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Luciano Pires -

 

Luciano Pires: E o LíderCast nessa temporada chega a você com o apoio da Casa Porcini, localizada num bairro, no Botafogo, no Rio de Janeiro. A Casa Porcini possui uma estrutura de alta qualidade. Aliás, Porcini sou eu que falo. Eles lá, eles falam assim: é Porrcini. Casa Porrtini. É uma estrutura de alta qualidade para receber eventos privados ou corporativos, num ambiente exclusivo e acolhedor. Treinamentos, reuniões, workshops, jantares e degustações, podem acontecer num espaço multiuso. A Casa dispõe também de um lindo estúdio de Yoga e uma cozinha profissional, perfeita para aulas práticas e produção de vídeos. Visite o Instagram @casaporcini; se escreve Casa Porcini, com um C. Bom dia, boa tarde, boa noite. Bem-vindo, bem-vinda a mais um LíderCast, o PodCast que trata de liderança e empreendedorismo com gente que faz acontecer. Hoje a convidada é Bruna Torlay, professora de Filosofia, diretora de conteúdo da revista Esmeril e comentarista da rádio Jovem Pan. Uma conversa sobre cultura, política e sociedade, que deve deixar uns aí nervosos. Muito bem. Mais um LíderCast. Esse aqui eu estava ensaiando há algum tempo. Foi interessante. Porque eu estava pensando o seguinte: eu preciso arrumar um jeito de entrar em contato com ela. Como é que eu vou chegar no ponto? E aí, de repente, por coisas do universo, a gente acaba fazendo um contato, por meio de conhecidos, que um fala com o outro. Bom. Já rodou live, já rodou bate-papo. Eu falei: agora você vem para o LíderCast, que a gente vai ter que trocar uma ideia bem interessante aqui, sobre coisas da vida tá? Não é política. Não é economia. Mas são coisas da vida.

Bruna Torlay: Ah, que bom.

Luciano Pires: Então, também vai rolar isso aí. Eu começo com três perguntas, que são as únicas que você não pode errar tá?

Bruna Torlay: Certo.

Luciano Pires: E uma delas eu não faço questão. Se você não se sentir confortável, você não responde. Então é: seu nome, a sua idade e o que você faz?

Bruna Torlay: O meu nome é Bruna Torlay. Eu uso Torlay, porque eu tenho muita identificação com esse lado da família, eu tenho o sobrenome do meu pai. Mas não é por frescura não. É porque o Torlay a gente tem orgulho. São todas pessoas que tentaram fazer algo importante na vida. Então é meio que uma maneira de honrar. Ele vem da minha mãe. E é um pessoal trabalhador. É um pessoal que gosta de fazer realizações.

Luciano Pires: Qual é a origem de Torlay.

Bruna Torlay: Torlay é de origem húngara. Mas eles vieram ali de perto de Siena. Então são italianos de origem húngara, que chegaram no Brasil sem papel. Por isso que a gente não tem certeza de nada. Mas existe até hoje lá o champanhe Torlay na Hungria. Uma vez eu estive em Budapeste, conheci. A gente trouxe a garrafinha para casa e tal. Eu tenho 39 anos, quase 40. Eu vou fazer 40, dia 30 de outubro deste ano.

Luciano Pires: Opa. Estamos aí.

Bruna Torlay: Deste ano. Eu sou de 81. Você me perguntou o que eu faço?

Luciano Pires: Agora eu quero ver. Vamos ver.

Bruna Torlay: Essa é uma pergunta cara para mim. Eu contemplo. É uma coisa que eu gosto na vida. A coisa que me motiva. A coisa que me dá felicidade é a contemplação.

Luciano Pires: Isso é coisa de filósofo.

Bruna Torlay: Mas eu sempre procurei a compreensão. A compreensão é absolutamente aquilo que me interessa. Então quando eu formo pessoas. Quando eu abro a revista. Quando eu abro o canal no Youtube. Quando eu já fui professora. Qualquer coisa que eu faço, está ligado a essa minha motivação de tentar compreender. Compreender até as coisas mais infames e absurdas, que são todas essas loucuras que o ser humano produz. Eu lembro até hoje Luciano. Eu era criança. Criança para adolescente. Eu devia ter 12, 13 anos. Eu estava começando a ler e começando a me interessar pelo mundo. E aí eu tinha aquelas ideias juvenis. Eu falei: já sei o que eu quero fazer quando eu crescer. Eu quero viajar por aí. Simples. Quem nunca teve uma ideia? Quero viajar. Quero ver as coisas. Porque eu tinha muita curiosidade. Eu quero ver. Eu quero ver tudo. E aí uma hora, eu peguei e me dei conta. Um dia, eu abri uma folha de jornal e eu levei um choque. Porque eu vi uma daquelas fotos – até hoje eu entendo que eram fotos sensacionalistas – dessa mentalidade globalista. Mas na época eu não entendia nada disso. Eu era meio criança. E aquela foto me chocou, porque eu vi, de repente, eu vi umas crianças assim: aquelas fotos de criança africana, completamente morrendo. E eu tinha uma casa. E eu tinha uma mãe que dava atenção. E eu tinha absolutamente tudo. Naquele momento eu percebi que eu tinha absolutamente tudo. Eu falei: como é possível que essas duas coisas estejam no mesmo mundo? Eu acho que eu preciso começar entendendo o ser humano.

Luciano Pires: Que idade você tinha?

Bruna Torlay: Eu tinha uns 13. Eu lembro que foi o meu primeiro pensamento relevante. E aí eu falei: caramba, como o mundo é estranho. Porque aquilo era uma coisa. Aquela imagem, ia na contramão de todas as minhas experiências até então. E ali, claro que eu percebi que o mundo era um negócio estranho. E que o ser humano era algo que merecia investigação. Que precisava de investigação. Eu percebi: que piada. Imagina viajar o mundo. Como é que eu vou dar um passo fora da minha casa, se eu nem entendo o que é o ser humano? E naquele momento, eu já percebi que eu ia estudar Filosofia. Então foi cedo.

Luciano Pires: Que legal.

Bruna Torlay: E aí depois eu fiz escola…

Luciano Pires: Você nasceu aonde?

Bruna Torlay: Eu nasci em São Paulo.

Luciano Pires: Você tem irmãos?

Bruna Torlay: Tenho dois.

Luciano Pires: Porque a próxima pergunta seria: que apelido era o seu quando você era criança? E qual era o apelido?

Bruna Torlay: Loló. Porque eu dormia de bruços, com a bunda para cima. O meu pai que me pôs o apelido de Loló. E é muito engraçado. Porque a minha primeira filha, a Lola, ela dormia na mesma posição quando ela era pequenininha. E o meu filho – que vai fazer um ano agora no final desse ano, o Bruce – também dorme de bunda para cima, de bruços.

Luciano Pires: Loló. A pergunta é: o que a Loló queria ser quando crescesse? Você já deu o spoiler. Já chegou na Filosofia.

Bruna Torlay: É. Foi cedo.

