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Luciano          Muito bem, mais um LíderCast, esse aqui é daqueles que eu gosto, aliás, toda vez que eu começo eu falo “esse aqui é um daqueles que eu gosto de fazer”, o que é um excelente sinal, não é? Mas esse aqui é muito legal porque é o seguinte, eu fui apresentado para essa pessoa que está aqui por um amigo comum, o Helder, da Casa de Vídeo, que ia fazer um evento, convenceu o cliente a contratar um palestrante, o palestrante era eu e eu fui lá, acabei fazendo uma palestra num evento deles e acabei vendo uma proposta muito interessante, uma história muito interessante da empresa, aproveitei o embalo e falei pô, deixa eu… isso aqui dá caldo, deixa eu ver  se eu convido ele para vir conversar comigo, ele não sabia que eu ia propor a gravação do LíderCast, a hora que sentou na minha sala falei vem cá, vamos gravar lá, então é do jeitinho que eu gosto. Três perguntas básicas aqui, a primeira seu nome, sua idade e o que é que você  faz?

Renato           Legal, Luciano, obrigado pelo convite. Meu nome é Renato Seraphin, tenho 46 anos, duas filhas, corintiano e hoje eu sou presidente de uma empresa americana no Brasil, que chama Albaugh Brasil Ltda. Essa empresa é a décima empresa maior no ramo de agroquímicos, de pesticidas do mundo e tem um modelo de negócio único e eu resolvi, trabalhei em Syngenta, trabalhei Bayer e resolvi esse desafio para construir a minha cara…

Luciano          Não fura a minha história, espera um pouquinho, antigamente você sabe que ser corintiano era atributo bom, se bem que agora nós estamos aí com a taça na mão, então vai ser… falei nós porque eu também sou, quando eu curtia futebol eu também era corintiano, depois eu fiquei… e tenho um defeito seríssimo com relação ao futebol, eu vi o Rivelino jogar e então meu standard é muito alto, eu vi Rivelino, eu vi Zico, eu vi Sócrates, “vi esses caras jogar”, então eu ligo hoje a televisão no final de semana, vejo um carinha com o cabelinho, com a tatuagenzinha reclamando que tem jogo de quarta e domingo e está cansadinho e entra em campo, esse  puto, ganhando 6 mil reais, 600 mil reais por mês e erra um passe de três metros e quando acerta o passe todo mundo endeusa o cara. Eu sou de uma época em que o que esse cara fazia, ele estava fora do time, não podia nem entrar, então eu perdi o tesão por ver futebol e hoje eu curto UFC, porque lá os caras dão o sangue…

Renato           Literalmente.

Luciano          … mas é uma brincadeira. Você nasceu onde?

Renato           Eu nasci em São Paulo, nasci na capital, meu pai era militar da cavalaria e meu pai morreu com 29 anos e minha mãe tinha 23 e aí minha mãe voltou para o interior para morar perto dos pais dela.

Luciano          Aonde o interior?

Renato           Em Barrinha, é uma cidade perto de Ribeirão Preto.

Luciano          29 anos, eles nem começaram a vida direito.

Renato           Não, e tinha mais um irmão de um ano, então  ela voltou para o interior, eu sempre digo que Ribeirão Preto é o bairro mais bonito de Barrinha, como ninguém conhece Barrinha, eu falo Ribeirão Preto.

Luciano          Perfeito. E você tinha que idade quando seu pai morreu?

Renato           Eu tinha 5 anos.

Luciano          Tinha 5 anos. Então você cresceu sem a figura paterna, teve um avô…

Renato           Teve um avô…

Luciano          … um avô ali para…

Renato           … que me ensinou a ser corintiano, eu lembro de ser corintiano em 77 e meu avô saindo louco na rua, pelo jejum, hoje nós estamos mal acostumados…

Luciano          … com aquele gol do Basílio, famoso até hoje, mas que legal. E aí? Você cresceu então no interior, falando “porta” “porco”, “porque”…

Renato           … porta, porco, porque…

Luciano          … e ia fazer o quê? Queria ser o que quando crescesse?

Renato           Eu queria ser militar, só que tive um tio, meu tio tinha sido prefeito da cidade, ele falou, militar é um negócio legal mas você já teve o exemplo do seu pai, do seu tio, parte para outra e ele na prefeitura ele foi uma figura muito forte, porque ele era muito carismático e me convenceu a mudar, eu comecei a fazer engenharia e mecânica, fiz engenharia e mecânica em Itajubá. Eu morei com um japonês na república, com três japoneses maravilhosos e os caras estudavam cálculo assistindo televisão e eu achei que eu podia fazer igual a eles e aí chegava na escola, as notas deles 10, 9 e a minha 0,5, falei esse lugar não é para mim, eu não vou ser competitivo com esses caras, aí resolvi fazer agronomia, que era perto de casa, eu comecei…

Luciano          Você nem terminou?

Renato           …  não terminei, fiz um semestre, vi que não era para mim aquilo, tinha uma faculdade de agronomia perto de casa, falei não, não é justo a minha mãe ralando aí, gastando todas as economias dela de manter eu aqui e eu não me entregar, eu seis meses morando longe, acho que fui mais em festa do que na escola, falei não é certo isso, aí fui fazer agronomia em Jaboticabal, eu comecei a dar aula. O bom de eu ter passado por essa experiência é que eu nunca mais pedi dinheiro para a minha mãe na minha vida.

Luciano          Sua mãe não casou de novo?

Renato           Casou de novo, eu tenho um irmão do casamento dela, graças a Deus ela casou, porque ele é um cara fantástico e me deu liberdade para viajar e para sair no mundo, como eu saí, ai eu resolvi fazer agronomia…

Luciano          Com que idade você teve um padrasto?

Renato           Eu tinha 10 anos. Minha mãe ficou cinco anos sozinha, com 10 anos…

Luciano          Você perdeu um pai aos 5… eu não consigo dimensionar o tamanho da porrada que deve ser isso  aí, com 5 anos você nem entende direito o que é, mas deve dar uma pegada, não é? Como é que é ganhar um pai aos 10?

Renato           Para mim foi difícil, porque eu me sentia o dono da casa, eu me sentia o homem da casa e de repente você tem que dividir a sua casa com outro homem, mas acho que ele foi muito hábil em me conquistar e me persuadir e a presença dele me deu uma liberdade maior até para alçar outros voos…

Luciano          Tinha alguém cuidando da sua mãe.

Renato           … tinha alguém cuidando da minha mãe, acho que ele me deu mais liberdade para sonhar, talvez, se não tivesse ele, talvez os meus sonhos estariam mais limitados, eu acho que a presença dele fez eu conseguir sonhar, conseguir dar outros pulos.

Luciano          Essa visão é legal, isso é um ponto de vista que normalmente a pessoa se foca no conflito e esquece dessa história de tem alguém cuidando da minha mãe, pô que legal.

Renato           Eu acho que isso eu devo a ele, cada vez que eu dei um pulo, cada vez que eu tive que sair de perto da minha mãe, cada vez que eu fui morar longe, eu lembrava que eu só posso fazer isso porque ele está lá, então acho que tem muito agradecimento aí.

Luciano          E aí você foi fazer agronomia?

Renato           Aí eu fui fazer agronomia, fazer agronomia, fazer agronomia, dava aula particular…

Luciano          De?

Renato           … de física, matemática, porque eu, pelo menos os seis meses de engenharia  me ajudou a pensar isso e depois eu entrei, comecei, fiz um ano, um ano e meio de faculdade, eu já tinha começado a fazer estágio numa empresa que chamava ICI, ICI era a antiga Imperial Chemical Industries, que patrocinava o Nelson Piquet na época, então era uma grande empresa, era uma coisa até dava um orgulho do caramba trabalhar naquela empresa, uma empresa também muito enxuta. Comecei fazer estágio na ICI, a ICI virou Zêneca, a Zêneca virou Syngenta e eu já do estágio fui efetivado na Zêneca…

Luciano          Com que idade você entrou lá estagiando?

Renato           … eu entrei… eu formei em 1994, entrei em 1994.

Luciano          22, 23 anos.

Renato           22 anos, mais dois anos e meio de estágio nessa empresa, comecei a minha carreira na área de pesquisa e desenvolvimento, então era um cientista, fui o primeiro pesquisador da Syngenta a trabalhar com fungicidas, a Zêneca na época era muito forte e herbicida e fui o primeiro pesquisador a trabalhar com fungicida e hoje essa empresa, esse produto que eu trabalhava virou líder de mercado.

Luciano          Mas que interessante, quer dizer, você entrou então numa posição técnica…

Renato           Entrei com uma posição técnica.

Luciano          … como técnico mesmo.

Renato           Uma posição técnica.

Luciano          Olha, eu tinha entendido que tua área era área comercial e marketing, não sei porquê.

Renato           Eu entrei como técnico e aí você falava assim: qual que era o seu grande sonho? Meu grande sonho quando entrei na área técnica era ser diretor de marketing de uma grande empresa e aí eu comecei construir a minha carreira toda para marketing, então…

Luciano          Por que marketing?

Renato           … eu acho que o marketing na minha essência são aquelas pessoas que sabem contar história e quando eu via uma campanha, ou quando eu via uma história de marketing eu me identificava com essa coisa de contar história, eu sempre me dediquei muito bom de contar história, de pegar um produto e transformar esse produto em algo que o consumidor queira e quando eu via isso falei não, eu quero começar a fazer isso e eu quero ser diretor de marketing. Aí eu comecei a voltar toda a minha carreira de um lado técnico para um lado mais comercial e de marketing, só o que me permitia contar uma grande história era meu lado técnico, porque quando você tem as bases técnicas estabelecidas…

Luciano          Você tem um conteúdo.

Renato           …  você tem  conteúdo, por isso que eu gosto muito até do que você está fazendo do marketing de conteúdo, depois a gente pode chegar na minha empresa, mas eu aboli tudo na minha empresa o que seja marketing só de spray and pray, eu quero fazer o marketing focado e o marketing de conteúdo me permite fazer isso, então esse negócio de querer contar uma história, eu estou aplicando hoje na empresa, mesmo não estando mais na área de marketing.

Luciano          Deixa eu explorar uma coisinha aqui com você, quer dizer, você é um garoto de 23, 24 anos fazendo uma função técnica dentro de uma laboratório, trancado lá com seu jaleco branco e resolve que vai para a área do marketing, quer dizer, você está saindo do oceano Atlântico para entrar no Rio Tietê limpo, da água para o vinho, quer dizer, são coisas totalmente diferentes, como é que você… você olhou para isso aí e falou bom, já defini que é lá que eu quero chegar, como é que você definiu os passos que você ia tomar, o que você fez? Como é que eu faço para sair daqui e ir para o marketing?

