
Trivium: Capítulo 7 – Utilidade ou Valor do Silogismo (parte 8)
Alexandre Gomes - Iscas Conhecimento -Há quem diga que todas as variações e formas do silogismo apresentadas não representam AVANÇO NO CONHECIMENTO, pois a conclusão já está contida na premissa MAIOR, e (a conclusão) tem de ser conhecida ANTES que a premissa MAIOR possa ser declarada.
Entre os que dizem o que escrevi acima está John S. Mills e outros empiristas ingleses.
Uma refutação para esse ponto dos empiristas é que o raciocínio funciona para um silogismo cuja premissa MAIOR é uma simples proposição empirica enumerativa cuja conclusão TEM DE SER CONHECIDA antes que a premissa MAIOR possa ser dita, NUNCA é verdadeiro a respeito de um silogismo cuja premissa MAIOR é uma proposição GERAL, pois sua veracidade é conhecida não pela contagem, pela adição e pela reunião das instâncias, MAS a partir de uma análise de cada um dos termos em relação ao outro.
A veracidade da proposição geral não depende da investigação dos fatos individuais, pois é entendido em sua INTENSÃO e não em sua extensão. (relembre aqui).
Ou seja, os termos são entendidos por seus significados em vez de por suas aplicações. Veja o exemplo a seguir:
Silogismo com premissa MAIOR é uma proposição geral.
Um homem cego não pode apitar um jogo de futebol.
Tom é um homem cego
ஃ Tom não pode apitar um jogo de futebol.
O silogismo acima não torna a questão como provada, pois a conclusão, isto é, a proposição que deve ser comprovada, não está dentro, implícita, na premissa MAIOR nem na menor. Mas na conjunção das duas premissas. Ou seja, só quando eu junto as informações das premissas: a) cegos não podem ser juízes de futebol e b) Tom é cego; é que a conclusão ganha sentido.
O silogismo é um AVANÇO no conhecimento porque sua conclusão é uma verdade distinta da de cada uma das premissas que é tornada aparente SOMENTE POR SUA CONJUNÇÃO.
Outro exemplo está no livro Um Conto de Duas Cidades, de Charles Dickens. Nele, a personagem Dr. Manette sabe que Charles Darnay, um jovem a quem ele admira e por quem tem afeição, deseja casar-se com Lucie Manette, sua filha.
Ele sabe também que a família Evermonde o prejudicou gravemente. Mas quando ele descobre o verdadeiro nome de família de Charles Darnay, essas proposições separadas e previamente conhecidas se juntam no perturbador sorites formado por dois silogismos:
Minha filha ama Charles Darnay.
Charles Darnay é um Evermonde.
Os Evermonde me prejudicaram gravemente.
ஃ Minha filha ama alguém que é de uma família que me prejudicou gravemente.
O Dr. Manette finalmente consente em que Charles Darnay se torne seu genro, mas é tão grande o choque emocional provocado por esse NOVO CONHECIMENTO nascido da conjunção das premissas que o Dr. Manette temporariamente enlouquece!
Então? Notou a diferença que a autora apontou? Uma coisa é montar uma sequência de afirmações para dizer que Sócrates, um homem, é mortal. Já sabemos disso! Mas é diferente quando um silogismo nos ajuda a compreender um novo conhecimento que só fica claro quando JUNTAMOS AS PEÇAS.
E o silogismo é uma ferramenta para ajudar nesse processo de juntar as peças. Daí toda a loucura das lições anteriores. Saber como juntar as peças, garante que você monte o guarda-roupas direito e não sobrem parafusos ou encaixes. É por isso que entender a estrutura S_P, que significa mais ou menos: a primeira parte da frase (proposição) é o sujeito (S), e a segunda parte, o predicado (P) SÃO CONECTADOS pelo “_” em “S_P”.
Nessa lacuna, pode haver uma afirmação total (a), como: 1 é um numeral (SaP); afinal, não há afirmação maior que dizer que 1 é um numeral.
Do mesmo modo, dizer o contrário: 1 não é uma letra (SeP) é uma negação máxima.
Seguindo nos modelos, quando é dito que: 2 é um número primo (SiP). Dizer que 2 é um número primo, não é dizer tudo sobre esse numeral. Afinal, ele também é um número par. Por isso, a afirmação é uma afirmação incompleta, pois o numeral 1 também é um número primo. Isso não é exclusividade do numeral 2.
Ou ainda, posso negar parcialmente (SoP), dizendo que 9 não é um número primo. Ora, o numeral 9 não é o único numeral que não é primo! Por isso a negação é parcial. Pois os numerais 4, 6 e 8 – ficando só nesses, também não são números primos.
Espero que tanto com o exemplo do livro Conto de Duas Cidades, e o reforço das formas S_P já faladas outras vezes antes, eu tenha conseguido deixar claro que todo esse estudo aparentemente teórico tem uso prático. Seja para entender melhor um problema, seja para fortalecer sua mente para compreender situações novas e complicadas.