Luciano Pires: Mas escuta: Filosofia para uma criança de 13 anos é uma coisa muito complexa para uma criança de 13 anos até chegar perto, na tua época. Hoje já está mais pop. Filosofia é uma coisa muito mais pop. Mas na tua época…

Bruna Torlay: Não Luciano. É que foi a época…

Luciano Pires: 27 anos atrás…

Bruna Torlay: Eu ganhei. Eu lembro que eu tinha acabado de ler o tal do O Mundo de Sofia, aquele livro do Jostein Gaarder. A minha mãe me deu. Porque eu sempre gostei de ler. Eu comecei a ler com uns 10, 11 anos. Eu sempre li tudo que apareceu na escola. Eu sempre gostei. Gibi. Eu tenho uma memória de infância que é tão legal. Os meus pais faziam o Paes Mendonça, que hoje tem um Pão de Açúcar. Já foi o [inint 00:06:51] e agora o Paes Mendonça, ali na Washington Luis com a Vicente Raupp. Eles faziam ali. Ou antes, onde era o Carrefour, que agora eu não estou lembrando que lugar perto aqui era. E lá no Paes Mendonça. Não. No Carrefour tinha um canto de livro. Isso eu tinha uns seis, sete anos e eu lembro até hoje. Então os meus pais eram assim: a gente entrava no supermercado. Eles deixavam eu e o meu irmão mais velho – ele é dois anos mais velho que eu – a gente ficava ali vendo os livros. E a minha mãe falava: cada um escolhe um. Aí eles iam fazer o mercado. Aí eles chegavam com o carrinho cheio. E a gente podia levar um livro. E eu lembro que eu tinha toda aquela coleção que chamava Coleção Gato e Rato. A primeira coleção de livro que eu tive. Livro de criança mesmo. Então para mim, o universo de livros sempre foi uma coisa muito presente. E aí quando saiu O Mundo de Sofia, a minha mãe me deu. Porque ela sempre foi uma pessoa muito antenada, que sabia tudo que estava acontecendo. E ela: deixa eu comprar esse livro aí. Quem sabe? E eu li o livro mesmo. Eu lembro que eu li justamente nas férias escolares, da 7ª para a 8ª série. Então eu tinha 13 anos mesmo. E eu tinha essa noção do que era Filosofia, porque eu tinha lido o livro. Eu gostei mais do aspecto do romance. Claro que aquelas teorias todas que estão ali, eu nem lembro se eu entendi ou não. Mas eu lembro que eu fazia muito esforço para vencer cada capítulo. Eu não lembro agora se foi de 12 para 13. Ou de 13 para 14. Eu acho que foi com 13 mesmo. É. Eu tinha feito 13 anos em outubro. E ganhei o livro de Natal. E eu li nas férias, na praia. Eu lembro que eu subia. Era uma casa de praia que o meu avô que tinha deixado. Minha família hoje mora na Ilhabela, numa casa linda e tal. Mas na época era uma casa que meu avô tinha em Ilha Comprida. E a gente ia pela curtição. Estava lá a casa e tal. E a casa tinha tipo uma lajezinha. E eu lembro que eu subia no muro. Subia na lajezinha e ficava lendo lá em cima à tarde, quando meus irmãos iam brincar de prancha, lá no final do dia. E eu lembro que era difícil para mim ler os capítulos. Mas eu fui entendendo o que era Filosofia lendo aquele livro. Então, quando eu me dei conta que eu precisava entender o que era o ser humano e que para isso seria bom fazer Filosofia, todas essas coisas aconteceram naquele mesmo momento.

Luciano Pires: O fato de ser difícil a leitura não te desestimulou?

Bruna Torlay: Não. Eu queria entender.

Luciano Pires: Que é a conversa de hoje em dia. Hoje em dia, a gente faz de tudo para não desestimular a leitura. Logo, não dê textão, não faça uma coisa muito…

Bruna Torlay: É bobagem…

Luciano Pires: Porque a hora que a moçada trombar ela vai desistir. Porque aquilo é desmotivador. E eu tenho a tese que você deve olhar para o conteúdo que você está acessando. E o esforço para adquirir o conteúdo. Se não tiver esforço nenhum é que nem ir na academia e não levantar peso.

Bruna Torlay: Sim.

Luciano Pires: Você fica lá fazendo. Dá até para você fazer um aeróbico. Mas sem peso, você não vai desenvolver músculo.

Bruna Torlay: É perfeita essa analogia, Luciano. Porque eu lembro até hoje. Se eu pegar esse livro hoje, imagina: eu vou achar engraçado que em algum momento ele me causou dificuldade. E foi muito engraçado. Porque alguns anos depois, já no Colegial, já no 2º Colegial, uma professora de Biologia me disse que estava lendo o livro e achava difícil para ela. E era uma pessoa que fazia doutorado em Genética. E aí eu falei: ah… eu não lembro exatamente. Eu falei para ela: eu lembro que eu achei difícil vencer alguns capítulos. Mas eu ficava criando na minha cabeça analogias para tentar interpretar aqueles conceitos difíceis que estavam sendo apresentados. Mas como o livro tem um aspecto de romance e um aspecto de mistério. E eu – como muita gente – comecei lendo romance policial, Agatha Christie, aqueles romances, coisas fáceis. O aspecto de mistério, de romance do livro, tem mantém ali. Você quer entender de quem a Sofia está recebendo aquelas cartas e tal. E logo depois, eu li outro livro desse autor, chamado O Dia do Coringa. Foi um livro que me marcou. Eu achei um livro extraordinário, porque tinha mais a ver, talvez, com a minha faixa etária. Então foi muito fácil de ler. E um me ajudou a entender o outro.

Luciano Pires: Olha que coisa interessante também. Você está colocando esse fato, de você ter aliado. Ter um enredo, com drama. Porque se você for na lógica pura, ela é muito árida. Quando você põe um pouco…

Bruna Torlay: De tinta…

Luciano Pires: De emoção…

Bruna Torlay: De cor…

Luciano Pires: Ali. Você põe emoção. Você contextualiza. Você situa. Muda tudo. Você passa a entender.

Bruna Torlay: Muda tudo. E a história é bonita. E eu estava num momento de descoberta. Eu já tinha claro para mim que eu queria entender. Entender o quê? Entender.

Luciano Pires: Então, me conta uma coisa aqui. As amiguinhas de 13 anos se encontram, todas elas estão lá, conversando e tudo. E aí começa a perguntar: o que você vai ser quando crescer? Aí uma fala: eu vou ser cantora pop. Eu vou ser atriz de cinema. Eu vou ser doutora. Eu vou ser professora. Chega na Loló e ela fala: eu vou ser filósofa. Qual é a cara que a molecada fazia?

Bruna Torlay: Eu nunca disse esse tipo de coisa. De verdade. Sempre foi uma coisa muito íntima para mim, essa ideia de que eu ia estudar Filosofia para compreender. Era uma premissa. Para mim era como se fosse uma premissa, sem a qual, eu não ia conseguir viver. Então eu falei: não. Isso é importante para a vida, não importa o que eu faça. Na questão desse: o que você vai ser quando você crescer? Eu tinha muitas ideias, no sentido de: ah, tudo bem. Se eu for desenhista tá bom.