Renato           Luciano, sabe que é engraçado quando eu chego na minha carreira, eu sempre coloquei timelines na minha carreira e fui fazendo o trabalho, então eu trabalhava na área técnica com 24, 25  anos, na área técnica foi dois anos, eu falei não, eu preciso ir para marketing, aí eu comecei a fazer uma pós graduação em marketing, comecei fazer leituras de livro de marketing, comecei frequentar seminários, comecei a ver o que os caras de marketing da minha empresa estavam fazendo, então sempre fui um cara curioso e eu transformei isso numa vantagem, então essa proximidade com os caras de marketing fez eles usarem o meu conhecimento técnico para desenvolver produto, para criar produto, então essa troca de experiências fez eu ficar mais perto deles e eu falava assim, não, com 30 anos eu tenho que ser gerente de marketing da minha empresa.

Luciano          Você foi lá e deixou eles saberem que você era um cara interessado… deixa eu ver se eu elaboro melhor isso aqui, o cara técnico está lá, o cara está trancado no seu mundinho ali, a coisa técnica, ele não tem a embocadura de conversar com o cliente, de falar com o mercado, são dois mundos completamente diferentes, tanto que eles não se dão bem nunca, sempre é uma relação conflituosa nas empresas, o que de certa forma é legal se você tiver uma liderança boa você transforma esse conflito em energia criativa, isso é muito legal, nem sempre funciona assim, mas você deu uma olhada lá e falou muito bem, eu estou aqui como mocinho e lá estão “os índio”, eu tenho que falar com “os índio”. Primeira coisa tem que aprender a língua deles e você foi fazer isso, foi se preparar, mas você em algum momento chegou lá, bateu na porta,  falou alô, eu aqui estou com esse jaleco aqui, eu queria dizer para vocês que eu gosto dessa área aí, quero me aproximar, me chamem para trabalhar com vocês? Como é que você fez?

Renato           Sabe o que me ajudou muito, Luciano? Foi a própria história do produto, como a  Zêneca era uma empresa muito forte em herbicida e eu sendo o primeiro cara a fazer o fungicida, eu nasci com o produto em código, nasci com o produto em código, a gente fez toda… saber que culturas ele funcionava, que doses que ele ia funcionar, quando era época de  aplicação, depois dessa fase, você tem que ir para o mercado, então a própria necessidade do produto fez a… sabe quando dá tudo certo? Falei assim pô, você estava na hora certa, no lugar certo, então tem coisas que você planeja mas o destino tem que te ajudar muito…

Luciano          Você tem que estar preparado para…

Renato           … você tem que estar preparado, então o produto me ajudou a alcançar o que eu queria, então…

Luciano          O marketing precisava de alguém para contar uma história tecnicamente, você era o cara, óbvio, e aí você se aproxima deles.

Renato           … exatamente, me aproximei deles, comecei sair da estação experimental e comecei a ir para os campos. Do campo eu comecei a fazer apresentações técnicas, comecei a fazer lançamentos, depois de fazer o lançamento, vamos trabalhar numa cultura específica.

Luciano          Isso tudo na Syngenta já?

Renato           Isso tudo na Zênica e Syngenta.

Luciano          Já era Syngenta, quer dizer, você já estava numa multinacional?

Renato           Já estava numa multinacional, da Zênica ela juntou, ela fez uma merger quando novatos e transformou em Syngenta, transformou na empresa número um e aí foi uma fusão, no meu ponto de vista, uma das melhores fusões que eu já vi, porque foram duas culturas totalmente diferentes, mas que respeitaram as posições, respeitaram as características das pessoas e nessa fusão eu era desenvolvimento de mercado, eu aproveitei toda essa fusão para ir para gerências de marketing, mudei para o cerrado, aí eu fu gerente de algodão e feijão.

Luciano          Antes de ser gerente, o que você fazia?

Renato           Eu era desenvolvimento de mercado, eu estava como desenvolvimento de mercado…

Luciano          Não era equipe?

Renato           … não, não tinha uma equipe.

Luciano          E você, de repente, é promovido a gerente, e aí você passou a ter uma equipe?

Renato           Sim.

Luciano          Muito bem, então vou fazer a pergunta que eu sempre faço aqui para todo mundo, num dia você acorda gerente, descobre que tem que botar uma gravata e chega na empresa de gravata, com uma outra postura, “os amigo” que brincavam com você não vão brincar mais, porque agora você é o chefe, etc e tal, alguém te preparou para esse momento que você ia deixar de ser o cara,  o lone wolf, o cara que resolve tudo sozinho para ser o cara que comanda uma equipe, você teve algum tipo de preparo para isso?

Renato           Eu acho que na minha opinião as empresas preparam as pessoas para crescerem, preparam as pessoas para alcançarem postos maiores, mas eu não sei se as empresas preparam as pessoas para ser gestor de pessoas, porque esse é um choque, porque esse para mim foi um grande choque de ser amigo de todo mundo, para de repente ter uma equipe, para de repente ter que, como eu digo, eu tenho uma coisa que eu digo, eu não gosto de ficar tomando conta de adulto e às vezes ser chefe, ser líder, você precisa tomar conta de adulto, porque nem todo mundo pensa igual a você, nem todo mundo tem a velocidade igual a você, então você, de repente, você está diante de pessoas diferentes,  diante de conflitos e você tem que gerenciar isso, então ninguém te  prepara para isso, acho que a vida vai te preparando e a cada menino novo que você traz para a  sua equipe, a cada pessoa que está há mais tempo que você na organização você traz para a sua equipe, você vai aprendendo com elas. Então eu digo que ser gestor de pessoas é igual um maestro mesmo, afinal você não faz nada,  mas se você não coloca todas as pessoas para trabalhar junto, para terem o mesmo objetivo, você não consegue ser gestor, então eu sempre me caracterizei de ter meu time, de ter um objetivo. Eu queria que as pessoas sonhassem o meu sonho, se as pessoas sonharem o meu sonho, e consigo com que personalidades diferentes, pessoas de idades diferentes, de características diferentes estejam juntos nesse sonho.

Luciano          A imagem que eu uso para isso é aquela do capitão do navio que reúne a tripulação e fala, estamos indo para a Nova Zelândia e vamos chegar na cidade de Oakland, entendeu? Todo mundo entendeu? É para lá que nós vamos portanto vai ser frio, vai ter vento, mas está todo mundo no mesmo barco indo para a mesma direção. Quando você não põe isso aí, um acha que está indo para o Saara, outro não sei o quê, cada um faz uma bagunça, quer dizer, ordenar isso  aí, fazer o  pessoal entender o caminho é o primeiro passo. E o segundo passo é botar todo mundo no mesmo ritmo, então vamos, aí é porrada mesmo, aí não sei se tem outra forma de fazer.

Renato           E tem uma coisa, Luciano, que eu brinco, uma vez eu saí da Syngenta e fui para a Bayer, são empresas totalmente diferentes e eu sempre brincava na Syngenta com uma frase, a velocidade da locomotiva, que dá não é a máquina, é o mais lento, é o vagão mais lento e você, de repente, falar isso abertamente,  as  pessoas assustam, então o que era normal numa empresa, a gente ter essa velocidade na outra empresa já não era tão normal assim.

Luciano          Que é a tal da cultura.

Renato           Que é a tal da cultura, mas as vantagens são diferentes…

Luciano          O pessoal fala muito mas existe e é muito claro isso, a empresa tem uma cultura, um jeito de funcionar e essa cultura é uma coisa que você não consegue pegar,  ela é etérea, ela é uma soma de comportamentos que estão ali dentro.

Renato           … e o legal é que é o ponto forte de cada uma dessas organizações é isso, uma toma mais risco e a outra é mais cautelosa, então como você trabalha nesse ambiente, um ambiente que é que toma risco, que é agressivo, que vai para a frente e outro que é analítico, que planeja, que dá os movimentos certos, então são duas culturas que se você aprender e se você conseguir se misturar numa organização, seria fantástico.

Luciano          Naquele momento então que você assume a gerência de produto, então você deixa de ser o técnico que desenvolve o produto em si para ser o cara que vai botar o produto no mundo, como é que foi o choque isso aí, a hora que você de repente está num campo e teu interlocutor não é mais um colega de laboratório falando em iídiche, é um cliente. É um cara do campo, com a mão cheia de calo que usa o teu produto e que não tem a menor ideia das coisas técnicas ali e você tromba com esse mundo e aí, o que foi?

Renato           Eu acho que, na minha opinião, eu peguei um produto que estava muito fácil para ser adquirido pelo agricultor, o agricultor tem uma necessidade diferente do que nós queremos como marqueteiro, às vezes nós queremos que um produto aumente a produtividade do agricultor, mas naquele momento o agricultor não precisa de aumentar a produtividade, ele precisa reduzir custos e entender do  que o cliente quer e do que você quer, é a riqueza de marketing, então eu sempre procurei ser um catalisador, então o catalisador é aquele que pega todas as coisas que ouve, todas as partes e tenta transformar em algo maior, então naquele momento que eu tinha um produto só, a gente começou a  trabalhar com programas de uso, a gente tentou fazer um balanço do que era uma alta tecnologia com uma média tecnologia para caber no bolso do agricultor, conseguimos nesse meio tempo, criar algumas soluções que estavam fora da porteira, então um exemplo que eu dou, quando eu fui gerente de feijão, nós começamos a trabalhar com feijão rastreado, que era o feijão garantia de origem, que você conseguia… porque o problema do feijão que ele não tem preço em bolsa, então ele não tem um preço determinado, o feijão pode estar 100 reais num dia e estar 10 reais no outro, então a volatilidade é muito grande, então nós conseguimos fazer um trabalho com supermercados, para tentar garantir um preço fixo, então nós começamos a buscar soluções que atendiam não só a eficácia do produto, mas também o que o agricultor queria, essa foi o meu aprendizado.

