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Luciano Pires -

Luciano Pires: Muito bem, mais um LíderCast. Esse aqui é diferente, porque é a primeira vez que nós vamos fazer o LíderCast do lado oposto do estúdio. Não vai ser lá dentro, vai ser aqui fora. E é com um monte de gente. Uma turma, crowded. Vamos fazer em vídeo.

Daniel Arcoverde: Inovando até nisso.

Luciano Pires: Isso aí. Então, você que está ouvindo a gente sem vídeo, deve notar uma diferença no áudio, que não é o áudio normal, mas é um áudio capturado por uma super GoPro Hero4. E vamos começar o programa como eu sempre começo. Vocês sabem que tem três perguntinhas que são as fundamentais, as únicas que não pode chutar. Que é: eu quero saber seu nome, sua idade e o que você faz? Vamos lá.

Daniel Arcoverde: Bom, prazer Luciano. O meu nome é Daniel Arcoverde, eu tenho 29 anos e sou um dos fundadores do Netshow.me com o Rafa. Então, a gente está empreendendo já há cinco anos esse negócio.

Luciano Pires: Como você se apresenta quando dá o cartãozinho de visita? Eu sou o quê?

Daniel Arcoverde: Normalmente, eu falo: eu sou fundador do Netshow.me.

Rafael Belmonte: Prazer pessoal, o meu nome é Rafael Belmonte. Eu também tenho 29 anos e um dos c-founders de Netshow.me também.

Luciano Pires: Legal.

Rafael Belmonte: A gente costuma falar que a gente se divide muito bem. O Dani toca a defesa, eu toco o ataque. Então tem uma pessoa que é ordem e outra é o progresso. A gente se divide muito bem, já desde o começo da empresa.

Luciano Pires: Sim. Sabe que eu ganho de vocês?

Rafael Belmonte: Por quê?

Luciano Pires: 29+29 dá 58. Eu tenho 62. Eu estou ganhando.

Rafael Belmonte: Verdade.

Luciano Pires: Ainda estou à frente. Mas vamos lá, deixa eu entender a história de vocês aí. Eu convidei os dois para cá, porque a gente está fazendo umas transações, nós estamos criando algumas coisas juntos aí. Eu queria bater um papo com dois caras, que eu não os conhecia. Conheci recentemente e aí tive uma surpresa, de ver que os dois estavam até o pescoço nesse lance startup, de fazer a companhia nascer, criar. E eu não sabia, mas a gente, por uma tremenda coincidência, eu descobri que a primeira transmissão que eu fiz dentro desse estúdio aqui, há três anos atrás, eu acho que foi 2015, uma coisa assim. Foi a primeira vez que eu fiz uma transmissão aqui. Eu acabei usando a Netshow.me. E eu não me lembrava. Foi tão complicada a primeira vez, que por telefone eu conversei com eles, a gente… e agora que a gente foi conversando, eu falei: cara, a gente falou uma vez. E acabei descobrindo que a primeira transmissão foi Netshow.me. Mas deixa eu pegar vocês aí. Você nasceu onde?

Daniel Arcoverde: Eu nasci em São Paulo.

Luciano Pires: São Paulo. Paulista, daqui mesmo? Em que bairro?

Daniel Arcoverde: Eu nasci na Avenida Paulista, no Santa Catarina. Morei até uns 7 anos, depois fui para Recife. Fiquei 5 anos lá e voltei para São Paulo.

Luciano Pires: E não pegou o sotaque não, cara?

Daniel Arcoverde: Não, peguei. O meu apelido, quando eu voltei era Recife. Mas logo… como eu era novo, tinha 12 anos, e 6 meses eu já estava falando de volta com o sotaque daqui.

Luciano Pires: Perdeu o shsh.

Daniel Arcoverde: É.

Luciano Pires: Porta.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: Você nasceu onde?

Rafael Belmonte: Eu nasci em São Paulo também, no bairro do Tatuapé. Aí fui até os 27 anos na casa dos meus pais. Aí eu casei recentemente, em 2017. Agora estou morando perto do Allianz Parque, glorioso Palestra Itália.

Luciano Pires: Torcedor do Palmeiras e foi morar perto do estádio. Aí sim, coisa maravilhosa.

Daniel Arcoverde: Isso é raiz.

Luciano Pires: Você tem irmãos?

Daniel Arcoverde: Tenho.

Luciano Pires: O que teu pai e tua mãe fazem?

Daniel Arcoverde: Eu nasci numa família, meu pai e minha mãe são policiais federais. A minha mãe faleceu em 2001, ela pegou uma doença, um câncer. E meu pai continua na ativa. Aposentou já fazem mais ou menos uns 5 anos. E eu tenho 5 irmãos.

Luciano Pires: 5 irmãos?

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: Os dois eram policiais federais, quer dizer, eram servidores públicos?

Daniel Arcoverde: Servidores públicos.

Luciano Pires: Não eram do empreendedorismo nenhum dos dois? E você é o mais novo, o mais velho, o do meio? Onde que você está nessa escala?

Daniel Arcoverde: Da turma que mora em São Paulo, eu já fui o mais velho. Mas eu descobri que tinha um irmão, enfim, uma história longa. Mais velho que eu. Mas tem mais uma menina mais velha, que mora em Salvador.

Luciano Pires: Sim. Seu pai andou dando uns tiros por aí.

Daniel Arcoverde: Uma longa história.

Luciano Pires: Você tem irmãos?

Rafael Belmonte: Eu sou filho único. Mas meus pais tiveram um filho antes de mim e acabaram perdendo, mas filho único, lá do Tatuapé. E costumo falar não tenho tanto assim, o hábito de filho único. Eu era mais despojado, querendo estar com os amigos.

Luciano Pires: O que teu pai e tua mãe fazem ou o que eles faziam?

Rafael Belmonte: Sim. Meus pais são advogados, só que só a minha mãe exerce a profissão de Direito, advogada de marcas e patentes, de empresa, industrial. Meu pai…

Luciano Pires: Tem a própria banca dela?

Rafael Belmonte: Tem o próprio escritório dela. E por sinal, é nossa advogada de marcas. Ela que fez o registro do Netshow.me, lá em 2013, um pouquinho antes de a gente efetivamente começar.

Daniel Arcoverde: Não, foi 2011 o registro, a gente ainda registrou quando a gente estava na época da GV, estava na faculdade.

Rafael Belmonte: E meu pai acabou indo para o ramo de gráfica. Ele acabou exercendo Direito Comercial durante dois, três anos depois de formado. Mas a família dele tinha uma gráfica na época. Ele acabou entrando na parte do comercial, de vendas gráficas. Aí acabou crescendo. E aí acabou saindo da gráfica dos pais, da família e indo para uma gráfica que está até hoje, está há 32 anos.

Luciano Pires: Bom, tem o bichinho do empreendedor aí. A tua família tem?

Rafael Belmonte: Tem. Total. Os dois. A minha mãe também está com o escritório dela já há 20 anos. O meu pai empreendendo aí num setor que, ladeira abaixo, que é o setor de indústria gráfica. Está tendo que tirar leite de pedra aí.

Luciano Pires: Eu vi. Eu comecei dentro de gráfica, cara. Eu comecei dentro de jornal. Dentro de… e vivi o auge desse período aí, cara. Eu fazia pastup com cola de sapateiro. Entra no Google depois para ver o que era. Lá atrás, bicho. Bons tempos. Qual era o apelido que você tinha quando era moleque?

Daniel Arcoverde: Tive vários durante a vida. Quando era criancinha?

Luciano Pires: Bem molequinho.

Daniel Arcoverde: Cabeça. Achavam a cabeça um pouco avantajada.

Rafael Belmonte: Cara, eu nunca assim, fui de ter muito apelido. Era mais Rafa, eu acho que o meu nome já era convidativo a encurtar. Eu não lembro de ser chamado de alguma coisa. Cabeça também. A minha Cabeça era mais avantajada. Mas era mais uma zoeira do que tipo um apelido, que todo mundo me chamava de Cabeça.

Luciano Pires: O que o Cabeça queria ser quando crescesse, cara?

Daniel Arcoverde: Quando eu era moleque eu jogava bola, adorava, queria ser jogador de futebol. Moleque, até uns 7 anos de idade. Depois eu comecei a entrar no mundo da música. Por um momento eu quis ser um rockstar. Tive banda por quase uns 8 anos, banda de colégio. Mas entrei no ramo, fui estudar Administração de Empresas. Eu sempre tive muito apreço. Olhava empreendedores e tal, olhava o sucesso, via muita gente bem-sucedida.

Luciano Pires: Foi intencional então, essa tua escolha de…

Daniel Arcoverde: Foi, foi.

Luciano Pires: De um dia parar e…

Daniel Arcoverde: Foi.

Luciano Pires: Essa seria a próxima pergunta: o que eu vou ser quando crescer? Você olhou para aquilo e falou: eu vou fazer Administração?

Daniel Arcoverde: Eu olhava muitas pessoas, amigos da família, alguns parentes. E eu via que todo mundo que estava no ramo do empresariado, indústrias diferentes, tinham sucesso. E eu achava interessante. Eu admirava. Só que quando eu fui para a faculdade, por muito tempo, eu nem pensava em empreender. Pensava em entrar no mercado financeiro para me dar bem, trabalhar em algum fundo. E a gente até acabou indo por esse caminho no começo da carreira. Mas a gente não aguentou e o bichinho do empreendedorismo, principalmente de olhar o que estava acontecendo com a internet motivou a gente a largar tudo e entrar nesse ramo.

Luciano Pires: Nós vamos cutucar isso aí. E aí, o que o Rafinha queria ser quando crescesse?

Rafael Belmonte: Cara, desde piloto de Rally. De jogo de videogame, eu me inspirei: eu quero ser piloto de Rally. E era muito mais difícil do que ser um piloto de Fórmula 1. Muito mais difícil do que ser um piloto de Stock Car. Eu queria ser piloto de Rally até uns 8, 9 anos. Até a hora que eu joguei um joguinho, também de videogame, de PlayStation que chamava HarvestMoon. Esse jogo basicamente você herdava uma fazenda toda quebrada do seu avô. O seu avô faleceu, tinha toda uma historinha. Você herdou essa fazenda dele. E aí você encontrava a fazenda com toda a necessidade de ter que reconstruir. Uma fazenda que estava dando… assim, estava a zero, dava prejuízo. Aí você tinha que começar do zero a plantar algumas coisinhas, algumas verduras. E você vendia para o mercado. Tinha os preços que você colocava. Enfim, um joguinho de PlayStation, que já começou a instigar no quesito de empreender. Eu me via sempre tentando zerar o joguinho, que era a chegada, ao final dele, de maneira mais eficiente, ou seja, como que eu conseguia bater o recorde do joguinho no menor tempo possível.

Luciano Pires: É um insight legal. Quer dizer, você, a partir de um videogame…

Rafael Belmonte: Sim. Foi muito isso.

Luciano Pires: Você começa a ter uma ideia de que: cara, vou fazer uma empresa funcionar aqui.

Rafael Belmonte: Comigo, eu sempre me inspirei muito. Eu sempre gostei de jogar videogame. Hoje, por incrível que pareça, eu não gosto mais. Eu acho que é porque eu joguei muito na infância.

Luciano Pires: Não, não é por isso não.

Rafael Belmonte: Não?

Luciano Pires: Eu vou te contar porque é.

Rafael Belmonte: Mas HarvestMoon, joguinhos de você conquistar as coisas e de ir crescendo. Eu sempre gostei, tipo o Gran Turismo. O Gran Turismo é um jogo de carro – que tem até hoje, deve estar no Gran Turismo7, sei lá – eu jogava o 2, 3, que você também começava com 10 mil moedas, dinheiro. E aí você comprava um carro ruim. Mas você ia nas corridas, ganhava dinheiro, aí você comprava carros bons. Aí você ia disputando corridas melhores. Esse tipo de jogo eu sempre curti.

Luciano Pires: É o business.

Rafael Belmonte: É.

Luciano Pires: Deixa eu contar por que você não joga mais videogame?

Rafael Belmonte: Porque eu casei.