Luciano Pires: Legal. Para você, Filosofia seria um instrumento para compreensão, não importa se você fosse ser uma médica?

Bruna Torlay: Porque eu nunca associei Filosofia com trabalho, carreira. Tanto que quando eu entrei na universidade, todo mundo começou a falar: estuda Antiga, porque tem mais concurso. Eu não entendia nada. Eu achava: que gente louca. Eu estou aqui para compreender. Essa gente é biruta. Eles estão aqui por causa de emprego? Eu nunca me preocupei muito com o que eu faria. Eu sempre tive uma vocação para lidar com pessoas, por isso que eu acabei me tornando professora e tal. E aí tive alguns devaneios de juventude, de querer fazer trabalho humanitário. Eu digo devaneios, porque eu não entendia muito bem que esses trabalhos humanitários tipo Cruz Vermelha, ONU, essas coisas têm muita política no meio. Eu me interessava pelo trabalho humanitário mesmo. Isso eu tive vontade de fazer. Só que eram coisas que eu não compartilhava com as pessoas. Então não eram coisas que eu dizia para as minhas amigas. Mesmo porque eu era aquela menina – com 13, 14 anos – que andava com um caderninho. Até era meio motivo de piada na sala. Porque eu andava com um caderninho. E eu estava preocupada em registrar meus pensamentos para compreendê-los. Então, eu sempre fui uma pessoa muito introspectiva. Esse tipo de conversa, eu não ligava. E eu sempre fui uma pessoa mais de ouvir do que falar. Eu comecei a falar mais tarde. Mas durante a maior parte da minha vida, eu ouvia. Então, eu nem lembro se elas me perguntavam. Eu lembro que quando me perguntavam, a reação era sempre adversa, do tipo: como assim? Porque eu dizia esse tipo de coisa: lidar com arte. Escrever livros. Escritora era uma coisa que eu dizia que eu seria.

Luciano Pires: Era Bruna, a estranha.

Bruna Torlay: É.

Luciano Pires: Eu quando era moleque lá em Bauru, que eu tinha um óculos dessa largura, eu também, eu lia de montão. Eu era meio diferente da molecada em geral. Mas estava lá, comum. Mas eu lia demais. E eu me lembro que uma vez, vindo para São Paulo, eu devia ter, talvez, 20 anos de idade, 19 anos de idade. Eu vim para São Paulo. E subiu no ônibus, do meu lado, um cara que eu conhecia, que era do jornal também. E ele sentou lá e veio de Bauru a São Paulo – são três horas de viagem – especulando, para tentar entender se eu era um cara normal. Mas vem cá, você namora? E eu falava: mas o que esse cara quer saber? Ele achava inusitado alguém trocar o jogo de futebol por um livro. Você vê como a coisa é interessante. Mas vamos lá.

Bruna Torlay: É. Eu trocava aquela coisa muito chata, chamada festa em danceteria. Eu achava um tédio. Eu morria de tédio. E o meu tio, na época, eu tinha um primo da minha mãe, que era dono de uma discoteca aqui em São Paulo, que estava na moda, que era a Kripton. E eu fui uma vez ou outra, de muita má vontade. Mas eu acho que foram duas vezes e nunca mais. Porque eu achava um tédio isso que as pessoas chamam de diversão. A minha maior diversão do mundo era tentar colher mais um grãozinho de compreensão das coisas. Isso sempre me divertiu. Mas não divertir no sentido de distrair. Isso sempre me fez feliz. Então a diversão, de você ter que procurar preencher um vazio é algo que eu realmente…

Luciano Pires: Bastava um livro?

Bruna Torlay: É. Então? Eu sempre soube estar comigo. E por ser uma personalidade – como diz o Olavo de Carvalho – intelectual. Depois que ele falou isso, eu entendi o que eu sempre fui. Realmente, uma personalidade intelectual.

Luciano Pires: Que legal. É bom saber. Quando você decidiu que tinha que ter um certificado, que tinha que ter um diploma na mão? Vou cursar alguma coisa, para ter algum degree, para que eu possa me encaixar na hierarquia da sociedade. Você escolheu qual caminho? Foi ser professora? Foi estudar o quê?

Bruna Torlay: Eu nunca tive esse pensamento. Porque eu acho que eu sempre fui muito idealista e muito descolada. Veja só: eu tenho uma impressão, às vezes, que se eu tivesse nascido numa outra época, num outro tipo de família, eu teria sido aquela filha indicada para a igreja. Mas igreja em que sentido? No sentido estudo. Porque realmente, nunca me perguntei: como eu vou ganhar dinheiro? Eu sei que é até imprudente eu admitir isso. Mas é verdade. Eu sempre tive essa imprudência. Eu nunca me perguntei: o que eu farei para ganhar dinheiro? Eu sempre me perguntei assim: o que fazer para ser feliz? E ganhar dinheiro é uma obrigação e você vai se virando. Então, tudo que eu fui fazer na vida foi em busca de realização. E os trabalhos que eu fui pegando por aí foram circunstanciais. O que aparecia, eu pegava. Vai ser monitora de grego. Tá, beleza. Vai traduzir um livro. Tá. Eu não estudei francês para ser tradutora. Eu estudei para poder…

Luciano Pires: Ler os originais.

Bruna Torlay: Ler… não… e para saber a língua. Eu estudei – para começo de conversa – para saber a língua. Eu não estudei grego para prestar um concurso de Letras Clássicas. É porque eu queria entender aquela língua tão estranha. E aí esse meu impulso acabou abrindo portas das oportunidades. Hoje, por exemplo, eu nunca na minha vida imaginei que eu fosse ser analista política da Jovem Pan. Mas nunca. Youtuber. Eu sempre fui uma pessoa que eu nunca tive rede social, Luciano. Eu fui fazer rede social em 2019. Porque eu estava desempregada. E aí a minha família falou: se as pessoas não souberem as coisas que você sabe fazer, você não vai ter oportunidade. Porque com essa história da polarização política, as portas se fecharam na universidade, essas coisas, escola. Eu fui tirada de uma seleção. Essas coisas chatas que acontecem no Brasil. E aí eu falei: caramba. A coisa está nesse nível. Tudo bem. E aí eu fui lá. Fiz um Facebook. Fiz uma página. Abri um canal no Youtube para as pessoas me conhecerem.

Luciano Pires: Mas você cursou alguma coisa?

Bruna Torlay: Eu cursei Filosofia. Mas não foi pelo diploma.

Luciano Pires: Você tirou o certificado de Filosofia?

