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Luciano Pires -

Luciano          Muito bem, mais um LíderCast. Esse aqui, toda vez que eu vou gravar um programa eu começo dizendo que esse aqui é especial, eu já falei que isso é muito bom, porque se todos são especiais é porque a gente capricha quando convida, capricha nos convidados. Eu tenho hoje comigo aqui, é uma satisfação imensa de tê-lo comigo aqui, esse sujeito, como é que eu conheci? Eu sei lá como é que foi, eu sei que foi pelas andanças na internet, ele é um podcaster, faz um podcast bastante conhecido e admirado, que é um dos que eu, um dos poucos que eu tenho um feed comigo e a gente manteve alguns contatos rapidamente, ele me entrevistou duas vezes e aí eu falei que ele estava em dívida e a hora que ele tivesse a chance tinha que vir aqui e pagar a dívida. Como eu não faço entrevista por Skype, eu tive que esperar a chance de tê-lo aqui na minha frente, então dentro desde cubículo aqui, estamos nós dois hoje para trocar algumas ideias. São três as perguntas iniciais do programa, que são dificílimas, se você passar por elas, o resto você tira de letra. Eu quero saber seu nome, sua idade e o que é que você faz.

Bruno             Bom. É uma honra, um prazer estar aqui, Luciano, depois das duas entrevistas que você me concedeu, agora é minha vez de ter esse privilégio, então o meu nome é Bruno Garschagen, tenho 40 anos e dada a quantidade e diversidade de coisas que eu faço, eu costumo dizer que sou um empreendedor intelectual.

Luciano          No Brasil? Eu não sei se você é louco, mas faz parte, vamos lá. Eu brinco, quando as pessoas perguntam para mim: “o que você faz?”, a resposta para mim é a seguinte: “você tem tempo?” para eu poder contar o que né. Mas o Bruno, eu conheci o Bruno por causa do podcast, o Bruno é apresentador do… aliás é o condutor, é o apresentador, eu não sei se é o criador também do podcast do Mises Brasil, que foi aonde eu cheguei, depois de fazer umas  pesquisas e tudo mais. A história não é para contar a minha história aqui mas é bom essa introdução, eu buscando um embasamento teórico para as coisas que eu venho fazendo, para a minha visão de mundo, para o jeito que eu uso para administrar meus negócios, para aquilo que me move, o meu dia a dia, eu acabei trombando com várias tendências de pensamento, uma delas que foi muito cara para mim que foi a da escola austríaca, fui encontrar o Instituto Mises Brasil. Lá dentro encontrei um podcast, quando encontrei o podcast, encontrei o Bruno, entendi que ali havia uma explicação, a teoria para aquilo que eu estava fazendo na prática. Eu não sabia que alguém já tinha explicado aquilo em teoria, eu encontrei, aquilo foi como uma revelação, acabei me aproximando e a gente trocou alguns e-mails ali, no fim eu acabei sendo entrevistado duas vezes no podcast, o que ajudou bastante a baixar a qualidade do podcast Mises Brasil, mas agora eu trago o Bruno aqui. Bruno, falar em ser empreendedor no Brasil já é uma loucura, empreendedor no Brasil é para pagar pecado, quem resolve empreender no Brasil é um maluco que resolveu o que é sofrer, portanto escolheu ser um empreendedor no Brasil. Agora, um cara que se diz empreendedor intelectual, isso aí é um grau de lunático como eu desconheço, o que é um empreendedor intelectual nesse ambiente que nós estamos aqui?

Bruno             Bom, antes de responder a pergunta, a coisa só é pior quando eu respondo que politicamente eu sou monarquista, então eu faço parte de minoria, a minoria da minoria…

Luciano          Eu não vou nem entrar nessa…

Bruno             … é, isso é um assunto para outro podcast, mas só para ilustrar o ponto. Bom, por que eu passei a qualificar o que eu faço de empreendedorismo intelectual? Porque tudo o que eu faço, tem relação com a minha atividade intelectual, então o podcast exige que eu leia os autores que eu conheço, a escola austríaca de economia, que eu leia os trabalhos que são produzidos por vários dos entrevistados, então tem uma parte do programa que é uma parte mais acadêmica, que eu entrevisto professores, escritores. Então, que tem um trabalho acadêmico envolvido, tem autores que não tem um trabalho acadêmico mas que tem livros publicados, como foi o seu caso, então é um trabalho que exige uma atividade intelectual.. Fora isso eu tenho uma atividade como professor de teoria e ciência política, também tenho uma atividade como escritor e tenho uma atividade como palestrante, além da atividade jornalística de textos para jornal. Então todas as minhas atividades privadas, todas as minhas atividades empresariais, elas estão indissociavelmente ligadas á atividade intelectual.

Luciano          Qual é a tua formação?

Bruno             Eu sou formado em direito, então cumpri prisão em regime semiaberto durante cinco anos para me formar em direito e tenho um mestrado em ciência política e relações internacionais pela Universidade Católica Portuguesa e universidade Oxford onde eu fui visitante estudante.

Luciano          Que legal, você mora em Vitória?

Bruno             Hoje eu moro no Espírito Santo.

Luciano          Você está no Espírito Santo, legal. Muito bem, Bruno, vamos voltar lá atrás, eu quero pegar aquele garoto, você nasceu onde, Bruno?

Bruno             Eu sou de Cachoeiro do Itapemirim.

Luciano          Cachoeiro do Itapemirim, pô, todo mundo vem de lá, nunca vi, você já reparou? Nós temos um convidado assistindo a gente ali, que é o Felipe Trieli, da Panela Produtora, é um amigo comum, uma grande figura, então de vez em quando eu olho para ele para ver as risadas que ele dá lá, porque ele já conhece o Bruno há um bom tempo. E aí, o que leva um garoto de Cachoeiro do Itapemirim para se embrenhar, eu consigo entender um garoto ser advogado, consigo entender, advogado, médico e tudo mais, mas daí para passar para esse trabalho intelectual de ser um professor, de mergulhar nessas leituras e tudo mais, tem um salto aí que eu queria descobrir em que momento ele acontece e o que te leva para esse caminho?

Bruno             Bom, eu vou resgatar, então, uma conversa que a gente teve antes do programa, durante o almoço, que baseado numa palestra sua que era o “e se”, que você contava a sua trajetória saindo de Bauru, para vir para São Paulo, e se eu fosse para São Paulo, e se… Bom, a minha história em Cachoeiro é a seguinte: eu  morava em Cachoeiro e eu já tinha  morado em outras cidades, aí voltei para Cachoeiro, depois de morar em outras cidades com a família, eu volto para Cachoeiro em 95 e em 95 eu estava naquela fase de fazer pré vestibular para fazer depois a faculdade e não sabia, naquele momento, o que eu ia exatamente fazer e tinha, quer dizer, ele está vivo ainda, mas naquela época um tio meu escrevia para um jornal local de Cachoeiro, meu tio jornalista e tal, trabalhou muitos anos no globo, na Gazeta Mercantil estava morando em Brasília e esse meu tio escrevia crônicas para o jornal local, na verdade é meu tio-avô, meu avô sempre gostou muito de ler e me passou, me apresentou esses textos do meu tio. Eu comecei a ler aquilo e nesse período de pré-vestibular eu comecei a escrever redação para disciplina de redação e via que eu conseguia escrever de forma obviamente ainda muito tosca, mas que eu conseguia escrever e gostava daquilo e aí comecei a insistir, revisando os próprios textos e tal, eu gostava muito da profissão de redação na época. Paralelamente a isso eu conheci um grande amigo desse tio-avô que já escrevia para o jornal, na minha imaginação, portanto mais velho do que  eu, então para o ouvinte ter uma ideia, nessa época eu tinha 19, 20 anos e ele esse amigo do meu tio-avô, ele tinha por volta de 45, por aí, então havia uma diferença de idade significativa e eu passei a conversar com ele em virtude dessa amizade dele com o meu tio e de interesses comuns por literatura, estabelecemos uma amizade. Foi ele que salvou a cidade para mim, acabou salvando a minha vida porque ele foi uma espécie de mentor intelectual na literatura, então nos encontrávamos semanalmente para fazer uma celebração à rainha da Inglaterra e à Escócia, então bebíamos whisky, conversávamos sobre literatura e ouvíamos basicamente jazz, então foi lá uma graduação, pós graduação, mestrado e doutorado num universo cultural.

Luciano          Quer dizer, dá para dizer que você também salvou a vida dele na cidade?

Bruno             Provavelmente ele estaria muito solitário se não fosse a minha companhia semanal, mas isso me apresentou um mundo para além dos morros que cercam a cidade, Cachoeiro é uma cidade que está incrustrada dentro, numa série de morros o que faz com que a cidade seja muito quente, é um calor infernal, mas a vida cultural, esse início de vida intelectual com esse mentor, esse grande mentor, Fernando Carvalho Gomes, foi que fez com que eu visse a cidade como a primeira etapa de um mundo maior, então que eu passasse a ver o mundo para além dos morros que cercavam a cidade e me fez ter vontade de procurar outras coisas que estavam além de Cachoeiro, então a história toda começa daí e…

Luciano          Detalhe, de vez em quando eu dou uns pitacos aqui, eu não estou te entrevistando, nós estamos batendo um papo, detalhe, isso num mundo pré internet, num mundo em que o canal para você poder ver o mundo lá fora, ou era a televisão e o rádio normal, ou eram os livros e as publicações de jornais e revistas, quer dizer você não tinha essa coisa fabulosa que é um aparelhinho na sua frente que com dois cliques você está dentro da biblioteca de Luxemburgo, de Leningrado, da Inglaterra, de onde quiser, quer dizer, é um mundo que era muito mais restrito, na medida em que você, para ter acesso a essas coisas tinha que ter grana para comprar o livro e tinha que ter um mentor ou alguém para te indicar que livro ia ser comprado.