Luciano Pires: Aos 29 anos de idade, bicho, você está com o pé lá embaixo do acelerador. Já bateu. Não tem como passar. Vocês estão a 180. Como é que é? O rodêmetro lá, o bicho já explodiu, cara. Vocês estão a 500 por hora. E se tem o bichinho do empreendedorismo, cara, você quer fazer acontecer, bicho. Você quer fazer acontecer. E o tempo de vocês é para produzir alguma coisa, cara.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: Você senta para jogar um game e fala: katzo, quando eu terminar o game, o que eu fiz?

Rafael Belmonte: É verdade.

Luciano Pires: O cara vai falar, eu não fiz nada. E é uma troca que a gente faz mesmo. Na idade de vocês é assim, cara. Vai ser. Daqui a pouco você vai ficar grávida. Vai ter um bebê. Vai atropelar o bebê, vai atropelar todo mundo. E lá na frente é que você vai olhar para trás e falar: putz bicho, o tempo que eu estava, que eu podia estar com eles lá, eu atropelei. Porque é da gente, cara. Quando você está nessa idade, você quer mais é destruir o mundo. É essa agonia: eu tenho que produzir alguma coisa. Cara, aconteceu comigo. Eu parei de ler romance, cara. Eu não conseguia pegar um livro. Pega um livro para ler. Eu falava: cara, se eu ler um romance, o que eu vou ganhar? Não, eu vou pegar livro técnico. E aí eu ia ler Philip Kotler. Porque ele me dava dicas de marketing e eu não ia perder tempo lendo Dom Quixote. O que é uma tremenda de uma bobagem. Mas é uma coisa que bate. Tipo Netflix. Vou ver essa série. É muito comprida, cara. É muita coisa. Não dá tempo. Eu tenho que fazer acontecer. Então, talvez seja essa a explicação.

Rafael Belmonte: Faz muito sentido. Tem uma lógica aí.

Luciano Pires: Vocês se conheceram na escola?

Daniel Arcoverde: Na faculdade.

Luciano Pires: Na faculdade? Qual foi, vocês fizeram onde?

Daniel Arcoverde: A gente se formou na Getúlio Vargas, aqui de São Paulo. A gente entrou no mesmo semestre, só que tinham 4 turmas por semestre. Três de Administração de Empresas, uma de Pública. E a gente era de salas diferentes. Só que em 2009?

Rafael Belmonte: Tipo 2008, na faculdade. Em 2009, a gente não se conhecia e acabou fechando uma viagem para o Canadá, em Montreal, foi fazer um summercourse, um curso de férias de verão, de lá. A gente acabou fazendo Liderança e Inovação e Empreendedorismo.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Rafael Belmonte: Lá em Montreal. E ficamos se conhecendo lá nessa viagem, na qual tiveram várias pessoas…

Luciano Pires: Vocês não fecharam juntos a viagem, vocês fecharam por que era um grupo?

Daniel Arcoverde: Era um grupo da GV.

Luciano Pires: Um grupo da GV que foi.

Daniel Arcoverde: Várias turmas que iam. Aí a gente acabou se aproximando, que a gente já tinha se visto. A gente se aproximou e ficou mais amigo nessa época.

Rafael Belmonte: E a gente voltou de Montreal já com ideias do que a gente poderia fazer juntos. Assim como nós, nós acabamos fazendo amizade também com outras pessoas, criando um vínculo maior. E fui eu, o Dani e mais uma pessoa, que a gente resolveu criar, já na volta de Montreal, ou nos meses, na sequência disso, a gente criou uma aplicação para os alunos, muito parecida com o início lá do Facebook. A nossa proposta naquele momento era ajudar os alunos a conseguirem melhores descontos nos restaurantes, nos bares próximos à faculdade. E principalmente, de compartilhamento de resumo. Então era um ambiente acadêmico, para os alunos aproveitarem, se conectarem entre eles e se ajudarem. Então, consegui 15% de desconto no restaurante tal. Colocava lá dentro, chamava [inint 00:14:08] não sei porque o nome.

Daniel Arcoverde: Herança dos holandeses.

Luciano Pires: Isso é dois mil e?

Daniel Arcoverde: 2009. 2009 a gente voltou do Canadá, de Montreal.

Luciano Pires: Não tinha… não era a febre do aplicativo ainda?

Rafael Belmonte: Não, não tinha.

Daniel Arcoverde: Ainda não. Facebook começou em 2004. Só que…

Luciano Pires: É. Não tinha aplicativo. Então vocês estavam pensando num ambiente…

Vozes superpostas [00:14:30]

Luciano Pires: Nem smartphone era?

Daniel Arcoverde: Não. Nem smartphone era. Nessa época até eu lembro, eu acho que foi 2010, 2009, o Zuckerberg foi na GV. Eu entrei numa sala lá, no Salão Nobre e assisti uma palestra dele. Aquilo motivava. O Zuckerberg está aqui na sala. E estava começando a explodir o Facebook.

Rafael Belmonte: Naquele momento, eu acho que não tinha nem 10 milhões de usuários. Nem isso.

Daniel Arcoverde: Eu acho que estava na casa de uns 30 milhões na época. Mas ainda era muito pouco, estava… e aquilo motivava muito. Aí a gente se conectou com alguns holandeses que tinham competência técnica. Por que, imagina administrador de empresa fazendo site de internet. A gente não fazia ideia de desenvolvimento.

Luciano Pires: Essa parte técnica vocês não tinham? Vocês não são bichos de TI que vieram? Vocês vinham de Administração.

Daniel Arcoverde: Não. De Administração.

Luciano Pires: Isso é interessante, cara.

Daniel Arcoverde: E na época tinha uns holandeses, que eles criaram um site e colocaram no ar. Aí a gente colocou. Tinha muito aluno de fora de São Paulo. O pessoal tinha problema com acomodação. A gente colocou um lugar lá, um mapinha, para os alunos compartilharem quartos nos apartamentos para os outros alunos poderem alugar. E aí virou um monstrinho, a plataforma. Ela fazia tudo, mas não fazia nada direito.

Luciano Pires: Esse programa aqui vai dar samba. Porque quem ouve o LíderCast está acostumado a ver porradas de caras de TI, que sentam, tem uma ideia e querem montar um negócio. E quebram a cara, porque não tem a parte de administração.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: E hoje a gente inverteu o jogo?

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: Dois caras de Administração, cheio de ideias. Para montar, vai ter que usar a moçadinha de TI. Mas aí, vocês descobriram que a ideia era maravilhosa, mas na hora de botar no papel o bicho meio que pega ali?

Daniel Arcoverde: Sim. Enfim, mas eu acho que a gente acabou errando, na construção de um grupo muito grande. Tinha muita gente envolvida no projeto, muito sócio. Eram 6 sócios.

Luciano Pires: Mas já era um business?

Daniel Arcoverde: Era.

Rafael Belmonte: Porque ele dava dinheiro.

Luciano Pires: Já dava dinheiro?

Rafael Belmonte: Já. Gerava dinheiro. Por que o que acontecia? Chegou num nível de ter tanto aluno usando, que a gente começou a cobrar nos restaurantes, os descontos. Ou seja, para o restaurante estar listado dentro do site, a gente cobrava R$500,00 por mês, R$1.000,00 por mês, para divulgar aquele restaurante, aquele bar.

Luciano Pires: Dentro do sistema da GV?

Rafael Belmonte: A gente fechou na época – lembrando agora, você está fazendo um exercício de lembrança aqui – a gente fechou patrocínio com academia. A academia pagava R$1.500,00, R$1.000,00 na época.

Luciano Pires: 2009, cara? Isso era um dinheirão, bicho.

Rafael Belmonte: É. Para falar com, sei lá, 2 mil alunos, 1.500 alunos. Porque era academia muito próxima da GV. Então ela não só dava o desconto, como ela pagava para estar lá. Então era um negócio que já estava começando a crescer. Só que a gente se deparou com a dificuldade de alinhamento de expectativas de um grupo societário muito grande. Nós éramos em 6.

Luciano Pires: 6?

Daniel Arcoverde: 6 pessoas. Era muita coisa.

Rafael Belmonte: 6 sócios. Tem até, depois de anos a gente foi ver, no gráfico de percentual de sucesso de um negócio, com uma pessoa é ok. Com duas pessoas é o auge. É o mais provável de sucesso possível. Depois de duas, três, já cai, ele já chega perto de 1. Quatro, -1, cinco, muito -1. Aí, quanto mais sócio você tem no negócio, maior chance de o negócio dar errado. É uma decisão…

Luciano Pires: Eu vivi isso ao longo da minha vida. Eu tive alguns negócios ao longo da minha vida. E alguns negócios que começaram assim: dois sócios, três sócios. Aí o negócio começa a ficar bom. Quatro sócios. E daí o negócio explode. Eu não estou dizendo que implode. Explode. Cara, porque, realmente, lidar com a expectativa de quatro é impossível.

Daniel Arcoverde: E a tomada de decisão é muito devagar.

Luciano Pires: Era devagar a decisão. Os caras não se empenham com o mesmo peso. Tem um se matando e tem um ali, devagar. Então, é muito complicado. E sociedade é casamento. É casamento.

Daniel Arcoverde: Não dá para casar com 6.

Luciano Pires: Não dá para casar com 6. E a relação que você tem é uma relação em que eu dependo de você totalmente. Você depende de mim também. Só que se eu não estiver compreensão desse grau de dependência, eu vou estar achando que estou fazendo minha parte. Você não faz a tua. Você acha que… então é complicado. E não dá para sentar e ter uma DR que nem eu tenho em casa, com a minha mulher.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: Nasceu um filho, então, ele tem todas as desvantagens do casamento e não tem as vantagens do casamento.

Rafael Belmonte: É. Não tem. Definitivamente, não tem.

Luciano Pires: E por isso que é muito complicado. Essa história de escolher sócio é bala. Mas aí vocês caíram na real, que aquilo ia ser complicado e fizeram o quê? Fecharam o negócio? Compraram a parte dos outros? Fizeram o quê?

Daniel Arcoverde: Na verdade foi mais simples. A gente saiu do negócio.

Rafael Belmonte: Saímos.

Daniel Arcoverde: Vai implodir. A gente estava numa fase de vários memorandos, de entendimento. E aí começou a dar mais problema do que solução. E a gente sai. Ainda estava um negócio pequeno, não foi… a turma continuou. Depois mudou sócio.

Rafael Belmonte: Ficaram mais uns dois anos tocando o negócio.

Luciano Pires: E o negócio morreu?

Rafael Belmonte: O negócio morreu faz uns 4 anos, agora. Mas eles ficaram tocando, inclusive com os holandeses.

Daniel Arcoverde: É verdade.

Luciano Pires: Porque a ideia não era ruim.

Daniel Arcoverde: Não era ruim.

Luciano Pires: A ideia é legal.

Rafael Belmonte: E era altamente complementar ao Facebook. Depois que o Facebook fez quando ele realmente se encorpou, começou a se tornar o que é hoje. Era um artifício altamente complementar. Porque ele oferecia coisas que não eram possíveis de serem feitas dentro das comunidades do Facebook.

Luciano Pires: De onde veio o insight para esse negócio? Foi daquela palestra do Zuckerberg.

Daniel Arcoverde: É. O Zuckerberg ajudou. Aquilo lá motivou. Mas acho que não foi de lá não. Eu acho que foi muito do… a gente tinha um outro cara que estava no grupo com a gente, toda hora puxando ideia, conectando gente. E nas discussões surgiram algumas ideias. E a gente vendo a dor, principalmente dos intercambistas que chegavam, que não tinham acomodação, a turma de fora. Questão de resumo, que… pequenininho, hoje em dia é resumo. Então tinha toda essa história. A gente falou: vamos juntar isso aqui. Eram muitos problemas que a gente queria resolver ao mesmo tempo numa plataforma única. E do outro lado, estavam nascendo e florescendo as redes sociais, que tem toda ótica de efeito de rede. Quanto mais gente você tem lá dentro, maior o benefício. Então quando você junta tudo… a gente olhava a visão, olhava o que estava acontecendo em societário, não fazia sentido continuar. Então, foi um pouco desse…

Rafael Belmonte: E até chegou num momento de a gente repensar o que a gente queria na vida profissional.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Rafael Belmonte: Porque chegou no momento de ter que estagiar.