Bruna Torlay: Eu tenho. Eu tenho lá o diploma. Eu fiz mestrado em Filosofia. Mas por que você fez o mestrado? Para fazer carreira acadêmica? Não. Porque a graduação não era suficiente para mim. Eu falei: na graduação eu não aprendi nada. Pelo amor de Deus. Eu preciso de mais um pouco. E aí tinha as oportunidades lá e a biblioteca era muito boa. Eu queria ficar mais na biblioteca. E aí eu fiz lá uma dissertação de mestrado, para ficar mais na biblioteca. Mas para mim trabalhar com letras, com expressão, com linguagem, com escrita sempre foi algo que surgiu. Foram as oportunidades que surgiram. Porque desde jovem, desde cedo mesmo, eu tentava melhorar escrever. Eu queria escrever bem. Escrever bem era uma coisa importante para mim. E aí eu acabei tendo a habilidade de tradução. Eu fiz muita revisão de TCC para amigo. Eu fiz revisão de doutorado. Todo esse trabalho com linguagem.

Luciano Pires: Que interessante isso aí. É legal você olhar para trás hoje, da posição que você está hoje aqui e falar: cara. Olha como cada decisão que você tomou lá atrás veio construindo uma Bruna, que na hora que surgiu a oportunidade na Pan, você estava pronta.

Bruna Torlay: Ah sim. Exato.

Luciano Pires: Aliás, você apareceu de algum lugar. Talvez a rede social. Viram você ali e falaram: essa menina tem café no bule. Então vamos buscar ela lá. É o contrário. As pessoas sentam aqui para dizer o seguinte: eu queria ser médico. Então, eu fui estudar Medicina para um dia ser um médico. E conseguir ser médico. Ou então: fui estudar Administração porque eu queria ser dono de uma empresa. No teu caso, você estava filosofando.

Bruna Torlay: Isso. Eu estava procurando, em busca de compreensão. Porque o trabalho… eu atribuo importância às coisas da vida, em níveis diferentes. Aquilo que está ligado à felicidade, à realização e à autocompreensão, para mim está no nível máximo. E aquilo que tem relação com o sustento material está num nível abaixo. Então, a partir do momento que o sustento material inviabilizar isso que eu valorizo mais, que é realização e felicidade, eu largo na hora. Eu compro uma casa pequena; e baixo o padrão de vida sem o menor problema, Luciano. Aliás, eu já faço isso. Porque se eu estivesse a fim de grana nesse momento, eu poderia estar fazendo um monte – vou falar essa palavra – de picaretagem por aí. Mas não dá. Porque não é o objetivo. Eu sinto falta de ter tempo para mim hoje. E aí, o que eu estou fazendo? Eu estou tentando me organizar. Você falou: você estava pronta para a Pan. Mas antes da Pan, eu abri uma revista em 2019. Porque, talvez, a vocação que eu tenha é ver o talento dos outros. Aí eu via: esse cara é bom. Esse cara faz isso e tal. E eu comecei a imaginar colunas para as pessoas. Eu falei: se a gente montar uma revista desse tipo e cada um vai fazer um negócio. Imagina que legal ver tudo isso. Então, quando eu fiz a revista, eu acho que eu estava pronta para a revista. E é muito engraçado. Porque aí, a minha experiência com a revista me deixou, talvez, ainda mais pronta para a Jovem Pan depois. Que é uma empresa grande, você tem responsabilidade. Mas assim, a ideia de ser – que hoje eu sou mesmo – uma editora de conteúdo da revista. Então para mim, produzir conteúdo. Analisar ou lidar com editor. Lidar com colegas é muito fácil. Porque essa é a minha rotina.

Luciano Pires: O que seu pai e sua mãe faziam?

Bruna Torlay: Essa é ótima. Os meus pais, o trabalho que eles tiveram de mais pesado… o meu avô fez uma metalúrgica. O meu avô era um cara muito simplão. Ele fez até o 4º ano primário. Era um cara muito simples mesmo. E muito trabalhador. O italiano lá, o Torlay, pai da minha mãe. E ele fez uma metalúrgica, com o intuito de deixar para as filhas. Ele queria ter um patrimônio e deixar para as filhas, as três filhas. E aí ele morreu muito cedo, de câncer no fígado. E a minha mãe naquele momento tinha três filhos. E meu pai – que era vendedor – já estava numa situação difícil. Ele falou: as crianças crescendo. A escola subindo. Inflação galopante, Plano Collor. E agora? E foi naquele momento do Plano Collor que o meu avô morreu. E aí eles – meu pai e minha mãe – pegaram a metalúrgica e falaram: a gente vai ter que fazer esse negócio aqui dar certo. O meu pai era bom vendedor. Bom de custo. E a minha mãe, muito boa administradora. Não estudou. Não fez faculdade, nada. Boa de vocação mesmo. Uma pessoa que sabe trabalhar e não tem preguiça. E aí eles pegaram. E deram certo nisso. E eles respeitaram as decisões dos filhos. Eles nunca falaram: legal. Faça Administração, porque você continua o trabalho aqui. Eles falaram para a gente: o que você quer fazer? Engraçado, os três filhos. O meu irmão mais velho fez Letras. E é professor de várias línguas. Estudou sueco, alemão, um monte de língua. Adora literatura. É um cara que escreve também. E o meu irmão mais novo fez Geografia e hoje trabalha com geoprocessamento, mapa. Ele tem cabeça de engenheiro. Mas ele é um cara muito bom com planejamento. Mas a gente fez o que a gente amava mesmo. A gente nunca foi orientado a sair de casa para ganhar dinheiro. Os meus pais deram essa moleza para a gente. Deram.

Luciano Pires: Isso é um privilégio.

Bruna Torlay: Foi um privilégio.

Luciano Pires: Porque muita gente vai para um caminho que não quer. Já teve vários que sentaram aqui e falaram: o dia que eu peguei o meu diploma eu cheguei para o meu pai e falei: pai está aqui o diploma. Agora eu vou cuidar da minha vida tá bom? Você fez sua parte. Agora deixa comigo, que eu vou ser alguma coisa, que eu não sei direito o que é. Fala uma coisa para mim: em que momento… eu quero entender essa tua aproximação para um lado mais conservador. Então, antes da aproximação, eu entendo que, através da Filosofia, você acabou descobrindo que existem determinados… tem uma escala que tem numa ponta uma extrema… eu vou botar os termos bem babacas. Porque eu posso. Como eu sou ignorante nisso, eu posso. Numa ponta você tem uma extrema esquerda e você tem uma extrema direita. Têm vários níveis ali no meio. E aqui, agrupados nesse lado tem os conservadores. Lá do outro lado estão os progressistas. Lá na ponta progeçista com Ç. Que é assim que eu chamo: progeçista com Ç. Você começou a enxergar esse desenho através da Filosofia? Ficou claro para você que havia visões diferentes de mundo? E que, depende de onde você olha, ela é classificada de um jeito? Você vai para a França e tem lá… é aquela loucura toda. Que todo mundo tenta desesperadamente botar alguém numa caixinha. Quando é que você se deparou com esse desenho e falou: eu acho que eu me encaixo. Eu acho que é aqui.