Bruno             … exatamente

Luciano          Eu estou colocando isso aqui para colocar a molecada que está ouvindo a gente…

Bruno             Em perspectiva histórica.

Luciano          … olha que mundo maravilhoso que nós estamos vivendo hoje…

Bruno             É um mundo pré internet.

Luciano          … aquelas barreiras todas caíram.

Bruno             É o mundo… exatamente, tudo era difícil, então a sorte que eu tive, o privilégio que eu tive, de ter uma pessoa com uma biblioteca privada, pessoal, dentro de casa, valiosíssima como a que ele tem até hoje, para mim foi… é o tesouro, descobri o pote de tesouro no início do arco íris e era uma época que, para comprar livros, você tinha que ir à livraria, não dava  para encomendar pela internet e no Espírito Santo, quer dizer, em Cachoeiro não tinha livraria, que é uma grande ironia, Cachoeiro terra do Rubem Braga, do Nilton Braga, que é irmão dele, que escrevia maravilhosamente bem, um grande poeta mas que não teve a projeção nacional que o Rubem teve porque decidiu voltar para Cachoeiro por causa de uma circunstância familiar, mas o Nilton Braga chegou a escrever para a revista Senhor, que foi a grande revista cultural dos anos 50 no Brasil, que um dos editores era o Paulo Francis e que apresentou muita gente para a cultura nacional, era uma revista extraordinária e eu tive uma sorte, depois, num outro tio-avô meu, que é um tradutor muito conhecido, que é o Donaldson Garschagen, irmão desse meu tio-avô Sérgio, o Donaldson tem a coleção completa da revista Senhor que ele comprou na época. Então, eu pude ler a coleção inteira porque ele tinha isso e eu vou chegar depois porque quando eu vou para o Rio. Mas essa época em Cachoeiro era a época que para você comprar livro você tinha que ir à livraria, então eu tinha que sair de Cachoeiro para ir para o Rio ou para Vitória para comprar livro, ou alguém que viajasse, ele próprio me trazia livro. Para ver filme, por exemplo, eu era fascinado pelo Orson Welles, então para eu ver um filme do Orson Welles, não tinha um cinema para ver, então tinha que comprar as fitas em VHS, que é um mundo pré histórico, então provavelmente uma parte do seu público ouvinte, é um público ouvinte que vê vídeo, vê filme pelo Youtube ou pelo Netflix, ou tem cinema à disposição, então era uma época que Cachoeiro sequer tinha cinema, os cinemas… até os anos 50 em Cachoeiro, Cachoeiro tinha 8 cinemas, uma cidadezinha pequeníssima, com 8 cinemas concorrendo quando eu estava lá, estou falando de 95, já não tinha cinema nenhum, então par eu ver os filmes do Orson Welles, eu precisava comprar as fitas em VHS. Bom, resumindo, eu estava numa cidade em que tudo eu considerava contra para qualquer pessoa que quisesse ter uma vida intelectual e foi o Fernando que me salvou porque me abriu uma janela, no caso dele nem era uma janela, era uma porteira inteira dos livros que ele tinha, das referências intelectuais e tudo mais.

Luciano          Bruno, você tinha teus amigos na cidade, lá a molecada na tua idade e tudo mais e enquanto você estava trancado lendo um livro, eles estavam jogando bola, malhando as menininhas, no clube nadando, pescando na beira do rio, jogando conversa fora e você trancado num lugar lendo livro, o que é isso? Isso é uma vocação, é uma luz, o que é? Gosto, vou encompridar a pergunta e você falou, chegou um momento que você falou, eu descobri que eu escrevia. Por que você escrevia e os outros trinta não escreviam, o que é isso, de onde vem isso?

Bruno             Um amigo meu, finado amigo meu, dizia que é maldição. Vida intelectual é maldição. A impressão que eu tenho, comparando a minha história com a de outros amigos e com esses amigos que não gostam dessa vida intelectual, eu acho que a vida intelectual, esse gosto pela literatura, pelo conhecimento, esse amor pelo conhecimento é uma espécie de vocação como aquele sujeito que nasce para tocar violão ou guitarra, ou saxofone, um momento ele descobre o instrumento, começa a tocar, começa a aprender e vê que tem facilidade para aquilo e gosta muito de fazer aquilo e por esta razão é uma coisa que dá para você forçar, você não consegue transformar alguém em intelectual a não ser que ele já nasça com algum tipo de pré-disposição para aquilo, como você não pode forçar alguém a tocar maravilhosamente um violão ou aprender um violão se ele não nasce com um mínimo de vocação para aquilo, então a origem disso tudo, realmente, é uma coisa que me escapa, embora eu reflita sobre isso desde o início, para tentar obter alguma resposta. Mas até hoje eu fracassei redundantemente para conseguir descobrir a origem disso. De qualquer forma eu nunca me encaixei no perfil daquele intelectual que é o nerd, que sentava na frente, que usava óculos, que estava afastado da vida concreta, que não ia para festas, que não… enfim, que não participava. Eu fugia um pouco desse padrão, eu sentava no fundão, eu era da turma da bagunça e tal, só que ao contrário dos meus colegas da turma da bagunça, eu sempre tirava notas boas, porque eu aprendia muito rápido, então bastava eu prestar atenção na  sala de aula que eu não precisava nem estudar, mas eu também estudava, então eu tinha minha porção bagunceiro e tinha minha porção nerd e eu sempre, dentro de sala de aula, eu sempre estava nas duas pontas, então eu era amigo dos nerds e era amigo da turma da bagunça, por essa razão, eu sempre fui um dos mais altos da turma quando não o mais alto e por isso, e por ser da turma da bagunça eu conseguia impor respeito. Então, eu não sofria bullyng, em virtude da minha compleição física e em virtude da minha convivência em sala de aula e por causa disso eu não deixava que os amigos da bagunça, na época nem era bullyng, não tinha isso, mas tirassem sarro com os nerds, na época também não era  nerds, chamava CDF…

Luciano          Era CDF, para quem não sabe o que era, CDF é uma abreviação de cu de ferro.

Bruno             … exatamente, enfim, era um termo nada lisonjeiro que se utilizava para os alunos mais estudiosos, que tiravam notas boas e tal, então a minha nota, na média, era nota dos nerds, embora eu sentasse na turma da bagunça e não deixava, então arrumava briga, eventualmente, com gente da minha sala, de outras salas, para defender os CDF’s, porque eu não aceitava esse tipo de coisa. Nunca precisei bater em ninguém porque, como eu era mais alto, bastava falar um pouco mais alto e não tinha problema de brigar.

Luciano          Quer dizer, ouvindo você falar isso, você que é o protótipo do coxinha, me dizer que você era justiceiro social quando era moleque…

Bruno             Fazia justiça social. Eu era o baiano, baiano aquele personagem de tropa de elite, eu era o baiano da sala de aula, eu fazia justiça social sem ser traficante, sem estar na ilegalidade, obviamente, mas eu tinha essas duas dimensões e por causa disso eu frequentava mundos diferentes do meu. Agora, tem um detalhe, churrasco de turma da faculdade, eu não frequentava, porque, primeiro que eu não gosto de churrasco, a carne sempre era mal feita, cerveja, e todo aquele universo é uma coisa que me irritava, às vezes eu ia, enfim, para aceitar o convite, então a maior parte das festas de turma, saídas e tal, eu não ia porque eu estudava, aí é preciso explicar, eu trabalhava das oito da manhã até as seis e meia da tarde, saía do trabalho direto para a faculdade, eu estudava a noite, então eu trabalhava durante o dia e trabalhava a noite.

Luciano          O que você fazia?

Bruno             Eu trabalhava como jornalista, que eu comecei a trabalhar antes mesmo de entrar na faculdade, então eu trabalhava, estudava a noite e o único horário que eu tinha para estudar e para ler aquilo que eu queria ler, literatura e filosofia, que eu decidisse ler, era quando e chegava da faculdade, 10:30, 11:00 horas da noite, então lia ali uma hora e tal, estudar para a faculdade e aos fins de semana, então se eu deslocasse ou dedicasse o meu tempo para festa e tal nos fins de semana ou a noite, eu não conseguiria fazer aquilo que eu queria fazer e nas aulas chatas da faculdade, eu li, então o quinto ano de faculdade, talvez 40% da minha turma, estava na porta da faculdade, num bar que tinha, chamado Habeas Copus, Habeas Copus que era um grande achado para um nome de bar na porta da faculdade de direito, Habeas Copus e quase ninguém assistia aula e eu ia, ficava na sala de aula, anotava o que o professor ia dizer naquele momento e ficava lendo, então foi o ano que eu mais li durante o período de faculdade, cinco anos, foi o ano eu li “Ulisses” de James Joyce, foi na faculdade, eu levava…

Luciano          Você leu “Ulisses” inteirinho, do James Joyce?

Bruno             … eu… você vê, isso parece uma espécie de perversão sexual, mas é o seguinte, eu li “Ulisses”. A primeira vez que eu li “Ulisses” na tradução do Antonio Weiss, depois eu li “Ulisses” na tradução da Bernardina Pinheiro, que foi a segunda tradução em português brasileiro e depois eu li “Ulisses” no original, quando eu consegui, eu já sabia o inglês, aí que eu me senti seguro, aí li uma edição que é a edição que tem várias notas de rodapé explicando os personagens e tal, então eu não só li “Ulisses” uma vez como eu li três. Eu só não li a versão mais recente do “Ulisses” que foi traduzido pelo professor Caetano Galindo, que eu entrevistei, é uma pessoa que eu gosto muito, grande tradutor, que eu não li ainda, foi lançado pela Companhia das letras há três anos, se não me engano, mas que está lá na minha estante para ler.