Luciano Pires: Essa era a pergunta. Essa era a pergunta que viria agora, quer dizer, você quando tira um diploma, um certificado de administrador de empresa, cara, o mundo é o limite. Você não tem limite. Você pode fazer o que você quiser, cara. Eu vou montar um petshop a dirigir o homem descendo em Marte. Qualquer coisa dessa cai no administrador.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: Tem um mundo na tua frente. Vocês não tinham uma pegada na cabeça de vocês, quando vocês estavam: estou estudando para me formar administrador, para: vou montar uma banca de advogados e vou cuidar de todos os advogados, igual os que têm na minha família. Vou ganhar dinheiro com isso? Não tinha uma visão ainda? Vocês estavam no escuro?

Rafael Belmonte: Quando a gente entrou na GV a gente percebeu que tinha um movimento interno que é natural de lá. Todo mundo que estudou lá sabe disso, que é o mercado financeiro. O cara vai trabalhar no banco ou vai trabalhar numa consultoria. É simples. São esses dois caminhos.

Luciano Pires: Porque é onde está o dinheiro.

Daniel Arcoverde: Pelo menos, na década de 90, até 2007, antes da crise, foi onde se teve muito dinheiro. A turma ganhou muito dinheiro. Então, os cases de sucesso do passado eram de mercado financeiro. O cara saiu da faculdade, ganhou muita grana e ficou rico com vinte e poucos anos.

Rafael Belmonte: E obviamente, a GV sabendo disso, ela condiciona todo o ensino dela para isso. Até que os melhores formados sejam as pessoas que vão trabalhar, vão alimentar esse mercado financeiro, banco de investimento, corretoras, trabalhar dentro de departamentos financeiros de grandes empresas. E por aí vai.

Luciano Pires: Que também estão indo lá o tempo todo para caçar a molecada.

Rafael Belmonte: As feiras de contratação eram os grandes bancos que estavam indo lá recrutar o time.

Daniel Arcoverde: E fez sentido por um tempo. Operava na Bolsa já, tinha lá o Home Broker, toda aquela coisa. Era legal o mercado financeiro. Quando você entra naquele ambiente, todo mundo fala que é legal também, você fica empolgado. Por muito tempo, a gente tinha uma visão de mercado financeiro, que a gente interrompeu um período por causa do projeto que a gente estava fazendo. Mas depois que a gente acabou com o projeto, a gente voltou com essa visão. A gente acabou indo para o mercado financeiro.

Luciano Pires: Sim, e foi mesmo?

Daniel Arcoverde: E foi mesmo.

Luciano Pires: Cada um para um lugar?

Daniel Arcoverde: Quase.

Rafael Belmonte: É. Confesso que eu já tinha na minha cabeça já há um tempo, uma predisposição em querer criar o meu próprio negócio. Eu entendi, na oportunidade que a gente teve no mercado financeiro, primeiro, uma necessidade de ter que passar. Porque na GV, se você não tem “x” horas de estágio, você não pega o diploma. Então era obrigado a ter que trabalhar em algum lugar e acabamos trabalhando no mercado financeiro. Mas já me via predisposto a ficar um tempo, já sabendo que lá na frente, eu queria criar o meu próprio negócio. Então, o exercício que eu fazia durante o estágio é: deixa eu absorver o máximo possível de informação que eu tenho aqui, porque daqui a pouco eu quero estar sentado onde o meu chefe está. E aí eu quero estar recrutando as pessoas. Eu quero estar fazendo as coisas. Então foi um exercício em um momento legal assim, de absorção de conhecimento. E o lugar que a gente ficou foi uma baita de uma escola.

Luciano Pires: Onde era?

Daniel Arcoverde: A gente acabou trabalhando na mesma empresa. Eu entrei numa semana, na outra semana o Rafa também passou no mesmo processo.

Luciano Pires: Coincidência.

Rafael Belmonte: Tinham duas vagas no processo seletivo do estágio da GV. Várias pessoas prestaram. E eu e o Daniel, a gente passou.

Luciano Pires: Legal.

Daniel Arcoverde: E aí o que aconteceu? Era um fundo de investimentos chamado Braga Capital. O que eles faziam? Eles tinham um braço de Bolsa [inint 00:24:12] que eles falam, que é compra e venda de ações, de visão de longo prazo. E tinha outro braço que era de [inint 00:24:17] que eles compravam empresas de capital fechado e colocavam executivos da própria Braga para tocar essas empresas. Então era uma visão. Não era um [inint 00:24:27] de grandes empresas. Eram empresas de pequeno e médio porte, que tinha muito potencial de crescimento. Mas normalmente empresas familiares que tinham, enfim, vários problemas internos para serem estruturados, serem melhorados. E a gente…

Rafael Belmonte: Uma grande visão de entrar, reestruturar todos esses processos e vender. Então era insano o quesito de prazo. Tinha data de validade. Você entrou nessa operação dessa empresa, você tem oito anos para fazer esse negócio quintuplicar de tamanho para a gente vender.

Daniel Arcoverde: E a gente acabou entrando na investida, que foi muito legal. Entrou com a cabeça de mercado financeiro. E a gente acabou sendo alocado para tocar na operação de uma das empresas investidas. Chamava Odontoclean, que era um grupo de franqueadoras de clínicas odontológicas. Foi uma escola.

Rafael Belmonte: Foi uma operação em quesito de estrutura e em quesito de faturamento muito próxima da que [inint 00:25:20] está chegando. Ou seja, a gente está entrando. A gente lá atrás, entrou na operação de uma empresa que é totalmente factível de entendimento de operação numa empresa pequena. Não era um monstro. E aí a gente conseguia ver o nosso esforço, a nossa dedicação gerar resultado na linha de lucros do negócio. A gente via que mesmo sendo estagiário, os caras deram uma baita de uma autonomia para a gente fazer o que a gente quisesse muitas vezes. E pensa no desafio disso, porque eram dois moleques que tinham 21, 22 anos sendo alocados pelo Fundo que comprou a empresa, lidando diretamente, muitas vezes com os primos, com os tios que continuaram tocando aquela empresa. E aí falar assim: não. E pessoas de 50 anos, 45 a 50 anos.

Luciano Pires: Um pirralho vem aqui me dizer que não é assim.

Rafael Belmonte: Um pirralho do Fundo que me comprou, que me esmagou na negociação.

Luciano Pires: Vocês não tiveram nenhum treinamento para esse tipo de coisa. Imagina, o treinamento de vocês é técnico. Planilha, etc. e tal. Eu sei o que tem que ser feito. Mas como que eu digo isso para um cara de 55 anos, de cabelo grisalho, que fundou a empresa? Vocês não foram treinados em nenhum momento?

Rafael Belmonte: Não. Cara, eu acho que tudo na vida é questão também de empatia. Assim, empatia é você ter a noção de como que o outro também está se sentindo nesse processo.

Luciano Pires: Com 21 anos de idade, cara?

Rafael Belmonte: Mas é importante ter esse feeling de: como será que ele está vendo uma opinião que eu estou compartilhando para ele? Não adianta só você externalizar o que você está sentindo, o que você está pensando.

Luciano Pires: Eu estou te provocando, porque é o seguinte aqui. Cara, eu tenho 21 anos de idade, tem atrás de mim um puta nome que comprou esta porra. Entendeu? Esse negócio aqui nós compramos. Cara, daí eu chego lá. Cara, eu… é muito fácil o meu ego explodir. E eu chego lá e eu sou o rei da cocada preta e vou mandar fazer e pinto e bordo. Entendeu? E aos 21 anos de idade é fácil acontecer. Porque você não está pronto ainda. Não tomou as porradas na vida, que a gente precisa tomar para entender como que… nunca esteve do outro lado da mesa. Nunca foi comprado por ninguém para entender como que é. Tem que ter uma cabeça muito boa, sabe, para você chegar lá. E exercitar essa coisa que você falou da empatia. Vou me dirigir a esse senhor e tenho que entender que ele deve estar com todas as razões do mundo para me odiar.

Rafael Belmonte: Cara, tem várias histórias boas, assim, naturalmente o nosso perfil, ele é muito parecido e muito distante ao mesmo tempo. Muito parecido porque a gente vem de escolas…

Daniel Arcoverde: Com background parecido…

Rafael Belmonte: Parecidas. Vem com vontades de criar parecidas. Só que é altamente complementar, porque eu sempre me apaixonei pela frente de vendas. Não só pelo meu pai pelo histórico em vendas. Eu sempre gostei disso. Eu sempre me comuniquei muito bem. Eu sempre recebi feedbacks positivos nesse aspecto. E o Dani mais controller da coisa. Muito organizado, gerencialmente impecável e tal. Então, quando nós entramos no Fundo, ele acabou indo para a frente financeira e eu fui para a frente comercial. Quando eu entrei na frente comercial da empresa investida, um dos fundadores da empresa continuou a ser meu chefe. Então, ele foi comprado, ele continuou a tocar a gestão da própria empresa dele, só que agora, administrada por um fundo de investimentos. E eu passei a trabalhar diretamente com o cara. Ele foi um baita professor.

Luciano Pires: Que legal.

Rafael Belmonte: Foi assim, foi incrível. A gente se fala até hoje. Eu acho que ele também entendeu, pelo menos, a minha posição lá de: não é porque esse moleque veio do Fundo, que me destruiu na negociação, que agora está podendo fazer o que ele quiser aqui dentro, que eu não vou ajudar ele a crescer. Então, ele me ajudou muito. Eu também tive empatia para entender o lado dele. Cara, a gente construiu um negócio muito grande assim, a gente ajudou a dobrar o faturamento da empresa. Porque era uma franqueadora.

Luciano Pires: Ele estava onde?

Daniel Arcoverde: Eu estava lá…

Rafael Belmonte: Mas só que estava participando de planejamento estratégico com o Fundo de Investimentos. Estava fazendo…

Daniel Arcoverde: A gente estava… eu acho que a gente teve bons professores. A liderança do Fundo, os caras eram de altíssimo nível. E eles tinham muito contato com a gente, contato direto. A gente estava do lado dos caras. Eles acompanhavam a gente. Eles queriam que a gente crescesse, exatamente para assumir a liderança e eles poderem ir para a próxima empresa. E isso acabou acontecendo. Várias pessoas da nossa geração que estavam no Fundo, comigo e o Rafa, pouco antes de a gente sair, a gente recebeu proposta para virar sócio. A gente tinha acabado de se formar na faculdade. E o Fundo efetivou a gente e convidou para virar sócio. Então, óbvio, tem toda uma questão de dedicação, de correr atrás, de estar lá, de fazer, de aprender, de estar aberto para aprender. A gente falava:  a gente tem que ser esponja. Absorver o máximo possível. Mas a gente teve bons professores. Eu acho que eu sou muito grato ao [inint 00:30:23] Sampaio, a toda turma lá, que foi uma escola para a gente.

Luciano Pires: Por quanto tempo vocês ficaram lá?

Rafael Belmonte: Dois anos, um pouquinho mais de dois anos.

Luciano Pires: Pouca coisa. Bom, também…

Daniel Arcoverde: Foi tudo muito intenso. Era aquele estágio que não era bem estágio. A gente saía da faculdade e trabalhava até a hora que tinha que trabalhar.

Rafael Belmonte: É. Não existia seis horas. Nunca existiu. Porque hoje os estágios são seis horas. A gente fala que está Nutella agora, estágio.

Luciano Pires: Quando é que um vira para o outro e fala: meu, estou com uma ideia aí, vamos trocar uma ideia? Quando foi que aconteceu.

Daniel Arcoverde: A gente já estava na Braga. E um dia a gente foi almoçar no Getulinho, que era o restaurante lá da GV. E aí, eu cheguei com um jornal e tinha uma notícia nesse jornal, falando assim: Sean Parker investe no State. O que era isso? Sean Parker, aquele que fundou o Napster e revolucionou a indústria da música.

