqui. Eu te ofereço o produto. Você quer o conteúdo? Eu não vou interferir no conteúdo. Desde que você pague o meu contrato aqui, se você quer vermelho ou azul? Não importa. E não é papel delas mesmo. É o papel da sociedade, que se organizou agora. Isso vem acontecendo há muito tempo. A sociedade se organizou. Tanto que a Letícia está liderando. É um movimento de sociedade civil organizada.

Luciano Pires: Sim.

Christian: Que acontece nas democracias maduras.

Luciano Pires: Quando começou?

Leticia: Em outubro de 2021. Aliás, 2020. Desculpa.

Luciano Pires: Foi ontem.

Leticia: Foi ontem.

Christian: Tarde. Tarde.

Luciano Pires: Sim.

Christian: Isso aí está…

Leticia: A ideia é assim: a gente mobilizar tanto essa comunidade, que independente de quem esteja lá em cima, independente do governo que tiver, a gente tem obrigação de olhar o que os nossos filhos estão estudando. É muito fácil pegar só uma redoma e falar: eu pego o meu filho e levo para estudar sei lá onde. Ou mudo de escola. Ou pago uma escola cara em São Paulo.  Mas essa não é a ideia. A gente está vivendo nesse país.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: A gente gosta desse país. Tem orgulho da história. Como você disse: essas pessoas não subiram do nada. Subiram com bastante esforço para poder desbravar o país.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Então isso é passado. Em relação às editoras – que o Christian estava falando – tem… é lançado um edital no governo né? E aí eles vão lá e produzem o material. Passam pelas licitações para aquele edital, de acordo com o que foi pedido lá. Então quem dita as regras são esses editais.

Luciano Pires: Quer dizer, olha só o que eu estou imaginando aqui: alguém do mal acordou. Foi no edital. Preciso de um livro que diga que os índios são massacrados pelos produtores rurais. Essa é a pegada. Tem autores aí que escrevam a respeito? Eu estou tentando achar…

Leticia: Ou eles deixaram…

Christian: Quem é que cria essa…

Leticia: Ou eu acho que, talvez, não tão direto assim. Eu acho que eles deixaram um pouco aberto.

Luciano Pires: Ok.

Leticia: Por exemplo, uma das exigências que tinham que estar em todos os editais era base científica. Você não pode ter base jornalística.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Porque é sempre espetaculosa.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Sempre de vitimismo. Sempre de desastre. Então assim, para que ensinar as crianças assim? A gente tem que ter base. A gente tem que ter como fonte o mapa, o IBAMA, a própria EMBRAPA, que é um orgulho internacionalmente falando.

Luciano Pires: Claro.

Leticia: E a gente não encontra. Mas a gente encontra várias ONGs internacionais, Greenpeace, WWOOF. Gente com interesses comerciais claros no país. Então, em que ponto a gente deixou esse edital aberto para que conseguisse entrar esse tipo de material e ser avaliado como ok? Então, depois que são feitas as apostilas, produzidas, ela passa por uma comissão técnica e um banco de avaliadores. E deixaram entrar. Eu acho que já vem isso daí faz muito tempo. O governo atual, ele tem começado a mudar os editais. Eu acho que o do ano que vem é o do Fundamental 2. Porque tem um prazo.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Cada material didático que é produzido, ele fica seis anos no mercado, no mínimo.

Luciano Pires: Quer dizer que um livro cagado desse vai ficar seis anos circulando. Quem quiser completar o que nós estamos falando aqui, escute o LíderCast com a Ilona Becskeházy, porque ela conta em detalhes esse processo. Ela estava lá dentro né? De ela receber tipo um edital na mão dela, olhar para aquilo e falar: meu Deus do céu. Isso tem que ser totalmente reescrito. E o que ela brigou para conseguir mudar alguma coisa lá.

Leticia: E essas editoras Luciano, elas… foi o que o Christian falou: elas seguem lá o ritual. Elas têm que cumprir aquele edital para poder vender. Querendo ou não, são dois bi de material didático por ano.

Luciano Pires: Dois bilhões?

Leticia: É. É muito dinheiro. Então assim, as maiores estão lá dentro né? E elas produzem para vender para o governo. E depois elas repassam para cá. Mas não tem diferença da escola particular para a pública? Tem. Coloca uma gramatura um pouquinho maior. A página é mais dura. Mas o conteúdo é o mesmo. O autor é o mesmo. Então primeiro se produz para passar lá e depois se aplica para o privado também. E o que a gente tem feito – e isso daí eu acho que é uma das coisas mais positivas do De Olho – é sentado com essas editoras uma a uma e conversado. E tem sido espetacular. Espetacular. Porque elas deram uma abertura muito grande. A gente percebe que muitas vezes, a liderança não estava sabendo do que estava acontecendo.

Luciano Pires: A liderança o que, da editora?

Leticia: Das editoras. É. Porque você não lê todos os livros.

Luciano Pires: Não. Claro.

Leticia: Está debaixo e… e então é… e assim: abriu o agro para eles. Porque também, olha: eu não conheço tanto o seu setor. Mas você também não conhece o meu. Então a gente tem um programa que chama Vivenciando a Prática, que é… consiste em de a gente levá-los até a fazenda. Levá-los até as empresas do agronegócio. E trabalhos maravilhosos têm acontecido a partir disso.

Luciano Pires: Quem que você está levando. Você falou isso. É o dono da editora? É o editor? Quem é que você está levando?

Leticia: A gente já levou coordenador de currículo. Já levamos autores, professores no geral. Diretores de escola. Secretários de educação. E os donos também, os presidentes e etc. E a gente tem trazido também palestra para eles. O ex-ministro Roberto Rodrigues fez uma palestra para um banco de editores né? Agora o presidente da EMBRAPA vai fazer uma palestra na segunda quinzena de janeiro também para 15 editoras de uma vez. Então a gente está ajudando eles a conhecer um pouquinho mais o setor, até para conseguir escrever né?

Luciano Pires: É interessante isso aí. Quer dizer, não tem um filtro do sujeito que vai escrever para o meu filho?        O cara que vai escrever, ele não é filtrado? Ele não tem que chegar lá com credenciais: eu sou o escritor que vai falar sobre agrotóxico. Minhas credenciais estão aqui. Eu tenho um PhD disso, eu sou professor, eu sou cientista…

Christian: Luciano: deveria. E em tese existe. Mas o que aconteceu no Brasil desde o início do século – para deixar uma coisa menos política – é que essas posições de definição de conteúdo foram colocadas na mão de pessoas que tem um pensamento “x”. E esse pensamento se estabeleceu como aquilo que deve ser colocado nos livros.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Então por melhor que seja o trabalho aqui com os editores, atualizando as pessoas, ainda tem a parte de administração pública, que é a mais sensível de todas. Então nesse governo atual – sem também querer politizar demais a conversa – tem uma abertura para a Letícia entrar lá com conteúdo científico.

Luciano Pires: Sim.

Christian: E falando, olha: isso daqui dizendo que agrotóxico… tem uma charge – se me permitir – tem uma charge lá dizendo assim, o sujeito vai no médico e fala assim: doutor, a minha esposa quer me matar.

Leticia: É no delegado. Não é no médico.

Christian: É no delegado?

Leticia: É. No delegado.

Christian: Doutor, a minha esposa quer me matar. Aí ele diz para ele: mas por que você acha isso? Porque ela me deu morango, pimentão e…

Leticia: Uva.

Christian: E uva para comer hoje. Aí quatro alternativas. Primeira alternativa – múltipla escolha, um garoto de 10, 12 anos – o preço do alimento aumentou. O preço do alimento caiu. Nenhuma das alternativas. E ele receitou agrotóxico no alimento para o sujeito comer. E o sujeito dizendo: ela quer me matar. Quer dizer, são coisas assim, deste calibre.

Luciano Pires: Sim.

Christian: Que ficaram nos livros escolares durante 15 anos. Depois a gente não entende por que as pessoas têm essa aversão a um tema ou vários temas. Então, quem é que definiu isso né?

Luciano Pires: Sim.

Christian: Foram autoridades da educação, que estão no Ministério da Educação há muito tempo. Muitas vezes, funcionários de carreira. Que tem um pensamento alinhado a uma escola. Uma escola que tem 30, 40, 50 anos. Uma dessas escolas chama Escola Sanitarista, que é que formou todo o corpo de professores e cientistas da Fiocruz, por exemplo. Então é a academia brasileira que formou essas pessoas. Não só professores, como também, membros de políticas públicas. E deu nisso. Quer dizer, não tem nada de escondido. Mas a gente deixa. A sociedade deixou isso acontecer. Então, o que precisa acontecer agora? Tem que equilibrar o jogo. O que a Letícia está fazendo? Ela não está: tem que mudar tudo. Ela está falou assim: eu vou levar para vocês estudos científicos de instituições científicas brasileiras, para dizer que isso daí não está muito certo. Então…

Leticia: Quer dizer, o importante, o fundamental agora… porque a contra narrativa vai ser dizer que vocês querem virar o sinal. Você quer que seja o contrário…

Christian: Isso.

Luciano Pires: Então se os caras estão defendendo um lado, você quer que seja o outro. Que o que fizeram com o Escola sem Partido.

Christian: Exatamente.