Luciano          Encontrar alguém que leu “Ulisses“ uma vez já é complicado, o cara leu três vezes, uma vez em inglês e vai ler a quarta, parabéns, meu amigo.

Bruno             Mas nesse período aí do quinto ano, foi um período que eu li muito, então era coisa de, como e que eu organizo meu tempo, que é uma coisa, voltando ao tema inicial da nossa conversa que é empreendedorismo, você tem que definir as prioridades e usar o tempo de acordo com aquelas prioridades, naquele momento e depois continuou sendo minha prioridade era estudar e era ler, então eu ia de vez em quando para as festas, saia para bar e tal, mas não era a minha prioridade, então não podia…

Luciano          Você já tinha em mente que você ia se formar para ser um advogado ou não? Ou aquilo era um ritual de passagem para alguma outra coisa que você não sabia o que era?

Bruno             Eu fiz faculdade de direito porque eu morava numa cidade do interior, Cachoeiro do Itapemirim e lá quando eu fiz o vestibular só tinha direito, administração, contabilidade e faculdade de letras, inglês e português, eram os únicos cursos que havia na cidade. Eu tentei fazer um vestibular para comunicação social, para jornalismo na faculdade federal em Vitória, graças ao bom Deus eu não passei, foi uma sorte porque eu fui descobrir depois que o curso de comunicação social era uma porcaria, então o curso de direito, por mais que eu não gostasse de direito, não fosse o meu sonho, foi um curso que me exigiu muito intelectualmente e me abriu um universo de conhecimento e de exigência mesmo de estudos e de disciplina e tudo mais, o curso de comunicação jamais me daria e fora que o curso de comunicação, também eu fui descobrir depois, era um antro de esquerdista, o curso de direito, em faculdade de interior, ainda tinha uma coisa neutra, os professores estavam lá não para doutrinar os alunos, mas para passar o conteúdo.

Luciano          Eu dei sorte, eu fiz comunicação no Mackenzie em São Paulo, nos anos 70, no começo lá, 75,76,77, mas como o Mackenzie é uma universidade coxinha, eu caí num ambiente que não era um ambiente impregnado pela esquerda, então eu consegui ali passar muito bem pelo curso sem me contaminar, a minha cota do esquerdismo foi bastante reduzida, quando eu caí na real e fui ganhar a minha vida eu já estava vacinado disso tudo aí. Mas muito bem, vamos lá, então você se forma em …

Bruno             Me formei em direito.

Luciano          … direito e a tua expectativa era o que ali na sequência?

Bruno             Continuar trabalhando como jornalista, era o meu…

Luciano          Era jornalista.

Bruno             … era o meu objetivo. E em 1999 eu entrei na faculdade em 97, comecei a trabalhar como jornalista em 96, como foca, que é o repórter que entra no jornal, 96 comecei a estudar direito em 97, me formei em 2001. Em 99 eu recebi um convite para trabalhar como repórter de economia na Gazeta Mercantil como correspondente no sul do Espírito Santo, então eu cobria lá basicamente o setor de mármore e granito, que é um setor muito forte, rocha ornamental e tal, Cachoeiro não sei se é hoje, mas era na época o maior polo industrial de processamento, de indústrias de rochas ornamentais, então eu basicamente cobria esse setor lá como repórter de economia da Gazeta Mercantil, então era o que eu queria na época. Em 2000 a Gazeta Mercantil, ela quebra, as regionais são fechadas, então a onda, eu vou sou varrido nessa onda de incompetência que tomou o jornal e aí eu decido em 2000, aí eu me formo em 2001, 2002 eu decido ir para a Inglaterra estudar inglês, aí fui para Cambridge, fui estudar inglês,  voltei em 2002 mesmo e criei um jornal literário em Cachoeiro, eu era o editor, eu fazia tudo, fazia a diagramação no Page Maker, não sei nem se existe ainda, mas era o programa de diagramar jornal e revista na época, fazia em casa, trabalhava em casa e pedia textos para amigos, amigos de São Paulo, do Rio, muitos dos quais já escreviam ali para o “Wunderblogs” que era um portal de blogs, foi muito importante para essa cultura da internet ali no final dos anos 90, início dos anos 2000 e fazia esse jornal, então eu era  o editor, era o diagramador, escrevia texto e vendia, era a parte comercial, então durante seis meses eu fiz esse jornal, o que era muito esquisito assim, porque era uma cidade que não tinha vida cultural, como eu falei aqui e era basicamente um jornal que eu fazia para mim e para esse meu amigo e para uns outros na cidade, então era um jornal para duas pessoas, dois leitores. E eu consegui fazer um acordo muito interessante com um jornal, esse jornal que eu comecei a trabalhar, um jornal local de Cachoeiro, que eu criava, eu fazia o jornal, entregava o produto pronto e eles imprimiam o jornal, eu não tinha gasto com isso e o jornal virava o caderno de cultura do fim de semana, então era um acordo operacional que eles ganhavam o produto pronto…

Luciano          Então não era uma tiragem de 100 exemplares não, era uma…

Bruno             … não, era uma tiragem, na época, esse jornal tirava acho que dez ou quinze mil exemplares na cidade.

Luciano          … isso é um número fantástico.

Bruno             E era o único jornal diário da cidade, então o jornal tinha peso, aí chegava nos lugares e eu fiz o jornal durante cinco, seis meses. E aí chegou o momento que eu falei, bom, se eu quero continuar trabalhando como jornalista eu preciso sair daqui, preciso sair do Espírito Santo. E aí, vou para o Rio de Janeiro em 2003 e aí minha vida dá uma guinada diferente, por motivo profissional etc e eu começo a trabalhar como free lancer ou como contratado para a própria Gazeta Mercantil caderno de fim de semana, cheguei a fazer crítica de teatro durante seis meses morando no Rio de Janeiro, crítico de teatro da Gazeta Mercantil sensacional, tentando emular lá o Paulo Francis dos anos 50. Mas aí, colaborador da Gazeta Mercantil, Valor Econômico, um site que foi muito importante na época, que era o “Primeiro no Ponto, Depois no Mínimo”, fui colaborador também da “Primeira Leitura”, a revista do Reinaldo Azevedo, colaborei até o último número e fazia freela para a Folha de São Paulo e tal, cheguei a trabalhar no Jornal do Brasil como editor, subeditor de política e foi essa experiência no Jornal do Brasil que me fez ter vontade de trabalhar, de estudar política, foi ai em 2005, por aí.

Luciano          Legal, maravilha. Em 2005 você estava com, 25 anos? Por aí. Como é que Portugal aparece na jogada?

Bruno             Portugal aparece nesse período 2004, quando eu, aqui em São Paulo, eu sempre vinha para São Paulo, por conta dos amigos e tal, morando no Rio na época, um grande amigo, escritor chamado Alexandre Soares Silva, que também é colega da Editora Record, lançou o livro dele “A Coisa Não Deu” pela Editora Record, eu lá na casa dele conversando, a gente conversando, ele me emprestou um livro, falou Bruno, você precisa ler esse livro e tal, na época o Alexandre Soares Silva era o grande amigo com quem eu conversava sobre a Inglaterra, nós dois anglófilos conversávamos sobre a cultura inglesa e os escritores ingleses, então foi o Alexandre que me apresentou muitos escritores, P.D. Rudd House, por exemplo, por quem tenho enorme paixão, então o Alexandre me abriu esse mundo. Bom, o Alexandre me emprestou esse livro chamado “Vida Independente”, que o livro, cujo autor é João Pereira Coutinho, eu li o livro, fiquei fascinado, eu já tinha lido alguns textos do João na Folha de São Paulo, o João já era colunista nessa época e depois desse livro eu falei bom, vou entrar em contato com esse cara, mandei um e-mail para o João, me apresentando e tal e ele respondeu, salvo engano isso foi em 2004. Em 2005 João esteve no Rio, veio ao Brasil, esteve no Rio de Janeiro, a gente se encontrou lá no Rio, conversamos, ele falou pela primeira vez no doutorado que ele já estava fazendo na época, na Universidade Católica Portuguesa em Lisboa, em 2006 ele retornou ao Rio, nós voltamos a conversar, em 2006 a vontade de fazer um mestrado já estava mais forte do que em 2004, e ele falou assim, Bruno, estou fazendo doutorado, a minha tese é sobre a ideia de perfectibilidade na política, eu estou trabalhando com o Edmond Burke, que já era uma referência intelectual para mim e Isaiah Berlin, também já era uma referência intelectual e estou fazendo lá e tal, dá uma olhada aqui no site do Instituto de Política da Universidade Católica Portuguesa. Eu entrei no site e fiquei maravilhado com o programa e eu já tinha visto os programas dos cursos de mestrado em ciência política no Brasil e não tinha nada  parecido, então era um programa muito focado nos filósofos da liberdade e o texto de apresentação do Instituto de Estudos Políticos é um negócio fabuloso porque ele já começa com duas citações, uma do Cardeal Newman, do famoso texto da ideia de universidade e outro, uma frase do Edmund Burke, aí quando você entra, tem lá a  missão do instituto, você já se depara com duas citações de dois caras como esses, eu falei bom, esse é o meu lugar, e aí começo a ler e tal, o objetivo do Instituto e tal, tem um momento, num dos parágrafos, que termina assim: “a grande… (não estou citando ipsis literis, mas o sentido era esse) “a grande missão do Instituto de Estudos Políticos não é formar técnicos da política, filósofos políticos, a nossa grande missão é formar gentleman na feliz acepção inglesa”, rapaz, mas é um negócio extraordinário, o texto começa com Burke, com Newman e fala que um dos objetivos é formar gentleman, eu falei cara, esse é o meu lugar. Aí comecei a formatar na minha cabeça o  projeto para poder estudar lá. No início de 2007, eu comecei a trabalhar para um jornal popular no Rio de Janeiro, que era uma coisa engraçadíssima, chamado “Expresso da Informação” que é o jornal popular que pertence ao Globo, o Globo tem 3 jornais, “O Globo”, o “Extra” e o “Expresso” que é um jornal popular e tal. Eu comecei a trabalhar nesse jornal, trabalhei lá durante 6 meses e era um jornal, para vocês terem uma ideia, era um jornal que os dois grandes eventos era big brother, os três, big brother, futebol e o carnaval, quer dizer, tinha tudo a ver comigo, mas a redação era ótima, o editor, o Seninha, uma figura ótima, o clima da redação era muito bom. A melhor manchete que eu dei no jornal, eu era responsável pela página Brasil e o mundo, e a melhor manchete que eu dei, nem foi nessa editoria, foi em outra, foi “Madeeeeira”, porque alguém tinha jogado uma cadeira de um prédio no centro do Rio de Janeiro, pela janela e aquilo caiu no teto de um taxi, então eu botei “madeeeeira” no título para dar a exata noção daquele troço, bom, enfim, era nesse jornal que eu trabalhava, eu estava insatisfeito já para trabalhar como jornalista, eu sabia que eu queria escrever, mas a vida do jornalista não era o que eu queria fazer.