Luciano          Esse é um tema legal que você está colocando aí, eu trabalhei em autopeças, indústria de autopeças muito tempo e um dos maiores desafios que a gente não conseguiu vencer, que é um negócio complicado, que era fazer com que a empresa entendesse que o marketing, ele tem duas mãos, ele não é da empresa para o mercado contando o que tem, ele é também o canal de trazer de volta para dentro da empresa, pegar um engenheiro e falar isso que você está fazendo aqui não adianta porque o mercado não quer e botar na cabeça do engenheiro isso é um… eu tenho um caso delicioso lá. A gente lançou uma vez um produto que era coroa e peão do Mercedes Benz, então era uma engrenagem sofisticada e tudo mais, que era vendido no mercado aqui de montão, a gente resolveu compraram umas máquinas malucas, me lembro que a máquina, na época, custava 10 milhões de dólares, um negócio maluco, botaram a máquina lá e começamos a fazer a nossa coroa e peão para lançar no mercado dominado por um outro grande concorrente e os nossos engenheiros tiveram a brilhante ideia de falar o seguinte: eu vou mandar isso aqui lubrificado e lubrificar era fosfatizar, então os caras davam um banho de  fosfato, ela ficava pretinha e aquele fosfato, quando você montava o negócio todo, era o que causava a primeira lubrificação, então era uma vantagem aquilo lá. Quando chegou no mercado e os caras abriram e em vez de tirar uma peça brilhante, tiraram uma peça preto fosca, foi uma rejeição brutal no mercado, o mercado não queria aquilo, não queria nem saber daquilo lá porque ele estava acostumado a usar uma peça brilhante e para a gente contar para os engenheiros que o benefício, o plus a mais, o benefício que eles colocaram no produto, os clientes não queriam, eles abriam mão daquilo, porque na cabeça deles, culturalmente, aquilo não existia. Para provar para os engenheiros que o benefício que eles colocaram não era aceito pelo mercado, o mundo caiu, tive que pegar os caras, levar para ouvir da boca do cliente e tentar argumentar com o cliente, é impossível, esse esforço que você vai fazer para provar para os caras que tem que usar, faz o seguinte, tira a tal da fosfatização e faça igual aos outros, para pegar a cultura deles, então tratar o marketing com esse vai e vem era uma baita de uma dificuldade.

Renato           Esse poder, eu gosto muito do marketing e eu sempre digo para as pessoas, o marketing ele tem que saber muito mais ouvir e saber catalisar do que simplesmente ser o dono da verdade, porque na maioria das vezes que o marketing tenta ser o dono da  verdade, a barreira que ele vai encontrar junto ao consumidor é muito maior, então ele pode ter o melhor produto do mundo, mas se ele não ente der a necessidade do produtor, não adianta. Eu sempre digo, produto não é que nem gato, que você joga e cai de pé, você tem que posicionar, você tem que saber o melhor preço, você tem que saber como que você vai acessar, para quem é, eu gosto muito de trabalhar na agricultura com segmentação, a agricultura hoje representa 30% do PIB,  nós achamos que o agricultor é aquele caipira, aquele cara do passado, hoje eu falo, hoje nós temos um milhão de agricultores no Brasil que movimentam o mercado inteiro, desse um milhão de agricultores, 95% é classe A e B, são caras que  gostam de marcas, gostam de luxo, que gostam de investimentos…

Luciano          Que lidam com tecnologia.

Renato           … que lidam com tecnologia e também não são todos desse jeito, então no trabalho do agricultor nós temos quatro segmentos chaves, nós temos aquele cara que gosta de marca, que gosta de tecnologia que é o puxador de fila, esse cara é o cara da John Deere, é o cara da Toyota Hilux, tem aquele cara que gosta de preço, não importa a sua solução, ele quer, ele pensa em custo, custo baixo a todo momento, esse é o cara, hoje para a minha empresa, é o meu foco de trabalho, tem o cara  que gosta de conveniência, é aquele cara, eu quero um cara que me ajude a, desde a semente até a colheita, eu quero um cara que ajude e tem o cara que é relacionamento, é aquele cara que não importa para onde você vai, ele vai junto com você, então entender essa segmentação em marketing, é muito importante, acho que o marqueteiro que conseguir entender essa diferença do público, ele consegue acertar o produto dele muito mais fácil.

Luciano          Ele cria história que cada um precisa ouvir.

Renato           Ele cria história, exatamente.

Luciano          E a gente está muito formatado, dá uma história só e fala vá vender essa história porque é tudo agricultor e não é nada disso. Eu em agosto, setembro de 2014 eu fiz o circuito Aprosoja, Mato Grosso inteirinho, foram 22 cidades, 6500 quilômetros em 40 dias, foi um negócio maravilhoso que pela primeira vez na minha vida eu mergulhei no agronegócio, até então eu conhecia a agricultura, que é uma coisa, lá eu cai dentro do agronegócio e vi o agronegócio desde a fazenda Primavera, que é, sei lá, é uma das maiores do mundo, que tem aquelas coisas que você fala é inacreditável o que eu estou vendo aqui, o volume de coisa ali dentro, até um agricultor, um cara do agronegócio que tinha um negócio médio ali onde a mão dele estava cheia de calo porque ele vai lá para dentro e ele faz, quer dizer, não é um Jeca Tatu clássico, mas é um cara que tocava o negócio desse, que faturava por ano 10 milhões de reais, quando ele falou 10 milhões eu falei pô, 10 milhões é um baita número, mas a hora que ele mostrou para mim no papel, um cara que faz um negócio de 10 milhões lá, equivale a um executivo de uma empresa aqui em São Paulo, que trabalha e ganha um salário de 20, 30 mil reais, é a mesma coisa, porque no final dos 10 milhões, quando tirar todo o custo, vai sobrar para ele um salário mediano aqui. De qualquer forma eu entrei dentro de um mundo que para mim era totalmente desconhecido, cuja imagem que eu recebia era a imagem que a imprensa faz do agronegócio e você sabe que a imprensa não dá moleza, agronegócio na imprensa é matar índio, roubar terra, desmatar, matar bicho, envenenar a água, etc e tal e eu vou para lá com toda essa bagagem, chego lá, eu começo a desmontar tudo isso aí na medida em que eu vou falar com os caras que não estão brincando. Então quer dizer, se eu chegar para o cara e falar você está envenenando as águas, o cara vem para mim e fala o seguinte, eu trabalho com a menor quantidade possível de pesticida, o que for, por uma única razão, é porque eu não sou burro, primeiro, eu vivo disso aqui e eu não ganho nada liquidando isso aqui; segundo, qualquer grão que eu usar a mais, no final deu 2 milhões de reais a mais, então eu sou obrigado a fazer tudo no mais enxuto possível, então para mim quanto menos tiver, melhor é e de repente aquele ogro, que é o matador das coisas, estava revelando para mim que não é bem assim, ali eu tive… eu saí de lá eu falei, nenhum estudante universitário brasileiro podia tirar diploma sem passar 15 dias enfiado onde eu fui, para ver e voltar e contar para as pessoas aqui. Bom, você está nesse mercado desde sempre, você é um cara que fabrica veneno e você envenena as águas dos rios, você envenena o leite do boi e por tabla você envenena meus filhos. Como é que você consegue dormir a noite?

Renato          Não, eu consigo dormir a noite porque eu sei o que nós estamos fazendo é algo bom, porque sem os nossos produtos, o agricultor não ia colher nada, se você falar que o agricultor com produtos orgânicos, é a mesma coisa que dizer que seu filho, se ele pegar uma infecção na garganta, o chá de boldo vai curar. Às vezes eu fico até meio revoltado com isso, de ser esse porta voz, parece que o setor agro, ele não se posiciona fortemente contra isso, porque ele não explica para a sociedade que se você não tomar um antibiótico, você pode vir a óbito…

Luciano          E se você tomar um excesso de antibiótico, você morre também.

Renato           … você morre também, então tudo o que nós fazemos é ter padrões de qualidade, testamos, temos dosagem e nenhum agricultor como você diz, vai usar mais pesticida do que é necessário, porque no final custa muito dinheiro, se ele…

Luciano          Se ele fizer isso, ele não está no agronegócio.

Renato           … exatamente…

Luciano          Está fazendo outra coisa.

Renato           … se ele fizer isso, ele não vai ter rentabilidade consequentemente ele não vai produzir, então eu, na minha opinião, o setor agro ele é fraco e principalmente nós como indústria, nós somos muito ruins em explicar a necessidade dos nossos produtos, seria muito fácil e eu digo, o Brasil, ele é o maior mercado de proteção de cultivos do mundo é maior do que os EUA, mas por quê? Nós não temos um inverno que mata os fungos e os insetos, nós aqui, nós conseguimos fazer cinco safras em dois anos, então todo o ambiente favorece doenças e favorece as pragas. Então, se o agricultor, o engenheiro agrônomo, se as indústrias não estudarem e não dar para o agricultor ferramentas para ele produzir, nós não íamos ser essa potência agrícola, nós só somos a potência agrícola porque nós tivemos muito estudo, nós tivemos muita dedicação, nós tivemos muito trabalho, nós tivemos muitas empresas trabalhando para isso. Eu tenho um trabalho que eu estou fazendo até para justificar a minha tese, sabe quando você tem as suas teorias mas você fala pô, a teoria é minha, eu não posso fazer isso sem estudar, então eu encomendei um estudo que esse estudo diz assim: o Brasil, ele aumentou muito a área de produção, hoje nós temos 60 milhões de hectares usados para produção, há 30 anos, essa área era 50 milhões de hectares, então nós aumentamos a produtividade, nós aumentamos nesses últimos 10, 20 anos, coisa de 45%, mas o custo de produção aumentou em 150%, o que está acontecendo? O que está acontecendo que cada vez amis a rentabilidade do agricultor é mais baixa e se a rentabilidade do agricultor é mais baixa, leva a dois caminhos: o agricultor tem que ficar mais eficiente e ele tem que ter maior área. Então você fala assim eu durmo tranquilo? Eu durmo muito tranquilo, porque eu sei que nós estamos produzindo produtos de qualidade e sem os nossos produtos, nós não conseguiríamos alimentar toda essa população que nós temos hoje.

Luciano          Deixa eu dar mais uma dica que eles me contaram lá que aí que caiu a minha ficha de vez: você que está ouvindo a gente aqui que não conhece o mundo do agronegócio, isso aí eu vi lá e fiquei maravilhado com isso: eu visitei lá um daqueles campos de pouso que tem lá, com uma frota de avião de borrifar, como é o nome?

Renato           Pulverizar.