Luciano Pires: Lembra? Ele desenhou. Ele falou: cara, eu quero o seguinte, eu quero equilíbrio. Mas para o Brasil entrou como: esses caras querem fazer agenda fascista, capitalista. Eles querem trocar. Querem tirar isso daqui e botar uma outra coisa. Botaram um rótulo na cabeça do pessoal lá. E o negócio acabou que não…

Christian: Mataram.

Luciano Pires: Mataram. Mataram com a narrativa né?

Christian: Aqui não vai acontecer. Porque a Letícia está trabalhando com material. O que ela está fazendo? O governo pede: eu quero uma instituição neutra, que faça o estudo. Essas instituições que eu deixo você fazer. Ela falou: tá bom. Ela: eu vou arrumar o recurso e vou fazer o estudo com a instituição que você está pedindo. E é o que está acontecendo agora.

Leticia: Isso. O Christian apontou bem. Esse governo deu uma abertura grande para a conversa. Vamos entrar e vamos entender o que vocês estão colocando aqui. Faz um ano já trabalhando com eles. E nos passos adiante, por exemplo, a gente foi junto com a ministra Tereza Cristina, para que abra o mapa para o MEC também usá-lo. Então a ideia é que ele tenha esses dados dentro do próprio governo. Não é a Letícia que está falando do dado. Não é o fulaninho. O sicraninho. Não tem indicação e nem mudança totalmente, 360. Você pode escrever o que está de errado no agro. E eu acho que, talvez, falar os problemas desse setor vai ajudar até esses alunos a ajudar a gente a resolver né?

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Porque eles vão sair da escola. Como profissional vai falar olha: tem um desafio aqui. Agora, vamos colocar certinho? É 0,001%? Vamos escrever. Isso é no caso do trabalho escravo. Esses dias eu brinquei com uma pessoa que estava me entrevistando. E ela estava batendo muito nessa ponta do trabalho escravo né, e eu falei: a gente procurou no Ministério do Trabalho, o trabalho análogo à escravidão nesse setor. É 0,001%. Então 99,99 empregam dentro da lei. Por que a gente não vê nenhuma menção? Tudo que faz? Você só vê assim: quatro páginas escritas sobre trabalho escravo, generalizando, como se isso acontecesse hoje em dia.

Luciano Pires: Sim. Você pega aquele fragmento e transforma aquilo no todo né?

Leticia: No todo.

Luciano Pires: E aí você traz o exemplo. Olha aqui: pegaram no interior do Pará. É verdade. Estava lá. Existia.

Leticia: Mas isso é criminoso.

Luciano Pires: Mas isso não é o todo. Isso é…

Leticia: E aí foi interessante que eu falei para ela olha: você tem filhos né? Ela: tenho. Por quê? Eu falei: porque se a gente não trouxer os dois contrapontos, o seu filho vai sair da escola falando: gente, eu tenho que resolver um problema no Brasil, o trabalho escravo.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Na hora que ele vai ver não existe. É 0,001%. Eu estava falando para outra repórter que estava me entrevistando. Eu falei: então a gente tem muitos desafios. Aí ela: mas quais são? Eu falei gente, daria para enumerar vários aqui. Mas logística é um deles. A conectividade é outro. Não é tudo tão fácil no campo. Então vamos mostrar desafios atuais. Porque, pelo menos, aquele profissional sai capacitado e com ideias novas para poder transformar o mundo realmente né? E não só desanimado com tudo que a gente tem aqui. É…

Luciano Pires: Olha que ponto interessante que você está trazendo aí, que casa um pouco com o que o Christian falou ali, que é o seguinte: é necessário haver esse contraponto. Vamos pegar esses malucos aí que falam que o mundo vai derreter; que o mundo vai congelar; que estão envenenando a comida e não sei o quê. Esse tipo de contraponto nós temos que ter. Porque senão, fica tudo livre cara. Tem que ter alguém para te apontar o dedo e falar: meu, você fez uma bobagem. E aí você olhar e falar: pior que fiz mesmo. Aliás, não é bobagem. Mas esse cara tem razão. Isso aqui está um pouco além. Deixa eu arrumar. Se não tiver alguém gritando no teu ouvido vira uma bagunça. Então é necessário haver o contraponto. O problema é quando – você falou a palavra – desequilibra né? Não tem equilíbrio. Então o que eu estou entendendo é que o que está se pedindo… e eu cansei de falar quando eu fiz as lives aqui para o pessoal, eu falava o seguinte: cara, não é para contar a tua mentira para combater a mentira do outro. Leva a verdade.

Leticia: Exatamente.

Luciano Pires: Nós estávamos tomando café e eu comentei: cara, eu fiquei sabendo que estão envenenando o rio. Eu estava lá em Mato Grosso. O que eu fui? Eu fui lá no rio, com o cara que mora lá. Senhor, o senhor tomaria água desse rio? Perfeitamente. Pega o copo. Toma a água. Mas o senhor não está envenenando o rio? Aí ele me contou o que estava acontecendo. Aí você fala: cara, mas é tão pequeno. É tão ridículo. E aí eu peguei um outro questionamento, que eu falei o seguinte: se você não está se convencendo com a visão que eu estou colocando aqui, a visão moral sabe, da intenção, da má intenção. A visão policial, do cara que roubou. Eu vou te dar outra visão, que é a econômica né? Quando você trabalha com o agronegócio – que não é o Seu João plantando mandioca no quintal da casa dele – o agro é aquela coisa gigante né? São grandes. Ali, qualquer decisão errada ali, custa dois milhões de reais do bolso do cara. Então, se ele decidir colocar um pouquinho além do que ele deve colocar de agro… defensivo agrícola, são dois milhões que ele perde ali. É simples. Na hora né? Então usa o econômico. Qual é o idiota que vai jogar veneno nas coisas para poder perder? Ele não quer. Ele quer colocar cada vez menos. Ou então, ele quer colocar um veneno cada vez mais eficiente.

Christian: Exatamente.

Luciano Pires: Que é esse que vai levar 18 anos para entrar no mercado brasileiro.

Christian: É. No Brasil demora mais. Inclusive hoje – neste momento que nós estamos conversando aqui – tem uma lei que está sendo agora colocada na pauta do Congresso Nacional, para votar na câmara, para ser votada, que é exatamente sobre isso que você está falando. É uma lei que, em tese, vai garantir que tenha um limite para o Estado demorar para aprovar uma molécula. Se ele não for competente na sua administração pública para aprovar em dois ou três anos, vai ser possível essa molécula ser aprovada com uma licença temporária. Desde que essa molécula em três a cinco países da OCDE.

Luciano Pires: Sim.

Christian: Hiper civilizada. Por quê? Porque senão você perde o ciclo tecnológico. Qual é o prejuízo que tem isso? O produtor é obrigado a usar um produto mais tempo, que vai perdendo eficiência e fica velho. Porque a natureza – na tropicalidade brasileira – ela é muito mais agressiva do que no mundo temperado. Então tem muitas características que as pessoas têm que entender. Porque além de interessante, explica as coisas né? Se você me permite falar só de um comentário…

Luciano Pires: Claro.

Christian: Que vocês estavam falando. Tem um negócio que é muita discussão no nosso tempo, Luciano. Talvez seja um programa especial para você fazer depois. Que é essa coisa da ciência. Porque afinal de contas, todo mundo fala que está trabalhando na ciência. A turma que fala que o mundo vai derreter em cinco minutos, também fala que está baseado em ciência.

Luciano Pires: Sim.

Christian: Então quando tudo é ciência…

Luciano Pires: Nada é ciência.

Christian: Então nós temos que voltar para trás…

Luciano Pires: É verdade.

Christian: E falar assim: o que é ciência? A gente aprendeu na escola. Ciência é método. Ciência é repetição. Ciência é experimento. Ciência é… e vamos ver quem tem o método, quem tem o estudo com a amostragem certa, repetido. Para poder comprovar e confrontar aberta e democraticamente o que é a ciência. Porque você falou outra palavra que está vinculada à ciência, que é a verdade.

Luciano Pires: Sim.

Christian: Hoje, o que é a verdade hoje, nesse planeta, nessas condições sociais?

Luciano Pires: Você quer ver o melhor? Olha a pandemia.

Christian: Isso.

Luciano Pires: Vem cá: tem tratamento precoce? Não tem. Eu te dou 100 cientistas que garantem que tem. E te dou 100 que garantem que não tem. E eles vão chegar com o trabalho pronto. A Lancet publicou que tem. E depois publicou que não tem. E aí? Cara, eu só sou… eu só sou um pai. Eu não entendo nada dessa merda aí. Como é que eu faço?

Christian: Exatamente.

Luciano Pires: E aí vêm os popularizadores da ciência, pegam essa coisa altamente complexa e transformam em show, em entretenimento. Aí fica essa zona. Eu vou acreditar em quem, cara? Em você? Qual é a tua preocupação? Eu quero salvar o seu filho. Eu também quero salvar o meu. Não vou dar para ele a comida envenenada.