Bruna Torlay: Eu até fiz um vídeo sobre isso. Porque foi muito engraçado. Eu tive uma experiência antes de ter a minha primeira filha – com 26 anos – eu terminei o mestrado no Brasil. E eu vendo que a universidade era uma palhaçada e que Filosofia não tinha nada a ver com sair arrumando emprego para um concurso, puxando o saco de professor inútil, idiota, que te humilha ao invés de trocar conhecimento com você. Eu falei: isso aqui é uma palhaçada. Esse país é uma palhaçada. Uma coisa que eu gostaria de fazer… como eu sempre adorei Artes, eu já tinha ido para a Europa algumas vezes. Eu já tinha ido para Roma, Paris, Londres, Itália, vários lugares da Itália e eu amo pintura. Eu tenho paixão por pintura. E isso começou cedo. Eu lembro que com 14 anos, quando eu mudei de escola – fui de uma escola pública para uma escola privada – eu tive que fazer um trabalho de Artes. Porque não tinha escola de Artes na escola pública. E aí me exigiram para eu fazer um complemento lá do histórico. E o professor de Artes pediu: você tem que escolher uma obra de arte, desenhá-la e interpretá-la. E aí eu: tá bom. Ele falou: vai nos museus e tal. E aí eu fui com a minha mãe no MASP. Eu fui no Museu de Arte Sacra. Eu fui no MAM. Eu fui nuns quatro museus. E eu não encontrei nenhuma obra que me tocou. Isso eu lembro, eu tinha 14 anos. Nenhuma obra me tocou. Eu falei: ah caramba. Aí um belo dia, a gente foi na Pinacoteca do Estado. E eu vi as obras do Rodin. Que eu não conhecia, porque eu não tinha ido na exposição. E aí eu fiquei louca. Foi o artista que me ensinou a arte. E aí eu vi o Museu Rodin depois, em Paris. Mais velha. Eu fiquei louca com aquilo. Depois que eu fui entender que o Rodin era um cara que era apaixonado por Michelangelo. Eu fiquei louca. E eu sempre adorei arte. E eu gosto de literatura por isso. A literatura, você vai esculpindo aquilo que você compreende. Porque você tem a imagem. Você tem a ideia. E aí você vai ao mesmo tempo tendo pintura, poesia, tudo ao mesmo tempo. Então, quando eu vi que não ia dar certo essa história de ficar de conversa fiada em universidade, eu falei: uma coisa boa que eu poderia fazer. Eu poderia fazer um curso na Europa, já que no Brasil só se reconhece curso europeu. Aí sim eu pensei como fazer para ganhar dinheiro. Foi a primeira vez. Eu falei: o que eu poderia fazer para unir o útil ao agradável? Eu falei: eu gostaria de trabalhar como curadora num museu. Ter um emprego estável para continuar estudando. Aí surgiu. Aí eu falei: isso é uma boa coisa. E aí eu descobri um curso em Paris que era Montagem de Exposições de Obras de Arte. Eu falei: isso é perfeito. É em Paris. Eu já conhecia a cidade. Eu já tinha ido para lá antes. Eu sabia. Eu tinha as manhas do Louvre. Tinha o cartão do Louvre para o mês todo. Eu falei: bom. Beleza. Vamos lá. Eu me inscrevi e fui. Só que quando chegou o papel. Eu tinha me inscrevido para esse mestrado técnico, chama Mestrado Profissional para Montagem de Exposições de Obras de Arte. Eu ia fazer curadoria técnica. E aí quando eu cheguei lá, na verdade falaram: não. Mas você vai ter que fazer o M1 para passar para o M2, que é o 2º ano. Eu já queria ir direto para o 2º ano, porque eu já tinha um mestrado aqui. Mas quando eu cheguei lá, por essas questões de burocracia, eu tive que fazer o M1. E o M1 chamava Estudos Culturais. Eu falei: bom. Eu não sei bem o que é isso. Mas vamos lá. E era na Faculdade de Artes Plásticas da Sorbonne. E quando eu fui fazer esse mestrado, quando começou as aulas, eu comecei a entrar em contato com as teorias que hoje são chamadas teorias de gênero. Os tais dos estudos culturais, que é colonialismo. Toda essa parafernália que alimenta o pensamento da esquerda indenitária.

Luciano Pires: Que ano era isso?

Bruna Torlay: 2008. 2009. 1º semestre de 2009 eu entrei em contato. E aquilo começou a me dar mal-estar. E era uma época…

Luciano Pires: Só uma coisa: você tomou contato com isso estudando essas teorias ou só já sendo vítimas delas?

Bruna Torlay: As duas coisas ao mesmo tempo. Só que qual o problema? Eu tinha feito Filosofia. E sempre realmente, eu fui aquela aluna. Eu me formei em 1º lugar da minha turma. Mas não porque eu quisesse. Mas porque realmente, cada curso que eu fazia, eu me empenhava muito. Hegel, eu acho um saco. Mas eu ia lá, tentava entender. Kant; ia lá, tentava entender. Lógica, tirei a maior nota. Então eu era realmente aplicada. O que eu pude aprender na universidade, eu aprendi. Eu fiz grego. Fiz latim. E isso me colocou em contato com o pensamento clássico. Porque eu estudei latim. Então eu fui ler Cícero. Eu estudei grego. Eu me interessei mais ainda por Platão e Aristóteles. Então, a Filosofia Antiga, eu tive aula com um beneditino. Na época era um monge, aqui do Mosteiro de São Bento, de Santo Agostinho. Eu tive aula de São Tomás de Aquino, com alguém que conhecia profundamente. Então eu já tinha uma base da tal da educação clássica. E, de repente, uma pessoa… eu já era apaixonada por aquilo, eu já era apaixonada por Platão, eu era louca por Platão. Porque Platão era assim, o maior filósofo e o maior poeta ao mesmo tempo. Aí depois o Aristóteles é aquele filósofo super cientista, maravilhoso. Mas o Platão tem uma habilidade poética que é um negócio fora de série. Até hoje eu leio Platão e eu fico louca. Porque é pintura aquilo também. E, de repente eu, imbuída de tudo isso que é educação clássica. Eu já tinha lido Homero. Eu passei toda a graduação lendo muito romance, todos os clássicos, eu pegava nas férias. Ia lá, fazia a minha lista de clássicos. Passava lendo. Dom Quixote para mim, que é o retrato do delírio no seu aspecto positivo e negativo, bem-humorado e dramático, já era o meu romance favorito. E aí eu chego num lugar que eu vejo um bando de gente maluca apresentando aquelas teorias: colonialismo. O tal do feminismo da Judith Butler. Aquela ideia de que… como que ela falava? Eu tinha uma professora que dizia: o instinto maternal é uma construção social. O dia que eu ouvi essa frase na sala de aula, eu tive uma sincope e falei: a senhora está errada. Eu tenho instinto maternal. Eu não vejo a hora de ter um bebê. Foi antes de eu ter a minha primeira filha. Eu não vejo a hora de ter um bebê. E tudo que eu sei é que você está errada. Isso não é construção social coisa nenhuma. Então eu comecei a ficar louca com aquela gente. Uma professora em especial. E comecei a entender o que era essa coisa que eles chamam de pós-modernismo. E aí eu fui entrando em contato e fui lendo. Mas já com toda uma cabeça moldada, formada pela educação clássica.

