Oppenheimer e a Bomba
alexsoletto - Iscas Científicas -
Texto de Alex Soletto
“Agora me tornei a Morte, o destruidor dos mundos”
(frase do livro hindu Bhagavad Gita)
A frase foi repetida por Oppenheimer após o teste da explosão da Bomba Atômica no deserto do novo México. O local foi a da escola, Los Alamos Ranch School em Santa Fé, que ficou conhecido como O Laboratório de Los Alamos. A enigmática frase resume talvez, toda a história da criação da mais destruidora arma jamais usada na história moderna. Nela vemos o tremendo poder, a realização de um sonho de um cientísta e talvez, um tanto de arrependimento como ser humano.
Oppenheimer nascido Julius Robert Oppenheimer filho de imigrantes judeus alemães que tinham negócios com a industria de tecidos. “Oppie” estudou e se formou na Universidade de Havard. Ficou por lá por três anos e depois foi estudar física teórica na Universidade de Cambridge. Obteve seu doutorado na Universidade de Göttingen, na Alemanha, aos 23 anos de idade. Sua ambição e fragilidade seriam suas companheiras durante todo o tempo em que chefiou um dos projetos mais grandiosos e polêmicos realizados pelo ser humano moderno.
O Projeto Manhattan
O Projeto Manhattan nasceu modestamente em agosto de 1939 graças a uma carta escrita pelos físicos Leo Szilárd e Paul Wigner conhecida como a Carta Einstein-Szilárd que foi dirigida ao Presidente dos Estados Unidos Franklin D. Roosevelt. A carta assinada por Albert Einstein alertava o governo dos EUA sobre a possibilidade de a Alemanha Nazista estarem em processo de pesquisa do urânio para a construção de uma arma atômica, com um poder destrutivo jamis imaginado. O presidente Roosevelt convocou então o físico Lyman James Briggs para levanter dados e pesquisar os alertas da carta. Foi criado então o Comitê Consultivo do Urânio. O Comitê formado pelos físicos Szilárd, Wigner e Edward Teller, concluiu que sim, 0 urânio poderia ser utilizado para criação de armas atômicas. Briggs propôs que se investisse uma verba para pesquisa do urânio, principalmente do isótopo do Urânio-235 e também do elemento Plutonio. Paralelamente do outro lado do mundo, na Inglaterra, dois físicos, Otto Frisch e Rudolf Peiers da Universidade de Birminghan, haviam pesquisado a chamada massa crítica do Urânio-235. A massa crítica de um elemento fissionável é a quantidade necessária para se manter uma reação nuclear em cadeia autosustentada, coisa que seria fundamental na criação das bomdas atômicas. Roosevelt convocou o exército Americano. O presidente Americano aceitou colaborar com os ingleses em 1941, em um acordo com o primeiro-ministro Wiston Churchil. Em plena Guerra Mundial em 1943 Oppenheimer foi convocado para trabalhar no Projeto Manhattan. Nomeado diretor Laborátorio Nacional de Los Alamos, no novo México. James B. Conant, um dos professores de Oppenheimer pediu que ele assumisse os cálculos de neutrôns rápidos que seriam usados na rápida reação em cadeia de neutrons, reação esta que acontece na explosão de uma bomba atômica. Um grupo de físicos como Felix Bloch, Hans Bethe e Edward Teller, estavam calculando as necessidades para a construção da bomba atômica. Em 1942 o brigadeiro-general Leslie R. Groves Jr. foi nomeado chefe do Projeto Manhattan. Groves e Oppenheimer iriam trabalhar juntos até o teste final da bomba atômica. É sabido que, no inicio, Groves tinha preocupações de que Oppenheimer não iria conseguir liderar os físicos envolvidos no projeto. Mas estava enganado. O general constatou que Oppenheimer era uma pessoa ambisiosa e que seus conhecimentos tecnicos levariam o projeto a ter sucesso. Em julho de 1943, Groves concedeu a Oppenheimer uma “habilitação de segurança”, considerando ele como essencial para o projeto da bomba. Los Alamos foi construido no local de uma escola a Los Alamos Ranch School, local onde depois foram construidos outros prédios ao redor. Los Alamos cresceu inicialmente de algumas centenas de pessoas para mais de 6.000 em 1945. No inicio Oppenheimer teve dificuldades em estabelecer uma convivência pacífica entre os cientístas e os militares. Mas ele conseguiu com sucesso e habilidade, participar e organizar cada etapa do projeto. Sua influência foi fundamental no andamento dos estudos e na futura construção da bomba. Ainda nesse periodo estavam todos ainda preocupados com os trabalhos dos alemães em construir sua bomba atômica.