Leticia: É por isso que o Vivenciando na Prática, eu falo que ele é um programa muito lindo. Porque você leva lá para ver. Então – igual eu estava falando – nos materiais didáticos está lá: o menino nada no rio. Tem lá a fotinho. E ele fica doente. Ele fica com febre. Se a pessoa for na fazenda…

Luciano Pires: Por que nadou…

Leticia: Porque nadou no rio. Se a pessoa for até lá, ela vai ver a gente nadar no rio. E vai ver – igual você falou – o cara vai beber no rio. E não vai ter problema nenhum. Então assim, eu acho que viver e sentir aquilo lá, é… é muito importante. Eu acho que assim, todos os setores econômicos brasileiros deveriam fazer algum tipo de parceria com as escolas para visitarem. Não é só o agro que precisa ser visitado. São todas as indústrias. As crianças têm que saber o que acontece no mundo né? Hoje em dia as coisas estão muito fáceis, muito rápidas para as crianças né? E aí está faltando desejo. Está faltando vontade, esperança, brilho nos olhos, sangue né, de falar assim, olha: eu vou trabalhar. Eu quero ser isso. Essa oportunidade, por exemplo, de trabalhar na área científica e falar: gente, eu quero trabalhar na EMBRAPA né?

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Eu quero conhecer. Então tem muita coisa boa para mostrar para o futuro das profissões das nossas crianças e jovens, que não estão sendo mostradas. Então, não sei por que essa pauta veio. Mas a gente vai conseguir, de alguma maneira, mudar. Trazer um pouco mais de…

Luciano Pires: Eu fiz vários eventos para o agro inteirinho. Eu já trabalhei para muita empresa fazendo as palestras. E para várias associações. Eu me lembro que uma vez eu fui em Pato Branco. E tinha lá o pessoal do milho e porco. Milho e suíno. Eu acho que era isso aí, associação do milho, associação do suíno, não sei o quê. E eles perguntaram. Teve um debate no final. Eu vou lá, dou a minha palestra e eu falo: eu não entendo nada disso aí. Aí ouvindo o debate, eu virei para eles e falei: vocês apontaram um negócio interessante aí que foi o problema de mão de obra, como é difícil e não sei o quê. Porque vocês não criam uma universidade do milho? Uma universidade do suíno? Como assim? Eu falei: cara, para de esperar o governo. Monta. Faz. Vocês têm dinheiro, cara. Faz uma universidade aqui, pautada para criar profissionais do milho, profissionais do suíno. E aí dei exemplo. Eu falei: a Ford fez isso. A Ford botou uma fábrica em Camaçari. Não tinha mecatrônica. Ela botou uma escola de mecatrônica e começou a formar todo mundo em volta, ali da região, em técnicos ali né? Que é um componente social, porque você acaba mudando a história da região. Quando você bota uma escola lá e ensina a molecada. Não que esse menino vá trabalhar com milho. Mas o fato de você educá-lo, dar para ele educação, ele sai de lá e fala: não é milho. Vou montar um petshop. Mas cara, eu tive um monte de aula aqui. Eu mudo a história da região ali né? De novo: é uma iniciativa que vem da sociedade civil.

Christian: Da sociedade. Lógico.

Luciano Pires: Mas eu fui cutucar a sociedade civil e me deparei com uma coisa interessante, que é o seguinte cara: a cadeia do agro – agora vocês me corrijam aqui, porque eu vou falar um monte de coisa aqui né? – A cadeia do agro, que começa com o Seu João fazendo a plantação dele, desmatando ali para começar a plantação. E termina na – fala um nome aí – na JBS, exportando carne para a China. Trabalhar a carne para a China. Cara tem um milhão de coisa no meio do caminho. Então tem o pessoal que planta. Tem o pessoal que está lá plantando, cuidando. Tem o pessoal que transporta. Tem o pessoal que processa. Tem o pessoal que embala. É uma cadeia gigantesca. E esses elos, eu não encontrei a preocupação nos elos. Então eu estava conversando lá. Eu falava: vem cá, mas a responsabilidade de dizer para a sociedade que ela não está sendo envenenada pela comida é do Seu João, que está plantando? Ou é da Bayer, que fabrica o defensivo? Ou é do cara que embala? Quem é que tem que fazer isso aí? Ou é o cara que está botando anúncio na televisão? Agro é pop. Bonitinho né? Eu não encontrei isso como uma preocupação da cadeia como um todo. Porque se a cadeia fizer, ninguém segura cara, a cadeia é muito forte né? Mas parece que ela… os elos não se…

Christian: É. Mas na cadeia toda, ninguém tem tanta dúvida.

Luciano Pires: Sobre?

Christian: Sobre a importância, a eficiência…

Luciano Pires: Sim. Mas você está falando para o seu umbigo. Ela fala para o próprio umbigo.

Christian: É. Mas o grande debate entre nós que estamos envolvidos com essa cadeia é que é muito maior do que o produtor rural. É o que você falou: é a vocação brasileira. Tudo que essa locomotiva com essa produção de grãos e fibras, energia, puxa atrás. Todas as indústrias que estão atrás. Toda a tecnologia que está atrás. Tem um monte de gente em laboratório no mundo inteiro, pensando coisas para a nossa agricultura, que é diferente do resto do mundo. Então tem ciência, tem equipamento, tem… não é… é um carro chefe. É a vocação do país. Cada país, em tese, tem uma vocação né, enfim. O Brasil tem. A vocação do Brasil é fazer o que ele quiser. Só que ele não vai mais produzir chips. Isso ficou para trás. Perdeu para a Coréia. Perdeu para o Japão. Perdeu para a China. Mas agricultura, produção de alimento, a agregação de valor é a vocação brasileira. Essa locomotiva está andando. E quem está conectado nela não tem dúvida. Mas tem muita gente que não está.

Luciano Pires: Sim.

Christian: Uma sociedade 86% urbana, que vive em centros urbanos. É bastante.

Luciano Pires: Que é o povo que faz essa cultura.

Christian: É.

Luciano Pires: Esse é o povo que faz uma escola de samba desfilar com um enredo dizendo que tem que acabar com os… que tem que voltar ao que era antigamente…

Christian: Exato.

Luciano Pires: E bota a ala do agronegócio, os caras com uma motosserra na mão. E faz o desfile com a Rede Globo dizendo que é o máximo. Desfile de escola de samba. Ou seja, isso é cultural. Passa a ser um problema cultural.

Christian: Tem um enfrentamento aí, que eu acho que é essa bipolarização generalizada aí, que é um pouco essa ideia, que tem a ver com o funcionário que está ali aprovando os estudos, como ele foi formado.

Luciano Pires: Sim.

Christian: Aquilo que ele coloca no livro. Aquilo que os professores falam – duas, três gerações para trás – falam nas universidades. E essa ideia que você estava falando sobre todo mundo… por que não faz o sujeito ter uma aula de suínos e aves? Uma aula de grãos? E seguir a vida como um técnico? Porque no Brasil, todo mundo tem que ser formado na universidade. A mesma escola, o mesmo grupo ideológico, que acha que todo mundo tem que fazer faculdade. Todo mundo tem que ser doutor em Direito. Não vai ser. E sabe por quê? Porque em nenhum lugar do mundo é. Nos Estados Unidos não é. Na Alemanha não é.

Luciano Pires: O que seria do setor de saúde brasileiro se só tivesse médico? Se não tivesse os técnicos de enfermagem? Porra; acabava.

Christian: A Alemanha, o país mais organizado do planeta tem escola técnica.

Leticia: Hoje em dia isso está mudando. Com esse governo atual, eles exigiram que dentro do colegial, o aluno tenha 900 horas, chama itinerário… itinerário alguma coisa. Mas são 900 horas de formação técnica. Então ele sai de lá já formado. Eu sei porque algumas Secretarias de Educação nos procuraram para ajudar a montar o itinerário técnico do agro. Então a gente indicou ESALQ, algumas outras universidades que poderiam ajudá-los. Eu tenho percebido que o De Olho tem sido uma ponte para ligar essas pessoas. Para ligar os ministérios, para que pegue esses dados mais oficiais. Para ligar essas faculdades com as Secretarias de Educação, que podem dar mais suporte. Para ligar a EMBRAPA ali dentro assim. Possibilitando que essas pessoas se conversem.

Luciano Pires: Quem está vindo conversar com vocês é o governo federal, estadual, municipal? Quem é? Que entidade é essa?

Leticia: Tudo.

Luciano Pires: Todos vêm?

Leticia: Todos vêm. Governo… que está procurando a gente para poder formar são os governos estaduais, que o governo federal exige isso. Então eles teriam que ir atrás para poder montar. Cada governo, eu acho que monta os cursos técnicos que têm que ter. Mas tem que ter lá 900 horas que o cara sai formado de alguma maneira já, no 3º Colegial. As escolas que…

Christian: Tem uma questão institucional. Aqui no Brasil, as crianças são de responsabilidade municipal. Mas as escolas médias né, a formação média é de responsabilidade estadual.

Leticia: Estadual.

Christian: Então aí é que eu acho que está a chave do segredo.