Luciano Pires: Você tinha estudado a Escola Frankfurt?

Bruna Torlay: Não. Eu tinha visto alguns textos do Adorno, numa aula de História da Música. E tinha achado um saco. Lá que eu li o One-Dimensional Man, do Marcuse. E eu li muita coisa. E eu falei: essa gente é completamente louca. E eu entrei num conflito tão grande que a certa altura, naquele curso da Sorbonne eu seria… todos os alunos do M1 eram obrigados a ter aquela professora, pró Judith Butler, como orientadora. E eu falei: não. Como é que você vai me orientar se a sua metodologia está errada na raiz? Não dá. Essa sua metodologia, eu não vou fazer nada nesse caminho. Porque esse caminho é louco. Eu fui procurar outro professor e tal. Eles: não. Seja pragmática     . A garrafa de vinho, uma vez aberta é preciso ir até o fim. Aí eu falei: dane-se a garrafa de vinho até o fim. Eu tenho uma dignidade a zelar. Isso está errado.  Eu lembro que na época eu falei: quer saber? Eu vou mandar a merda essa Sorbonne. Eu não vou completar isso aqui. Eu vou procurar outra coisa para fazer em Paris, já que eu estou aqui. Aí eu procurei lá um curso de Políticas Culturais – que também me interessou – numa outra universidade e sem essa loucura. Abandonei o curso da Sorbonne. Fui lá e falei: eu quero que você indique a minha desistência. Fui lá na secretaria. Você vai desistir da Sorbonne? Eu falei: eu quero que se dane a Sorbonne. Vocês estão loucos. Ó o nível que vocês caíram. E é muito engraçado. E aquilo ficou. E aí eu voltei para o Brasil. E eu tive a minha primeira filha. Então eu fiquei uns tempos cuidando dela, afastada disso. Só que quando ela já tinha idade suficiente, eu falei: agora, com a criança, eu preciso trabalhar. O que eu vou fazer? E aí eu precisava encontrar alguma maneira de trabalho que não me tirasse muito tempo de ficar com ela. E aí eu vi que estava tendo algumas oportunidades boas em universidade. Mas não para entrar como concurso. E sim para ser professora substituta. Era um salário razoável. Eu podia continuar estudando.

Luciano Pires: Aqui?

Bruna Torlay: Aqui no Brasil, eu já estava aqui. Só que era tudo na Bahia, em Sergipe e etc. Aí eu tinha prestado… aí me veio a ideia: eu vou ter que prestar concurso. Mas tudo bem. Por quê? Porque o filho te impulsiona. Aí eu comecei a pensar em trabalho.

Luciano Pires: Santo boleto.

Bruna Torlay: É. Só que mesmo assim, eu falei: não. Algo que me permita estudar. E fui procurar coisas que me permitiam estudar. Aí acabei arrumando emprego na Bahia, na Universidade de Feira de Santana. E tive a experiência. É engraçado. Você perguntou quando… na universidade, na graduação, eu via aquele pessoal do DCE passando com megafone: vamos queimar o Bush aqui galera. Hoje a gente vai aqui pedir para os americanos tirarem as tropas do Iraque. Eu olhava aquilo, eu já achava aquela gente toda pirada. Greve de aluno. Eu furava todas. Greve de professores, eu era contrária, como aluna. Na minha casa, a gente falava: esses sandalinhas. A gente tirava sarro dos esquerdistas. Por quê? Porque na minha concepção – eu que passava o dia na biblioteca – eles eram um bando de vagabundos, que estavam na universidade falando demais e ouvindo de menos. Então eu achava que era uma gente desqualificada para falar por alguém. Só que eu tirava sarro. Eu não entendia que aquilo era um sintoma de todo um negócio que era feito e tal. Tinha um cara lá, que era o Quartim de Moraes, que ele dava aula lá na UNICAMP quando eu era aluna. E eu nunca fiz aula com ele. Eu falei: Deus me livre. O Quartim é um picareta. Aí eu esperava passar o semestre que ele ia dar a matéria e fazia com outro professor no outro. Assim como o Marcos Nóbrega. Eu falei: o Marcos Nóbrega? Aquele palhaço, que humilha aluno? Eu não. O cara que dava a Escola Frankfurt. Eu esperava passar o semestre e fazia a mesma disciplina com outro professor. Então eu sempre evitei a esquerda. Eu sempre fui direitinha, já na graduação. Mas não, claro, da maneira tão clara. A minha família sempre foi aquela: anti PT. Vota no PSDB. Anti sindicato. Porque meus pais tinham metalúrgica. E o que eu vi a minha mãe, que tinha boa fé, queria…

Luciano Pires: Como dona. Passar na mão dessa turma.

Bruna Torlay: É. Ela pagava curso para um. Fazia tal. Conversava. Dava emprego. Aí o cara ia lá, ia trabalhar bêbado. Ela dava outra chance. Ela: ah, ele saiu da cadeia. Coitado. Ninguém quer dar emprego para ele. Ela ia lá, dava oportunidade para o ex-presidiário. Aí o ex-presidiário fazia o quê? Chamava o amigo ladrão. Vinha assaltar. Enfim. O cara que estava na merda e ela deu uma chance pôs no pau. Então assim, eu via que esse tipo de trabalhismo e de sindicalismo criava uma situação ruim para as pessoas que davam emprego. Eu percebia que estava errado. Por quê? Porque estragava a possibilidade de os funcionários fazerem o seguinte: usar como trampolim aquele emprego deles para fazer algo melhor na vida.

Luciano Pires: Sim.

Bruna Torlay: Eu vou dizer que teve um cara que fez isso, um funcionário da minha mãe. Porque ela contava para a gente tudo. O cara chamava Adriano. Era evangélico. Ele trabalhou lá – eu acho que era no polimento – ele fez Física. Ele foi para a Alemanha. E ele se tornou pesquisador. E ele uma vez pediu: eu posso sair mais cedo para fazer um curso? Ela: eu te pago o curso. Então eu sabia por experiência de casa, que a relação entre seres humanos não é uma relação de: eu te destruo.

Luciano Pires: Seu pai e sua mãe não eram aquele modelo do dono da firma que eles pintavam para você.

Bruna Torlay: Muito menos o meu avô, que era órfão, que começou a trabalhar com 12 anos de idade.

Luciano Pires: É verdade.

Bruna Torlay: Então isso. E aí Paris coroou. Quando eu vi as teorias de gênero, aí eu fui ler a Carta Sobre a Diversidade Cultural da ONU para fazer o mestrado em Políticas Culturais. A coisa começou a girar na minha cabeça. Eu falei: meu Deus do céu, para que mundo? Para que caminho? Para onde estamos indo? Aí a minha filha nasceu. Parei um pouco. Beleza. Quando eu fui dar aula na universidade, eu me encontrei com gente da minha geração dando aula daquilo tudo. Eu falei: caramba.

Luciano Pires: Chegou aqui.