A Bomba
Os primeiros estudos foram direcionados para uma arma de fissão nuclear, chamada de Thin Man, a partir do plutônio-239. Mas esse projeto não foi à frente porque o plutônio só podia ser produzido em pequenas quantidades e as amostras tinham mais plutônio-240 do que o plutônio-239 que era preciso para a produção de uma bomba. O projeto da bomba de plutônio foi abandonado. Os estudos se voltaram então para a construção de uma arma que usava a implosão atômica. Em 1944 Oppenheimer restruturou o laboratório de Los Alamos e o novo projeto iria usar o Urânio-235. Mais simples do que o plutônio, esse se tornou o componente do projeto da futura bomba. Finalmente nas primeiras horas da manhã de 16 de julho de 1945 a primeira arma nuclear explodiu no chamado projeto “Trinity” dado por Oppenheimer. O pêso de 58kg de Oppenheimer contrastou com as 21 mil toneladas de TNT que desenhava um cogumelo de fumaça atômica à 10 km do pai da bomba atômica. O resto é história. Em 6 de agosto de 1945, sem que o Japão tivesse se rendido, um avião bombardeio B-29, o Enola Gay partiu em direção de Hiroshima com a bomba Little Boy em seu compartimento de lançamento. O artefato atômico foi detonado a 530m de altura. Hiroshima tinha uma população entre 70.000 e 80.000 pessoas. Entre elas 20.000 eram combatentes japoneses e 20.000 eram escravos coreanos. Três dias depois e em decorrencia do fato do Japão ainda assim não ter se entregado, outro avião o Bockscar decolou com outra bomba, a Fat Man em direção ao alvo primário, a cidade de Kokura. As condições climáticas inviabilizaram o lançamento sobre esta cidade. Então o avião se dirigiu ao segundo alvo da missão: a cidade de Nagasaki. Com uma explosão de aproximadamente 21 mil toneladas de TNT, a bomba matou cerca de 35.000 mil pessoas instantaneamente e 60.000 mil feridas. Esses bombardeios foram assunto de muita discussão após a rendição do Japão em 14 de agosto 1945. Historiadores afirmam que não foram as bombas as principais causas da rendição Japonesa. As derrotas do Império Japones na Ásia e uma tentativa de golpe de Estado fracassada, também contribuiram para que o Imperador Hiroito aceitasse a derrota do Japão. Até hoje se discute se as bombas sobre o Japão foram mesmo necessárias, pois a Alemanha já tinha se rendido e Hitler já estava morto. Os EUA se defenderam com o argumento de que se a Guerra contra o Japão tivesse continuado, as perdas de vidas seriam muito maiores. Alguns milhões de combatentes entre americanos e japoneses.
Depois da Segunda Guerra Mundial
A história de Oppenheimer transcede o conflito mundial. Depois da Guerra Oppenheimer se tornou o presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos. Se opôs a proliferação das armas nucleares. Foi contra ao desenvolvimento da bomba de hidrogenio, muito mais letal do que a bomba de urânio. Chegou a declarar que a bomba era “o trabalho do demônio”.
Em função de sua relação com membros do Partido Comunista e suas declarações contra o uso da armas atômicas ele perdeu sua habilitação de segurança em 1954. Fora da política, continuou com suas atividades como físico dando palestras e escrever trabalhos. Teses, poemas e contos também faziam parte de sua vida. Ele chegou a recrutar alguns estudiosos clássicos, poetas e até psicólogos para ajudá-lo a preparar suas palestras. Em 1963 o governo Americano concedeu à Oppenheimer o Prêmio Enrico Fermi, talvez um reconhecimento de seus feitos politicos.
Mas só depois de 55 anos, em 2022, sua habilitação de segurança foi devolvida. Em suas ultimas décadas ele viveu entre seus feitos técnicos como físico e a culpa pela bomba. Trabalhou com físicos como Einstein e outros cientístas de renome. Em suas palavras: “a ciência é a arte de aprender a não cometer o mesmo erro duas vezes”. Fumante, Oppenheimer morreu de câncer na garganta em 1967.
Oppenheimer, o filme.
Na 96a edição do Prêmio Oscar, o maior vencedor foi o filme Oppenheimer com direção e roteiro de Christopher Nolan, com sete estatuetas. O melhor ator foi para Cillian Murphy no papel de Oppenheimer e melhor ator coadjuvante foi para o ator Robert Downey Jr. no papel de Lewis Strauss. O filme é um pouco extenso para contar a vida do pai da bomba atômica. Quem foi esperando mais detalhes sobre o que foi a bomba em sí, saiu um pouco frustardo do cinema. O filme mostra básicamente a história pessoal de Oppenheimer, suas relações com as autoridades envolvidas no Projeto Manhattan, com os físicos e suas reflexões divididas entre o orgulho e a culpa de ter desenvolvido uma arma tão devastadora. De qualquer maneira é curioso como um assunto que tem muito a ver com os americanos, foi um sucesso no mundo todo. O filme tem pouca cenas de ação. Por exemplo, curiosamente não há nenhuma cena das explosões das bombas sobre Hiroshima e Nagasaki. Mas a direção de Christopher Nolan é impecável. Nós meio que vivemos as consequências que a criação da bomba atômica provocou no nosso mundo até os dias de hoje. De qualquer forma o filme atingiu a marca de 1 bilhão de dólares no mundo todo. Com todas as críticas e discuções é um feito considerável no mundo de Hollywood que tradicionalmente preza pela sua superficialidade.