Luciano Pires: E isso é um problema. Porque quando você sobe o problema para nível macro, eles se tornam insolúveis né? Não dá. Uma vez eu vi uma apresentação – eu acho que eu falei isso no programa com a Ilona aqui – eu estava vendo uma apresentação da Viviane Senna, do instituto deles. Contando um case que eles fizeram em qualquer estado do Brasil – eu não me lembro – que eles fecharam o estado e fizeram um case ali. E conseguiram ter um resultado muito bom de educação ali. E ela falou um negócio que eu nunca mais esqueci, ela falou: a gente consegue no Brasil ter ilhas de eficiência, que são além do primeiro mundo. Mas a gente não consegue multiplicar isso. Quando tenta transformar isso em quantidade se perde a qualidade. E aí a própria Ilona contando aqui, eu perguntei para ela. Eu fiz uma brincadeira. Eu falei: vem cá, se a minha cidade, Bauru, quiser revolucionar a educação, o que ela tem que fazer? Ela falou: fala para a prefeita ir buscar o programa de Sobral. Está publicado. Está na internet. Pega o de Sobral e põe em Bauru. Mas a prefeita pode? Pode cara. A prefeita pode tomar essa decisão. E ao fazer isso, ela revoluciona a cidade né? Ou seja, tem toda uma… não está tudo no colo do Bolsonaro, esperando ele assinar uma…

Todos Juntos: Não.

Luciano Pires: Assinar uma lei, nem do ministro “x”.

Christian: Não.

Leticia: Isso está nas mães, nos pais. Na pressão da região.

Christian: A sociedade tem que se organizar. É isso aí.

Leticia: Cada professor já consegue transformar 60 alunos. Você não tem um professor que você lembra com o maior carinho assim?

Luciano Pires: Claro. Tem.

Leticia: Que ajudou na sua caminhada? Ou você gostava muito de uma matéria?

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Ajudar você a ser quem você é? Então o que me encanta da educação e o que me deixa triste, ao mesmo tempo, com o que está acontecendo é isso. Porque eles têm uma geração na mão deles. Uma escola muda uma cidade.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Tipo: se ela tem lá as lideranças lá dentro, ela consegue de alguma maneira, passar essa paixão pelo estudo, essa vontade de procurar os dados, de capacidade crítica. Ela forma uma geração completamente diferente das outras né? Então a capacidade de quem está na educação, desde o professor até as editoras, até MEC, etc., é muito grande. Você muda o curso daquele país, o curso daquela cidade. Então realmente, eles têm uma certa autonomia. A única coisa que é obrigatória é a base nacional comum curricular. O que você tem que estudar no 1º ano, no 2º, tal, tal, tal. E toda vez que a gente chegava em algum lugar, eles culpavam a base. A base que está ruim. Foi construída lá nos governos anteriores. Ela que está ruim. A gente foi ler a base. É bem grandona. Pegamos todas as matérias que nos dizem respeito. E a gente foi ler. Ela é…  Eu não estou falando aqui que ela é boa nem nada. Eu acho que eu não tenho nem capacidade técnica para julgar isso. Mas ela é ampla. Então ela fala assim: fala sobre o uso da água no campo e na cidade. Aí você fala…

Luciano Pires: Sim. Ela não julga. Ela consegue praticar o discernimento?

Leticia: Isso.

Luciano Pires: Tem um homem e uma mulher. Fim.

Leticia: Sim.

Luciano Pires: E daí não é um homem e nem uma mulher. Agora eu vou dar a minha opinião. Você está gordo cara. Me chamou de gordo. Tem uma magrinha aqui.

Christian: Esse exemplo que você deu pode dar mais complicação ainda hoje em dia né? Um homem e uma mulher. Era sempre assim. Hoje não é mais.

Luciano Pires: Mas eu quero dizer, você aplicar. Se a regra vem assim, olha: aplique o discernimento e deixe para julgar depois. Quando alguém vai julgar começa a vim a militância. Começa a vim a agenda dos caras. E aí é terrível. Porque esse professor…

Leticia: É. Então, por exemplo, o município pode. O que a Ilona fala é assim, elas pegaram… Sobral cumpre a BNCC. Mas ele vai além. Entendeu? Ele conseguiu formar crianças lendo até “x” anos, aprendendo todas as divisões e multiplicações até tal idade. Isso nos padrões internacionais. Na hora que a gente pega o PISA, alguns exames internacionais, o Brasil está lá embaixo em quase todas as matérias. Então tem alguma coisa estrutural que a gente tem que fazer. E isso não é esquerda ou direita ou centro. Isso daí gente são nossos filhos. É nosso futuro. O Brasil tem um potencial imenso. Se a gente deixar isso ir para o ralo, a culpa vai ser nossa. Seja você de esquerda, de direita, da onde você quiser. Mas assim…

Luciano Pires: É. Não vai acabar bem.

Leticia: Não vai acabar bem. A gente tem um potencial. E todo mundo quer fazer parte desse potencial né, independente da ideologia.

Luciano Pires: Muito bem. Você está no LíderCast. O LíderCast é lançado por temporadas. Os assinantes da Confraria Café Brasil e Café Brasil Premium têm acesso imediato à temporada completa, assim que ela é lançada. Os não assinantes receberão os programas gratuitamente, um por semana. Para assinar, acesse mundocafebrasil.com e conheça nosso ecossistema do Café Brasil Premium através do site ou pelos aplicativos para IOS e Android. Você pratica uma espécie MLA, Master Life Administration, recebendo conteúdo pertinente, de aplicação prática e imediata, que agrega valor ao seu tempo de vida. São VídeoCasts, sumários de livros, PodCasts, e-books, eventos presenciais. E a participação em uma comunidade nutritiva, onde você faz um networking com gente como você, interessada em crescer. A entidade de vocês é uma ONG?

Leticia: Não.

Luciano Pires: É uma associação?

Leticia: É uma associação.

Luciano Pires: Tá. Como é que vocês estão financiando o trabalho de vocês? Vocês estão procurando empresas interessadas, que fazem doações? Vocês estão promovendo coisa? Como é que…

Leticia: A gente tem os associados, pessoa física ou jurídica.

Luciano Pires: Que paga para se associar?

Leticia: Que paga mensalmente né? Paga uma mensalidade. Isso faz com que a gente consiga manter o jurídico, a parte de comunicação. Estamos caminhando aí. Agora, os projetos não. Os projetos têm já um custo certo para aquilo. A prestação de contas também, em cima daquele projeto. A gente vai. O Christian nos ajudou muito a ir atrás das associações do agronegócio para ajudar num projeto muito importante, que vai ser feito pela USP. Está sendo feito pela USP, que é a análise desses materiais e entrega de um relatório com base científica. Então assim, nesse caso, a USP não é do setor, mas ela tem pessoas, tem integrantes do setor. O Dioro também está lá dentro, ajudando a estruturar tudo isso. E eu acho que vai ser uma coisa muito interessante.

Christian: Ou seja, é uma instituição aceita pelo Ministério. O Ministério que diz: eu aceito essas instituições. Eu considero essas instituições que têm neutralidade para fazer esse estudo.

Leticia: Tem notório saber né? Além de neutralidade. Não tem nenhum caso de corrupção. Então tem uma série de regras. A gente foi atrás. Pesquisou bastante.

Luciano Pires: Quer dizer, vocês têm uma rede de captação desses materiais, pelo Brasil inteirinho hoje?

Leticia: Pelo Brasil inteirinho.

Luciano Pires: Um pai que descobre um livro no interior do Sergipe?

Leticia: A gente recebe todos os dias pelo Instagram, todos os dias, pelo próprio e-mail da…

Luciano Pires: Ele bate uma foto e manda para você. Olha o que eu achei no material do meu filho.

Leticia: Manda. A gente separa por assunto e por editora. Porque como a gente vai conversar com essa editora, a gente sempre vai no formato de levar um agrônomo e aquele material dela. Olha: isso daqui está desatualizado. Ficou no tempo. Igual você falou: não necessariamente errado. Talvez, gente, isso aqui aconteceu. Mas tem umas coisas que aconteceram há 200 anos atrás. As outras pararam a 20 né? Teve um caso de uma editora que está fazendo um trabalho imenso conosco. Está viajando o Brasil inteiro. E ele falou assim: após chegar lá, será que eu poderia filmar os cortadores? A gente foi na usina São Martinho. Será que eu posso filmar os cortadores de cana lá, fazendo queimada e cortando? Eu falei: só se você voltar a 20 anos atrás. Porque a gente não deixa queimar. Não existe mais. Então assim: é proibido. Entendeu? Na hora que queima o negócio tem que fazer um BO. E assim, bota todo mundo correndo, porque aquilo lá é superprejudicial para a sua área e tudo. E aí eu falei: mas você espera que você vai chegar lá e ver. E na hora que ele chegou, ele viu aquelas colhedeiras andando sem… o cara não pega nem na direção. É tudo por satélite né? Pelo GPS e tudo. E aí a gente foi no Centro de Operações Agrícolas, no COE, que eram duas salas grandes dentro da usina e cheias de televisão, um monte de computador. E tudo técnico de TI. Eles têm cada trator, cada colhedeira trabalhando em todas as fazendas. Não é que você está coordenando um raio ali, que é a indústria, que tem uma parede né, um alambrado. Não. Aquela fazenda que está a não sei quantos quilômetros, ela também estava ali. Eles sabem quanto que está colhendo, como que está colhendo, em tempo real. Ele falou: isso aqui é a NASA. E você estava querendo filmar os cortadores de cana com o podão e botando fogo na cana. Aí você vê a distância sabe?

Luciano Pires: Mas como você é maldosa. Você botou máquinas lá. E aquele povo todo perdeu o emprego. Aqueles pais e mães que estavam cortando cana e tudo? Você jogou uma mão de obra. Você acabou com o trabalho deles. Olha: como pode? Quebrem as máquinas.

