Causa ou negócio?
Luciano Pires -Em minha palestra A Fórmula da Inovação, apresento um trecho de uma entrevista do jogador de basquete Oscar Schmidt com a jornalista Marília Gabriela. Gabi pergunta:
– Dizem que o gol é o orgasmo do futebol. Qual é o orgasmo do basquete?
E Oscar, sem hesitar, responde:
– Jogar pela Seleção Brasileira! Gabi, não existe nada melhor que isso! Eu sou nacionalista, jogar pela Seleção… não tem prazer maior que isso. E sem ganhar nada! Sabe quanto nós ganhamos para ganhar o Pan-Americano (Jogos Pan-Americanos realizados em Indianápolis nos EUA em 1987 quando o Brasil derrotou a imbatível seleção norte-americana e ficou com o ouro)?
– Não faço ideia.
– Quinhentos dólares! Mas eu, o Marcel e o Israel não quisemos receber. É tão pouco que é muito mais bonito dizer que foi de graça… E eu tenho o maior orgulho disso. Eu vinha da Itália nas minhas férias defender o Brasil, sem ganhar nada, sem seguro! Eu sou alto, mas havia mais altos que eu, que viajavam para a China, 30 horas, de econômica, encolhidos… Mas jogar pela Seleção Brasileira, não tem prazer maior! Jogar pela Seleção Brasileira, pra mim, é o orgasmo do basquete.
Então concluo citando alguns nomes de famosos jogadores de futebol que jamais dariam uma entrevista como aquela. São profissionais de primeira categoria que defendem um negócio como ninguém, mas que jamais fariam o que Oscar fez.
Oscar era diferente, não defendia um negócio, defendia uma causa. Quando entrava em campo com a camisa da Seleção Brasileira de basquete, aquilo não era mais basquete, mas alguma coisa mágica que fazia com que ele contaminasse o próprio time, que aceitasse sacrifícios impensáveis. E assim Oscar entrou para o Hall Of Fame do basquete mundial como o maior cestinha da história.
Um brasileiro jogando na Itália…
É impossível compreender Oscar apenas pelas estatísticas, pelos jogos dos quais participou, pela efetividade nos passes, pelas cestas que fez, pelas coisas que podemos medir. O que fez de Oscar, Oscar, não foram números e estatísticas. Não foram regras. Não foi a disciplina tática. Não foram as horas de treinamento. Oscar é Oscar por causa de um fogo interior, uma força inexplicável que o guiou na direção de um propósito, que orientou suas escolhas.
Oscar só chegou aonde chegou por defender uma causa, não um negócio.
Bem, escrevo estas linhas no calor do julgamento do Mensalão, após o Ministro Celso de Mello votar a favor dos embargos infringentes que vão empurrar o processo para 2014 ou 2015 e garantir aos mensaleiros penas brandas, cumpridas (se cumpridas) fora da cadeia. Uma tremenda frustração para quem esperava que a justiça fosse feita.
Mas espere um pouco… a Justiça foi feita! O Ministro votou baseado na lei, sua argumentação está correta e suportada pelas leis brasileiras, assim como estaria se ele desse um voto contrário. O tema é cabeludo e comporta várias interpretações, por isso precisamos de juízes, de craques como Celso de Mello.
Pois é. Mas quando mais precisávamos de um juiz que defendesse uma causa, topamos com um que defende um negócio.
E o Brasil perdeu.
Luciano Pires