Rafael Belmonte: Um dos primeiros investidores do Facebook.

Daniel Arcoverde: E o State era uma startup lá de Los Angeles fundada por um cara que era músico, que ele estava fazendo shows ao vivo com internet, com venda de ingresso. Ou seja, o artista divulgava o show dele, colocava o preço do ingresso, ganhava dinheiro e o streaming ficava com um pedacinho. E aí a gente já estava nessa época, já nos últimos semestres – não me lembro se era 6º ou 7º – eu já estava pensando, olhando. Tinham vários cases dentro da faculdade, de alunos que ainda estavam estudando, mas já estavam com startups crescendo. A primeira plataforma de [inint 00:31:55] do Brasil, da nossa turma. Uma das maiores empresas de recrutamento e seleção hoje no Brasil veio da nossa turma. Então tinha muita gente já fazendo, já com a mão na massa, que estava… isso motivava a gente. A gente olhava e falava: cara, que legal o que os caras estão construindo. Quando a gente viu essa startup lá de Los Angeles, que o Sean Parker estava investindo, estava apostando naquilo, era uma baita oportunidade. Porque não tinha nada parecido no Brasil. Então foi o momento que a gente olhou um para o outro e falou: cara, olha esse negócio aqui. Faz sentido para o mercado aqui. Muito por cima, sem aprofundar muito. Vamos aprofundar? Vamos começar a estudar esse negócio? E aí foi o momento do estalo, que a gente começou a estudar, aprofundar, até tomar a decisão de sair 100% do Fundo e focar no Netshow.me.

Luciano Pires: Então a princípio, ela seria como uma plataforma para transmitir shows de música?

Daniel Arcoverde: É.

Luciano Pires: É isso aí.

Daniel Arcoverde: E a gente fez exatamente isso, a gente copiou. Até a parte de layout, a gente fez um negócio muito parecido. A primeira versão do Netshow.me, a gente chama de copycat. CtrlC, CtrlV e pôs no mercado.

Rafael Belmonte: Sempre com a disposição de criar um ambiente no qual o músico pudesse se monetizar através do apoio financeiro dos fãs.

Luciano Pires: Então não era necessariamente, vocês não estariam transmitindo ao vivo um show que o cara está fazendo em algum lugar?

Daniel Arcoverde: Não.

Luciano Pires: Ele faria o show?

Daniel Arcoverde: Para o online. Um negócio intimista. Imagina o artista na frene do notebook, voz e violão. E os fãs pagavam ingresso e além do ingresso, eles podiam dar gorjetas, dando dinheiro ao vivo.

Luciano Pires: Quer dizer, o cara vai fazer para eles. Não é que você está aproveitando…

Rafael Belmonte: A gente sempre teve dificuldade de explicar o que a gente fazia. Era muito longa a explicação. Teve uma matéria de revista que falou: Netshow.me é uma empresa que digitalizou o chapéu de praça. Eu falei: faz sentido. Chapéu de praça é um negócio ruim. Mas é exatamente isso, os fãs…

Luciano Pires: O que é o chapéu de praça?

Rafael Belmonte: Chapéu de praça…

Luciano Pires: O chapeuzinho o cara põe, depois ele conta ali.

Rafael Belmonte: Sabe o chapéu de praça?

Luciano Pires: O chapéu. Está certo. Está certo.

Rafael Belmonte: As pessoas podiam pagar o quanto elas quisessem por aquela arte que ela estava vendo.

Luciano Pires: Sim, sim.

Rafael Belmonte: Mas a gente sempre ficou muito orientado, sempre teve essa postura muito orientada a cliente, assim. A gente sempre ouviu muito o que os músicos estavam nos passando de mensagem…

Luciano Pires: Essa era a pergunta que eu ia colocar para vocês. Quem era o cliente de vocês? Era o músico ou era o cara que…

Rafael Belmonte: Era muito mais o fã do que o músico.

Luciano Pires: Era o fã do músico?

Rafael Belmonte: Porque a gente podia ter mil transmissões. Só que se nenhum fã pagasse por aquela transmissão, a gente não faturava.

Luciano Pires: Não acontecia nada?

Rafael Belmonte: A gente ficava naquele momento com 20% de tudo que o artista faturava. Então era um ganha/ganha/ganha. Para nós era 20% do faturamento da transmissão, para o músico, ele estava monetizando em algo que ele estava fazendo no sofá da casa dele e para o fã, ele estava vendo uma exibição que não ia acontecer.

Daniel Arcoverde: E ganhando recompensas. Porque a lógica, como estava crescendo o [inint 00:35:00] a gente olhava o modelo. O cara apoiava, ganhava uma recompensa. E por que a gente não replica isso para a transmissão ao vivo? E aí o que a gente fez? A gente deixou um espaço para o artista colocar recompensas para os próprios apoiadores. Então o cara falava assim: o cara que mais dá dinheiro ao longo da transmissão ia ganhar…

Luciano Pires: A camiseta que eu estou usando aqui para tocar, com a minha assinatura.

Daniel Arcoverde: Já teve de tudo que você pode imaginar. O primeiro grande show que a gente fez, que foi lá nos Estados Unidos. A gente estava num evento no Texas e o pessoal do Fresno uma transmissão ao vivo acústica. E aí o Lucas, ele autografou a caixa da pizza, ele levou para o Brasil e mandou pelo correio para a fã dele, na época.

Luciano Pires: Cara, e rodou o negócio? Rodou legal?

Rafael Belmonte: Rodou. A gente bateu mais de 3 mil transmissões pela plataforma. Teve Wanessa Camargo, que fez show intimista, arrecadou R$10.000,00. Tudo ela doou para caridade. A gente teve show de ConeCrewDiretoria, que fez em estúdio uma mega exibição, bateu mais de 15 mil pessoas simultâneas assistindo conteúdo. Cara, a gente teve grandes nomes da música, assistindo também os caras. Sem ter que ficar cuidando das coisas. Só que o que a gente estava percebendo é que o faturamento de Netshow.me era um eletrocardiograma de um cardiopata. Porque tinha mês que faturava 20, R$30.000,00, tinha mês que vinha R$30,00. Eu lembro até que já tinha investimento. A gente conseguiu o primeiro investimento nosso depois de um ano de Netshow.me praticamente. A gente conseguiu investimento com o Rodrigo Borges, fundador do Buscapé, lá em Austin, no Texas, durante o evento lá o [inint 00:36:41]. A gente já estava a empresa rodando, já estava rolando show do Fresno e tal. O cara se encantou com o nosso modelo, principalmente com a gente. Ele gostou muito da gente. E aí, uns meses depois, a gente mostrou o faturamento da Netshow.me, ele falou assim: esses 30 aqui desse gráfico? É R$30,00? A gente falou: é R$30,00 de faturamento. Porque tinha mês que vinha muita coisa e tinha mês que não tinha transmissão. Tipo, dezembro, janeiro. Não tinha transmissão.

Luciano Pires: Ninguém? Que é até uma coisa interessante, porque esse era o mês que tinha que ter.

Daniel Arcoverde: É. É verdade.

Luciano Pires: Esse era o mês para ter. Porque não está acontecendo nada, é Natal, está todo mundo parado aí. É hora de fazer as coisas acontecerem.

Rafael Belmonte: E a gente aprendeu outras coisas também, não só previsibilidade de receita. Mas foram vários aprendizados aí.

Daniel Arcoverde: Fazer transmissão ao vivo é fazer uma experiência que acaba. E no começo, nem tinha tecnologia de arquivamento. Então, o vídeo acabava, acabava. Para a gente ter faturamento, a gente precisava ter conteúdo no ar. Então, imagina que a transmissão durou 40 minutos. Precisava ter outra e outra e outra. Se num mês tinha pouca transmissão, não tinha gente assistindo e pagando. Então, a gente precisaria ter um volume absurdo de conteúdo simultâneo. E para isso, precisaria educar os artistas para eles fazerem tudo sozinhos. No começo, a gente pegava na mão do cara, ajudava, sentava no notebook, ajudava. Depois a gente começou a ter artistas orgânicos. Os caras foram começando a fazer. Só que no meio do caminho, dentro dessas 3 mil transmissões que a gente fez, quando a gente estava na metade ali, a gente começou a sentir o feedback de artista falando assim: cara, eu não tenho tanta audiência ainda, se eu for cobrar, eu acho que pode ficar um pouco difícil para todo mundo assistir. Eu acho que eu vou ter pouca gente assistindo. E o cara que era famoso falava: porra, se eu for cobrar os meus fãs vão achar que eu sou mercenário, estou cobrando R$15,00, R$20,00. E acabou que no dia até do show do ConeCrewDiretoria a gente abriu. A gente fez um teste. Vamos testar uma transmissão gratuita. E explodiu de audiência. E a conclusão foi: cara, os caras, eles querem audiência. Os artistas, eles querem ser vistos. E nesse momento…

Rafael Belmonte: O primeiro valor que ele vê é audiência, é ser visto. A monetização é uma consequência. Daí quando a gente fez isso, a gente perdeu o principal direcionador de receita, foi um momento que era só tickets lá, as gorjetas, o cara dando dinheiro ao vivo. E a gente começou a aumentar o volume. A gente começou a ter muita exposição.

Luciano Pires: Quer dizer, vocês não tinham nem aquela previsibilidade de que 100 caras comprariam ingresso? Não tinha isso.

Rafael Belmonte: Não, porque o fã apoiava na hora.

Luciano Pires: Quer dizer, você entrava no escuro mesmo. Se tinha um cara assistindo, é aquilo.

Rafael Belmonte: E a gente bancando custo de servidor, tipo, são 10 mil pessoas assistindo…

Luciano Pires: Essa pergunta que eu ia fazer agora. Eu imagino que para vocês botarem de pé esse projeto tem um lance de tecnologia aí que é meio enrolado e eu queria saber como vocês fizeram isso aí. Agora é o seguinte aqui, estamos com 38 minutos de gravação.

Rafael Belmonte: Passou rápido, hein?

Luciano Pires: Se você não é assinante do Café Brasil, acabou agora, cara. Para continuar aqui, esse papo vai muito longe ainda, assine o Café Brasil Premium, que nós vamos estar com tudo lá, tá bom? Um abraço.

Rafael Belmonte: Valeu.

Luciano Pires: Agora nós continuamos. Cara, essa é boa. Quer dizer, se vocês puderem, depois, escutem o LíderCast que eu fiz com Maurício…  meu Deus do céu. Como que vai me faltar uma dessa aqui? É o Maurício… se vocês tiverem chance cara, assistam depois o LíderCast que eu fiz com o Maurício Pereira. O Maurício Pereira, músico conhecido aí dessa cena musical paulista. Ele conta ali que ele foi, se ele não foi o primeiro, não sei se alguém foi além dele, a transmitir um show pela internet ao vivo. Foi um negócio tão estapafúrdio, que eles tiveram que fazer um link para a USP. O cara tinha que cortar na mão, mandar para os Estados Unidos, trazer de volta. E ele fez um show ao vivo, da maneira mais enlouquecedora. Quando você ouve ele contando aquilo, você fala: meu Deus do céu. Como que faz um negócio desse aí? Vocês estão contando uma história que acontece em 2009?

Daniel Arcoverde: É.

Rafael Belmonte: 2013 a gente começou a empresa.

Luciano Pires: Então já está…

Daniel Arcoverde: Já está chegando o 4G.

Rafael Belmonte: De plataforma só tinha a Twitcam.

Luciano Pires: Isso que eu ia perguntar para vocês, quer dizer, vocês já faziam uma transmissão ao vivo usando internet. Quer dizer, cara…

Daniel Arcoverde: Sim.

Luciano Pires: Tem que ter o cabo, tem que ter o local, tem que ter aquela coisa, tem que estar tudo armado lá. E vocês não tinham esse background de TI. Foram buscar onde?