Christian: Isso também é uma lenda. Você sabe né?

Luciano Pires: Do quê?

Christian: As pessoas todas que saíram do campo…

Luciano Pires: Foram para algum lugar…

Christian: Foram treinadas para ir para os… aquele sujeito que está sentando na frente daquela tela foi treinado pela São Martinho. Porque o pai dele estava cortando cana.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: Exatamente.

Luciano Pires: A geração virou…

Christian: As empresas fizeram isso.

Luciano Pires: Um dos caras que me falou – lá de Mato Grosso, que eu achei interessantíssimo – ele falou: cara, quando eu venho contratar gente para a fazenda, a primeira coisa que os caras querem é wifi. Eles vêm: tem wifi? Não é se tem água? Se tem lugar para dormir? Não. Tem wifi? Se não tiver, eu não vou.

Christian: A coisa da conectividade que ela estava falando.

Luciano Pires: É isso aí.

Leticia: Não. E ele teve o prazer de conversar com as pessoas que estavam lá. E eles falavam: eu era ex-cortador de cana.

Luciano Pires: Sim.

Leticia: E ela profissionalizou. Quem quis essa oportunidade foi estudar. Foi fazer. A gente vê isso muitas vezes né? Eu vejo até vídeos do Youtube. Cursos do SENAI. Tem muitos parceiros que ajudam nesses treinamentos para esses maquinários, que são caros né, grandes. E transformam a vida da pessoa. Dá dignidade.

Luciano Pires: E você não está falando de uma ilhazinha num canto.

Leticia: Não.

Luciano Pires: Você está falando de algo que é… eu vi uma coisa parecida… Luiz Eduardo Magalhães. Eu estava com o cara no carro lá, ele pegou o celular dele e falou: dá uma olhada aqui ó. E eu vi rodando no celular. A máquina estava… e ele mostrando para mim quantas sacas ela estava colhendo ali na hora, mostrando gráfico, tudo no celular dele.

Christian: A produtividade na tela.

Luciano Pires: Exatamente. Na tela do celular dele ali, na hora. Quer dizer, é uma coisa extremamente evoluída.

Leticia: É. E muito comum. Porque se você não segue, você está um pouco fora do setor, entendeu? Não tem jeito mais de você fazer as coisas como era antigamente. Porque você não tem competitividade.

Luciano Pires: Sim. Você fica para trás.

Leticia: Você fica para trás e você não tem lucro. Aí eu não sei o que você vai fazer. Então essa atualização tanto da mão de obra. Esse investimento no social. O cumprimento das leis em relação ao desmatamento, a parte de reserva legal. Se não tiver…

Christian: Código florestal…

Leticia: Código florestal. Se não tiver, você não financia um trator. Você não tira um financiamento no banco. Então não é… é lei. Não é só… a gente faz. Mas é lei.

Luciano Pires: Eu peguei um caso lá no Mato Grosso, que o cara estava dizendo que um amigo dele estava desesperado.  O cara tem uma fazenda no Mato Grosso. Então você fala para um paulista. O paulista fala: você tem uma fazenda. Como é que você faz? Eu acordo de manhã. Eu abro a janela e eu vejo a fazenda. Termina naquela cerca lá. Paulista é assim. Mato Grosso cara, eu vou botar um carro, eu vou dirigir quatro horas para chegar no fim da fazenda. Ou seja, não dá para controlar aquela imensidão. E um desses caras teve uma invasão na fazenda dele. Os caras entraram lá, cortaram a madeira e roubaram a madeira. E o satélite pegou. E foi cair no colo do cara uma multa de cinco milhões de reais. Ele foi roubado. Invadiram a fazenda. Fizeram à revelia dele. E ele tomou uma multa, porque o satélite estava lá em cima vigiando, para ver o que estava acontecendo lá. Quer dizer, todo esse ferramental está em uso. Isso aí não é lenda né? Então é muito difícil você ser… você ser um criminoso hoje e passar impune. Igual apareceu esses dias esse negócio das balsas dos mineradores e tudo mais. Aí foram conversar com os caras. Mas espera um pouquinho. Não é assim, que o cara invadiu, foi lá e ninguém viu. Todo mundo vendo cara. Tem um crime ocorrendo. Quem está em volta está sacando. E se ele está acontecendo é porque tem conluio com autoridade que devia estar lá e não está fazendo acontecer né? Deixa eu voltar um pouquinho mais aqui na  mãe com os seus filhos. Essa história toda né? Você mora na fazenda ou você mora na cidade?

Leticia: Não. Eu moro na cidade.

Luciano Pires: Você mora na cidade. Eu conheci lá. Eu fui visitar também famílias que vivem lá dentro da fazenda né? Cara é sensacional. Porque eles têm um lance de comunidade, que a gente já perdeu aqui na grande cidade. Aqui não tem mais. Lá é comunidade. Porque eu chego lá e tem um CTG. Todo lugar tem um CTG e a reunião acontece. Então todo mundo sabe quem é quem. Então tem um senso muito interessante, que tem muito a ver com os valores conservadores do Brasil. É um pessoal religioso. É um pessoal que preza a família. Essa discussão toda que nós estamos tendo aqui de banheiro trans nem bate lá. Porque é uma outra agenda né, completamente diferente daquela lá. E esse pessoal está exposto a essas cartilhas. Manda o moleque na escola, o moleque volta: pai, você está matando índio pai? O pai: eu não. Mas na escola falaram que o senhor mata. Mas eu não mato. Dá um nó na cabeça das pessoas. Quantas pessoas têm associadas hoje? Você consegue imaginar o tamanho?

Leticia: 64.

Luciano Pires: Cara é muito pequeno isso. Esses 64, é pessoa jurídica ou é física?

Leticia: Os dois. Monitorados.

Luciano Pires: Cara, 64 é nada. Nós precisamos fazer virar 100 mil e 400.

Christian: Vai virar. Vai virar.

Luciano Pires: Como é que está? Como é que vocês estão trabalhando isso? Vocês estão contando? Tem…

Leticia: É muito novo também…

Luciano Pires: Já tomaram pedrada? Já começaram a tomar pedrada?

Leticia: Já. De todos os lados.

Luciano Pires: Já estão tomando?

Leticia: Já. Mas vou te dizer que mesmo os que tentam dar pedrada tem hora que se convence. Porque não tem jeito. A gente não está fazendo… não é assim: tem que defender esse setor. Vamos romantizar. Não. Não é. Por que o agro também? Por que a gente pegou o agro? Porque o agro faz parte da nossa história, passado, presente e futuro. Então assim, a história do Brasil. Se você pegar História, Geografia, matérias inteiras. Então você pega em texto de Português, às vezes, nos enunciados de problemas de Matemática, algo relacionado ao agro. Você mesmo falou da nossa história né, como é que a gente subiu. Como é que a gente desbravou. Então na hora que você fala assim: vou trazer dados científicos em relação a esse setor. Você está falando: eu vou reformular quase História inteira. Geografia inteira. Grande parte dos textos de Português. Ciências, uma boa parte também. Porque tem a parte de Genética. Porque então você já consegue rever boa parte dos materiais em quase todas as matérias. Entendeu? Você me fez uma pergunta. Eu voltei nisso daí. Eu esqueci.

Luciano Pires: Não. Você falou das 64 pessoas. Eu falei dos 100 e 400. Aí perguntei se você já tinha tomado pedrada.

Leticia: Isso. Então a ideia é a gente… lógico, têm as pessoas que vão contra. Fazem perguntas bem agressivas, muitas vezes. Então vocês querem romantizar. Vocês estão querendo destruir a História. Estão querendo virar para o setor que mais oprime todo mundo, que escraviza.

Luciano Pires: Isso chama-se SBP, Síndrome do Brasil Paralelo. Vocês estão querendo destruir a História. Estão querendo virar ao contrário. Estão querendo contar as mentiras todas. Deixa. A gente só quer mostrar que tem outra verdade aqui.

Leticia: Tem.

Luciano Pires: Têm números aqui que mostram que não foi bem assim.

Leticia: É. E na hora que você vira para a pessoa, mesmo a contrária e fala assim olha: você quer isso para os seus filhos? Você daria só o ruim? A sua ideia é que você tenha filhos e eles sigam como vítimas. E que o Brasil é horrível. E que a nossa maior vocação é assim: a gente está matando todo mundo. É isso que você quer? Ou você quer contar uma história verdadeira? Porque ela tem o outro lado. E o outro lado não é a Letícia te falando. Não é até a EMBRAPA. Não. Você vem ver. Pode vim. A gente abre aqui para você ver. Você quer conhecer qual setor? E a gente entender também, igual você falou da cadeia do agro: ela é muito ampla. Então ela passa pela cidade várias vezes né? Você produz trator aqui. As escolas estão aqui. As pesquisas. E aí segue para o campo, produz aquele alimento e devolve no supermercado. Devolve nas indústrias e depois no supermercado. Então a cadeia é muito ampla. Então assim, para te falar a verdade, a gente já tem apanhado muito. Têm muitas pessoas que nos procuram. A gente geralmente dá entrevista. Conversa. Mas muitas vezes não sai a reportagem extremamente fidedigna. Mas eu não tive nenhuma experiência que as pessoas também distorceram a nossa fala. Porque é uma fala legítima. Ninguém está escondendo nada aqui.