Luciano          De pulverizar, uma frota gigantesca lá, pô essa aqui é a frota maior que tem aqui e os caras contando para mim como é que foi o desenvolvimento da pulverização utilizando um tipo especial de GPS que eles têm ali, porque dizia o seguinte, o que o piloto faz? O piloto de pulverização é um cara especial, não é um piloto qualquer, porque ele vem, ele passa com o avião lá em cima, derrama, faz a volta, volta derramando e assim vai cobrindo uma área toda e ele dizia o seguinte, o avião passava e tudo era meio no cálculo, meio no olho, então ele passava despejava o pesticida, fazia a volta, despejava de novo e ele passava, cada ida dele, era uma do lado da outra e o que acontecia? O pesticida caía, uma parte era coberta pelo pesticida da nova volta, então ele jogava o pesticida na ida voltava, uma parte do pesticida cobria a outra parte lá. E os caras fizeram cálculo e o que se perdia de pesticida nesse jogar um em cima do outro, era um volume gigantesco e os caras desenvolveram então um sistema de navegação onde hoje, quem comanda o avião, é o GPS, para que não tenha essa sobreposição de pesticida e só nisso a economia é coisa de… e quando a gente fala de economia lá no agronegócio, não tem economia de 1000 e 2000, é economia de milhão e os caras olhando para esse detalhe, quer dizer, não terá perda da sobreposição de pesticida e com isso fazer um ganho gigantesco. Quando você chega num nível como esse, ninguém está brincando, não é brincadeira, os caras não estão lá para brincar, os caras não estão lá para fazer a coisa errada, estão para fazer dar muito certo e para o ano que vem funcionar outra vez, então eu acho que você falou uma coisa aí que eu me peguei de montão com eles lá, quando eu terminei que eu sentei com as caras, eles me chamaram para fazer o final o fechamento do evento, uma palestra para a imprensa lá do Mato Grosso, Cuiabá e eu chutei o pau da barraca na hora que eu falei, contei para os caras, falei olha o que eu descobri, isso aqui é culpa de vocês, se o Brasil tem essa visão totalmente torta, começa aqui, vocês da imprensa não estão fazendo o papel de vocês que é matar na fonte essas mentiras, quando a mentira levanta, tem que haver um outro lado falando não, espera um pouquinho, não é assim que funciona, essa é a verdade, cadê o movimento de vocês? Quem é que está indo lá na escola para mudar a cabeça daquela molecada que está tendo um cara ensinando que vocês estão matando índio aqui e não tem, não tem, então não tem ninguém contando a história, não tem storytelling, não tem ninguém fazendo isso e vocês perdem uma guerra cultural gigantesca.

Renato           E também tem um ponto, Luciano, eu não sei se é a cultura do brasileiro, mas nós não gostamos de valorizar as pessoas que dão duro, que trabalham, se você vai para os EUA, o agricultor é um herói, as pessoas tratam o agricultor como herói é assim que nós deveríamos tratar o agricultor no Brasil também, 30%  da riqueza desse país vem desse cara e esse agricultor, quando comparado a…. nós temos, nossos solos são pobres, todo mundo fala que aqui se plantando tudo dá, é a maior mentira do mundo, nós temos um bom clima, mas os nossos solos são pobres, nós gastamos de 30 a 50% mais do que o agricultor americano ou argentino, que são os nossos concorrentes diretos, nós gastamos muito mais em defensivos, porque lá eles não têm fungos e tem poucas doenças porque o inverno ajuda a controlar. Nossas estradas e nossa logística aqui é deplorável e ainda nós somos taxados que estamos desmatando, hoje se você vê, 65% do nosso território são florestas que país que tem isso? E se você falar assim pô, hoje nós temos 60 milhões de hectares de plantação, quando eu vou vender o sonho Brasil, eu falo assim, tem 200 milhões de hectares de pastos que podem ser trabalhados junto com a agricultura, que país que tem isso? O problema é que nós temos terra disponível, temos um bom clima, temos gente, só que sempre que nós vamos vender o país, nós temos o “mas”, “mas” tem problemas de…

Luciano          Mas estão matando, mas estão etc e tal.

Renato           … mas estão matando, então esse “but”, ele me irrita porque nós conseguimos trazer investimento, nós conseguimos trazer as coisas boas par cá mas sempre tem  esse “mas” que não deixa a gente evoluir mais,  era o que nós queríamos.

Luciano          Quando eu voltei eu criei uma página, aliás, quem está ouvindo aqui, se quiser ver,  tem uma página no Facebook chamada “Luciano Pires e o circuito Aprosoja” eu fui, a cada cidade que eu visitava eu contava um pedacinho da cidade e pegava um tema desse e falava, vamos falar de desmatamento? Eu fui conversar com os caras,  o que é desmatamento? Ali eu  conto a visão que eu tive que é diferente daquela que tem ali e aí fui xingado de tudo, fascista, coxinha, direitista,  aquela conversa toda,  mas é realmente  triste a gente ver como a gente perde na narrativa cultural. Bom mas…

Renato           Eu tenho um gráfico legal e quem quiser procurar um pouco, faz uma comparação dos municípios que tem o maior IDH no Brasil, com certeza tem uma correlação muito forte entre o IDH positivo e a pujança da agricultura, você pode procurar isso e fazer as várias análises, cruza com crescimento da soja, com crescimento do algodão, você vai ver que os municípios brasileiros que tem o maior índice de desenvolvimento humano, são provenientes da riqueza da agricultura.

Luciano          Então você tem mais é que abraçar isso e fazer com que seja mais, não é? Bom, deixa eu te contar mais um lance que aconteceu lá que foi muito engraçado, os caras me contaram essa história toda lá que eles viajando com 2 americanos, “os gringo” vieram aqui para conhecer e você sabe como é que se dirige no Mato Grosso, os caras pegam aquelas estradas esburacadas, mete uma picape lá em cima e é 130, 140 por hora, aquilo é uma loucura e os caras vão e voltam lá e os gringos visitando aquela coisa, aí pararam para tomar um negócio lá e o americano vira para o brasileiro e fala o seguinte, vocês não têm estrada, vocês não têm hidrovia, vocês não têm aeroporto, vocês não têm porra nenhuma e ainda assim vocês nos enchem o saco, o dia que vocês resolverem a questão de infraestrutura, desculpem, ninguém ganha mais desse país aqui porque acabou, quer dizer, com tudo isso contra, a gente consegue fazer esse tanto aí. Temos que olhar esses caras aí como heróis. Mas vamos voltar lá para o teu dia a dia, bom, você está dentro de uma Syngenta, que baita empresa, é uma multinacional gigantesca, assume ali a tua posição de gerente de produto e eu acho que aquilo lá é cheio de compartimentos, você estava dentro de uma área, você era gerente de feijão, é isso aí?

Renato           Isso.

Luciano          E aí tinha o gerente de arroz, o gerente de milho, tinha disso tudo lá, como é que é que você definiu que você ia conduzir tua carreira lá dentro, o que você viu pela frente, é para lá que eu vou?

Renato           Então…

Luciano          Espera, só uma coisinha, você estava satisfeito com a posição que você tinha? Quando assumiu lá a gerência de produto, esse era o marketing que você queria ou não, estava distante ainda?

Renato           Não, eu sempre digo, como diz, com 30 anos eu queria ser gerente de marketing, eu sempre coloquei, com 40 anos eu tenho que ser diretor de marketing, porque eu acreditava que eu podia contribuir muito em organização de pessoas e organização de pensamentos e comecei a desenvolver a minha carreira na Syngenta para isso, chegou uma época na Syngenta que apareceu uma oportunidade para eu ser diretor de novos negócios na empresa, a Syngenta era uma empresa fantástica e ela tinha um braço lá que era tipo… o que eu brincava, eu era aquelas nêmoras no tubarão, eu vivia com o nome do tubarão, mas eu ia muito em universidades, eu ia muito nessas startups para montar novos negócios, então eu tinha 5, 6 pessoas que trabalhavam comigo que pensava fora do quadrado, e tinha um pianel separado, um objetivo de que 10% da inovação de 10 anos viriam dessa área e estava muito feliz nessa função, nessa área, enquanto eu tinha recursos e me davam autonomia para eu fazer as coisas, eu fui bem e não tinha chegado ao diretor de marketing, mas eu estava muito feliz sendo diretor de novos negócios, mas o que acontece é que como essa….

Luciano          Sistema matricial.

Renato           … esquema matricial, a minha área, ela começou a perder autonomia e tem uma coisa, Luciano, que eu não gosto de trabalhar em lugar que eu não tenho autonomia, se eu não tiver autonomia eu não consigo produzir e quando…

Luciano          Aconteceu comigo, exatamente isso, o dia que a empresa decidiu que ia ser matricial, ela assinou a sentença de morte dela e daí foi questão de tempo para ela acabar, só para quem está nos ouvindo aí, matricial o que é? Você tem uma empresa que funciona do jeito que você conhece aí, tem o presidente, vice-presidente, cada um cuidando da as área ali e a matricial é uma em que de repente você tem uma linha de produtos na vertical, com toda a sua definição de produto, mas o RH pertence a uma outra área, ele trabalha na horizontal, o marketing, ele entra numa outra, então tem um gerente de RH que não responde ao dono daquela linha de produto e aí você começa a fazer com que tenha 1000 caciques na empresa, 1000 pedaços, a empresa se divide em pedacinho e aí é cada um por si, vira uma bagunça sem tamanho.

Renato           … e exatamente isso, quando você tinha…

Luciano          E o maior produto dela é reunião. O maior produto dela, passa a ser um fabricante de reuniões e depois vem o resto.

Renato           … e você imagina a minha área, que eu tinha 40 projetos  em party line, mas para cada um desses projetos era uma matriz diferente, então eu não tinha autonomia e vivia m reunião e não tinha alcançado a diretoria de marketing, mas apareceu uma possibilidade da Bayer para ser diretor comercial nos serrados, falei pô, está bom, não vou ser diretor de marketing, mas vou ser diretor comercial, o que me dá uma grande amplitude de carreira…

Luciano          Quanto tempo você tinha de Syngenta?

Renato           … eu tinha 17 anos de Syngenta…

Luciano          E estava com que idade?

Renato           … eu estava com 38  anos…

Luciano          Casado?

Renato           … casado, filhos, tudo.

Luciano          Muito bem, então vamos à provocação número X, 38 anos, casado, com filhos, 17 anos estabilizado na empresa, com um baita emprego, etc e tal, surge um sujeito do lado e fala o seguinte, vem para cá? Você tem que olhar para aquilo e falar, vale a pena trocar ou não vale? Me conta dessa angústia do bem, é uma angústia do bem, alguém veio, primeira coisa, pô eu me sinto extremamente lisonjeado por ter sido procurado por alguém porque reconheceram meu valor, por outro lado eu vou ter que começar de novo? Vou ter que provar tudo outra vez? Será que vale a pena? Como é que foi esse teu pensamento?

Renato           O primeiro pensamento que dá quando você tem uma oferta dessa é o medo, o medo toma conta, porque você tem filhos, a sua vida não depende mais de você, eu teria que sair de São Paulo e ir para Goiânia, mudaria tudo na minha vida, mudaria toda as coisas da minha vida e o primeiro sentimento é medo, então você é estável, você está bem e o medo te domina, só que eu falava assim, desse jeito, sem autonomia, sem o ter vontade de acordar cedo, de ir trabalhar com gana, eu não  sou eu, eu estou perdendo a minha essência, falei eu vou nesse desafio, se errar errou, eu volto para trás, começo de novo, mas eu fui porque eu queria trabalhar num lugar que eu voltasse a ter a minha energia, o grande ponto forte é a minha energia, se eu perder isso eu…

Luciano          Dinheiro, quanto foi o dinheiro importante nessa decisão.