Daniel Arcoverde: A gente começou, a primeira versão, dois administradores de empresa e zero de tecnologia. A gente contratou a Software House de Porto Alegre para construir o que a gente chama de primeira versão do produto. A versão inicial. E a gente, como administrador, sempre fala: eu quero fazer tudo. A plataforma tem que ter todas as funcionalidades. É um negócio mais complexo. Inclusive a gente foi aprender que não. Que é o máximo enxuto possível, para a gente poder aprender e desenvolver as coisas, as novas ferramentas. Mas enfim. A gente lançou a plataforma. A gente tinha um desenvolvedor da Software House focado no começo, nos primeiros três meses. E nesse meio tempo, a gente contratou um cara para montar um processo seletivo para contratar um desenvolvedor, para ser nosso desenvolvedor interno. Porque a gente não fazia ideia de como avaliar um cara técnico.

Luciano Pires: Não tinha um copycat para esse caso? Você não podia olhar, o cara fez lá fora, eu quero aquele modelinho, trazer para cá e por aqui?

Daniel Arcoverde: É. Dava para olhar. Mas tem muita coisa, como que faz? Dá para fazer engenharia reversa. Mas como que se desenvolve? Você precisa ter competência dentro de casa. E aí a gente montou um processo seletivo. A gente contratou o primeiro desenvolvedor nosso, o Nicolas, que virou nosso sócio algum tempo depois. Um cara espetacular, de um megafit cultural para a gente, que ele tinha a nossa pegada. E desde então, a gente começou a construir um time de tecnologia interno. A gente internalizou todo o processo e o negócio foi funcionando. Só que quando a gente fala de tecnologia, a gente está falando de software. Você tem o outro lado, que é um lado que você falou, da internet. Isso, num primeiro momento, a gente dependia 100% da conexão da casa do artista. Onde ele estava fazendo transmissão. E a gente passou, nem dá para contar quantos perrengues foram, de transmissão. Teve um dia que a gente estava aqui perto do estúdio num show de um artista que é o Tiago Iorc, que está famoso, muito famoso.

Rafael Belmonte: Na época ele estava começando.

Daniel Arcoverde: Ele não estava famoso ainda. Ele tinha uma comunidade muito engajada. E no meio do show, começou a chover muito forte em São Paulo. Acabou a energia de São Paulo inteira. O aeroporto de Congonhas fechou. O estúdio tinha gerador. Acabou a energia do gerador. Era pay-per-view, toda a audiência tinha pagado para assistir

Rafael Belmonte: R$50,00. E alguns milhares de pessoas.

Daniel Arcoverde: Tinha muita gente.

Rafael Belmonte: E alguns milhares de pessoas pagaram R$50,00 para assistir aquela apresentação do Tiago Iorc. Começou a chover, caiu a luz e cara, não tem internet. O aeroporto de Congonhas – como o Dani falou – fechou. E aí, para avisar esses milhares de pessoas? Cara, a gente acordou no dia seguinte no Reclame Aqui, cara. Todo mundo: quero meu dinheiro de volta. Essa empresa aqui pegou os meus R$50,00.

Daniel Arcoverde: Nossa, no começo era muito perrengue. A gente passou por várias dessas.

Rafael Belmonte: Cara e tinha acabado a internet, a luz. O que eu vou fazer?

Luciano Pires: Sim. O que você faz? Não tem o que… você não tem como antecipar esse nível. Você deve ter pensado: bom, se acabar a luz…

Daniel Arcoverde: Tem o gerador.

Luciano Pires: Tem o gerador. Mas não tem internet.

Daniel Arcoverde: Sim.

Rafael Belmonte: O show fisicamente acabou. Imagina o show online?

Daniel Arcoverde: Essa experiência foi a primeira gestão de crise.

Luciano Pires: Eu imagino o seguinte, eu estou tentando entender esse desenho que vocês acabaram fazendo aqui. Porque eu imagino que o que vocês têm hoje, aquilo era um embrião. Dali, vocês migraram para cá hoje. E acho que vocês logo notaram que deviam ter algumas frentes do ponto de vista da resolutividade. Então, do ponto de vista da administração, alguém tem que cuidar das finanças, alguém tem que cuidar de vendas, alguém tem que cuidar do RH e assim vai. Do ponto de vista do negócio, cara, deve ter um núcleo de tecnologia foda. Deve ter um núcleo comercial foda. Que é diferente do núcleo do financeiro. Então, o negócio de vocês. Vocês conseguem enxergar esse tripé ou esse quadripé? Como é que é o negócio na Netshow.me, essa história, transmissão de coisas ao vivo? Como é que ele conclui?

Rafael Belmonte: Então, primeiro, pela nossa cabeça ser de dois administradores de empresa, a gente sempre teve o cuidado de crescer de maneira estruturada. Então sempre os pés aí do negócio, sempre existiu um cuidado muito especial na maneira como a gente faria a entrega daquele projeto para um determinado cliente. E principalmente, o crescimento e evolução do empreendimento de maneira geral. A gente nunca cometeu o erro de crescer de maneira desestruturada. Esse é um primeiro ponto também.

Luciano Pires: Você vai ter que melhorar um pouco isso aí. Porque esse tema é fantástico, cara. Isso é maravilhoso. Porque eu converso com gente que o negócio nasce e começa a crescer e o cara implode, porque ele não consegue, ele não tem base.

Rafael Belmonte: Exatamente. Exatamente. E aí a gente começou já a criar e entender qual que era a dinâmica da entrega e como começar a criar as áreas. Toda empresa, mínima que é, que seja, ela começa com a área financeira, a área de marketing, a área de vendas e a área de entrega, vamos chamar. Obviamente a gente apelidou de outros nomes, que não nomes tão quadradinhos assim. Por exemplo, a área de entrega ela é a CS, CustomerSuccess, sucesso de cliente. Não é um pós-venda. Pós-venda, uma gráfica chama de pós-venda. Não vamos chamar de pós-venda. A gente vai chamar de sucesso de cliente. E a área de vendas é a área de grow, área de crescimento. Quer dizer, então, já que a gente está fazendo um negócio diferente, vamos dar nomes diferentes para as coisas. Então, a gente foi entendendo a dinâmica do processo de entrega, nesse momento, já também entendendo que o nosso público já não era mais o músico, também não era mais a gravadora. O público num segundo momento, passou a ser o meio corporativo. Se nós queremos construir uma empresa sólida e previsível, a gente precisa construir uma máquina de vendas com clientes que consigam nos dar essa previsão, na verdade. Qual o segmento que é? A indústria corporativa. Ela estava altamente sedenta por uma ferramenta de transmissão ao vivo, que pudesse ter segurança da informação, que pudesse conhecer a audiência que estava consumindo o conteúdo. Que pudesse possibilitar monetização e engajamento. Os quatro pilares a gente já tinha para a indústria musical, só quer era um modelo de [inint 00:47:24] share.

Luciano Pires: Você acaba de me descrever o Youtube.

Rafael Belmonte: No quesito… só que não. Hashtag só que não.

Luciano Pires: Acaba de me descrever o Youtube? Só que não.

Rafael Belmonte: É. Só que não.

Luciano Pires: Porque eu imagino o seguinte, o que você me descreve aí? Uma produtora com um caminhão de externa, que encosta lá na frente, bota um cabo, põe no Youtube, joga no ar e fala que está tudo feito. E até porque é de graça. [inint 00:47:49]. Mas é interessante. Eu imagino vocês modelando isso para vender para alguém? Um negócio, cara… você falou que eles estavam sedentos. Mas eles não sabiam direito o que era? Eu estou sedento por quê? Eu quero fazer as minhas reuniões, quer dizer, eu quero fazer…

Rafael Belmonte: Uma apresentação trimestral de resultado.

Luciano Pires: Isso.

Rafael Belmonte: Eu não posso usar o Youtube. Me ajuda, pelo amor de Deus.

Luciano Pires: Era aí a pegada. Essa era a dor?

Daniel Arcoverde: No mundo da startup a gente fala de uma palavra chamada pivô. A gente pivota a operação. A gente estava nessa onda de transmissão, transmissão, transmissão. Gerou muita exposição, as empresas começaram a se interessar pela ferramenta. Ela achava legal a ferramenta. Só que a gente não tinha – como você falou – a modelagem para o mundo corporativo.

Luciano Pires: Isso vocês já tinham parado com a música? Ou vocês já estavam…

Daniel Arcoverde: Estava num momento de transição. A gente estava olhando. A gente entendeu, em 2015, a novidade que as redes sociais estavam trazendo, como transmissões ao vivo. E a gente viu que não fazia muito sentido não ter pay-per-view. Uma ferramenta de audiência, uma ferramenta de social. E aí em 2015 a gente começou a fazer muita experimentação, no final de 2015. E as empresas começaram a olhar nosso produto e falar cara, tem uma… eu quero. Quanto custa para ter uma ferramenta? Eu quero usar, personalizar e tal e tal. E a gente começou a estudar as dores do cliente que o cliente estava demandando. Qual que era os benefícios que ele estava querendo comprar? Quais que eram os medos que ele gerava na venda. E aí a gente começou a remodelar o negócio e a gente fez um relançamento da plataforma no qual a gente arrancou a visão artista. Porque estava muito difícil de escalar. A gente escalava audiência, mas não escalava receita. A gente não conseguia monetizar a plataforma. E aí a gente entrou no universo corporativo. Isso foi em janeiro de 2016.

Luciano Pires: Eu acho que é mais ou menos, toca o telefone lá: eu sou do Café Brasil lá…

Daniel Arcoverde: Exatamente. A gente estava… como que é o desafio? A gente tinha a plataforma, que ela era uma plataforma igual para todo mundo, gratuita, o cara entrava, fazia live. Quando a gente vai falar com a empresa, cada empresa tem uma demanda diferente. A gente precisava modularizar todo o software para entregar da forma que a empresa estava demandando e as dores que eles queriam resolver, de fato, eram muito relacionadas à segurança da informação, à escala. A empresa, ela muitas vezes olhava e falava: cara, eu não quero só o software. Eu quero também o serviço, eu preciso da solução inteira. Eu preciso que alguém faça isso para mim. Eu não quero gerenciar vários fornecedores. E aí a gente enxergou a oportunidade, uma grande oportunidade no mercado corporativo, que não tinha ninguém assim. Estava totalmente vazio, poucas empresas operando. A maioria, pequenas produtoras. A gente não tinha uma grande empresa olhando e operando nesse mercado de uma forma eficiente. Então, foi o primeiro passo que a gente deu no universo do vídeo online. Dominar a experiência corporativa de transmissões ao vivo. E aí foi um momento, que no primeiro semestre a gente ficou muito no software, em 2016. No segundo semestre começou a construir uma rede de produtoras parceiras para a gente poder escalar entrega. A gente começou a criar tudo que o Rafa falou: uma maquininha de vendas. Então a gente começou a gerar muita oportunidade por meio de marketing digital, por meio de relacionamento. E aí alimentar o comercial. E começou a gerar volume para as produtoras que são parceiras. Então hoje a gente consegue operar o serviço de transmissão ao vivo por software e a captação audiovisual e link de internet no Brasil inteiro sem ter uma câmera no escritório.

Rafael Belmonte: Até fora do Brasil.

Daniel Arcoverde: Até fora do Brasil.

Rafael Belmonte: A gente pegou contas internacionais como [inint 00:51:12] da vida. A gente faz produções completas em Cidade do México, Buenos Aires, Bogotá…

Luciano Pires: Sem ter uma câmera…

Rafael Belmonte: Ano passado foram exatas 3.300 transmissões ao vivo feitas sem uma câmera, dentro do nosso escritório.

Luciano Pires: Porque isso é uma inversão do jogo. Porque normalmente, o que acontece? É uma produtora que tem milhões investidos em equipamento. E fala: vou transmitir evento ao vivo em equipamento. Vocês inverteram o jogo.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: Espera um pouquinho, nós vamos… nós somos, inteligência nossa…

Rafael Belmonte: Já olhando a nova economia. Economia compartilhada muitas vezes. Olhando o Uber, é a maior empresa de transportes e não tem nenhum carro na frota, Airbnb, é a maior empresa hoteleira e não tem um ativo sequer de hotel. A gente hoje é a maior provedora de soluções de transmissão ao vivo, sem ter nenhuma câmera no escritório.

Luciano Pires: Sim, perfeito.

