Cafezinho 635 -A maioria irrelevante
Luciano Pires -Os movimentos pelos direitos civis dos anos 60 mudaram a perspectiva moral da maioria em relação às minorias sociais. A luta contra o racismo, sexismo, militarismo e degradação ambiental mudou leis e estabeleceu novas normas, transformando relações raciais, de gênero e internacionais. Comportamentos antes considerados naturais passaram a ser vistos como discriminatórios e imorais.
Essas lutas trouxeram conquistas legítimas e positivas, mas também deram às minorias um poder moral inédito. Surgiu uma categoria ainda mais radical: as minorias vitimizadas, sobre as quais as maiorias silenciosas não têm qualquer relevância. É como um elefante poderoso guiado por um ginete franzino. O elefante poderia se rebelar, mas foi condicionado a obedecer.
As minorias militantes sabem que precisam visar essa maioria impotente. E o fazem aterrorizando. Alguns bandidos podem paralisar uma cidade com milhões de habitantes se executarem seu terror com perícia. Mil terroristas podem derrubar um governo e tomar um país pelo terror que imprimem na maioria. Dois ou três cientistas-alarmistas podem fechar o comércio com a ameaça da doença mortal.
Essas minorias mantêm um conflito e antagonismo com a maioria impotente, enquanto constroem a narrativa de que elas, as minorias, é que detêm a sabedoria para guiar a maioria contra os poderosos opressores. A maioria deles, imaginários. Para isso, as minorias declaram enfaticamente sua visão de mundo, criando categorias e rótulos que dividem a sociedade entre bons e maus.
Ao mesmo tempo, constroem a imagem de que só elas representam segmentos da população. Falam em nome do povo, mesmo que este não se sinta representado por elas. E não perdem a oportunidade de manter conflito e antagonismo com a parte da maioria que detém o poder. As minorias militantes sempre são contra o status quo.
Assim, assumem ares de “justiceiras do bem”, traduzindo o que a maioria não consegue expressar. As narrativas as transformam nas únicas forças capazes de derrubar os poderosos opressores imaginários. A qualquer custo.
Enquanto isso, a maioria observa.
Irrelevante.