Renato           Dinheiro eu vou te dizer uma coisa, eu nunca tomei decisão pensando em dinheiro, eu tomei decisão pensando de fazer algo que eu acredito, algo que eu tenha autonomia, que eu seja reconhecido, até brincava, para a minha carreira faltava ir para o serrado, conhecer o serrado e eu até brincava, quero virar uma lenda no serrado, eu quero… a lenda eu não virei ainda, mas um dia, quem sabe, mas eu tinha isso, eu queria ser  reconhecido no mundo do agronegócio e ter autonomia para trabalhar, as únicas duas coisas. Recompensa é importante, é lógico, tem duas filhas, tem que pagar a as contas no final do mês, é importante, mas nunca foi meu fator de decisão.

Luciano          E ela vem como resultado do bom trabalho, se ela não vier é porque você foi para uma empresa escrota, você tem um chefe escroto, quando ele não é escroto, a empresa não é escrota,  o bom trabalho traz essa recompensa, então o insight fica aqui, para você que está me ouvindo e é presidente de uma boa empresa, quer buscar gente boa para  trabalhar contigo, a grana para esse tipo de gente, não é o bicho, ela é importante, ela funciona, etc e tal, mas não é aí o que foi buscar você foi o tesão, fala vou recuperar o tesão de fazer acontecer e tudo mais. E aí você sai e cai numa empresa nova.

Renato           E foi legal, porque…

Luciano          Era concorrente?

Renato           Era a Bayer, maior concorrente, era o cachorro e o gato, são duas empresas maravilhosas, culturas totalmente diferentes, eu acho que isso me ajudou muito no…

Luciano          Na decisão.

Renato           … na decisão, a situação era assim pô, vamos trocar de cultura, vamos trocar de tudo, vamos começar algo novo.

Luciano          Você quebra os pratos na Syngenta para sair?

Renato           Não, foi simples e eu conversei com o presidente, o presidente que eu admiro muito, é um cara muito acima da média, eu disse para ele, a questão é de autonomia, a questão é de eu estar feliz, não é dinheiro que move, eu preciso acreditar no que eu posso fazer e a barra era estava me dando uma chance de eu provar alguma coisa, então fui para o serrado, nunca tive experiência na área comercial, mas eu tinha experiência em marketing e experiência em planejamento e isso me ajudou muito a moldar e a ter essa autonomia, então eu criei uma estrutura na Bayer, o presidente da Bayer me deu carta branca para eu fazer as mudanças, pegamos lá, fizemos toda uma readequação, comecei com faturamento de 178 milhões de dólares em dois anos chegamos a 400 milhões de dólares, com pessoas que eu trouxe do mercado, com plano estratégico, com uma agenda estratégica, compartilhada…

Luciano          Me conta uma coisa aqui, segunda feira, oito horas da manhã, você entra numa sala onde você conhece pouquíssimas pessoas e você é apresentado para essas pessoas como novo rei da cocada preta, essas pessoas veem chegar um cara que vem do concorrente e está todo mundo, com o perdão da palavra, com um cagaço gigantesco que eu sei lá o que é que vai acontecer e esse não é um ambiente fácil de a gente nadar, como é que foi isso ai? Me conta essa história de você, de repente, entrar ali, você não entrou como o humilde, o mais humilde funcionário que vai crescer aqui dentro, você entrou já como o rei da cocada, diante de um público que não era, certamente, não eram seus fãs, não estavam torcendo para você, estavam lá que merda vem aí, como é que foi isso?

Renato           Eu sempre nessas situações eu sempre lembro de: sou do interior e no interior tem festa do peão e festa do peão, você está assistindo o peão, enquanto o peão está fora do brete, você torce para o peão, a hora que abriu o brete, o peão foi para o palco, você torce para  boi, para o cavalo para ele cair e sempre levei nisso, você chega num ambiente desse, você não vai esperar flores, você sabe que as pessoas vão estar trabalhando contra, então o que você tem que fazer primeiro é dominar o ambiente, conhecer cada um, catalisar, eu não tenho estilo de ser centralizador, não tenho estilo de eu querer ser o dono da verdade, então primeiro foi conhecer cada um, conhecer que eu já me identifico, quando você pô, pessoas, você tem que ter um feeling muito grande, porque você vai pegar sete, oito pessoas que vão reportar direto para você, você tem que saber quem vai comprar seu sonho e quem não vai…

Luciano          O nome disso é Game of Thrones.

Renato           … mas é verdade porque não adianta, porque se a pessoa não comprar o seu sonho e não tiver junto com você, vai ser um desgaste para você e vai ser um desgaste para ela também, então você tem que identificar isso logo para você limpar o terreno, não adianta você não é ser duro, não é você ter paciência de querer ouvir todo mundo, mas você já tem que fazer ima rápida identificação, porque quanto mais você demora para identificar quem acredita no seu sonho, quem acredita que pode mudar, quem acredita que está com você, quem você acredita que vai jogar um jogo limpo, ou você vai ter um sabotador dentro do time, então não adianta, é o que você falou, se você não tiver as pessoas indo junto com você para Oakland, alguém vai querer desviar o caminho e não dá certo, então a primeira coisa que você tem que fazer, você tem que saber que você ali é o peão, então quando você está fora, quando você não mostrou nada, está todo mundo torcendo por você e a hora que você vai lá está todo mundo torcendo para o cavalo e você tem que identificar fácil, dar uma direção, eu acho que o principal nesse momento, eu gosto muito do livro dos 100 Dias, aquele livro, “Os Primeiros 90 dias, os primeiros 100 dias”, eu falo assim pô, primeira coisa que você tem que fazer: identifique mais rápido a organização, identifique os pontos fortes, identifique os pontos fracos, mapeia as pessoas e no segundo momento dá uma direção o mais rápido possível, então o que eu fiz lá foi isso, identifiquei meu time, identifiquei a situação e demos um rumo rápido, nós vamos sair daqui do ponto A para o ponto B e do ponto A para o ponto B nós vamos dessa maneira, depois que você colocou todas as pessoas por volta na sua volta, junto com você, não te bajulando ou não, mas cada um no seu papel, no seu melhor papel e você construir isso, eu não tenho medo, mas você tem que ter, acho que o principal ponto é você transformar esse seu medo na sua fortaleza, o medo te fortalece, quando mais você pega esse medo e constrói, porque o medo faz você acordar mais cedo, o medo faz você trabalhar  mais, o medo faz você estudar mais, o medo faz você identificar mais as  pessoas, porque se você não tem medo…

Luciano          Eu fiz agora, publiquei no Café Brasil Premium agora, a primeira rodada para valer dele tem um material sobre o medo, eu coloco lá, faço um e-book chamado “Ensaio sobre o cagaço” e ali eu comento isso, falo o medo tem coisas que só ele te dá, por exemplo, você não tem medo do que não importa, portanto o medo te ensina o que é importante, se eu estou com medo é porque importa para mim, aquela coisa, te mantem alerta, ele te bota num estado de criatividade que se você não tem medo, você tem que desesperadamente procurar uma solução, então você estão tempo todo pensando naquilo, quer dizer, ter medo é legal e quem não tem é um estúpido porque vai quebrar a cara. Isso que você descreveu agora há pouco aí é política, é política, política corporativa, fazer política dentro da Syngenta era igual fazer política dentro da Bayer? É a mesma coisa? Uma vez que você define as ferramentas, ela é aplicável em qualquer empresa?

Renato           Não é porque são ambientes completamente diferentes, numa você tem que ser mais polido, você tem que medir mais as palavras, na outra tolera mais a ambiguidade, tolera mais as discussões fortes e esse é um problema nosso, latino, eu imagino um americano ou um alemão vindo para o Brasil e sendo presidente de uma corporação brasileira, o jeito de tratar é totalmente diferente, porque o primeiro não que ele fala para o funcionário, parece que nós latinos temos, parece  que é pessoal, então ler esse ambiente corporativo é muito importante para o sucesso, você tem que ler o ambiente o mais rápido possível, você tem que saber….  é a mesma coisa que jogar futebol e basquete, não adianta você jogar basquete com as regras de futebol e você jogar futebol com as regras de basquete, um é com a mão, o outro é com o pé e o ambiente corporativo para mim é a mesma coisa, embora as duas empresas sejam concorrentes, atuem no mesmo setor, o modo de elas jogarem, o modo de elas se planejarem é totalmente diferente.

Luciano          Não tem como não fazer paralelo com o futebol, se os caras dizem… para ser jogador no Corinthians tem que ter um perfil que é diferente do São Paulo, então o jogador do Corinthians, o que que é? Quem é legal lá? Quem é legal lá é Neto, é Marcelinho Carioca, é nego marrento, nego briguento, esse não é o perfil, o perfil do São Paulo é um Raí, é um lorde, alguma coisa assim e você olha os dois estão dando resultado, os dois jogam bem e estão dentro de uma…

Renato           Não tem o certo e o errado…

Luciano          … pois é, é cada um dentro do seu ambiente ali. Me fala uma outra coisa que eu acho que é legal, quando estava falando dessa questão toda da política com você, você tem uma equipe grande, aliás não, eu não quero pular isso aqui, está faltando um pedaço aqui que é uma transição. Então você entra lá na Bayer e ali você constrói outro… que você me deu uns números malucos que você sai de  cento e pouco, vai para 400 em…

Renato           Quadruplicamos em dois anos.

Luciano          … e você triplica não só o faturamento mas o market share?

Renato           Sim, crescemos o market share.

Luciano          Quer dizer que você está ganhando mercado da concorrência e lá você estava como diretor comercial, ok. Em que área? Do que?

Renato           Nós separávamos a Bayer em quatro unidades de negócio, eu era responsável pelo serrado, pela parte de distribuição, aí você tinha um cara que tomava conta do sul, um do centro e um do serrado que era venda direta, que atendia direto os agricultores.

Luciano          E ali você ficou quanto tempo?

Renato           Eu fiquei dois anos e fui convidado para vir para a diretoria de marketing em São Paulo, que ai eu falei pô, essa não posso deixar de aceitar.

Luciano          Então era aquilo que você queria como objetivo lá na Syngenta veio se realizar na Bayer, te convidaram para vir ser diretor de marketing da Bayer, e aí?