Daniel Arcoverde: É um caminho que é muita experimentação e teste. A gente começou lá com show e aí vai testando, aí tira o pay-per-view   . A gente tenta muito trabalhar com influenciador digital. Aí veio o corporativo e a gente viu um mercado gigantesco pouco explorado. Aí o foi o momento da virada. A empresa que estava andando de lado começou a crescer rápido.

Luciano Pires: Vocês saíram do B2C para o B2B?

Daniel Arcoverde: Exatamente. Exatamente isso.

Luciano Pires: Não tem mais B2C?

Daniel Arcoverde: Não tem mais.

Luciano Pires: Agora é B2B?

Falas superpostas [00:52:33]

Luciano Pires: Não se abandona. O B2C tem um negócio de escala que é maravilhoso.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: O B2C é o que há. Se cada um me pagar R$1,00, eu fico milionário. Se cada um me pagar R$1,00. E o B2B não. É outra coisa, B2B.  Se eu perco um cliente, eu perco uma fatia grande. O B2C, se eu perco um carinha, entra outro também. Então há… ou seja, ninguém abandona. Eu imagino que vocês vão voltar a isso aí nessa coisa. Mas antes de voltar, deixa eu cutucar vocês. Então essa coisa começa em 2016 e vocês vão expandir para valer em 2017. É isso?

Daniel Arcoverde: É. Realmente multiplicar a empresa algumas vezes, em 2017. A gente fez 5 vezes o faturamento da empresa.

Luciano Pires: E vocês se deparam com a necessidade de crescer. Já não somos mais três, quatro, cinco. Agora a gente tem que ser sei lá quantos. Quantos são hoje?

Daniel Arcoverde: 30.

Luciano Pires: 30.

Daniel Arcoverde: Indo até o final de março para 40.

Luciano Pires: E aí veio essa decisão do crescimento, que traz junto uma dor desgraçada, cara. Porque, dizem até os caras – eu estudei isso até lá na minha época da administração – eles falam o seguinte: que o limite de uma empresa é 500 pessoas. Passou de 500, esquece, porque aí você já não pode chamar pelo nome. Você não tem mais olho no olho, a coisa desanda, porque com 500 a coisa é uma loucura. E hoje em dia, 500 já é gente pra cacete, cara.

Rafael Belmonte: É isso que eu ia te falar.

Luciano Pires: É muita gente. Eu estou falando do ponto de vista da manufatura ali atrás, na minha época lá. Quando a Volkswagen tinha 80 mil, 50 mil, 60 mil. Eu imagino que vocês vêm com tudo controladinho, tudo bonitinho. Cara, e agora esse negócio vai ter que escalar, não só porque eu tenho muito cliente chegando. Mas porque tem muito mais cliente para eu ganhar. Eu não consigo ganhar mais se eu não aumentar de tamanho aqui. Como é que você aumenta sem quebrar, cara?

Daniel Arcoverde: Na verdade, não existe crescimento rápido, sem você quebrar processos e quebrar algumas coisas que estavam organizadas. Até 2017 a gente cresceu cinco vezes. A gente entrou em 2018 e falou: vamos crescer cinco vezes de novo. Só que você começa a perceber que tem um trade off. Se você cresce muito rápido, todo ano, você pode perder a qualidade do serviço. E se você cresce, você acha um ponto de equilíbrio e consegue manter qualidade estruturada e construir uma base para o crescimento acelerado, é mais saudável para o longo prazo. E a empresa com consistência, quando você cresce um pouquinho mais consistentemente dá para construir um meganegócio gigantesco.

Luciano Pires: Você vai ter que falar não para uma porrada de coisas?

Rafael Belmonte: Muitas vezes.

Luciano Pires: Vai ter que abrir mão de uma porrada de oportunidades.

Daniel Arcoverde: Exatamente. Por que o que acontece? Você não escala uma empresa se você faz muitas coisas diferentes. Você precisa ser mestre em alguma coisa. Você precisa dominar aquele processo para você poder replicar aquele processo. Então a gente tem… toda empresa, eu acho, toda startup precisa de foco. O que é foco? Foco é exatamente você entender o que você está experimentando, entender o que deu certo, formatar aquilo redondinho e replicar. Então, o momento de escala, quando você começa a crescer a operação e ter que contratar gente, ter que colocar para rodar, é o momento que você dominou o processo e você começa a replicar. Mas até chegar nisso, você faz tanta experimentação que vai quebrando, vai mudando e vira uma bagunça. E você precisa arrumar. Então a gente tem várias… é meio cíclico, cada vez que a gente lança um produto novo, que a gente estabelece uma modelagem nova de negócio, a gente passa por um momento de caos. Quebrou um monte de coisa, você precisa reorganizar. E a gente vai atrás, arrumando, daí tem uma hora que o negócio começa a andar, aí vamos colocar mais, entender como funciona. A gente acelera.

Luciano Pires: Isso é uma cultura, cara. Por que vocês não se apavoram mais nesse momento de caos?

Daniel Arcoverde: Não.

Luciano Pires: A essa altura do campeonato, não?

Daniel Arcoverde: Não.

Luciano Pires: Ele faz parte do jogo? Só dá: o bicho vai pegar. Vamos fazer pegar.

Rafael Belmonte: Sim. Esse momento de caos hoje na empresa, ele dura um dia, dois dias. Hoje as células, elas são construídas dentro da operação. Cara, a gente consegue tranquilamente se remodelar no menor espaço de tempo possível, porque existe um evento que modificou a estrutura. Pode ser um evento, um cliente parrudo ter chegado. Pode ser – infelizmente – um sócio ter falecido; como aconteceu. Pode uma nova parceria ter sido realizada. Então, eventos que aconteçam na empresa. Como uma célula, a gente se readequa no menor espaço de tempo possível. Isso é totalmente parte da nossa cultura.

Luciano Pires: Qual foi o momento em que vocês sentaram os dois para tomar um chop e bateram e falaram: deu certo? Não é que terminou. Deu. Pegou no breu, daqui é crescer. Quando que vocês…

Daniel Arcoverde: Luciano, eu acho que a gente nunca sentou e falou: deu certo agora. Mas a gente sempre comemorou as pequenas conquistas. Porque ao longo da jornada tem vários pequenos marcos que a gente fala: cara, que legal. Eu me lembro de vários. Primeiro: captação de investimento com o Rodrigo Borges. A gente trouxe o melhor cara de internet que tinha no Brasil para virar nosso sócio, cara. A gente falou: que legal. O dia que a gente trouxe um contrato gigantesco de uma emissora de TV, porra, legal pra caramba. Vamos lá. A gente bateu, deu certo.

Rafael Belmonte: O primeiro contrato B2B.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Rafael Belmonte: A gente brindou. A primeira captação com fundo de investimento. Brindamos. Os primeiros R$1000.000,00 faturados no mesmo mês. Imagina, para quem faturou R$30,00, faturar R$1000.000,00 no mesmo mês. Cara deu certo. Se a gente vai analisar o gráfico de evolução da empresa em quesito de faturamento dá muito para ver os momentos aha, que a gente fala; que são os momentos de brinde que a gente teve. E tranquilamente dá para ver nas linhas de curvas de evolução, o momento em que a gente fechou uma conta expressiva em B2B de software. O momento em que a gente entrou com um software mais produção. O momento em que a gente olhou para o negócio macro e a gente propôs outro de… então, as grandes linhas e mini conquistas que a gente teve nessa jornada, elas foram sim, comemoradas, mas não como um brinde assim…

Daniel Arcoverde: Acabou…

Rafael Belmonte: A gente não considera ainda que o negócio deu certo… a gente está na zona de desconforto ainda.

Luciano Pires: Daqui para cima?

Rafael Belmonte: Exato.

Luciano Pires: Daqui para longe?

Rafael Belmonte: Se a gente sempre achar que a situação não está confortável é…

Luciano Pires: Não, isso é o ideal. Se estiver confortável pode acontecer: alguém vai te atropelar.

Rafael Belmonte: Exatamente.

Luciano Pires: Você falou um negócio interessante de televisão. Vocês fecharam transmissão para a TV também? TV broadcasting?

Daniel Arcoverde: Sim. O Netshow.me, quando a gente entrega o software, que o cara gerencia, cria a transmissão, ele tem chat, ele tem relatório, ele tem um monte de coisa. Ele opera em cima de uma infraestrutura. Então a gente começou a verticalizar a nossa entrega. Então, hoje a gente entrega toda a infraestrutura de distribuição de vídeo para 24X7. Qualquer emissora hoje tem conteúdo rodando na internet, não só em canal aberto ou fechado, mas também aplicativos, as smart TVs estão aí. A gente também fornece esse tipo de tecnologia para emissora de TV. E aí em cima dessa infraestrutura a gente tem o nosso software. Em cima da camada de software tem a questão do serviço. E a rede de produtoras que a gente homologou pelo Brasil e alguns países aí da América Latina.

Luciano Pires: Que legal, cara.

Daniel Arcoverde: Funciona bem.

Luciano Pires: Sem ter uma câmera ligada. Sem ter uma câmera ligada.

Daniel Arcoverde: Isso aí.

Luciano Pires: Muito bem. Aí vocês começam a se coçar: porque vamos buscar mais gente aí. Vamos buscar outro tipo de… vamos sair dessa história das grandes corporações, porque ali está legal, está andando. Tem outras coisas precisando aí. Como é que foi essa… como é que desperta essa ideia de que…

Rafael Belmonte: Primeiro que no universo corporativo, a gente conseguiu grandes contas importantes, recorrentes. E o que acontece quando você consegue uma conta dessas? A empresa realmente usa o seu produto. O que acontece numa plataforma de vídeo de transmissão ao vivo? Usa-se muito conteúdo gravado. A gente começou a separar cara, com uma infraestrutura de história de armazenamento. Estava tendo alguns teras de conteúdo lá. Alguns milhões de visualizações de conteúdo. A gente falou: cara, a gente precisa ajudar essas empresas a organizar todo esse inventário de conteúdo. Não deixa de ser um inventário. Não deixa de ser um ativo da empresa. E a gente já começou a se coçar no primeiro semestre de 2018, ano passado. Propor soluções que conseguissem ajudar a empresa a organizar esse inventário de conteúdo. Quando a gente foi olhar o mercado lá fora, ainda embrionário, estava fazendo, estava olhando para o OTT, que é o nome científico do Netflix, é Over The Top. E aí a gente se deparou dentro do universo de OTT, com uma comunidade de pessoas que estavam usando, muito maior que o segmento corporativo. Infinitamente maior, porque eram produtores profissionais de conteúdo.

Luciano Pires: Então, deixa eu entender essa… deixa eu só… eu estou de fora, eu não entendo nada desse negócio aí. Eu já me perdi aqui. Quando você fala do OTT? OTT o que é? É um sistema que é o sistema que a Netflix usa?

Rafael Belmonte: Na verdade, é a tecnologia. A gente fala, por exemplo, em CMS que é Content Management System, um sistema de gerenciamento de conteúdo. Quando a gente fala LMS, a gente está falando de Learning Management System, sistema de gerenciamento de educação, é de ensino. O OTT, ele também é um framework, assim como o LMS, assim como o CMS. Ele parte do pressuposto que ele vai unificar as grandes tendências de tecnologias que estão acontecendo naquela indústria, por exemplos, gateways de pagamento. Eles têm, via assinatura, está lá. Recomendação de conteúdo? Sim. Está lá. CMS, gestão de todo o inventário de conteúdo? Sim. Está lá. Botões de login para conhecer mais seus hábitos de consumo. Ou seja, o OTT, além de ser o que existe de mais inovador nessa indústria, nessa vertical, ele concentra todas as grandes inovações. Ele é meio que one stop shop do negócio. Ele é a loja que você vai encontrar tudo que você precisa. Está no OTT. E o Netflix foi o grande utilizador desse novo framework, só que para ele mesmo. Ele criou o próprio OTT dele. O nosso olhar é: eu tenho certeza que um Santander precisa ter o próprio Netflix deles. Porque a gente já sabe que eles têm dores de conhecimento interno dos colaboradores.