Luciano Pires: Você não está incomodando muito ainda. Deixa incomodar um pouquinho mais. Você vai ver o que vai sobrar…

Christian: Tem um aspecto também Luciano, que eu acho que vale a pena acrescentar. Que parece um discurso elitista quando você fala da SLC, quando você fala da São Martinho. Quando você fala desses sucessos absolutos, universais, da agricultura brasileira. Que não é a maioria. Não é mesmo. Acontece que isso que a gente está falando aqui, ele está em todas as esferas. Eu estava no Piauí há três meses atrás. O polígono da seca. E fui ver a turminha que está produzindo leite de cabra e queijo de cabra. Está abatendo cabra, cabrito, de um jeito novo. Ou seja, começaram a entender. A incrementar a alimentação com a própria vegetação do lugar. Você não precisa trazer soja e milho. Não. Da própria caatinga. Você alimenta o cabrito que vai produzir uma proteína melhor, um leite melhor. E esse produto chegou pela primeira vez aqui em São Paulo há dois meses atrás. O cabrito pé duro tem 500 anos nesse país. 96% do mercado de cabrito, de carne, é irregular. Então está chegando novas fases. Novas ondas de desenvolvimento, de ciência, de desenvolvimento social, no polígono da seca, através da agricultura.

Luciano Pires: Você está me dizendo que em 2021, 96% da carne de cabrito é irregular?

Christian: Da carne de cabrito é irregular. 20 milhões de cabeças no universo brasileiro. Você vai para um lugar que chama Remanso. Tem uma feira às quintas-feiras à tarde. A turminha vai com mochila de dinheiro. Tem um monte de cabra. Um monte de gente comprando e vendendo. É um mundo à parte. Aquilo ali vai começar a entrar na economia formal. E a genética daquelas cabras vai começar a convergir. Eles começaram a entender. A turminha que foi lá ensinar, não é para ensinar para dar Bolsa Família. É para ensinar o sujeito a ganhar dinheiro. Então não é só São Martinho. Não é só suco de laranja que vai de navio para o Japão, que desenvolveu o suco concentrado. O suco de laranja brasileiro entra num navio com uma pasta, sem entrar em contato com o oxigênio e vai até o Japão. Quem desenvolveu essa tecnologia? Os brasileiros. Não foram os suíços, nem os alemães. Desde esse nível até a cabrinha do Piauí, a coisa está dando passos largos de desenvolvimento. E trazendo as pessoas mais humildes para o jogo. É essa a matéria que tem que ir para o livro escolar. E não Vidas Secas, que a gente leu na escola, do Graciliano Ramos, da cachorrinha Baleia, que ia chorando para a cidade. Isso não existe mais. O moleque eu vi lá, da idade do meu filho. O teto todo sem telha. Eu falei para o moleque: você tem conectividade aqui no celular de vocês? Tenho. Conecta para mim. Um moleque da idade do meu filho, no sertão do Piauí. Conectou. Tem os mesmos joguinhos do meu filho. Acabou Luciano, acabou. Um moleque no meio do Piauí.

Luciano Pires: Tem uma revolução acontecendo Christian, que é um negócio impressionante. Inclusive uma parte dela sofre um (bust 01:08:26) com a pandemia. A pandemia chegou para atrapalhar a vida da gente. Mas ela está trazendo uma revolução para esse país aqui, que ninguém reparou ainda né? Eu estava conversando isso ontem à noite com o pessoal. Está tendo uma distribuição de renda nesse país aqui, como nunca houve na história do Brasil. E ela começa assim. Eu entrevistei aqui outro dia, um cara de uma empresa de TI. E ele falou o seguinte: cara, a minha empresa sempre teve uma regra, que foi a seguinte, eu não contrato ninguém que mora há mais de 10 quilômetros da empresa. Porque eu não quero gente no trânsito. Então é só aqui em volta. Ele falou: com a pandemia ficou sem sentido. E eu estou com um monte de funcionário no Piauí, em Porto Velho, não sei o quê. E ele falou: aconteceu um negócio cara. Eu estou pagando para um desenvolvedor de Porto Velho, o salário do desenvolvedor de São Paulo. A única chance que esse cara tinha de ganhar esse dinheiro era vir para cá e morar aqui e pagando o custo daqui. Então esse cara vinha para cá para ganhar 10 e gastava oito. Agora esse cara ganha 10 e gasta três. Esse dinheiro está indo para lá. E isso está acontecendo no Brasil inteirinho. Então você imagina. Pega isso que você falou. Junta com essa história do dinheiro indo para lá. Junta com o pessoal que está se preparando, com essa infraestrutura, que estão arrumando as estradas, ferrovia e tudo mais. Cara: tem uma revolução silenciosa acontecendo aqui, que é assustadora. Mas tem uma narrativa para dizer que está uma merda.

Christian: Que está tudo errado. É.

Luciano Pires: Se você ligar hoje à noite no Jornal Nacional, quando terminar, você vai comprar a passagem…

Christian: De ida.

Luciano Pires: Só de ida. Eu vou. Porque esse país é inviável né? E não é.

Leticia: E não é.

Luciano Pires: Não é né? Como é que vocês estão divulgando o trabalho de vocês aí para trazer mais gente? Eu quero ir. Como é que eu faço?

Leticia: A gente tem um Instagram que se chama @deolhonomaterialescolar. Então lá a gente tem toda a parte das nossas redes sociais, onde estivemos; o que fizemos. Quem faz parte da Associação também recebe semanalmente todos os passos que a gente… que a diretoria tem dado. Recebe também e-mail mensal. E as associações que nos ajudam também; a gente faz um mailing geral com essas associações, de como estão andando os projetos. Mas por enquanto é por aí e na mídia também. Temos ido bastante. Muita gente tem nos procurado. A gente esteve no Terra Viva na TV Cultura. Muitos programas de rádio.

Luciano Pires: E esse povo todo aí que você representa aí, cara? Essas empresas todas que estão sentadas em cima da grana e tudo mais? Eu te fiz uma pergunta lá atrás. Eu pensei que você ia mais fundo. Você deu uma saída. Você não comentou. Quando eu te falei dos elos da cadeia, que não têm uma visão em conjunto. Não falam: nós, todos os elos juntos, vamos resolver o problema da imagem do agro. Se os elos se juntarem é irresistível né? Não tem quem segure. E o agro não faz isso. Tem elo que não está nem aí. Eu não estou nem aí. Isso não é problema meu. Você que está plantando, que se vire. O problema é teu. Não é teu. Esses elos sentam para conversar? Ou cada um está no seu mundo?

Christian: Eles sentam. Não, não. Eu acabei desviando da ideia e realmente não completei. Tem muito a ver com o que nós estamos falando aqui com o De Olho no Material Escolar, apesar de não parecer. A cadeia, todas as cadeias, as 48 associações agrícolas brasileiras que estão, por exemplo, o Instituto Pensar Agro, que é uma base de instituições que fomentam os parlamentares da frente parlamentar, por exemplo, está tudo ali. Desde alho, batata, até lá suco de laranja e cana. Essas 48 se comunicam muito bem. Ninguém ali tem dúvida sobre as coisas. O problema é e tem sido – e ninguém sabe como resolver – levar esse universo todo para o resto da sociedade. Como comunicar isso de um jeito eficiente? A gente não tem ideia e não tem acertado. São muitos projetos tentados.

Luciano Pires: Bota um anúncio no Jornal Nacional dizendo que o agro é pop.

Christian: Então? A ideia do agro é pop, eu não critico. Sabe por quê? A decisão foi de um dos diretores da gestão anterior da Globo que percebeu que estava minguando os recursos. E que o agro estava indo para cima. É uma opção de anunciante. Então ele começou a fazer. Ele teve essa ideia. E aquilo foi produzido dentro da Globo. Não tem ninguém que bancou aqueles filminhos do agro é pop, nem o conceito. Acontece que ele deu certo. Porque ele deu uma popularidade. Só que ele foi bombardeado pelo outro lado, por causa disso. Ele é pop, mas escraviza. Ele é pop, mas é só para quem é rico. Ele é pop… então começou essa disputa de novo. Levar isso que a gente está tentando conversar aqui de um jeito que seja: esse país é grande, ele é jovem, ele tem um potencial maravilhoso. A vocação dele é produzir alimento e todo mundo vai se beneficiar disso. Só tem um jeito. Não é na Globo, nem na cadeia integrada. É na escola.

Luciano Pires: Sim.

Christian: É por isso que eu boto tanta fé – eu a torcida do Flamengo botamos fé nisso – porque é na geração, pela molecada na escola, que vai visitar a fábrica de algodão e falar: caraca, que negócio enorme. Eu nem sabia que isso existia. Parece foguete esse troço de algodão aqui. É o caminho.

Luciano Pires: Eu falo nos PodCasts há um tempão aí, o seguinte cara: no Brasil, alguém devia baixar uma lei em algum canto qualquer, convencer o Supremo Tribunal a não impedir que essa lei fosse baixar. Que dissesse o seguinte: para você ter um diploma superior de qualquer coisa. Medicina. Fala o que você quiser. Tem que ter uma temporada dentro do agro. Você vai passar 15 dias, enfiado no interior do Paraná, vendo como é que funciona. Depois você volta e pega o teu diploma de Medicina. Se não tiver o carimbinho lá, não vai. E mete moçada no ônibus. Manda para lá. Fica 15 dias e volta. E aí começa a impregnar. Eu vi cara. Eu fui lá e eu vi como é. Eu vi como o cara cuida do boi. Aí você começa a fazer uma revolução.