Luciano          Dá uma pausa. Há algum tempo eu estava, acho que num programa de televisão, fazendo uma entrevista lá e tinha junto comigo um outro pessoal, um deles era um produtor musical, um cara que também é um cara muito bom, fazia altas produções e tudo mais e de repente a discussão começou a ir para um caminho que era a questão da boa música, da música comercial e tudo mais e caiu ali na discussão o seguinte: você é um produtor musical, você tem um talento gigantesco, você conhece muito de jazz, a coisa mais fina da música, você sabe tudo aquilo e de repente cai na tua mão o trabalho do produzir um disco de um artista popular no mais, digamos que um funkeiro, um sei lá o que, um sertanojo universitário cai na tua mão, que você sabe que é uma coisa de apelo totalmente comercial, o que você faz nessa hora? Você pega aquele teu talento para produzir o melhor disco da sua vida, você se entrega àquilo de corpo e alma para produzir da melhor maneira porque você é um grande profissional e conhece muito bem aquilo, ou seja, o resultado final será tecnicamente irrepreensível mesmo que o conteúdo seja uma porcaria, mas você fez a tua parte até o fim, ou você vai levar aquilo nas coxas e a resposta dele foi, não eu vou produzir o melhor disco de sertanojo universitário da humanidade porque tecnicamente vai ser o melhor do mundo porque eu sou profissional e não me importo com o que está colocado ali. No teu caso, você está numa situação parecida, quer dizer, você é um cara que tem o domínio, você escreve, você tem um arcabouço intelectual interessante e está trabalhando num jornal que fala de big brother Brasil e essas outras coisinhas. Como é que é essa dualidade, essa incomodação, esse acordar de manhã e falar, bom dia sol, bom dia passarinhos, estou indo para o trabalho feliz. Como é que é isso?

Bruno             O meu incômodo ele ficava fora do jornal, quer dizer, a minha cabeça é igual desse relato ai, eu a partir do momento que eu estava no jornal para trabalhar, é o meu máximo que estava ali, então o meu texto eu procurava fazer o texto mais adequado para aquele público, fazer uma piada quando era possível e profissionalismo acima de tudo, eu estava contratado para fazer aquilo e eu aceitei fazer aquilo e aí vem a cabeça do empreendedor, no fundo, quer dizer, o que é o empreendedor? É o sujeito que a partir do momento, o agente, o indivíduo que a partir do momento que assume uma responsabilidade por um trabalho, ele tem que cumprir aquela responsabilidade da melhor forma possível, ele tem que entregar o produto. Se ele não quer entregar o produto, ele não pode aceitar o contrato, porque fazer mais ou menos, você não só cria um problema para você próprio como profissional, mas você cria distorções no mercado, então você tem uma atitude contra si próprio e você tem uma atitude que é anti mercado, aí  você começa a bagunçar todo o resto, você tem essa capacidade sim, porque vários setores você tem problemas sérios até hoje, pô eu não encontro profissional competente nesse setor, quer dizer, não tem nenhuma pessoa que é competente que se dedica àquilo para fazer, isso pode expandir para qualquer área, então lá dentro eu era o profissional exemplar, cumpria horário e todo o resto.

Luciano          Vou pegar outro lado então, que é um lado que acho que hoje você exerce ele muito, que é o lado do conspirador, estou aqui, tenho diante de mim um canal de comunicação, um jornal que está falando X mil pessoas, está falando do big brother Brasil e eu tenho ideias, eu vou botar uma aspa bem grande aqui, eu tenho ideias revolucionárias, entre aspas bem grande, eu tenho ideias que vão contra isso tudo que está aí, eu preciso contar que existe um outro mundo etc e tal, mas eu só sou o cara que está redigindo a notícia do big brother Brasil. Dá para resistir à tentação de enfiar essa tinta de dentro, de botar essas ideias ali por baixo de levar isso adiante, cumprindo um papel de conspirador? Deixa eu só fazer um paralelo, eu escrevi o livro “Brasileiros Pocotó”, e no livro diz o seguinte: eu falei eu não quero tirar o Gugu Liberato da televisão, porque se ele está naquela lugar e consegue ter aquele sucesso que ele tem, algum mérito esse cara tem, no mínimo ele consegue falar a língua das pessoas, então ele não é para ele sair de lá, o que nós temos que fazer é enfiar um conteúdo nesse canal que está ali, o cara consegue falar com as pessoas, como é que eu coloco um conteúdo que preste ali dentro? Nessa hora o conspirador vem fazer o papel dele. Então, eu vou conspirar para que mesmo que ele não saiba, ele está levando algumas ideias adiante. Isso passava pela tua cabeça, você já tinha uma ideia de que daria para manipular de alguma forma, não no mau sentido, mas no sentido de você, vou levar algo a mais além do entretenimento burro eu quero levar alguma coisa mais de conhecimento, você já tinha uma visão assim?

Bruno             Não, nessa época eu não tinha a perspectiva de que era possível fazer isso e isso começa depois, isso já é resultado dessa minha ida para Portugal e do que eu estudei depois. Se fosse na cabeça de hoje, talvez, embora o jornal tivesse pouca margem para fazer isso, mas talvez desse para fazer alguma coisa, levando, sempre uma coisa positiva, positivo e propositivo, aí não é exatamente o ideal do revolucionário, do reformista. Como é que você atua dentro de um ambiente que está degradado ou de um público que pode, poderia ter mais e você pode encaixar dentro daquilo algo que ofereça esse a mais, mas nessa época eu não tinha essa preocupação política, eu não tinha, não tinha, não passava pela minha cabeça porque simplesmente isso estava fora, isso começa depois.

Luciano          Começa em Portugal.

Bruno             Começa em Portugal.

Luciano          Me fala disso, agora está pegando fogo, eu estou balançando a perna aqui agora, eu estou… me fala isso.

Bruno             Em junho de 2007, quando essa coisa de ir para Portugal já estava, esse projeto de ir para Portugal fazer o mestrado em ciência política já estava consolidado na minha cabeça, aconteceu um fato um tanto excêntrico, para usar um eufemismo inglês, para contar o episódio, que eu recebi um amigo meu para se hospedar lá na minha casa, eu sempre tive amigos muito mais velhos, esse amigo tinha, na época, 57 anos e ele sempre se hospedava no meu apartamento no Rio e ele foi se hospedar nesse momento, ele estava… já tinha terminado de escrever a biografia do Rubem Braga, que foi lançada depois pela Editora Globo, que tem uma reedição, por outra editora que eu já não lembro, o título da biografia é “Rubem Braga, um Cigano Fazendeiro do Ar”, biografia maravilhosa, Rubem Braga, para quem não conhece, foi um grande cronista do jornalismo brasileiro entre os anos, talvez entre os anos 50 e 70, ou talvez até os anos 40, já não lembro, mas passou três, quatro décadas como o grande nome da crônica brasileira. Foi o escritor que fez com que a crônica fosse elevada ao status de literatura, antes a crônica era algo visto, embora o Brasil sempre tivesse uma tradição de cronistas de jornal, Machado de Assis foi cronista, José de Alencar, mas a crônica não era vista como literatura, era vista como crônica de jornal. Então, foi o Rubem Braga que fez com que a crônica fosse alçada a esse patamar. Bom, figura muito famosa, muito importante, foi editor de livros e tal. Esse amigo meu, e aí vem a parte excêntrica da história, me fez o favor de morrer na minha casa, ele morreu no meu apartamento, o que é uma coisa extremamente deselegante, para usar uma outra, outro eufemismo em inglês…

Luciano          Que sujeito folgado.