Renato           Aí eu fiquei dois anos, construímos, acho que assim, o maior legado que eu deixei na Bayer, a Bayer não podia ser uma seguidora, porque eu via muito as empresas seguem muito o líder e eu acho que você, à medida que as empresas seguem muito o líder, o agricultor só tem uma escolha, acho que o maior legado que eu deixei lá foi, os agricultores gostam dessa, mas os agricultores gostam dessa também, então você tem que ter um caminho, você tem que mostrar e nesse mundo do agronegócio tem o agricultor que gosta de marca, tem agricultor que gosta de tecnologia e gosta de inovação, tudo o que combina com a Bayer, então esse trabalho de identificar o público alvo, de trazer a Bayer para ser esse cara, porque à medida que esse cara, ele começa a incorporar mais Bayer, ele vai fazer os outros seguirem, eu acho que esse foi o maior legado na área de marketing.

Luciano          Eu vi uma frase uma vez muito legal que você está me lembrando dela, foi numa fábrica na Argentina, estava escrito lá: nós não seguimos tendências, nós as criamos. Nós aqui criamos tendências. Quanto tempo você ficou lá como marketing?

Renato           Fiquei dois anos e meio.

Luciano          Fez um trabalho também legal.

Renato           Fizemos trabalho legal, a Bayer cresceu market share, fizemos um programa de relacionamento muito forte com a ajuda do time, fez o programa de pontos que é fantástico e é legal esse programa de pontos, eu sempre digo em CRM, CRM é fantástico, mas no mundo agro as pessoas tinham mania de criar software onde uma pessoa colocava os dados de outra e eu não acredito em nenhum intermediário, para você ter um bom CRM, a pessoa tem que colocar os dados lá, ela tem que atualizar, ela tem que colocar as informações dela lá…

Luciano          CRM, quem não souber o que é, costumer relationship management, é mais ou menos aquilo que o meu avô fazia em 1916, na padaria que ele tinha quando ele tinha um caderninho que ele anotava todos os dados do cliente ali e o cliente chegava de manhã, quando ele via o cliente vindo na esquina, o cliente chegava já tinha um copinho de pinga, o pão com manteiga lá e ele chamava o cliente pelo nome, isso é costumer relationship management.

Renato           … e se você vê no mundo agro, todas elas usavam softwares maravilhosos e tal, só que quem tinha que colocar as informações do agricultor era o nosso agrônomo e você ia gerar uma campanha, você tinha pô, 80% de e-mail errado, 80% de telefone errado e aí até eu perguntava para mim mesmo, um dia falei assim, será que nosso agrônomo está com medo que eu saiba as informações para tornar ele…

Luciano          Para dar um bypass nele.

Renato           … para dar um bypass nele, não sei e aí nós criamos o programa de pontos onde o agricultor se cadastrava, colocava os pontos e a mesma coisa que nós fazemos com os nossos programas de ponto das companhias aéreas, se você mudou o dado, você vai lá e tem que mudar porque se não você não consegue acessar e com isso banco de dados começou a crescer muito, aí começamos a trabalhar muito essa parte do cliente, eu tinha uma frase que eu gosto muito, que eu usava com meu time: nós temos que fazer do nosso cliente o nosso herói, se a gente transformar esse agricultor no nosso herói, se a gente valorizar esse agricultor, se a gente valorizar o que ele está fazendo, então nós conseguimos ajudar ele a fazer essa leitura.

Luciano          Olha o storytelling de novo aí, olha o contar histórias de novo aí.

Renato           Então esse foi um ponto que eu acho que é um legado que eu deixei lá e estava … igual eu te falei de novo, é um negócio assim, fantástico, estava feliz, estava no auge da minha carreira, eu achei que eu tinha chegado no meu top…

Luciano          40 anos?

Renato           … eu estava com 44 anos, 44 anos falei pô, estou no meu top de carreira, era o que eu queria, estou feliz, mas às vezes você não controla, tem coisas que aparecem que te tiram da zona de conforto e como eu sou muito movido a desafios, falei não, eu estou no top, mas eu acho que dá para subir, que foi um pouco o que nós fizemos na sua palestra, eu estou na base aqui, mas eu tenho fôlego ainda para subir um pouco mais o top, apareceu essa oportunidade de construir a empresa no Brasil, uma empresa nova, uma empresa diferente…

Luciano          Então, quando você fala apareceu, você estava andando na rua e  tropeçou num cara? Como aparece esse tipo de coisa?

Renato           Foi um headhunter, um headhunter famoso no mundo do agro, me convidou para participar de um processo, me contou a história de empresa, o que queria e eu contei um pouco da minha história, o que eu tinha feito de novos negócios, a parte empreendedora de ir para o serrado, aí ele falou assim, você é o cara para essa vaga, eu vou te colocar no processo…

Luciano          Essa empresa não existia no Brasil?

Renato           … ela existia um pedaço dela, eu ia ser responsável por pegar esse pedaço, fazer o merger de outra empresa e reestruturar, reestruturara a empresa inteira, então pegamos a empresa e construímos marca, construímos empresa em 5, 6 meses aí para fazer, eu estou há um ano nela.

Luciano          O teu desafio então era deixar uma diretoria de marketing para ser CEO, para ser um chefão de uma empresa muito menor e com um desafio gigantesco que era tirar quase do zero a empresa.

Renato           Uma empresa que é o tamanho de uma regional da Bayer, então uma empresa que é um tamanho de uma regional, tanto que eu era diretor de marketing, eu tinha 145 pessoas debaixo da minha diretoria, eu vim para essa empresa, tinha 80, hoje nós estamos chegando aos 140, mas as dimensões eram totalmente diferentes e até eu gosto de contar uma história legal que o dia que eu cheguei na minha mãe, tradicional, cheguei mãe, eu estou mudando de empresa, estou saindo da Bayer e estou indo para essa empresa aqui que nós vamos criar o nome, ela falou, mas você está certo disso? Você é louco. Mas ninguém ouviu falar, eu falei assim, o dia que a senhora ouvir falar dessa empresa, é que o meu sonho deu certo e aí…

Luciano          Você voltou naquela mesma situação que você estava lá atrás, quer dizer, eu estou aqui há algum tempo com trabalho reconhecido, surge uma oportunidade, só que da outra vez você pulou de um barco para o outro, estavam os dois na mesma velocidade, um do lado do outro, dessa vez você ia entrar num, não era um barco, era uma piroca… uma piroga…. como é que é? Tem um risco embutido nisso que é um negócio brutal e você olha para aquilo e fala bom, lá vou eu de novo falar para os caras que eu estou tudo bem, mas eu estou saindo e o risco de você queimar as pontes é complicado, como é que você lidou com isso, de novo, dessa vez aos 44 anos, quanto mais velho você está, mais difícil é, que você tem mais compromisso, tem mais coisa envolvida, como é que você lidou com isso?

Renato           O que me fez a pular foi, de novo, autonomia, de você conseguir fazer alguma coisa que é a sua cara, por mais que eu fiz coisas legais na Bayer, eu não ia mudar uma empresa, eu não ia construir uma empresa e aí vem toda aquela história de falar pô, quero virar lenda, é besteira mas algumas coisas que te movem, falei assim não, quero construir uma empresa com uma proposta diferente, uma empresa com perfil de pessoas diferentes, com perfil de pessoas que eu acredito nos valores, então nessa empresa eu peguei duas empresas, uma era uma parte argentina, outra érea uma parte de uma grande corporação, fizemos as junções, fechamos o escritório em Porto Alegre, fechamos o escritório  em Campinas, trouxemos tudo para São Paulo, trocamos pessoas, redefinimos a missão, redefinimos a visão, construímos valores da empresa, então se eu não estivesse lá, eu não ia terá chance de fazer isso, então eu vim muito porque eu vi nessa empresa uma chance de eu fazer isso, de eu definir uma missão, uma visão, um valor, de você definir pô, os valores da minha empresa são eficiência, iniciativa, transparência e é trabalho de time, tudo isso que eu acredito, numa empresa pequena você tem que ser eficiente, você tem que fazer melhor que os outros, você tem que ter um baixo custo de operação, iniciativa é aquele negócio meio de porra, não  gosto de trabalhar com gente bunda mole…

Luciano          É guerrilha, isso é guerrilha.

Renato           … é guerrilha, eu estou lá, tenho o espaço das grandes mas tem espaço para a minha empresa. O terceiro ponto que é um valor, você vai lá, como se constroem os valores, mas tem um valor de transparência que eu fazia questão de ter escrito, eu sou da época que você fazia negócio, você não precisava de contrato, era no fio do bigode e era coisa que pô… e hoje a gente está perdendo um pouco isso.

Luciano          É, você tinha honra no jogo, você trabalhava, tinha a honra de um peso gigantesco e essa talvez tenha sido uma das maiores destruições que a gente assistiu no Brasil nos últimos 20 anos foi a honra desaparecer.

Renato           Então esse para mim foi um negócio… e o quarto é trabalho de time, você não consegue fazer… espírito colaborativo você temq eu trabalhar, então nós saímos de 80 pessoas, hoje nós temos 140…

Luciano          Em quanto tempo isso?

Renato           … em um ano…

Luciano          um ano.

Renato           … crescemos, nós saímos de 90 milhões de dólares para 156 milhões de dólares…

Luciano          Em um ano

Renato           … em um ano que…

Luciano          E que ano, não era um ano, que ano, foi o ano agora, foi o ano que passou.

Renato           … foi ano passado, foi ano passado, um ano que o mercado ficou estável, nós crescemos 56%, trouxemos gente nova, estamos trazendo mais gente nova, estamos investindo, fizemos um trabalho de marca legal e eu falo assim é estratégia, Luciano, não tem reinvenção de roda, sua empresa, você tem uma empresa, sua empresa vai ser inovação, vai trabalhar com tecnologia, vai trabalhar diferenciado, vai trabalhar com intimidade com cliente, vai conhecer o cliente ou você vai ser muito eficiente, eu não tinha escolhas, quando eu peguei essa empresa, eu não sou uma empresa que vou…

Luciano          Você não tem a tecnologia que o teu concorrente grande tem..

Renato           É, não tem inovação.

Luciano          … você não tem o dinheiro que eles tem…

Renato           Exato.

Luciano          Você não tem a capacidade de fazer o marketing do tamanho que eles fazem, você não tem uma equipe ou uma capilaridade do tamanho que eles tem, quer dizer, você perde em tudo aquilo que for coisa grande, onde é que dá para ganhar, eu tenho que ser um roedor.

Renato           É, eu já estava… você é um gênio?

Luciano          Se eu for sair no pau, eu vou perder, eu tenho que ser um roedor, é nos buraquinhos, aqui embaixo e vou correndo ali, não é?