Christian: Você lembra do Projeto Rondon?

Luciano Pires: Eu fiz.

Christian: Se você fez é por isso que você tem essa cabeça. É o Projeto Rondon do século 21.

Luciano Pires: Eu fiquei um mês em Irecê, na Bahia, em 1976. Você imagina o que era. Eu passei um mês lá dentro. E eu era estudante de Artes, junto com o pessoal da Medicina. Eu lá ensinando o pessoal a fazer coisinha de barro, não sei o quê. Com o pessoal da Medicina. E eu junto com eles, atendendo. Apavorado, vendo o cara arrancar um dente. Mas cara, aquilo foi uma aula de Brasil.

Christian: Uma aula de Brasil. Exato.

Luciano Pires: Como eu nunca teria na minha vida.

Christian: O Projeto Rondon. Vamos guardar essa ideia. O De Olho daqui a pouco, quando ficar mais parrudo, lançar o Projeto Rondon pós-moderno. Que as escolas, os voluntários, a garotada rodar o Brasil. Conhecer in loco o bom e o ruim. Não é só coisa boa não. O bom e o ruim.

Luciano Pires: Mas é aquilo que eu falei: não precisa esconder nada lá ou só maquiar.

Christian: Não.

Luciano Pires: Vem cá: tem um problema aqui? Tem

Christian: Tem muito problema.

Leticia: Com as editoras que a gente tem viajado a gente chegou a ir em assentamento de nove hectares e em fazendas, grupos imensos que tem no Mato Grosso, igual você citou. Então a ideia não é a gente ver só aquele grande. Mas ver a possibilidade que aquele de nove tem de fazer um bom produto. De poder seguir também. De aproveitar disso daí né? Só a EMBRAPA de Sinop tem 46 laboratórios. Isso a editora olhava e falava: eu não estou acreditando. O cara tirava foto da porta do laboratório. Ele falou: eu nunca vi tanto nome escrito, tudo que eles pesquisam aqui. Então isso é muito legal de ver. E cria oportunidades muito grandes. O Brasil não tem só… tem o agro. Mas o tanto de minério. O potencial de biodiversidade é imenso. Tem como crescer sem desmatar. Crescer na produtividade. Tem tecnologia. A gente esteve no AgriHub lá no Mato Grosso também, que desenvolve todos os RPs etc. para o produtor. E ali em Piracicaba tem o Vale do Silício ali. Tem um monte de startups juntas ali, desenvolvendo para a indústria do agro, coisas novas.

Christian: Inclusive uma das nossas, que eu acho que é uma das maiores empresas de biodefensivos. Uma empresa holandesa que está crescendo 50% ao ano no Brasil com pesquisa nesse lugar. Chama Spark. Nesse “Vale do Silício” de Piracicaba. Brasileiros desenvolvendo microrganismos que atacam microrganismos. Não é suíço. Não é australiano. Por quê? Porque tem que ser aqui. Porque é a nossa natureza. Não é importado. É coisa que serve ao brasileiro.

Leticia: Então isso daí é uma oportunidade que a gente não tem como tirar das crianças. Entendeu? Por isso que eu acho que não tem de lá ou de cá. É gente: vamos fazer isso para o Brasil todo. Vamos trazer as crianças junto né?

Luciano Pires: Cara, não dá uma agonia hein?

Christian: Ô se dá.

Luciano Pires: Você vê tanta coisa por fazer. Eu conversei com o Paulo… um dos presidenciáveis, quando estiveram aqui. E um deles, eu virei para ele e falei: cara, você está a meia hora descrevendo os problemas que o Brasil tem. Vem cá cara: é impossível resolver. Por que você quer ser presidente da República, para sentar numa bomba? Isso é impossível de ser resolvido. Porque ele é muito grande. É tanto problema que você fala: eu não sei nem por onde começar. E a gente está vendo um exemplo agora. Um governo que chega lá e fala: eu vou botar a mão numas cumbucas aí. Ó o rolo. Ó o tamanho da encrenca. Você comentou um negócio aí que é… ou na hora do café. Eu não me lembro. A gente falou alguma coisa. Você falou: a gente está tentando fazer.  A gente está tentando. A gente vai precisar de uma geração para mudar. Sabe por quê? Porque tem uma turma trabalhando contra. Não é só o problema: vou construir. Tem uma turminha destruindo. E é complicado. Porque esse pessoal, ele está esparramado. Ele está agindo…

Christian: O Brasil é muito grande. Eu vou trazer modestamente, uma experiência de campanha. Eu nunca imaginei que fosse presidente da República. Mas eu acabei entrando numa toada que eu ia ser vice-presidente da República. Teve até uma semana que eu achei que ia ser mesmo. Antes da facada, eu achei. Eu lembro que eu cheguei em casa e falei para a minha ex-mulher – durante a campanha – eu falei: Rosane, eu vou ser vice-presidente da República. Ela olhou para mim e falou assim: Christian vai tomar água. Não. Eu vou ser. Porque a gente estava crescendo a 45 graus. Em julho a gente tinha zero. Na primeira semana a gente foi para um. Depois foi para 2, depois foi para 3. Depois foi para 4. E na primeira semana a gente ia para 6. Que foi quando teve a facada. Eu estou dizendo isso pelo seguinte: eu rodei o Brasil como… o João Amoedo, que era o candidato principal da chapa rodou muito mais. Mas eu rodei como nunca tinha rodado na minha vida.

Luciano Pires: Sim.

Christian: E cheguei à primeira conclusão, que esse país é muito grande. A gente acha que sabe. A gente fala muito isso no dia a dia. Mas não tem ideia. Quando você começa a ir para o Rio Grande do Sul e faz sete municípios em três dias. Olha no mapa e fala: olha o que eu fiz. Você fez um penico. Imagina o tamanho do Pará. Imagina o tamanho do nordeste inteiro. Então primeiro tem que ter essa noção. A gente quer ser. Quer ser. Mas a gente não é o Uruguai – com todo o respeito – nem a Bélgica. A gente é um negócio gigantesco. E é muito jovem. Depois tem muito potencial e pouca organização. O país é desorganizado, institucionalmente desorganizado. E tem, por fim, uma corporação – que é um pouco o que você está dizendo – tem muito inimigo. Não tem muito não. Tem um muito organizado. Que é uma corporação, que conseguiu as melhores posições, geralmente estão vinculados ao orçamento do Estado, que é uma Petrobras da vida. São as posições de comando do judiciário. Eu não estou falando contra tá? Ninguém quer perder o que conseguiu. Esse grupo não quer largar o osso. E aí para você mexer num país desse tamanho, é tão complexo que você não consegue mexer em dois, três anos. Tem que investir na molecada.

Luciano Pires: Sim.

Christian: É óbvio, você investe na molecada, que você vai daqui há 25 anos tirar dali 100 cabeças brilhantes, que vão ocupar posições políticas. E aí quando a gente estiver velhinho a gente vai ver mudar.

Leticia: Por isso a importância também da gente estar em todos os estados. Porque o Brasil, além de grande, ele é muito heterogêneo. Uma cultura que tem aqui, não tem ali. Uma coisa que produz aqui não produz ali.

Luciano Pires: Vocês estão em vários estados?

Leticia: Estamos em 12.

Luciano Pires: 12 já?

Leticia: 12.

Luciano Pires: Nós vamos fazer esse negócio crescer.

Leticia: Então assim, a ideia… você falou do Rio Grande do Sul. Eu acabei de viajar. Fazer de carro Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. É outro lugar maravilhoso. Com tanta cultura diferente. E tanta preservação também. Eu nunca vi tanta árvore, tanta área de preservação junto, convivendo bem nas maiores áreas de produtividade brasileira. É muito orgulho. Quando a pessoa escreve aquilo que está ou concorda com aquilo, eu fico pensando: ou ela nunca saiu do apartamento.

Luciano Pires: Isso aí.

Leticia: Ou ela sai só que ela não olha. Ela não repara. Porque um pouco que você olha para o Brasil para fora, você consegue entender que o nosso potencial é muito grande. E é por isso que os outros países estão preocupados conosco né?

Luciano Pires: Nós três que estamos aqui, a gente já rodou um bocado aí. Eu já fiz também essa experiência. Eu já fui para lá. Então o recado para quem está ouvindo aí. Você que está ouvindo e está mal-humorado, que está puto da vida com o que nós estamos defendendo, pega esse teu mau humor cara, empacota e vai lá. Vai para o Paraná. Vai para o interior. Vai visitar. Vai conhecer. Passa lá e vai falar com a pessoa.

Christian: Vai para o Piauí.