Bruna Torlay: Chegou aqui. E em 2016 – depois do impeachment da Dilma – eu era professora. Os antifas ocuparam o campus. Eu enfrentei os antifas. Eu briguei com os antifas. Eu formei um grupo de direita dentro da universidade. Eu fiz um abaixo-assinado para falar: a PM tem que vir aqui, porque está tendo tentativa de estupro nesse lugar. Porque vocês estão encobrindo os caras que passam maconha. Por quê? Porque eles votam em vocês para a reitoria. E vocês querem o quê? E por que eles queriam a reitoria Luciano? Para dar cargo comissionado para os amigos e os caras fazerem patrimônio. Então assim, tudo que o brasileiro viu no PT, eu vi na UFFS, por um grupo chamado Mais UFFS. Um bando de picaretas, que usavam o dinheiro da universidade para se fazer e fazer a vida dos amiguinhos. Sindicalistas.

Luciano Pires: Mas o discurso deles é uma delícia. É tão bom.

Bruna Torlay: É. Eu ia para votar contra.

Luciano Pires: Eles querem defender o mundo. Eles vão defender. Pausa. A gente volta. Aqui é assim, eu volto para trás e venho de novo.

Bruna Torlay: Então assim, naquele momento, em 2016…

Luciano Pires: Você entendeu que…

Bruna Torlay: Eu não tinha mais dúvida de que eu não apenas rejeitava a esquerda, como eu estava com a cosmologia da ordem e não a do caos.

Luciano Pires: Perfeito. Deixa eu voltar lá atrás. Foi em passant. Mas é fascinante. Vamos filosofar um pouquinho? Eu não sou filósofo tá? Quando você falou que você estava procurando as pinturas e não achou nenhuma que te tocasse. De repente, você vai numa exposição de Rodin.

Bruna Torlay: Porque a Pinacoteca comprou depois da exposição.

Luciano Pires: E aquilo te pega.

Bruna Torlay: É.

Luciano Pires: Vem cá. Aquilo que você viu era um tecido cheio de rabisco, igual a todos os tecidos cheios de rabisco, que você olhou anteriormente e que não te tocaram. Por que esse tecido te tocou? Eu tenho uma tese tá? Eu vou passar ela para você. É o seguinte: eu acho que quando o sujeito atinge um nível de genialidade como esse ou como um Leonardo Da Vinci, Rembrandt, esses caras todos. Isso vale para a música. Vale para qualquer expressão cultural. Quando o cara atinge esse tipo de genialidade, onde aquilo não é um papel pintado. Mas é a expressão pura dele, ele transmite algum tipo de energia praquilo. E essa energia te pega. Então você está vendo 10 quadros. De repente tem um que você fala: o que está acontecendo aqui? Eu estou arrepiado. O que está acontecendo aqui? Você vê o quadro lá. Ele te captura. Porque algo te pegou. Sabe a história do sorriso da Monalisa?

Bruna Torlay: Sim.

Luciano Pires: É uma mulher rindo. Quando você bate o olho naquilo, meu Deus do céu. O que é isso que está passando aí? Para mim é um tipo de energia que na literatura, no texto escrito sabe? Cervantes escreveu. E aquilo te captura de uma forma tal, que você fala: mas… por que eu choro ouvindo um sujeito cantar uma música? Todo mundo canta e não acontece nada. E quando é ele que canta, eu choro. É um tipo de energia que eu acho que passa. Até por aqui. Pelo microfone passa e atinge as pessoas. Essa é a minha tese. Mas eu não tenho a menor ideia se isso funciona ou não. O que te pegou na obra do Rodin?

Bruna Torlay: É engraçado. Porque foi uma escultura pequena chamada Bacanal. E era engraçado. Era um centauro raptando uma ninfa. Então era uma coisa básica da mitologia. Mas eu comecei a girar em volta daquela escultura. E comecei a ver que eu tinha que seguir a lógica. Eu estou usando palavras que eu não usaria na época. Mas eu tinha que seguir para compreendê-la. Eu era obrigada a andar numa tal direção, para eu compreender aquele trabalho por inteiro. E aquilo me intrigou.

Luciano Pires: Ele está pegando você pela mão e: venha comigo.

Bruna Torlay: Durante muito tempo eu tive um apreço mais pela escultura. Porque eu não sabia ver pintura, essa era a questão. Porque eu fui no MASP. No MASP tem Leonardo, no MASP tem Rafael. Depois, um pouco mais tarde, lá pelos 18 anos, a primeira vez que eu fui para a Europa com os meus irmãos, a gente ficou um mês em Londres. Eu fui na National Gallery. E ali quando eu vi o Leonardo, quando eu vi Rafael, quando eu vi Tintoretto, depois de eu ter visto Turner, que eu digo que é o pintor que me ensinou pintura, assim como Rodin foi o artista que me ensinou arte. O Turner foi quem me ensinou a entender o que era pintura. Porque como Turner pinta a luz, mas ele ainda é figurativo. Ele pinta o mar, a natureza, faz marinas. Eu entendi o princípio da pintura, sem perder o prazer de ver algo retratado, que eu entendia; que era o mundo real. Então foi por aí que entendi o que era pintura. E aí eu comecei a gostar de pintura. Mas quando eu tinha 14 anos, eu não tinha capacidade de entender pintura. Mas a escultura eu tive. Por que eu tive a capacidade de ver a escultura? Não sei. Eu não sei por que eu tive. O que eu percebi é que ali o Rodin, eu entendi a obra. E eu entendi que era movimento. Eu falei: isso aqui é uma cena da mitologia. Mas isso aqui é mais. Isso aqui é movimento. E movimento é um princípio vital do corpo. E era uma cena – se você reparar – é uma cena super sexual. E a sexualidade é o quê? Tem a ver justamente com o princípio de movimento do ser humano. Com você estender a existência. E tudo isso, na verdade, eu captei tudo aquilo. Mesmo que eu fosse nova. Eu entendi. Eu lembro até que quando eu fui fazer o trabalho. Foi muito engraçado. A minha mãe quis melhorar a minha conclusão. Quis me ajudar. Então, eu escrevi exatamente o que eu tinha interpretado; que era o princípio do movimento e tal. Porque o fato de ser a sexualidade, o cara que rapta a ninfa, para mim era tudo pretexto para exprimir o movimento. Para mim estava muito claro aquilo.

Luciano Pires: Você fez só daquela escultura?

Bruna Torlay: Só daquela escultura. Eu desenhei ela primeiro.