Bruno             … pois é, tanto amigo para ele escolher, ele foi escolher… bom, enfim, morreu na minha casa, teve um infarto de madrugada e eu acordei ele estava na minha sala morto. Bom, ele morreu, foi uma tragédia e tal, não cabe aqui ficar contando os detalhes, a morte dele me fez refletir sobre a brevidade da vida e aquela coisa de você escolher prioridades e não se deixar levar por um certo conforto de, por exemplo, você ter um salário fixo para pagar as contas, que era o que eu tinha e aí eu falei bom, eu estou insatisfeito, eu não estou feliz no que eu estou fazendo, eu não quero fazer mais isso e não vou me segurar por conta de um salário, então eu vou atrás daquilo que eu quero fazer, do meu projeto…

Luciano          Você estava solteiro.

Bruno             … eu tinha minha namorada na época e tal, não era casado ainda, mas tinha minha namorada, a gente tinha uma relação, uma relação, enfim… normal e eu no Rio, ela morava em Cachoeiro e eu decidi recomeçar do zero, recomeçar do zero é o que? Não vou trabalhar mais como jornalista, vou para Portugal estudar, vou sem bolsa de estudos, vou com uma pequena poupança que eu tinha guardada e vou fazer aquilo que eu quero e vou para Portugal estudar e aí começa minha, se hoje eu estou falando aqui falando no podcast e outras coisas, isso se deve a essa mudança para Portugal, porque se não fosse esse estudo, se não fosse as pessoas que eu conheci, se não fosse todo o resto, esse Bruno Garschagen de hoje não existia, escritor não…

Luciano          Você tinha 27 anos?

Bruno             Estava com…

Luciano          27 anos.

Bruno             … já era um velho para…

Luciano          Não, é verdade…

Bruno             … para decidir fazer essa transição…

Luciano          Sem dúvida, sem dúvida, até porque não era uma, você não foi lá para arrumar uma outra carreira e nada, você foi lá para abrir uma janela do mundo que você não tinha, não estava aberta para você e aos 27 anos é tarde, é tarde  para fazer uma coisa dessa, porém é legal porque demonstra que você conseguiu cumprir essa missão. E aí, o que acontece, você chega em Portugal e se abre diante de você um universo totalmente distinto daquele que você tinha aqui, porque você estava na Europa, era por isso, foi por isso, foi porque você estava na Europa ou aquela janela que se abriu para você em Portugal teria se aberto em algum outro lugar do Brasil, por exemplo, ou é impossível, aquela janela não tem no Brasil?

Bruno             Não, na época não tinha, não tinha, eu acho que era a conjugação, a feliz conjugação de dois elementos, primeiro: eu com uma semana morando em Portugal e abrindo um parêntesis aqui. Eu fui para Portugal sem ter a mínima ideia do que era Portugal, eu não estava indo para Portugal para morar em Portugal, para viver em Portugal, para aproveitar Portugal. Estava indo para Portugal porque lá tinha um mestrado nesse estudo de estudos políticos da Universidade Católica, era isso que me interessava. Portugal, quer dizer, a minha cabeça para Portugal era a mesma cabeça do brasileiro médio, Portugal é um país que não tem a menor relevância, colonizou o Brasil e aquelas piadas de português, não tinha o menor interesse em Portugal, com uma semana em Portugal eu estava morrendo de amores pelo país e aí é o primeiro elemento. Em Portugal eu me senti, pela primeira vez, em casa, uma coisa que eu nunca tinha me sentido no Brasil, nunca. Eu nasci no Brasil, eu tenho todos os defeitos e virtudes de ser brasileiro, mas eu nunca me senti em casa, nunca, eu sempre vivia no Brasil como alguém deslocado, em Portugal eu me senti em casa, como é que se explica isso? Eu não sei, era aquela coisa, para o ouvinte entender, quando você é criança, você está na sua casa, no seu quarto, você tem aquele ambiente que para você é familiar, é aconchegante e aí você, porque seus pais te levam para passar um fim de semana na casa de tios que você não gosta muito, mas que você é obrigado a ficar lá no fim de semana, você fica ali porque você é obrigado a ficar, não tem outra escolha, mas você não se sente em casa, você está em um outro lugar. Em Portugal eu me sentia em casa, esse é o primeiro elemento. Segundo elemento: eu fui para o lugar certo, o que era o lugar certo? Era um ambiente intelectual, extremamente estimulante, com pessoas extremamente generosas, inteligentes e que tinham experiências de vida diferentes e que estavam escadas, nem degraus, escadas acima daquilo que eu tinha naquele momento, então para mim é como se eu entrasse numa matrix, sabe o filme Matrix? Então entrei num universo que para mim era completamente novo, e foi isso, essas duas coisas, me sentir em casa e estar num ambiente que me permitia, com um trabalho duro, com persistência, com paciência, com trabalho perseverança, com tudo aquilo que o empreendedor tem que fazer, esse lugar, um lugar que me dava todas as oportunidades para fazer isso e ser bem sucedido.

Luciano          Você é um jogador de futebol razoável, de repente entra no Barcelona, você está sentado no banco e você olha em volta e vê os caras do Barcelona que entram em campo, jogam aquele futebol maravilhoso e você é o garotão que é bom de bola e que de repente tem que entrar em campo e trocar bola com esses caras aí, brasileiro, tudo bem, você entende o que eles falam, mas não é o teu idioma, você não tá na tua praia, não é tua casa embora você se sinta em casa, mas você de repente está diante de um grupo de pessoas que tem um preparo muito maior que o teu que falam num nível maior do que aquele que você tinha e que você tem que tomar cuidado ali para não ser  o bobalhão da turma lá, isso não te intimidou?

Bruno             Em alguns momentos sim e aí o que é que eu fazia? Eu ficava calado para não dizer bobagem. O que me facilitou, quer dizer, isso intimidou obviamente e eu ficava calado. Ao ficar calado a minha reação instintiva era uma coisa que me salvou durante toda a vida, que é amor pelo conhecimento, e o amor pelo conhecimento não é uma decisão utilitária. Eu não gosto do conhecimento para usar aqui ou ali, ou para escrever melhor, para escrever um livro, não é isso, é uma coisa… imagina aquela pessoa que adora… voltar aquela história do violão, que adora violão, então a corda olha para o violão e quer tocar, aquela pessoa que adora, sei lá, comer, então acorda faz lá o café da manhã e gosta de comer, Então imagine cada ouvinte nosso, imagine aquilo que gosta mais, aquilo que sente prazer, então é essa a minha relação com o conhecimento e quando eu me vi o reserva lá do Barcelona no meio daqueles craques, o que eu tenho que fazer aqui é aprender, esse é o meu objetivo e eu tenho que ter essa humildade e a humildade é um dos elementos estruturais para quem quer construir uma vida intelectual, você tem que ter essa humildade para aprender, para perguntar quando não sabe, para chegar perto das pessoas que você admira, olha, me dá uma dica de livro, eu não entendi muito bem aquilo que você escreveu, tem que ter sempre essa posição e humildade também quando é a coisa contrária, quando você já atinge um determinado, conquista algumas coisas, o seu nome atinge uma determinada projeção e as pessoas chegam perto de você querendo alguma orientação e tal. Então você também tem que ter essa humildade para… humildade e disponibilidade para ajudar quem quer, então assim, voltando ao centro da sua pergunta, quando eu me vi naquele lugar foi assim, eu estou no lugar certo para aprender.

Luciano          Você tinha 27 anos, provavelmente a tua expectativa seria ficar ali três, quatro anos, ao final dos quais você teria 30, 31 anos, estou certo? Por aí, né?

Bruno             Isso.

Luciano          30, 31 anos, já é um adulto que devia estar encaminhado na vida, qual era a expectativa que você tinha ali na frente, tudo bem, sou um buraco negro, vou capturar tudo isso para que eu faça o que da minha vida?

Bruno             Olha, essa angústia de idade, eu preciso… eu já podia estar com família, com patrimônio, com emprego, com uma resolução profissional já definida e tal. Quando eu saí do Brasil para estudar isso tudo ficou para trás, então naquele período que eu estava estudando minha preocupação era estudar e obviamente fazer dinheiro para pagar as contas, então eu trabalhei nesse período como free lancer para o Brasil e tal, escrevi para o Valor Econômico, para a própria Folha, fiz uns freelas lá para Portugal e tal, inclusive para o João Pereira Coutinho, uma pesquisa que eu fiz na biblioteca nacional dos artigos dele para um livro que ele ainda vai lançar. Mas eu não tive essa preocupação, pô eu já com tantos anos tendo que fazer isso, não, minha preocupação era aprender e aí quando acabou, aí sim, bom, agora eu preciso, mas a minha expectativa, depois que eu cheguei em Portugal não era mais voltar para o Brasil, a minha ideia era ficar lá, eu voltei em 2010 em virtude de um imprevisto familiar, mas o objetivo não era voltar para o Brasil, mas foi ótimo que eu tenha voltado.

Luciano          Legal. Então vamos pegar uma parte interessante aqui agora, você contou uma história fascinante, que é muito diferente das pessoas que eu entrevisto aqui, porque a maioria de quem eu entrevisto aqui está envolvida em algum objetivo profissional, vou crescer, etc e tal não me lembro de ter entrevistado ninguém que tivesse essa coisa, meu negócio é a vida intelectual de alguma forma, não é para ter aquela profissão, é acumular esse conhecimento que uma hora isso vai virar alguma coisa. Mas aí você volta ao Brasil e a impressão que me dá é que você… tiraram um véu da sua cabeça, tiraram um véu dos seus olhos e você volta para o país de onde você saiu, com uma visão de mundo que já não tinha mais nada a ver com aquela que você tinha quando saiu daqui e você desembarca no Brasil e vê o que?