Renato           Exatamente, eu falo assim, e esse é, o ponto, ah ser um gênio da estratégia? Não existe gênio da estratégia, existe uma pessoa que faz um bom diagnóstico que traça um objetivo e cria um modo de você chegar no seu objetivo, é A, B e não tem segredo, acho assim, o segredo agora é você encontrar as melhores pessoas para ajudar você a realizar, porque se você não encontrar as melhores pessoas você não vai, não adianta.

Luciano          Você não cumpre a promessa que você fez, você criou promessas, você prometeu uma porrada de coisa e agora tem que segurar a bola.

Renato           Então no nosso caso, para mim foi muito legal, trabalhei em três empresas onde uma é muito focada em arendi, em inovação, em tecnologia….

Luciano          Arendi é pesquisa e desenvolvimento.

Renato           … é, pesquisa e desenvolvimento, desculpa, pesquisa e desenvolvimento, inovação, tecnologia, marca, a outra com muito foco em intimidade com o cliente, de conhecer o cliente e agora eu estou numa empresa que eu tenho que ser eficiente, excelência operacional é o meu negócio, então você falo assim pô, enxuta, curta, falo assim não, às vezes é uma empresa para 140 pessoas, eu quero chegar nos 500 milhões de dólares com 140 pessoas e nós temos que ser eficientes para isso e com você ser eficiente, é você trazendo gente boa, se você consegue trazer gente boa, gente que trabalha, que não fica chorando, reclamando, que no fim, que ir pensando em CLT, previdência, trabalha, trabalha que as coisas vão vir, a empresa, eu sempre digo, falo pô, você só começa a saber o que é uma lei atrasada quando você começa a comparar com outros países, nós temos uma…

Luciano          Eu ia fazer uma pergunta para você agora, se você teve experiência lá fora de alguma forma? Você chegou a trabalhar algum momento lá fora ou não?

Renato           Trabalhei, fiquei um tempo nos EUA, na Carolina do Norte, mas como pesquisador, mas é um negócio legal…

Luciano          Aonde na Carolina?

Renato           … era uma cidade chamada Whitakers, perto de Raley e o viver fora e viver num país desse, quando você vem para cá, você leva um choque

Luciano          Eu fiz aqui uma entrevista outro dia, acho que foi o Bruno, Bruno Garschagen se não me engano e a gente estava comentando, tinha que ter um jeito de pegar a população brasileira e fazer com que ela passe uma temporada nos EUA e volte para cá, porque aí você vai ver, tira essa casca ideológica que tem, vai lá, vê a coisa funcionando e volta para cá e pergunte-se por que não aqui, por que aqui é tão difícil. E você comentou uma coisa importante aí que é essa questão toda, quer dizer, como é que eu faço para ganhar essa briga ai, eu só tenho um jeito, você não vai conseguir ter o equipamento que eles tem, a tecnologia, nada, você consegue ter gente disposta a fazer. Como é que encontra gente assim, neste país onde você tem, vamos lá, de um lado 14 milhões de desempregados, de outro lado uma dificuldade filha da puta de encontrar gente certa para botar no teu… eu tenho certeza absoluta que você tem as vagas na mão e não consegue preenche-las, por outro lado tem 14 milhões de desempregados no mercado o que leva a gente a tentar… é muito fácil quantificar o desemprego, nós temos que qualificar, quem são os 14 milhões que estão lá e que tipo de emprego eles podem ocupar, por outro lado essa tua vaga, por que é tão difícil preencher, como é que você lida com essas questão aí? Você precisa de mais, a Bayer tem tanta gente que você consegue mexer os pauzinhos lá dentro, você não tem.

Renato           Esse para mim, Luciano, foi um ponto importante, quando traçamos a estratégia da empresa, pô vamos crescer, fizemos excelência operacional é o nosso foco e eu digo assim, nós não vamos conseguir isso sem pessoas, então você pega na estratégia, eu tenho três quipiais na minha estratégia, o primeiro…

Luciano          Quipiais são os indicadores…

Renato           … indicadores chave, é onde eu estou medindo o sucesso da empresa, o primeiro é o IVA, que eu falei assim, quanto eu estou dando de dinheiro para o mister Delis, pô mister Delis está colocando dinheiro aqui, eu tenho que dar um retorno para ele em termos de rentabilidade; o segundo indicador para mim é o net promoter score, eu falo assim, como meu distribuidor, que as minhas rendas são muito concentradas em distribuidor, como o distribuidor está percebendo a minha marca? Como o distribuidor está percebendo o meu nível de serviço?

Luciano          Espera aí, você está lidando com percepção?

Renato           Percepção.

Luciano          Como é que você põe isso numa planilha Excel?

Renato           O que nós estamos fazendo é uma pesquisa simples de perguntar para os meus parceiros, eu tenho 800 parceiros comerciais, eu vou reduzir esses 800 parceiros comerciais para, no máximo, 200 e fazer a pergunta matadora, se você promove minha marca, se ele não gosta da minha marca ou se ele é neutro e aí eu vou fazer todo um trabalho de engajamento para aumentar a percepção dele e aí a contar história é contar história e eu falar assim, o distribuidor brasileiro só tem que ter um valor, o valor mais forte é transparência, faz o que é combinado, faz o que é certo, então não tenho muito…

Luciano          Na sociedade da desconfiança, que é o Brasil…

Renato           … então joga o  jogo, e  eu sempre digo para eles uma coisa legal, eu acho que a minha passagem pela área comercial da Bayer no serrado me deu essa credibilidade, então uma das coisas legais que eu acho assim, eu emprestei um pouco a minha credibilidade para a Albaugh, então essa credibilidade está me ajudando a trazer parceiro legal. E o terceiro indicador importante é a saúde organizacional, se o cara está feliz em trabalhar comigo, o cara está feliz? Nessa primeira rodada dos 80 para 140  o que a gente fez? Como o mundo do agro é um mundo pequeno, é um mundo que você conhece muito as pessoas e aí você foi e convidou as pessoas e trouxe as pessoas para o seu time, aquelas pessoas que você acreditava, você já vê que pessoas que…. as pessoas vêm também mas não…  quando a pessoa não adere ao seu sonho, ela mesma já sai e vamos trazer, só que chega um momento eu falo assim está bom, estou com uma vaga de gerente de produto agora, aonde estão as pessoas, está acabando o meu banco de talentos, estou buscando e tal mas falta essa qualificação, mas para mim ainda não é um ponto, o que mais me pega hoje que eu brigo com a matriz é: tá bom, eu tenho 140 caras só que o meu competidor é empresas de porte como Syngenta, Bayer, Monsanto, que o nível salarial, que o nível de benefícios é maior, eu tenho que convencer a matriz que se eu não começar a igualar, eu vou formar gente boa…

Luciano          Que vai mandar para lá, você vai alimentar os caras lá.

Renato           … eu vou formar os roedores, vou formar os guerrilheiros e vou perder gente e uma coisa legal que eu falo muito com meu chefe, o Brasil é totalmente diferente dos EUA, porque o jovem dos EUA, ele está se formando, ele quer trabalhar, ou ele quer trabalhar em nova York no ramo financeiro ou ele quer trabalhar no Vale do Silício, no ramo de tecnologia, aqui no Brasil o agro é uma vitrine, então você tem gente boa vindo para esse cara que se eu ficar não pagando benefício legal, um salário atrativo, eu não vou ter gente boa, que  é o meu grande desafio que você mesmo disse, para eu ser  eficiente eu tenho que ter gente boa e essa seleção está cada vez mais difícil, o primeiro passo foi legal, agora o segundo você já viu, eu já estou…

Luciano          Você tocou num ponto importante aí que é essa questão da retenção, isso eu encontro de montão, todo mundo que eu converso e quanto menor é o negócio pior é, porque o cara fala eu trago aqui uma pessoa, invisto, formo a pessoa, ela vai embora, ela vai embora, ela sai, vai embora para levar a vida dela, você não pode culpar a pessoa porque ela tem os sonhos dela, ela quer crescer, como é que lida com essa questão de retenção? A Syngenta e não conseguiu reter você, a Bayer também não e agora você está num negócio de construção aí que eu acho que tem muito tempo para você queimar, tem muito gás para queimar aqui, como é que você lida com essa questão da retenção? Legal, salário é um ponto, eu posso prender alguém pelo dinheiro que ela ganha, agora se eu prender só pelo dinheiro não me garante que essa pessoa vai estar feliz, produtiva etc e tal, quer dizer, eu segurei pela pior parte, que é segurar por causa do dinheiro que ela ganha, eu tenho que segurar pelo tesão que ela tem de estar aqui, como é que você faz?

Renato           Eu sempre trabalho esses três pontos para reter pessoas, eu trabalho assim, pô eu estou dando autonomia para essa pessoa, eu estou deixando essa pessoa com poderes para tomar decisão, eu estou fazendo tanto que o tema da nossa convenção foi sobre nossa direção, você lembra, eu estou fazendo isso no time porque se o cara sentir que tem autonomia, se o cara sentir que ele é importante na organização, se ele sentir que  ele faz a diferença, se ele sentir que ele é valorizado, se ele sentir que a recompensa é legal, ele não sai. Se ele sair é porque ele vai ter um desafio novo e você tem que entender, na minha concepção eu falo assim o que você disse, para que que eu vou preparar um cara se esse cara vai sair? Eu tinha tudo isso para pensar, eu sou uma empresa pequena, eu sou uma empresa que está crescendo, sou uma empresa que vou virar vitrine para as grandes, as grandes logo vão chegar nos meus caras e vão assediar, mas eu falo assim pô, se eu não preparar esse cara vai ser pior, se eu não dar conhecimento para esse cara vai ser pior, então eu tenho que preparar esse cara e perder o risco de perder, mas eu tenho que trabalhar outras ferramentas. Tem um caso que você vê que dinheiro não é tudo, tem um menino que está trabalhando comigo, menino desses que você olha assim, tem 27 anos e que você olha para ele e fala caramba, eu com 27 anos eu não tinha metade da habilidade desse menino, o menino é um gênio, menino inteligente, analítico e eu trouxe ele de uma grande empresa para trabalhar comigo, ele veio ganhando menos, veio sem benefício nenhum, mas veio acreditando…

Luciano          Pelo tesão da coisa.

Renato           … pelo tesão que ele ia fazer uma coisa diferente, então é isso, você conhecer pessoas, você saber  quem tem o mesmo perfil e uma coisa é você estar em empresa grande, outra coisa é você estar  em empresa de guerrilha, é perfil.

Luciano          Você falou um negócio legal que lembrei de uma outra frase também, não sei onde é que eu vi isso aí, que o cara diz o seguinte: você acha que custa caro treinar uma pessoa e depois perde-la, experimente não treinar e mantê-la. Não treina e mantenha para você ver o que acontece. Mas é um grande nó, é legal. E o que vem pela frente, qual é o teu céu? Você falou em duplicar, em triplicar a empresa em quatro, cinco anos?