Luciano Pires: Então, você está tocando num assunto aí que é uma coisa fantástica cara, que é o seguinte: esses caras, essas empresas, o pessoal do mundo dos negócios e tudo mais. Nunca se viu como um gerador de conteúdo. Eles nunca, assim, eles não se veem como isso. Na verdade, pelo que você me contou, eles buscam alguém que faça.

Rafael Belmonte: Exatamente.

Luciano Pires: Ele não reconhece que ele produz ali. O treinamento que ele deu para aquele cara, aquilo nunca virou nada. Eu treino o cara e morreu.

Rafael Belmonte: Ele acha que a atividade principal dele é o varejo. Ele se acha um varejista, ele não se acha um produtor de conteúdo.

Luciano Pires: Aquela cultura, aquele conhecimento, ele nunca foi transformado em algo que eu possa ir na prateleira e pegar. Espera um pouquinho. Eu sempre busco alguém para vim.

Daniel Arcoverde: Isso.

Luciano Pires: E essa coisa está dentro da minha empresa, está na minha cabeça, está na minha experiência, que sempre foi relegada para segundo plano. E o que vocês estão contando para mim aqui agora, é que há uma mudança no mercado, cultural, quer dizer, as pessoas estão começando a ver que aquilo tem um puta valor, nessa cultura que está na mão da empresa. Ela só não está formatada. Ela está largada, ela está perdida em vários lugares aí. O Seu Luciano Pires, que tem 60 anos de idade, que está sentadinho na mesa lá, tem um cabedal de conhecimento do negócio, que nunca foi passado de forma nenhuma. Não virou nada, não virou um blog, não virou nada. E de repente, esse cara senta, grava um vídeo, a história. Eu já tenho a definição perfeita: são as receitas da minha avó. Um dia a velhinha morre e as receitas foram tudo embora. Ele não deixou isso para ninguém.

Rafael Belmonte: Na visão do seu cliente, na visão de quem consome o conteúdo, qual que é o grande desafio? Qual que é a grande dor? A gente hoje está vivendo num mundo em que informação está altamente dissipada e pulverizada num nível, em que 99% é lixo. Eu estou disposto a pagar para ter 1% de qualidade.

Luciano Pires: Isso aí.

Rafael Belmonte: Essa é a mentalidade da pessoa.

Luciano Pires: E qual é o grande lance aí? Você não está pagando pelo conteúdo. Você está pagando por quem vai selecionar esse conteúdo.

Rafael Belmonte: Exato. Autoridade no assunto.

Luciano Pires: Curadoria. Que é o grande nome. Vocês vão escutar de montão, que todo mundo vai falar, porque vai entrar na moda agora. É a curadoria.

Rafael Belmonte: Ninguém aguenta mais consumir conteúdo ruim

Daniel Arcoverde: Até porque hoje, todo mundo é produtor de conteúdo. Então o volume de conteúdo, ele está crescendo exponencialmente. E a capacidade de consumir conteúdo, ela é linear. Então, você precisa curar conteúdo para conseguir aquilo que é bom.

Luciano Pires: E até porque, você tem um problema, que não dá para você esperar para ver se o conteúdo é bom. Deixa eu começar a ver. Deixa eu começar a ver esse vídeo aqui, na-na-na. Dez minutos depois, o cara: é ruim. Perdi 10 minutos. Não dá mais tempo. É isso aí. E aí vocês olharam para isso e entenderam que tem um monte de gente produzindo conteúdo?

Rafael Belmonte: Só no universo corporativo já dava para construir uma empresa gigante, que é a nossa realidade já de algum tempo. Quando a gente olhou produtoras profissionais de conteúdo, dá para construir algo muito maior no meio corporativo. Então a gente passou a olhar quem estava fazendo isso no mercado muito bem. Paralelamente, caso não desse certo essa estratégia, fazer dentro de casa. Mas a gente encontrou uma sinergia muito grande com uma empresa de Natal. E a gente acabou fazendo essa compra dessa empresa, trazendo o time executivo dela, trazendo os clientes e trazendo toda a tecnologia e o know-how. Porque eles já vinham estudando isso há muito, antes que nós. Muito tempo antes do que nós. Despertou a fagulha do OTT. A gente já estava com produto com alguns clientes.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: Então, deixa eu explicar para você, que ainda não pegou a jogada aqui. Um produtor de conteúdo sou eu, o Luciano que está sentado aqui fazendo conteúdo e usando o que eu posso fazer aqui. Então, eu vendo uma palestra para uma empresa. Eu faço um vídeo, coloco aqui, etc. e tal. Um belo dia aparece alguém com um esquema de assinatura recorrente. Eu olho para aquilo e eu imagino que talvez, de repente, possa ser viável eu passar a ganhar dinheiro com assinatura recorrente. Você que está vendo a gente aqui, sabe o que é o Café Brasil Premium. E para eu colocar o Café Brasil Premium no ar existem alguns enlatados aí à disposição, que eu podia usar, altmark, esse tipo de coisa. E eu optei em não usar os enlatados, para usar uma plataforma que pudesse se adaptar a mim. E aí encontrei uma turminha de Natal, ba-ba-ba, que criou todo esse projeto para a gente, do Café Brasil Premium e toda essa estrutura que está crescendo. E a gente acabou se cruzando no meio do caminho. Então, como eu estou lá dentro, e esse material… há uma semana atrás a gente sentou para conversar e a Netshow.me adquiriu aquela empresa. Então agora, quem está cuidando desse projeto para mim é a Netshow.me. E é muito interessante, porque a gente está no momento do começo de festa. A Netshow.me chega, não é para pegar um negócio que explodiu. Não. Está tudo começando. Nós estamos tateando. Isso é uma característica legal, que é que tudo que está sendo desenvolvido; está sendo desenvolvido na base do trial and error. Não funcionou aqui, troca ali. E não deu certo. Então, não é, não foi um copycat

Daniel Arcoverde: Uma experimentação.

Luciano Pires: Exatamente.

Rafael Belmonte: E todo mundo aprendendo conjuntamente.

Luciano Pires: E vocês vêm com uma expertise. Sem contar a estrutura. Vocês vêm com uma estrutura legal, que é muito maior do que aquela que existia. E com uma pegada comercial que lá não tinha. Vocês vêm com uma pegada agora aí que, cara…

Daniel Arcoverde: Já tem uma carteira de cliente para distribuir…

Luciano Pires: Tem prazo para dar certo. Tem resultado, tem que funcionar e tudo mais.

Rafael Belmonte: Sim. Tem investidor.

Luciano Pires: Sim. E vocês chegaram a… vocês falaram para mim em algum momento da nossa conversa aqui, que vocês trabalharam uma época com influenciadores digitais?

Daniel Arcoverde: Sim. Sim.

Luciano Pires: Lá vocês já sacaram essa turminha. Vocês já sacaram lá atrás: músico é um produtor de conteúdo. E influenciador digital é um outro produtor de conteúdo?

Daniel Arcoverde: É.

Luciano Pires: E aí tem os Luciano Pires da vida, que produzem um outro tipo de conteúdo. Cara, esse universo é infinito?

Daniel Arcoverde: É. É infinito.

Rafael Belmonte: Obviamente a gente tem que voltar alguns passos atrás e falar da qualidade desses conteúdos. Porque o que a gente vê – grande parte deles – é que várias pessoas que se dizem influenciadores digitais, basicamente elas fazem parte dos 99% do conteúdo ruim que faz parte do mercado. O que a gente está vendo agora é que todo mundo pode ser um produtor de conteúdo. As plataformas digitais, elas democratizaram esse acesso. Então a pessoa, ela parte do pressuposto que ela pode falar sobre qualquer coisa. E ela não constrói um planejamento, uma estratégia, baseada no que ela é autoridade para falar. Ela vai falando. Então, não me inspiram os canais que têm 10, 50, 20 mil acessos. Mas você olha a comunidade daquela pessoa e não te traduz por que aquela pessoa está lá seguindo aquela pessoa em si. Por que você está seguindo? Você não sabe. Ela não é referência, ela não é autoridade naquele assunto. Então, as plataformas OTT, elas têm ajudado a apurar ainda mais todo esse movimento que tem se dado em relação a influenciadores. Tem vários influenciadores como você, que tem uma vertical que você traça e é aqui que eu vou ter. Então, o seu público segue, sabe a vertical, sabe por que ele está te seguindo. Vai fazer parte agora dos próximos anos, ligado ao ecossistema de infraestruturas digitais, eles começarem a se preocupar com isso: qual que é a mensagem que eu passo? Que imagem que eu passo? Quem me segue? Segue por quê?

Luciano Pires: Senão você não dura.

Rafael Belmonte: Senão você não dura.

Luciano Pires: Ele vai ser esmagado pelo volume de gente que está… até porque – é uma coisa que eu costumo brincar – eu falo o seguinte: olha cara, o meu projeto não tem um milhão de seguidores. Eu não estou fazendo um negócio para ter um milhão de assinantes. Nem dá. Se eu tiver um milhão, alguma coisa está errada. Se eu estou conseguindo ter um milhão, está errado. Algum erro tem ali. O que eu preciso ter? Eu preciso ter aqueles mil que me enchem o saco, entendeu? Que é o lance – isso aí eu sentei para estudar muito – que é o lance da minha audiência, que eu construí. Então eu tenho uma audiência que é minha e que ela tem certas características, que me interessa esse tipo de audiência. Que audiência é essa? É aquela do cara que eu sei que se eu piscar, ele me pega, entendeu? Se eu falar bobagem ele vem para cima, ele me pega, entendeu? Ele me obriga a querer mais. Esse cara cresce comigo. Ele está me ouvindo há 10 anos; e esse cara cresceu bicho. Eu não posso mais usar a bobagenzinha que eu usava lá atrás, porque esse cara já passou. Ele vai falar: meu, que mais que tem aí? E eu sou obrigado a estar crescendo. Ele me empurrou para cima. Então, isso é um círculo virtuoso, que é um negócio fabuloso, cara. Os caras me falam: porra, você passa o dia inteiro… cara, eu estou me divertindo de montão. Vocês me obrigaram a ler um livro. Olha que fantástico. Por causa de vocês, eu tenho que ler um livro todo mês, porque eu tenho que fazer o sumário do livro. Eu tenho que escrever. Porra, cara eu nunca li um livro desse jeito, entendeu? Então eu sou obrigado a fazer. Isso me joga um patamar para cima, que é essa seleção que você falou acontece, quando esse – vou usar a tua palavra – esse ecossistema começa a funcionar. Então, como o ecossistema do Café Brasil está funcionando? E é assim. As pessoas começam a trocar ideia, a querer mais. A cobrar de mim, a exigir posturas. Eu não posso abrir mão de alguns princípios que eles sabem que eu tenho.

Daniel Arcoverde: É uma comunidade.

Luciano Pires: Exatamente.

Daniel Arcoverde: Eles se engajam. Interagem entre elas.

Luciano Pires: Estão lá e esperam determinado tipo de coisa. Esse tipo de coisa eu sei que eu não vou ver na página do Luciano, entendeu? Ele não falou isso. Ele não falaria isso. E aí você acaba criando aquela coisa da curadoria, que isso vale a pena. Então, esse cara eu confio o suficiente para ser um curador de temas que vão me ajudar a crescer. Então tem um lance de qualificação aí no mercado, que vai acabar acontecendo, até pela… a turma cansa, bicho. O pessoal vai cansar disso aí. O cara de um milhão, o cara de 10 milhões, o cara de 20 milhões. Chega uma hora: bicho… a audiência cresceu, cara. Aquela molecadinha de 12 anos, legal, saiu do ninho e cresceu. Se eu não conseguir atender a quem crescer, eu vou perder todo mundo.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: Então, tem uma dinâmica legal nesse…

Rafael Belmonte: Que são os grandes desafios hoje que as empresas de mídia enfrentam.

Daniel Arcoverde: Enfrentam. Total

Rafael Belmonte: Elas abriram tanto o leque, uma Globo, ela atinge tantos milhões de pessoas. Qual é a linguagem hoje que uma Globo passa?