Luciano Pires: Vai procurar o cara que põe veneno. Vai lá no cara que usa o veneno e conversa com ele e vê como é que funciona. Eu fui lá visitar o pessoal do aeroporto, que tinha uns aviões de borrifar os defensivos, o agrotóxico. E o cara estava mostrando para mim o avião e falando. O cara era piloto. Eu falei: cara como é ser piloto? Ele falou: antigamente era complicado. Por que o que você faz? Você faz o sobrevoo em cima da cultura soltando o veneno. Lá na frente ele faz uma volta e vem de novo. Então ele ia cobrindo. Vai e volta. Vai e volta. Vai e volta. Ele falou: a gente ia no olhão. Ele falou: então, o que acontece? A gente soltava uma camada de defensivo. Quando eu voltava, eu soltava outra camada. E as duas camadas tinham uma sobreposição. Essa sobreposição dava dois milhões de reais a mais de defensivo, que não precisava. Porque ela está caindo onde já caiu. Daí ele falou para mim: hoje quem dirige o avião é o GPS. Ele falou: está aqui. Eu boto aqui. O GPS faz o avião vir numa posição tal, que aquele sobreposto diminuiu. Então o cara economizou dois milhões. Quer dizer, é desse tipo de detalhe que está se tratando cara.

Christian: É agricultura de precisão que chama. Isso vem desde o avião até o medidor de temperatura da raiz. Tem equipamento que mede quanto de água. Qual a temperatura da raiz em determinado momento do crescimento da planta. Tudo desenvolvido aqui. Eu não sou nacionalista da linha tecnológica. Mas eu acho importante dizer que quem está fazendo essas coisas está aqui. E é coisa assim. A agricultura de precisão não está em todos os lugares. Tem lugares ainda muito distantes disso. Mas isso já é uma realidade. Isso já é um termo que a gente usa nesse grupo que você fez a cadeia aqui. Todo mundo já sabe o que é agricultura de precisão. Defensivo agrícola daqui a pouco – como já é em alguns lugares – você não vai mais pulverizar tudo. Você só vai pulverizar onde o infravermelho verificar que tem…

Luciano Pires: Um drone vai lá e…

Christian: O drone já faz isso. Experimentalmente ele já faz. Ele vai identificando. Você vai gastar muito menos, o produtor. E a indústria vai ter que lidar com isso. Já é uma realidade.

Luciano Pires: Sim. A intenção é menos veneno.

Christian: É menos veneno e menos custo.

Luciano Pires: Se eu quiser um veneno novo é porque ele é melhor que o antigo.

Christian: Menos tóxico.

Luciano Pires: Que venha rapidamente o novo.

Leticia: E no Brasil tem crescido muito a parte dos orgânicos. Dos biodefensivos. Tem um potencial imenso aqui também.

Luciano Pires: Bom moçada. Esse papo aqui é sensacional. Eu costumo falar para a turma. Essa semana eu estava almoçando com um amigo meu, eu falei: você está triste cara. Sai. Vai dar uma volta. Vai para o nordeste cara. Vai dar uma volta. Mas não é para a praia não. Vai lá conversar com os caras. Eu estive em Fortaleza agora, fazendo uma palestra para uma empresa de engenharia, de construção. Jovens os caras. Os caras são de Niterói. Mudaram para lá. Montaram uma empresa. Eles entraram na pandemia com 25 funcionários. E estão saindo dela com 500.

Christian: Que coisa.

Luciano Pires: Aí você passa na orla, prédio, prédio. Construção, construção. Aí eu fui conversar com o cara que é o diretor do Santander, o regional lá. Ele falou: Luciano, você não faz ideia do que está acontecendo aqui. A gente já consegue definir as praias, as regiões por nacionalidade. Aqui é francês, aqui é italiano, aqui é espanhol. A moeda lá é euro. Os caras estão tudo aqui cara. Vieram para cá e injetaram dinheiro aqui. E isso aqui está virando de ponta cabeça.  Daqui a pouco esse negócio vai explodir. E aí aquela ideia do Nordeste como local de praia, você vai ver o que vai acontecer. Junte a isso essa história dos polos tecnológicos, que todo lugar já tem um deles. Cara, o dinheiro vai para lá. E vai mudar a história desse país aqui rapidinho.

Christian: Eu também acho.

Luciano Pires: Vamos construir né?

Leticia: Temos um futuro bom para construir pela frente. E vamos combater…

Luciano Pires: Então vamos lá. Eu quero fazer parte. Eu quero ser. @?

Leticia: @deolhonomaterialescolar.

Luciano Pires: @deolhonomaterialescolar.

Leticia: No Instagram e tem deolhonomaterialescolar@gmail.com que é o nosso e-mail. Também pode entrar em contato. E através das redes sociais já tem a ficha de inscrição.

Luciano Pires: Posso me associar de boa? Você não vai me pedir nada? Não tenho que fazer nenhum tipo de…

Leticia: Não. Tem que preencher um cadastro. Tem lá o link certinho. Você preenche o cadastro.

Luciano Pires: Eu me associo. Pago um dinheiro mensal.

Christian: Um dinheiro mensal.

Luciano Pires: E passo a receber o material de vocês e passo a ter canal de comunicação e tudo mais?

Leticia: Isso. E também colaborar com trabalho. Olha: eu quero me associar, mas eu também quero trabalhar. Qual grupo que vocês têm que eu consigo entrar? Porque a gente está dividido em grupo de trabalho né?

Luciano Pires: Legal.

Leticia: Em projetos e grupo de trabalho.

Luciano Pires: Que legal.

Leticia: Tem toda uma diretoria de comunicação também, administrativa, financeira, que a gente se organiza lá. Tem a suplência, tudo.

Luciano Pires: Ótimo.

Leticia: E os nossos conselheiros também, que é de peso. Estão sempre ali puxando a orelha e ajudando a gente a guiar né?

Luciano Pires: Muito bom. Você que está nos ouvindo então e está preocupado com o material escolar do seu filho, agora tem um lugar para chegar, mandar o material e fazer parte ali. O senhor vai voltar e aí nós vamos fazer um programa aqui sobre política e o que fazer para esse país dar certo cara. Vai ser um papo bem legal cara.

Christian: Com muito prazer. Sim. Eu acho que uma das respostas é a política mesmo.

Luciano Pires: Eu não tenho dúvida nenhuma.

Christian: É pela política que vai resolver.

Luciano Pires: Eu não tenho dúvida nenhuma. Política é a cola que mantém a sociedade unida cara. Política não é aquilo que faz em Brasília. Aquilo lá é outra coisa. Política é isso aqui né? É a mobilização nossa para construir algo cara. E você vê que loucura. Só para amarrar com o que você falou ali. Quando você cria uma narrativa com base… um cherry picking né? Eu peguei uma coisinha errada aqui. O 0.01% que é o trabalho escravo. Transformo isso numa narrativa que acaba contaminando até as decisões políticas. Tem ONG que está ganhando com isso. Tem dinheiro que está sendo encaminhado. Tem soluções mirabolantes para um negócio que não precisa. Por quê? Porque ele é 0,01%. Ao dizer isso, eu não estou negando que o problema tem. O problema existe. Está lá e tem que ser resolvido. E tem que botar na cadeia o cara que faz isso. Mas ele não é do tamanho que estão pintando. E, talvez, esse esforço todo que está colocado lá desse mais resultado se fosse feito de uma outra forma, num outro canto. Então, esclarecer essas coisas que é fundamental.

Leticia: Tem um exemplo interessante que a gente achou uma vez. Falava que toda a soja do Brasil ela é produzida não para a gente comer. Porque a pessoa, eu acho que ela não sabia que era para o óleo, tem tantas utilidades para a proteína animal e tudo mais. Mas ele falou que era produzida para ser vendida para o Japão para produzir shoyu. Eu falei: o Japão está com três metros…

Luciano Pires: Haja shoyu.

Leticia: Haja shoyu. Estão nadando no shoyu lá né? Mas a gente vê isso em todas as esferas. Não saiu ontem uma reportagem, a moça falando: aqui a soja, porque ela é irrigada…

Luciano Pires: Era milho. Era uma plantação de milho. Eu mandei para o grupo lá. Eu falei olha: lançaram a soja trans. Soja trans. O que é? Ela parece. É milho que se sente soja. É isso aí.

Christian: Alguém fez uma piada desse tipo no grupo ontem.

Leticia: É.

Luciano Pires: Legal.

Christian: Como está se sentindo né? Como a soja está se sentindo? Um milho.

Luciano Pires: É isso aí. Pessoal, obrigado pelo papo. Muito legal. A gente vai publicar isso aqui. Com certeza as pessoas vão… eu vou me associar. Isso aqui está à disposição.

Leticia: Ótimo. Vai ser um prazer.

Luciano Pires: O canal. Os PodCasts, tudo. Se você me abastecer com material, eu faço questão de botar no ar aí. Porque vocês estão tocando num ponto nevrálgico sabe? Que é garotadinha que começa a entender como é que as coisas funcionam. Se conseguir isso aí, a gente muda a história desse país aqui tranquilamente.

Leticia: Vai ser muito bom tê-lo conosco para ajudar nessa caminhada.

Luciano Pires: Obrigado Christian. Obrigado Letícia pelo tempo que vocês dedicaram para a gente aí. E como eles dois, tem muita gente disposta a trabalhar para esse país dar certo aqui. Venham junto.

Leticia: Obrigada Luciano.

Christian: Obrigado. Um grande prazer.

Leticia: Obrigada Christian também, pela companhia.

Luciano Pires: Muito bem. Termina aqui mais um LíderCast. A transcrição deste programa você encontra no lidercast.com.br