Renato           Cinco anos. Eu falo assim, para mim pessoalmente o meu grande desafio é vamos fazer a Albaugh uma das empresas mais respeitadas no agronegócio, uma empresa onde as pessoas se sintam valorizadas e gostem de trabalhar e o terceiro ponto nós teremos dar um retorno para o nosso acionista, mas também para o agricultor, eu sempre digo, eu tenho uma preocupação muito grande que a produtividade está aumentando mas os custos de produção do agricultor também estão aumentando, então eu tenho que ser eficiente para ajudar ele a reduzir o custo de  produção dele, para ajudar o ponto na rentabilidade dele, tanto que você pega assim a proposição de valor da minha empresa é menos custos,  mais rentabilidade, eu sempre digo não adianta você produzir cem sacos por hectare de soja se você está gastando noventa, o agricultor não  vai conseguir ter uma rentabilidade, é melhor você produzir cinquenta e investir vinte, sobra trinta, então nós temos que ter um ponto de equilíbrio aí, não adianta produzir muito se você está custando muito, nós temos que  pensar no agricultor que no final, para o agricultor o importante é a rentabilidade, é isso que eu quero trabalhar e trabalho com o agricultor e trabalho com a minha empresa. Nós estamos fazendo vários investimentos na nossa fábrica em Resende, estamos modernizando a planta, estamos…

Luciano          Isso é uma pergunta que eu esqueci de fazer para você, os produtos são fabricados no Brasil ou você tem uma cota importada? Como é que funciona?

Renato           …eu tenho vários tipos, eu tenho produtos que eu fabrico no Brasil, tenho produtos que eu trago o ativo e faço em parceiros e tenho produtos que eu trago direto.

Luciano          Basicamente o que é o teu produto? Quando eu abri aqui eu brinquei, você faz veneno. O que é que você faz?

Renato           Nossos produtos são defensivos agrícolas, são herbicidas que controlam mato, que controlam plantas daninhas, então você tem uma soja lá que nasce umas invasoras e você tem que controlar as invasoras porque se não as invasoras vão tomar conta da soja. São inseticidas para controlar pragas, controlar insetos, da mesma maneira que a gente usa um repelente ou usa um produto para controlar o transmissor da dengue, nós temos que usar isso na agricultura e doenças,  da mesma maneira que a gente controla uma caspa ou uma micose, que são fungos, que nós controlamos, ajudamos as plantas a controlar, então basicamente esses produtos para controlar, esses adversários da agricultura.

Luciano          Como é que você vê o… o que vai acontecer com o agronegócio brasileiro? Para onde vai?

Renato           O agronegócio brasileiro vai ser o motor da economia do Brasil hoje, daqui a 10 anos, daqui a 20 anos, eu não tenho dúvida nenhuma, porque é um setor por mais que nós falamos que ele é desorganizado, é o setor mais organizado que tem, então é um setor que investe em pesquisa, você pergunta para um agricultor quanto que ele investe para uma Fundação Mato Grosso, para uma Fundação ABC, o agricultor financia essas pesquisas, então o agricultor acredita em pesquisas, é um setor que consegue se mobilizar, quando quer consegue mobilizar, temos terra disponível, temos um clima que nos ajuda muito e temos gente, é um setor que você vê… sexta feira passada nós tivemos uma greve geral de um setor da sociedade, ontem primeiro de maio, você tem a Agrishow, se você vê a Agrishow quantas máquinas foram compradas, quantas pessoas estavam visitando stands para buscar tecnologia, quantas pessoas no feriado, estavam lá trabalhando, é uma diferença, então você fala assim, se eu acordar…

Luciano          Você foi lá?

Renato           … fomos, fui, eu sou…

Luciano          Em Ribeirão?

Renato           … Ribeirão Preto.

Luciano          Para quem de vocês não foi, eu já fui e só tem um indicador ali, você não precisa nem entrar na feira, fica do lado de fora só assistindo a quantidade de helicópteros que descem e sobem naquele lugar, é um movimento frenético naquilo e ali você tem uma pálida ideia do que é essa coisa fabulosa que é o agronegócio brasileiro, é um negócio trilionário e lá está acontecendo as coisas, como você falou, não estão parando, aqui não para, que se parar a chuva não para, nada para, então eles não param nunca, ele está seguindo adiante. Meu, parabéns pela, não só pela história, mas pela visão e por essa ideia toda, quer dizer, você esta a frente de uma guerrilha complicada, num tipo de mercado que não admite chutador, você pode até chutar uma vez, duas, na terceira você dançou porque ninguém é mais… então acho que a tua matéria prima ou aquilo que você vende para os caras  é credibilidade, quer dizer, se o teu produto for mais ou menos você já dançou, você já era e essa tua visão aí de investir no relacionamento, isso é fabuloso, é o único jeito de ganhar “desses gigantão”, porque você estava lá dentro, eu também estive de empresa multinacional tudo se perde lá dentro, a energia da ponta, ela desaparece quando chega lá na diretoria já morreu tudo no caminho, o tesão ficou no caminho, ficou tudo no meio do  caminho. Na posição que você está, você está pertinho disso aí, então mantenha isso aí e faça valer porque o sangue da empresa, ele é feito disso, quando a gente está muito longe, está muito distante, é muito grande, é muito fácil vir o tal de roedor e passar a rasteira na gente lá, você é o roedor, bota fogo nisso.

Renato           Eu sempre digo, Luciano, se você acorda às seis, sete da manhã e vai dormir onze, meia noite, uma hora e nesse meio tempo você faz o que você gosta, esse é o segredo, esse é o segredo da vida.

Luciano          Agradeço. Quem quiser conhecer a empresa como é que faz? Tem um site, tem uma… o nome não é fácil, mas é Albaugh.

Renato           Albaugh.

Luciano        Albaugh que é o nome do fundador da  empresa lá, não é?

Renato           É albaughbrasil.com.br e digitar Albaugh no Google você vai ter o Facebook, o Linkedin e é engraçado, esses dias nós fizemos um anúncio para quem tiver interesse, nós fizemos um anúncio com uma máquina de datilografar e falando assim: se você era dessa época, nós queremos você. Se você é da época da máquina de escrever, porque nós temos que valorizar os experientes, nosso mercado, o guerrilheiro, quando eu comecei a história desse anúncio eu lembrava daquele filme Head, dos veteranos, nossa empresa é de veteranos, essa mistura de pessoas experientes com pessoas jovens, como eu contei o caso aqui, é uma mescla interessante.

Luciano          Sobrou um rabicho para a gente aqui, eu ia fechar agora, eu me lembrei, você falou um negócio lá na frente que é muito caro para mim, vamos dar um final com isso aqui, você falou de marketing de conteúdo, você falou que o foco de vocês é trabalhar, fala um pouquinho sobre isso, que visão é essa que você tem, você que é um fabricante de defensivos agrícolas, como é que você  enxerga esse marketing de conteúdo.

Renato           Não, para mim nós não temos recursos e não temos condição de fazer marketing do spray and pray, então não tenho como investir com televisão, com rádio, com digicam, então eu tenho que fazer coisas focadas, então eu estou focando muito em mídia digital, através das mídias sociais, mas mais do que tudo, marketing de conteúdo para levar alguma coisa diferente para o agricultor, um dos exemplos do marketing de conteúdo que eu estou trabalhando e que logo acho que a gente pode até trabalhar junto para fazer uma divulgação é: eu sempre falo esse negócio, nós estamos aumentando a produtividade, aumentando os custos, o Brasil está concentrando cada vez mais terra porque a rentabilidade do agricultor está diminuindo, era uma teoria minha.  Ah nos EUA o custo de produção é menor que o do Brasil, ah nos EUA o tempo de registro de um genérico é menor que do Brasil, ah quanto que o consumidor ganhou quando José Serra aprovou a lei dos genéricos nos medicamentos, eram tudo teorias minhas que se eu não tivesse, não tenho como dar conteúdo, eu não tenho  como…. fica no  vazio…

Luciano          É mais um achismo…

Renato           … é mais um achismo, então o que nós estamos criando? Para cada um desses stageman nós estamos criando estudos e com esses estudos nós vamos gerar conteúdo para o agricultor se conscientizar que tem algumas coisas que nós podemos mudar e que ele tem que lutar para a gente conseguir fazer assim, então eu estou usando muito mídia digital, que eu consigo medir, eu gosto muito de mídia digital, mídia social que eu consigo medir, eu consigo medir tudo, todo o meu investimento e muito de marketing de conteúdo por quê? Porque a hora que o agricultor ele sente que ele tem uma informação relevante lá, ele vem conversar com você, ele vem te dar espaço, ele chega à abertura para você ajudar ele, então estou trabalhando muito com isso, então as minhas duas frentes em marketing vão ser nessa direção.

Luciano          Vou tentar de convencer a usar podcast.

Renato           Nós vamos trabalhar, eu acho assim podcast acho que são coisas que eu te falei, eu sou um cara que gosto de ouvir muito, eu sou um cara que gosto de construir junto e sempre aberto, não sou dono da verdade. Eu sou apenas um catalisador, eu gosto muito, acho que o grande ponto, Luciano, tem uma frase do Steve Jobs, acho que num, discurso que ele fez, ele falou assim: que ele não era o cara mais brilhante da turma, ele não era o mais inteligente, a grande habilidade que ele tinha era conectar pontos. Antes de ouvir ele eu falava do catalisador, mas eu acho que nós, como marqueteiro, como pessoas o que nós temos que fazer? Conectar os pontos, quanto mais pontos nós conectarmos, mais nós construímos juntos, ninguém faz nada sozinho.

Luciano          É isso mesmo. Cara, muito obrigado pela visita, obrigado pelo tempo, obrigado pela história, espero ter a chance de participar com vocês um pouquinho desse crescimento aí, não tenho dúvida nenhuma que vocês vão incomodar muito nego grande ainda.

Renato           E o legal, só para terminar, agradecendo essa oportunidade de a gente falar da empresa, falar dos nossos sonhos e uma das razões que você teve conosco era do Everest, era o Everest o quanto é difícil, quanto que você tem que ir, subir, descer, o quanto você tem que conhecer o terreno, quanto você tem que se antecipar e se preparar das adversidades, acho que para quem não leu, eu recomendo muito forte o livro, a história porque é uma aula de empreendedorismo e é uma aula de estratégia, para mim estratégia é aquele livro lá é a arte da guerra aplicada no dia a dia.

Luciano          O livro chama-se “O meu Everest” e pode ser encontrado na loja do lucianopires.com.br muito obrigado pelo jabá. Valeu.

Renato           Obrigado.

 

Transcrição: Mari Camargo