Bruno             Bom, em vez do véu…

Luciano          Foi em 2010?

Bruno             … 2010. Em vez do véu, me tiraram foi aquele tubo, aquele do Matrix, o tubo que encaixa na nuca do sujeito, bom, para piorar a história, quando eu volto em 2010, eu volto depois de ter passado por Portugal e ter passado por Oxford, quer dizer, o que torna a volta ainda mais dramática, eu voltei para o Brasil e aquele sentimento de deslocamento e de não pertencimento, ele ficou ainda mais grave, porque eu vi, porque eu já tinha experimentado uma sensação que eu nunca tinha experimentado antes, que é aquela sensação de me sentir em casa, então voltar para um lugar que eu já não me sentia em casa, depois de ter passado por isso, quer dizer, o drama é pior…

Luciano          Você está me lembrando Olavo de Carvalho falando que ele é o espermatozoide que por acaso caiu aqui, eu sou o espermatozoide que por acaso caiu no Brasil, não sei porque, foi parar lá por acaso.

Bruno             … pois é, aí o que acontece? Eu volto para o Brasil e aí o primeiro choque no aeroporto sempre, o aeroporto, voltar e me deparar com a… como é que eu vou falar isso sem parecer arrogante e deselegante… com um padrão de incivilidade e falta de educação, eu não estou falando de pessoas pobres, eu estou falando do padrão do comportamento do Brasileiro médio, extrema agressividade, a violência no dia a dia, a gente tem ilusão e eu, em algum momento acreditei nisso também, embora eu não me reconhecesse nesse grupo, que o brasileiro é um povo alegre, simpático, carinhoso e tal…

Luciano          Cordial…

Bruno             … cordial, não tem nada disso, isso ficou muito evidente quando eu voltei, o brasileiro é um povo extremamente agressivo, ele pode ser carinhoso, afável quando ele te conhece, mas no ambiente público que é onde importa porque é onde você não lida o tempo inteiro com pessoas na sua família nem com seus  amigos e você circula por um lado e por outro, então como é o trânsito no Brasil? O sujeito buzinando o tempo inteiro, xingando e não sei o que e eu sou uma figura muito pacífica, então essa violência do dia a dia é uma coisa que me angustia até hoje, mas foi o primeiro choque, no aeroporto falando muito alto, aí eu entro no taxi e buzina e freada e ônibus e…

Luciano          Você está levantando um ponto… na verdade você não está levantando nada, eu te provoquei a chegar nesse ponto ai porque eu acho que isso é importante para a nossa conversa aqui que é quando você fala uma coisa desse tipo ai e eu notei o seu cuidado, cheio de dedos, não quero parecer arrogante, etc e tal, é interessante pelo seguinte, tentar explicar isso para alguém que não foi exposto a uma realidade diferente é impossível, porque quem está aqui vivendo o dia a dia é o que existe é isso aqui, se eu não fui exposto para outro mercado, para outro mundo, para outro país, se eu não tive a chance de entrar num supermercado norte americano para ver o que é aquilo; se eu não tiver a chance de ir num restaurante português e ver como é que funciona aquilo, eu não tenho como comparar, eu só consigo definir alguma coisa quando eu comparo com aquilo que eu conheço, se eu não conheço mais nada, eu vou definir com aquilo que eu tenho aqui, então se o Brasil é do jeito que é, eu só consigo comparar aqui dentro. E é interessante você vir com esses dedos, pô eu vou parecer arrogante, quer dizer, se eu conheci uma realidade melhor do que aquela, se descobri que existe um jeito diferente de olhar o mundo, de me comportar no mundo e tentar contar para as pessoas isso, eu sou taxado de arrogante, se bobear coxinha, coxinha arrogante etc e tal porque está se achando, quem é esse cara para ser melhor do que isso. Aliás, nós estamos aqui ás voltas com uma carta de um americano que foi publicada agora, Mark Manson, você chegou a ver a carta?

Bruno             Vi.

Luciano          Onde ele… e até o podcast do Café Brasil que eu botei no ar hoje é com a carta e minha tese é a seguinte: essa carta dele é velha e eu mostro um monte de outras coisas que já foram escritas e que são exatamente aquilo que ele fala ali mas há muito mais tempo para brasileiros e esse cara está sendo extremamente combatido porque é um arrogante que vem aqui achar que pode falar mal do Brasil. Mas, você está falando a mesma coisa que ele falou, quer dizer, você chegou aqui, viu aquilo que ele conta que viu aqui também porque ele está comparando com uma realidade que é aquela de fora para cá. Você não acha que o grande problema do brasileiro é exatamente esse, é não ter a oportunidade de ver o que existe além desse mundinho que a gente vive aqui? E se contentar com ele e achar que é isso mesmo e que vai ser sempre assim e olha lá?

Bruno             Esse é um dos problemas. Agora, a gente tem que considerar que é uma parcela numerosa da população, ela não conseguirá ter essa experiência de, por exemplo, ir para o exterior, aliás se eu pudesse ter uma decisão política, era pegar toda a população pobre do Brasil e aquela classe média, classe média mesmo, hoje a gente tem, sei lá, deve ter uns doze tipos de classe média, mas pega uns, população pobre brasileira inteira e bota para passar uma semana nos EUA, depois todo mundo de volta. Você não precisava fazer mudança política, de regime, sistema, nada, cai república, cai todo mundo porque eles vão ter essa comparação sobre o que funciona e o que não funciona e isso eu estou falando a população mais pobre porque é a população que não tem dinheiro para viajar, agora esse tipo de coisa, assim essa preocupação de não parecer arrogante é porque eu quero passar essa mensagem para que as pessoas reflitam sem ficar com raiva da minha crítica, porque no fundo a minha crítica é uma crítica positiva para que as pessoas que gostam do Brasil, que se sentem em casa aqui, possam mudar e se mudar exige conhecer realidades diferentes. Que  essa pessoa não se sinta violentada quando alguém expõe essa realidade diferente, ela reflita sobre isso. Essa coisa dessa carta desse americano, o brasileiro reage assim, nós podemos falar mal, mas se é um estrangeiro que xinga a nossa mãe não dá, você tem cartas de ingleses, de estrangeiros, no Séc. XIX, publicado em jornal brasileiro, falando o que era  o Brasil, o livro “Conto Brasil” do Diogo Mainardi que é um romance, excelente, aliás eu recomendo todos os livros de ficção do Diogo Mainardi, “Arquipélago”, “Conto Brasil”, todos, “Polígono das Secas”, ótimos, muito engraçado, bom humor e tal e uma crítica feroz, no “Conto Brasil” ele coloca várias opiniões de estrangeiros sobre o Brasil em épocas diferentes, então isso não é novidade mas sempre ofende, ainda mais se acha que a análise não está correta e tal, porque o brasileiro por viver nessa realidade, por ele estar imerso nessa coisa toda, é difícil também você reconhecer, ainda mais se você não tem essa comparação, reconhecer qual é o problema, para ninguém que está no trânsito é problema você buzinar e eu tenho problemas com familiares que não tiram a mão da buzina; pelo amor de Deus, parece aquelas câmaras de tortura que toda hora vem lá o torturador e aperta a campainha ou fica batendo gota na sua cabeça, mas a minha preocupação em não parecer arrogante é para que as pessoas reflitam, nós somos uma sociedade, ao contrário do que a gente pensa, muito violenta, muito violenta com quem a gente não conhece, é muito fácil você ser gentil com familiar ou com amigo, isso é fácil, agora você respeitar o outro que você não conhece é igual a história da confiança, no Brasil a gente só confia em quem a gente conhece, o grande teste não é esse, o grande teste é você confiar em alguém que você não conhece porque essa pessoa ainda não demonstrou absolutamente nada, não cometeu nenhum ato que te permitiria você desconfiar dela, que faz com que uma sociedade como a americana ou a inglesa tenham dentro das suas sociedades um alto grau de confiança interna, que tem várias consequências positivas, então quando maior o grau de confiança entre as pessoas que não se conhecem, menor o custo social das transações, então você não precisa criar um contrato de trabalho de cinquenta páginas porque com três você resolve.

Luciano          Você está se protegendo. Quero me proteger. Eu tenho um amigo que tem uns parentes agora que mudaram para Portugal, estavam lá e ele contando a experiência da sobrinha dele que mudou para lá, menina novinha também, ela estava na escola jogando lá na aula e luxou um dedo e foi para, na hora que o dedo estava luxado, aquela coisa feia toda, ela pegou, foi lá para o ambulatório para cuidar, o pessoal viu que o negócio era complicado, mandou para o hospital e ela foi com a avó no hospital esperando o esquema brasileiro, chegou no hospital preparada para assinar papel e tudo, o pessoal não, primeiro cuida do dedo depois nós vamos ver como é que faz e trataram da menina e a menina imediatamente pediu o laudo do médico ali e no dia seguinte a menina foi, ela não pôde voltar para a aula, chegou na escola foi direta na secretaria entregar o laudo para dizer que ela faltou no dia anterior porque ela machucou o dedo e a pessoa que foi receber o laudo falou, o que isso aqui? Não, é o laudo que eu faltei, mas para que esse laudo? Não, eu faltei. Mas você já me falou que você luxou, você está com o dedo todo enrolado, você não veio na aula ontem, você estava aqui, você se machucou, para que você está me trazendo  um papel para provar aquilo que eu estou vendo que aconteceu com você. E para a menina contando era um choque, porque ela estava preparada e a avó, para se provar que não tinha nenhum dolo, não foi de propósito aquilo porque ela vive numa sociedade desconfiada e chega lá numa que não tem desconfiança e você cai assim, como assim? É complicado.