Luciano Pires: É a síndrome do Faustão, cara.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: O Faustão tem que dar 30 pontos de audiência, bicho. Se ele descer fundo num tema, ele dançou. Ele perde audiência. Então ele tem que botar a dancinha do famoso, a Vídeo Cassetada. E aquilo, bicho, não muda a vida de ninguém. Não acontece nada lá. Ninguém vai mandar uma carta para o Faustão: Faustão, eu ouvi um negócio no teu programa que mudou a minha vida. Não vai acontecer lá.

Daniel Arcoverde: Fica competindo por audiência, por atenção. Aí surgem os influenciadores de nicho. Então começa a ser autoridade naquele nicho, aí você começa a construir uma comunidade e dentro da sua base tem os [inint 01:14:19], que são os caras que você falou, que de fato acompanham, pegam todos os detalhes. E quando você acha esse grupo, você consegue trabalhar em cima dele e entender por que esse cara está do seu lado te acompanhando, você entende o seu público alvo. Aí você, como criador de conteúdo, consegue fomentar uma comunidade mais ativa. E fica muito mais fácil de gerar negócio em cima disso.

Luciano Pires: E você olha. Se você passar na sala do teu diretor de marketing e ele não estiver dormindo, você entra e conversa com ele e conta para ele que trabalhar 10 influenciadores digitais que falam com 10 mil pessoas cada uma, dá um resultado muito maior do que botar um anúncio num programa de televisão que tem 8 milhões de pessoas. Entendeu? Porque ali tem uma qualificação de audiência que se perdeu. Eu vou pelo Ibope. O Ibope não qualifica nada, cara. Me dá no máximo: tem a idade, etc., mas não tem a qualidade das pessoas que estão ali. E no meu caso, eu tenho essa qualidade na ponta do dedo. Eu sei a qualidade de quem está me ouvindo. A dificuldade está em passar isso para quem pode ser um patrocinador. Então, cara, venha falar com esse grupo aqui, que é um grupo altamente qualificado. Qualificado por quê? Porque tem dinheiro para comprar? Não. Porque esses caras têm opinião, esses caras não engolem qualquer coisinha. Não adianta chegar com uma bobagem lá, que ele não vai comprar.

Rafael Belmonte: É que ainda faz parte da cultura a questão do volume/qualidade.

Luciano Pires: Exatamente.

Rafael Belmonte: Porque alguns diretores de marketing, eles precisam reportar para o CEO que tiveram 18 milhões de pessoas impactadas. Só que quanto de venda efetivamente veio exatamente dessas 18 milhões?

Luciano Pires: Eu vou mais além, pode ser até que venha muita venda. Mas eu quero essa venda no tempo. Entendeu? O que aconteceu com a tua marca daqui a 10 anos? Falando para quem não está nem aí para ela ou falando para caras que estão construindo com você? Então, bicho, eu tenho uma consistência construída ao longo do tempo, que precisa da inteligência. E não é só a minha inteligência, de falar com eles. É deles de me receber. Estou dando mais umas dicas. Agora eu vou falar um pouco, que eu costumo brincar e dizer o seguinte: o meu trabalho, eu só faço 60% do trabalho; 40 são na cabeça de quem me ouve ou quem me vê. Então, eu pego 60, mando e os 40 vão acontecer lá. É que nem a mãe faz o bolo e o resto acontece no forno, cara. Põe no forno. É lá que ele vai crescer. É lá que ele vai ficar bom. E eu trato assim: a cabeça de quem me escuta é o meu forno. Eu preparo a massa, ponho lá. Alguns caras, fica um bolo maravilhoso. Outros fica uma porcaria, eu não quero nada. Mas é na cabeça dessas pessoas. E você não consegue fazer isso com uma audiência ruim, entendeu com uma audiência pobre. Uma audiência…

Rafael Belmonte: Sem ter comunidades.

Luciano Pires: Sem ter comunidade, que é outro lance fabuloso cara, que a hora que vocês trombarem isso vocês vão ficar loucos, cara. Que o que é capaz de fazer uma comunidade engajada como essa que eu tenho. Ela cria um treco que é assustador. Você fala: cara, eu não tenho a menor ideia. Que eu acabei montando uma rede social, sem ter rede social. Onde as pessoas não só se falam como fazem coisas, produzem coisas. Os caras se conhecem, os caras se mobilizam, juntam dinheiro. Faz a coisa acontecer, faz doação. Cria podcast, produz material. É a comunidade se autogerindo. Eu fico arrepiado, cara. É muito louco, cara. É muito louco. Está muito além de espectador sentado, trocando botão. Vocês estão se metendo numa encrenca.

Daniel Arcoverde: Já sabemos disso.

Rafael Belmonte: É um risco calculado.

Luciano Pires: Mas é legal e faz falta isso aí. Então, o que a gente estava pensando em fazer, quando eu convidei vocês para virem para cá, primeiro era ouvir essa história. Porque me fascina conversar com essa garotada que pegou a nave no ar. Ela já estava fora do chão. Eu sou o cara que viu o avião ser construído. E essa molecada que entra com o avião voando e que consegue ter uma… eu não consigo fazer o que vocês fazem. Eu não consigo ter a visão que vocês têm. Porque vocês já pegaram. Já nasceram com o bicho voando. E num momento em que o Brasil está… cara, startup parece que é igreja. Todo mundo fala em startup. E dá a impressão que todo mundo pode ficar rico, que todo mundo pode dar certo e que empreendedorismo é o negócio. E que está tudo resolvido se você for empreendedor. Não é bem assim.

Daniel Arcoverde: Muito pelo contrário.

Luciano Pires: Exatamente. Eu queria, para a gente se encaminhar para o nosso finalmente aqui, só que vocês me contassem um pouquinho dessa dor do empreendedor, cara.

Daniel Arcoverde: O problema é que empreender – por estatística – você vai ver que a maior parte das empresas, elas não dão certo. A exceção à regra é o que dá certo. É a grande minoria. E você está lá com a mão na massa, fazendo. É um jogo de longo prazo, você precisa estar 100% naquilo. É muito difícil de você fazer muita coisa simultânea, em paralelo. Porque você coloca a sua energia, você divide a sua energia. É muito difícil construir um business que pare de pé, com todas as dores que a gente sabe. A gente começa a empreender sabendo de todas as dificuldades externas. A gente já começa partindo do princípio: eu sei que eu tenho que pagar imposto, eu sei que tem um monte de empecilho, mas vamos lá. E a partir disso, daí para frente é um negócio de muita resiliência. A turma fala muito essas palavrinhas, mas parece que é bullshit. Parece que é um negócio da boca para fora. Mas não. Não é mesmo. É uma montanha russa, tem dias que a gente fala: cara, que animal. Puta, o negócio deu certo. Outro dia dá uma merda.

Luciano Pires: Quebrou, quebrou.

Daniel Arcoverde: Quebrei. O cara: puta, será que a gente vai conseguir? Outro dia, outra coisa dá certo. Então é um jogo de emoção e uma adrenalina, que você precisa se acostumar a viver com isso. A gente vive fora da zona de conforto todos os dias. Quem está acostumado lá nas grandes empresas, trabalha, estabilidade e tal.

Luciano Pires: Dia 15 está na conta, tenho 30 dias de férias, etc. e tal. E tem muita gente que vem para esse segmento achando: agora eu não tenho mais chefe. Entro a hora que quero, saio a hora que quero.

Rafael Belmonte: Vou jogar videogame o dia inteiro. Vou sentar em pufe.

Luciano Pires: Não é.

Daniel Arcoverde: Não está errado. Diferentes carreiras. Para você entrar num negócio desse e fazer acontecer, muita gente começa, mas não… fala: não é para mim. Vou fazer outra coisa. Vou fazer os meus cursos, vou tocar a minha vida do meu jeito.

Rafael Belmonte: E está certo.

Luciano Pires: Sim. Eu posso ser muito bem-sucedido no serviço público.

Daniel Arcoverde: Exatamente.

Luciano Pires: E me aposentar com 40 anos de trabalho e ir muito bem lá. Não tem demérito nenhum. Agora, tem os malucos que gostam dessa adrenalina, pegam e fazem acontecer lá. Quem quiser conhecer, então? Vamos lá, quero saber como funciona isso aí? Vamos lá, eu procuro o quê? Onde?

Daniel Arcoverde: Sobre startup, você fala?

Luciano Pires: Não. Eu quero conhecer vocês. Quero conhecer a empresa. Quero contratar, quero fazer parte, quero… onde é que eu vou buscar? Qual é o site, qual é o blog. Qual é rede social? Como que é?

Daniel Arcoverde: É. Netshsow.me é o nosso site. Tem tudo lá sobre o que a empresa faz. Tem lá no rodapé pé o linkezinho de carreiras, para quem quiser trabalhar. A gente está sempre com vaga aberta .

Rafael Belmonte: Estamos com 10 vagas abertas.

Daniel Arcoverde: Vaga de vendas, tecnologias, que mais que tem?

Rafael Belmonte: Canais, vendas.

Daniel Arcoverde: Bastante coisa.

Luciano Pires: Porque essa tristeza quando você falou: estamos com 10 vagas abertas?

Rafael Belmonte: Estamos com 10 vagas. Sedentos, assim.

Luciano Pires: É duro de encontrar?

Rafael Belmonte: É difícil.

Daniel Arcoverde: Talento é o negócio mais difícil.

Luciano Pires: Eu estou fazendo uma brincadeira com vocês, porque eu costumo dizer que é o seguinte: o desemprego tem que ser qualificado. Você desqualifica o desemprego. Não é que não tem emprego. Ele está ali, só não estou encontrando alguém para botar na vaga lá, cara. Mas a vaga está lá. Ela está ali. Então, NetShow.me. O show.me é s-h-o-w.

Daniel Arcoverde: Isso.

Luciano Pires: NetShow.me. Me.

Daniel Arcoverde: Isso.

Luciano Pires: Rede social tudo igual?

Daniel Arcoverde: Tudo igual. NetShow.me no Twitter, Instagram, Linkedin. Você acha nós.

Rafael Belmonte: Tem as nossas redes sociais, Daniel Arcoverde, no Linkedin. Rafael Belmonte no Linkedin também. Então a gente posta bastante coisa por lá.

Luciano Pires: Maravilha.

Rafael Belmonte: Ajudando não só empreendedores, que como nós estão querendo construir negócios e crescer seus negócios, mas também a galera que está um passo antes ainda, pensando no que vai fazer da vida. E se é para ela, sobre esse universo que a gente está falando. Porque se tem uma característica que define um empreendedor é a pessoa que sabe lidar com frustrações. Porque são alguns nãos ao longo do dia que você vai levar. Se não tiver casca grossa…

Luciano Pires: Exatamente.

Daniel Arcoverde: Dificilmente você vai manter.

Luciano Pires: Maravilha. Moçada, legal, adorei essa história com vocês aí. Espero estar com vocês nessa bagunça aí toda. Porque se é bagunça é comigo mesmo. E aí eu usei vocês para fazer um teste aqui. A gente nunca gravou dessa forma aqui. Eu acho que isso aqui pode ser uma virada no LíderCast. A partir de agora, ele deve ficar diferenciado aí.

Rafael Belmonte: Conta com a gente também.

Luciano Pires: Obrigado pela visita. Parabéns pela história de vocês. Espero que a gente faça barulho, acontecendo aí.

Rafael Belmonte: Não, com certeza.

Luciano Pires: Olha aí, LíderCast com imagens a partir de agora, mudando as cabeças ou tratando de liderança e empreendedorismo na veia.

Luciano Pires: Muito bem, termina aqui mais um LíderCast, a transcrição deste programa, você encontra no LíderCast.com.br. Para ter acesso a esta temporada completa assine o cafebrasilpremium.com.br e receba imediatamente todos os arquivos. Além de ter acesso ao grupo cafebrasil no Telegram, que reúne ouvintes dos podcasts Café Brasil e LíderCast, que discutem em alto nível, temas importantes, compartilhando ideias e recebendo conteúdos exclusivos. Lembre-se: cafebrasilpremium.com.br. Essa temporada chega a você com o apoio da Nakata, que é líder em componentes de suspensão. Cuide bem de seu carro com as dicas do blog.nakata.com.br.

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