Bruno             E nós estamos falando de um país que colonizou o Brasil, que é alvo até em pleno 2016 dos piores ataques, razão das nossas desgraças é a colonização portuguesa.

Luciano          Que é uma bobagem.

Bruno             É, são as caricaturas que são criadas e que perseveram, ganham eco cultural, mas é isso, Portugal é interessante porque tem uma ingenuidade que talvez o Brasil tinha até os anos 50 e depois se perdeu, então você vai encontrar o que você encontra em Portugal, estou falando de cidades grandes, no Porto, nas  relações sociais, um tipo de ingenuidade, no bom sentido, não estou falando que as pessoas bestas, nada disso, ingenuidade no sentido de confiar  no que você diz, essas coisas, hoje você talvez encontre no interior do país, pessoas mais velhas que ainda são tem a  memória cultural daquela educação antiga, educação dentro de casa, mas em termos gerais…

Luciano          Quer dizer, uma sociedade do confronto, uma sociedade do conflito e que está perdendo essa relação de confiança. Ô Bruno, você volta para cá, começa a tocar teu negócio, está aí hoje, escreveu um livro interessantíssimo, como é que é o nome do livro eu não quero errar o nome.

Bruno             “Pare de acreditar no governo”, porque os brasileiros não confiam nos políticos e amam o estado.

Luciano          Exatamente. Escreveu um livro delicioso, é um livro que é uma aula de história, que tem uma pesquisa maravilhosa que vai buscar as raízes dessa história do brasileiro não acreditar, lá atrás. Traz um perfil do Marquês de Pombal ali que é uma delícia, que a gente não imagina como é que as coisas eram. E você se coloca aqui de repente dentro do ambiente que é ainda é hostil a determinadas ideias que você defende, eu defendo também, que são ideias de um mercado mais livre, de uma sociedade mais independente do ser humano capaz de ser dono das suas escolhas onde o estado não tem aquela mão peluda gigantesca em cima, a gente tem a liberdade para empreender e arque com os custos e os ganhos disso de forma que cada um possa exercer sua escolha individual e acaba encontrando um ambiente hostil a isso e começa a desenvolver um trabalho de ir contra, ir contra isso, você começa a escrever, bota o eu livro aí e abraça uma luta, é uma luta no momento interessantíssimo que é o momento em que o Brasil descobriu que de repente a gente viveu embaixo de uma série de mentiras aí, acreditou numa pancada de coisas que qualquer pessoa que tivesse dois neurônios funcionando sabia que aquilo não ia dar certo mas de repente nós estamos vivendo esse momento agora no Brasil, que está uma convulsão política prestes a se transformar em social, falta muito pouco para virar uma convulsão social e você está defendendo ideias que não são as ideias defendidas pelo mainstream ainda pela mídia até hoje e você não se sente um dom Quixote? Correndo atrás de lutar contra dragões inexistentes, castelos de mentira e que quando você achar que ganhou, na verdade tudo era uma conversa, não vai mudar nada, vai ficar assim mesmo e essa coisa maior do que a gente…

Bruno             É se eu pudesse ser Dom Quixote seria ainda mais interessante e menos difícil, se eu pudesse ser o personagem, mas assim, em 2009, quando eu comecei a efetivamente viajar pelo país, fazendo palestra, trabalhando com isso, divulgando as ideias da liberdade, era mais difícil assim, comparando 2009 com 2016, o Brasil. 2009 eu trabalhava para uma organização, um instituto chamado Ordem Livre, e foi criado um evento chamado “Liberdade na estrada” então a gente viajaria o país fazendo palestras em universidades públicas e privadas. 2009 fui eu que organizei esse grande evento nacional, eram palestras de três horas, duas horas e pouco com dois, três palestrantes, apresentando essas ideias para os estudantes de universidade. E era difícil encontrar gente para organizar, depois era difícil que esses organizadores conseguissem espaços em universidades porque ninguém queria e depois era difícil conseguir público, então era tudo difícil, aí nesse momento acho que essa imagem do Dom Quixote ela era mais adequada. Em 2015, que foi o ano passado, que eu viajei pelo país lançando o livro, pô, primeiro que eu não conseguia atender todos os convites que surgiram, então não precisava mais ir atrás, já tinha um universo enorme e todos os lançamentos que eu fiz, livrarias e auditórios lotados, foi impressionante, você estava no evento de São Paulo, no  lançamento em São Paulo, aquilo começou acho que sete, ou sete e meia, eu saí de lá acho que dez e meia da noite, uma fila enorme, muita gente, muitos amigos, muita gente interessada e isso foi pelo país inteiro, eu fui  para João Pessoa, eu fui para Natal, fui para Recife, fui para Belo Horizonte, Vitória, Curitiba, Florianópolis…

Luciano          Isso é resultado do trabalho de formiguinha de alguns abnegados.

Bruno             É, no início pouca gente, depois a coisa tomou uma proporção gigantesca. Hoje não, hoje está, hoje a  coisa está mais fácil, de fazer, obviamente é preciso considerar que isso não tem relevância política alguma ainda, então isso é um trabalho que fez diferença no plano social, a política com P maiúsculo, a política com p minúsculo, que é a política formal nas câmaras de vereadores, assembleias legislativas estaduais, congresso nacional, isso ainda não tem relevância, começa a entrar agora uma certa discussão com alguns parlamentares; isso começa a mudar. Alguns deles já perceberam que uma parcela da sociedade caminha para esse lado e são políticos que não são ideológicos, são políticos que querem simplesmente ser eleitos e o que esses caras fazem? Veem a movimentação da sociedade, querem esse nicho como eleitor e começam a subir bandeiras, então já é comum agora partidos e políticos defenderem redução de carga tributária, defenderem redução do estado. Em 2009 não tinha ninguém, a eleição passada teve uns candidatos que defenderam no jornal nacional a privatização da Petrobrás, antes da Petrobrás surgir como sendo o pivô da… o pivô não, mas o centro operacional de tudo o que está se descobrindo com a operação lava jato. Mas é um trabalho, no fundo é um trabalho que precisa ter um país melhor, quer dizer, eu não estou propondo revolução, não estou propondo golpe e nem as pessoas que defendem as ideias da liberdade, no fundo é você mudar esse tipo de mentalidade, estadista que nós temos, que o estado tem que fazer tudo, o estado deve ser o grande agente social, política econômica, é uma contradição que uma parcela da população já percebeu que existe, outra ainda não e aí para ilustrar o ponto com um exemplo, manifestações de 2013, as pessoas foram para as ruas de forma legítima etc, mas o que elas pediam? Mais educação, mais saúde, mais ensino, mais transporte de qualidade, elas estavam pedindo mais governo, sendo que o governo era o agente causador daqueles problemas e essa população não conseguia fazer uma conexão entre uma coisa e outra. Por que não conseguia? Porque esse debate não é público, não é publicado, os jornalistas são estatistas, eles pensam com a ótica do governo e para dar um exemplo nesse caso, os comentaristas de economia das televisões, dos jornais, só falam de governo, não falam de economia, o governo decidiu isso, o governo fez aquilo, o governo vai fazer isso, é só o governo, então você não tem economia, transações voluntárias entre agentes privados não tem, você tem algumas revistas, algumas publicações que falam de pequenos negócios, pequenas empresas aí dão esse toque de empreendedorismo, mas em geral…

Luciano          Estão correndo à margem, mas eles correm à margem dessa…

Bruno            … exatamente, mas o debate, a população não está sendo informada sobre isso. Bom, aí o contraponto, às manifestações do ano passado, março do ano passado, a bandeira, a agenda principal era impeachment e combate à corrupção, mas já havia ali no alicerce das manifestações, pedir por menos governo, que o governo não atrapalhasse, então eu acho que é uma mudança interessante e que coloca em choque dois tipos de visões radicalmente diferentes e visões que fazem com que um país continue no caminho da servidão que é o nosso caso, com o estado intervindo, com o estado definindo tudo o que a gente pode ou não pode fazer, especialmente na economia e o caminho para as liberdades que é o estado representado politicamente pelo governo, existindo mas não atrapalhando.

Luciano          Na verdade facilitando que ocorram os riscos que eu achar que eu deva correr como empreendedor, como empresário, se eu conseguir criar valor para você eu quero ser remunerado por isso, se eu não conseguir criar valor eu vou quebrar e esse problema é meu, não deve ter alguém me dizendo que é assim. Eu até tive uma discussão essa semana com uma garotada, discussão na verdade não, é uma discussão, mas foi uma conversa eles dizendo assim, discussão do estado, vamos lá, o que atrapalha a tua vida? Eu vou dizer o que atrapalha a tua vida, é a companhia aérea que te sacaneia, é a tua companhia telefônica que te sacaneia, é a companhia que te vende internet de 10 mega e te entrega 2, é a tua TV a cabo que te sacaneia, é o banco que te sacaneia, é a seguradora do seguro de saúde que te sacaneia, é a montadora de automóvel que te sacaneia, são esses, esses são os segmentos da sociedade mais controlados pelo estado, o estado está presente neles de uma forma brutal, ele controla tudo ali, esses são os caras eu te sacaneiam, você parou para pensar que não é par botar mais estado, é para tirar o estado daí? Não mas o que é isso, vai virar uma bagunça. Eu falo não, eu quero o seguinte, abra, deixa que uma companhia aérea coreana venha voar aqui no Brasil e ela vem aqui e você vai ver o que vai acontecer, porque no momento em que aparecer alguém e você tiver a oportunidade de escolher, muda tudo, porque começa a própria competição. Ah mas você esta pregando… e a conversa vai para… e o que você vê é um véu de ignorância gigantesco exatamente por não haver comparativo, quer dizer, eu não sei como é que é lá fora, eu não posso entender se isso seria bom ou ruim aqui. Isso dá outro programa inteirinho, só isso daí dá outro programa inteirinho. Muito bem, já estamos chegando ali no nosso final, Bruno, só para te fazer uma provocação então agora para a gente ir para o final aqui mesmo, como é que você enxerga o Brasil assim, me dá cinco anos, o Brasil daqui a cinco anos, como é que você enxerga e o que a gente devia fazer para essa  coisa entrar nos trilhos e o Brasil começar, se não for daqui cinco anos o país que a gente quer que ele seja, mas ele pelo menos entrar no rumo e começar a caminhar na direção que interessa para nós, o que nós temos que fazer aqui, nós que não somos políticos, que não temos o poder de mando, nós aqui como, quem está ouvindo o programa?

Bruno             Certo. Bom, é difícil falar só da nossa responsabilidade porque como o estado é muito intervencionista não há nada do ponto de vista econômico que a gente possa fazer que não esteja atrelado ao estado e quanto mais o estado entra num processo de degradação, no caso o atual governo, quanto mais o governo gasta, quanto mais o governo deve, mais o governo aumenta tributos e o aumento de tributação ele tem uma influência negativa brutal porque você tem que reorganizar toda a sua vida para cumprir essa expropriação. Os custos aumentam e por conta de todo o drama que foi constituído por esse mesmo governo de atrapalhar a economia, você não consegue compensar fazendo mais negócios com esse aumento de custo de tributação e de todo o resto, energia elétrica e tal, então esse componente político, ele tem, infelizmente, dada a nossa conjuntura política, ele tem um papel central no sentido de atrapalhar, o que a gente pode fazer e que não depende de governo? Primeiro caso é, se você é um empreendedor, continuar empreendendo e tendo soluções criativas para poder aproveitar a crise de uma forma economicamente viável, tem setores que não conseguem ter muita margem assim para usar a criatividade e sair de onde, do buraco em que se meteu ou em que foi metido, mas enfim, cada empresa, cada empresário, cada empreendedor vai ter que arrumar algum tipo de solução mais ou menos criativa para poder lidar com essas contingências da política que afetam diretamente a economia, então esse é o comportamento do agente econômico, a gente vai continuar fazendo as coisas apesar do governo. Uma outra dimensão é: o empresário brasileiro, de qualquer tamanho, pipoqueiro, o vendedor de picolé, o micro empresário, o médio empresário, o grande empresário, o CEO das grandes montadoras, ele tem que saber o seguinte: se ele financiar ou legitimar por ação ou emissão, quer dizer, fazendo algo ou deixando de fazer algo ou deixando de fazer algo para que esse sistema politico continue, a situação não vai mudar absolutamente nada, então vou voltar daqui a trinta anos, daqui a vinte anos, a gente vai conversar sobre as mesmas coisas e a pesquisa que eu fiz para o meu livro, o meu livro tem como grande fio condutor o intervencionismo do estado brasileiro ao longo da nossa história e de que forma que esse intervencionismo, ele cria uma cultura política e desenvolve também uma mentalidade estatista de dependência ao governo, tem que fazer as coisas, o meu livro mostra isso de forma evidente se os empresários continuarem, ou financiando campanhas políticas de político, de partido político que eles sabem de antemão que vão entrar no governo e vão criar novas regulações, vão aumentar tributos, vão piorar o ambiente que já existe, esse empresário que financia ou legitima por ação emissão, ele é corresponsável pelo estado de coisas, então não adianta só reclamar do governo, ele tem que se sentir moralmente responsável por aquilo para que o processo de desilusão por ter sido agente direto por esse estado de coisas faz com que ele mude, tem um livro, fazendo uma comparação aqui, tem um livro de um professor americano chamado Paul Hollander, chama-se “O fim do compromisso”, ele mostra…

Luciano          O fim do compromisso.

Bruno             … “O fim do Compromisso”, ele mostra como que nos países comunistas, como se deu o rompimento de determinadas pessoas que faziam parte da elite dos partidos ou pessoas que trabalhavam na burocracia desses lugares, como é que essas pessoas romperam com esse compromisso ideológico, noventa e tantos por cento, quer dizer, a maioria esmagadora dos exemplos que ele traz são de pessoas que para romper o compromisso com a ideologia e com o partido, tiveram que sofrer algum tipo de desilusão psicológica, teve que haver um trauma porque só eu dizer para  uma pessoa olha, se você defende o atual governo, o atual partido, olha o que eles fizeram, eles não destruíram só a economia do país não, destruiu um monte de coisa, a maior degradação moral, ética, ele não vai ser convencido por argumentos e a experiência que eu tenho de relatos, de ouvir relatos nos lançamentos do livro e etc de pessoas, de ex membros desse partido que saíram por algum tipo de desilusão, ou porque descobriram que o partido é corrupto, mas teve a desilusão, simplesmente o aspecto retórico não adianta, então os empresários tem que ter a noção de que são ou foram corresponsáveis por esse atual estado de coisas e se quiserem mudar alguma coisa, eles tem que assumir esse compromisso de não financiar político nem partido que depois vão atuar contra o mercado e contra a própria sociedade brasileira.

Luciano          E o oposto também, né Bruno, que é financiar aqueles em que você, tem gente nova aparecendo aí, gente que não é do ramo, digamos assim, que não é político profissional, tem propostas interessantes aparecendo por aí que de repente merecem ter… eu até brinquei ontem, eu estava falando isso ontem para o pessoal, mas vai tirar uma quadrilha e vai botar outra? Perfeitamente, enquanto a nova quadrilha não se organizar, nós vamos ganhar dois anos para pensar, a gente vai poder trabalhar, a hora que eles organizarem a gente tira de novo, que pelo menos a gente tem a chance de desorganizar essa máquina de jogar o país para baixo.

Bruno             E financiar pessoas que estão numa luta feroz contra esse tipo de coisa, a favor dos empresários, eles tem que financiar programas como o “Café Brasil”, eles tem que financiar grupos, instituições como o “Mises Brasil”, tem que financiar porque são essas pessoas que mesmo hoje sem o apoio, o apoio maciço, tem feito um trabalho que é diferenciado, que tem feito diferença no debate político. Então, jovens que hoje tem a informação pelas redes sociais, chegam a determinadas informações por conta desse trabalho que você faz, que o Mises faz, que outras organizações fazem, então essa produção de conteúdo, divulgação de ideias, ela é fundamental para você mudar o clima de opinião e a partir da mudança do clima de opinião, você tem pessoas dentro desse universo, com vocação política, que vão sair dali e vão entrar na política formal, se você não mudar uma certa cultura social e política  com base em boas ideias, nas melhores virtudes, não adianta simplesmente esperar a próxima eleição e achar que votar certo vai resolver o problema, se a gente tivesse o poder hoje de destituir todos os políticos, o mandato para substituir no dia seguinte, eu tenho certeza que não ia mudar absolutamente nada, em termos de prática política, porque todos os políticos que estão no poder e os políticos que estão esperando para a próxima eleição, são frutos dessa mesma mentalidade estatista intervencionista, eles estão indo para fazer com que o estado faça mais, então toda campanha é, vereador prometendo coisas, ah vou fazer mais isso, candidato a deputado prometendo vou fazer isso, vou fazer aquilo, é sempre fazendo, eu espero chegar um dia, ver nas eleições, candidato prometendo ou não fazer, ou revogar, por exemplo, leis, prometo revogar sei lá, CLT, prometo revogar… revogar, revogação, a gente precisa de menos lei, não é de mais.

Luciano          Prometo trazer de volta os saleiros das mesas em Vitória.

Bruno             Revogar aquela coisa esdruxula. Aí você tem essa ótima do intervencionismo que resulta em coisas esdrúxulas, como esse caso do sal em Vitória e também no …

Luciano          No Rio Grande do Sul…

Bruno             … Rio Grande do Sul, em Porto Alegre e você tem coisas esdrúxulas que não chegou a ser lei que foi um vereador de Vila Velha, Espírito Santo, ao lado da capital Vitória que apresentou um projeto de lei na câmara de vereadores, querendo proibir as noivas de casarem sem calcinha nas igrejas da cidade. Então quer dizer, isso tem um fundamento autoritário intervencionista, eu quero proibir as noivas de… quer dizer, começa proibindo a noiva de calcinha, começa proibindo saleiro, depois…

Luciano          Sabe-se lá …

Bruno             Quer dizer, o céu é o limite.

Luciano          Grande Bruno, quem quiser encontrar o Bruno, quem quiser ter acesso ao teu trabalho como é que te encontra?

Bruno             Bom eu tenho o blog, brunogarschagen.com e eu estou no…

Luciano          O Garschagen é com sch…

Bruno             g a r s c h a g e n. com, eu estou no facebook, estou no Twitter e é isso…

Luciano          E nas melhores livrarias.

Bruno             … e nas melhores livrarias, o livro continua sendo distribuído pela editora Record, “Pare de Acreditar no Governo”.

Luciano          Muito bem, grande Bruno muito obrigado pela presença.

Bruno             Foi uma honra.

Luciano          Vamos voltar, tem mais assunto aí.

Bruno             Se Deus quiser.

 

Transcrição: Mari Camargo