Luciano Pires: Você não fez das bailarinas, nada. Você fala movimento, bailarina então…

Bruna Torlay: Mas aí é que tá. A gente não tinha o Degas ainda. Porque aquilo foi em 1996. O Rodin já tinha vindo para o Brasil. E a Pinacoteca comprou algumas das esculturas. Pequenas. Eram pequenas. Eu acho que eram umas oito esculturas pequenas que tinha lá. Eu não peguei a maiorzona. Era uma pequena. Mas aquela eu consegui entender. E eu achei bonito. Porque foi difícil entender. Porque a ninfa ela estava nas costas do centauro de uma maneira, que era difícil o quê? Perceber onde começava um e onde terminava o outro. E o movimento, troca de energia. É tudo isso. Esse princípio vital do ser humano e que está na base do amor. É isso. Você não sabe onde começa uma coisa e onde termina a outra. E eu saquei tudo aquilo naquela escultura. Mas sem malícia. Sem nenhuma malicia. Eu lembro que foi muito engraçado. Porque minha mãe – já adulta – ela tentou melhorar a minha conclusão. E ela escreveu lá: inclusive essa escultura demonstra um pouco de repressão – aquelas coisas freudianas – por parte do artista. E eu fiquei vendo. Eu não falei nada. Eu falei: tudo bem e tal. Mas eu falei: está errado. Não tem nada disso aí. O que importa, o que tem nesse trabalho é que o cara conseguiu pegar uma coisa imaterial, que é o movimento, e transformar em algo belo. Que é uma escultura linda, que eu teria na minha casa e poderia passar o dia todo olhando para ela. Porque é impressionante a capacidade, a genialidade, de você captar algo que você não vê. E retratá-lo por meio de algo que você vê e toca. Então foi isso.

Luciano Pires: Mas muita gente vê essa mesma escultura e não vê nada disso.

Bruna Torlay: Como eu não via nada nas telas maravilhosas que estavam na minha frente. E eu não conseguia ver.

Luciano Pires: Qual é a combinação? Que combinação é essa? Você vai falar que é maturidade? É ter estudado o assunto?

Bruna Torlay: Eu acho que é porque eu fazia cerâmica, talvez.

Luciano Pires: Ou é inato? Estava em você?

Bruna Torlay: Não. Eu acho que é porque eu já tinha feito um curso de cerâmica. E eu tinha algumas noções do que era modelagem. Desde criança… a minha mãe, ela sempre gostou da metodologia Waldorf. Então ela sempre colocou a gente em terapia artística. A gente sempre teve muito contato com arte. E eu sempre fui uma pessoa muito tátil. Eles dizem que é sinestésica. Eu sempre gostei. Quando eu era criança, eu ficava embolando cobertor. Então eu gostava dessa coisa do toque. E eu adorava modelar. Quando tinha argila na escola, eu adorava. Então, eu acho que eu tinha sim, algum treino para compreender a representação por meio da massa e do volume. Isso não era totalmente estranho para mim.

Luciano Pires: Você não tinha estudado o Rodin para entender circunstância, como ele era? O momento em que ele fez? Você não tinha ideia?

Bruna Torlay: Não. Eu não tinha ideia.

Luciano Pires: Você viu a peça e se encantou por aquilo?

Bruna Torlay: É. Eu falei: essa peça me diz algo. E aí eu fiquei ali girando em volta dela. Eu desenhei em três ângulos. Porque era uma escultura.

Luciano Pires: É interessante isso. Isso dá para a gente viajar de montão. Tem uma série chamada Billions, na Netflix, que conta a história de um cara. É um especulador financeiro bilionário. É muito rico. A série é bem interessante. E no último capítulo aqui, ele tinha contratado um artista que pintava Pollock, alguma coisa desse tipo aí. Achava o cara legal. O cara fazia uns quadros malucos. Aí tem um rolo todo. Eu sei que o artista não entrega as obras. Vai embora. Destrói as obras todas. E uma delas está caída no chão. Ele chutou um balde de tinta. O balde caiu em cima e fez um borrão gigantesco na obra. E aí o cara vai lá. O artista foi embora? Cadê ele? Viu no chão. Manda emoldurar. Eu quero isso no escritório. E aí tem uma cena que o pessoal vai e coloca aquilo na parede do escritório. Então é um monte de rabisco com um borrão em cima. E ficam os caras olhando lá. Essa coisa valeria milhões. E olhando para aquilo, ele falou: esse negócio é bonito.

Bruna Torlay: Eu acho o Pollock maravilhoso, Luciano.

Luciano Pires: Mas você olha para aquilo e fala: isso é um monte de rabisco. Mas é legal. E aí aparece o cara pintando. E todo o detalhe dele. Ele vai fazer uma curva. Então, tem um ritual para fazer a curva. Onde ele não está jogando tinta naquilo lá. Ele está construindo algo. E se esse algo entrou em sintonia com você, ele te pega.

Bruna Torlay: E outra coisa. Quem – de uma metrópole como São Paulo, desse lugar cinzento, emaranhado, labiríntico – fica na frente do Pollock e, de repente, não sente familiaridade? Porque a primeira vez que eu vi um quadro do Pollock – foi alguma Bienal, sala especial – aquilo… e olha: eu era… bom. Eu já tinha tido a experiência com o Rodin. Mas eu gostei daquilo. Eu achei interessante, porque eu falei: isso é o caos urbano. Foi a primeira coisa que me passou. Isso que está ali é o que eu penso quando eu estou no meio dessa cidade insana e ouço os barulhos – que a gente sente numa metrópole – me parecia que tudo estava ali no subjetivo.

Luciano Pires: Sim.

Bruna Torlay: Mas então assim, a arte, a partir do momento que ela é expressão da realidade. Ou de alguma maneira ela é a conformação de uma possibilidade da realidade, você vai se conectar com ela. Porque a realidade é algo que nos atravessa.

Luciano Pires: O detalhe é esse. Cada um entender da sua forma ou do seu jeito. Por isso que é tão difícil questionar essa questão do belo. Eu gosto de tal coisa. Eu não gosto. Eu odeio isso. Mas eu acho muito bom. Eu acho que tem essa conexão que eu te falei. Eu não sei como é que funciona isso. Mas tem alguma coisa que me conecta. Muito bem. Você está no LíderCast. O LíderCast é lançado por temporadas. Os assinantes da Confraria Café Brasil e Café Brasil Premium têm acesso imediato à temporada completa, assim que ela é lançada. Os não assinantes receberão os programas gratuitamente, um por semana. Para assinar, acesse mundocafebrasil.com e conheça nosso ecossistema do Café Brasil Premium através do site ou pelos aplicativos para IOS e Android. Você pratica uma espécie de MLA, Master Life Administration, recebendo conteúdo pertinente, de aplicação prática e imediata, que agrega valor ao seu tempo de vida. São VídeoCasts, sumários de livros, PodCasts, e-books, eventos presenciais. E a participação em uma comunidade nutritiva, onde você faz um networking com gente como você, interessada em crescer. Vamos voltar ali no seu período em que você descobre ali. Monta o teu grupo de direita para combater os caras, etc. e tal. Você me parece que ali botou para fora essa coisa: eu tenho que resistir a esse tipo de loucura.

Bruna Torlay: Aquela ocupação…

Luciano Pires: Eu preciso criar uma resistência a esse tipo de loucura. Você está falando de?

Bruna Torlay: 2016. Depois do impeachment da Dilma. Eles ocuparam a universidade. Mas para entender bem Luciano. Não é que eles ocuparam a universidade como aquele pessoal pago pelo Soros e pelo MST, que especula na Bolsa, que foi brincar na Bovespa outro dia. Não foi isso que aconteceu. Eles pegaram um monte de entulho. Fecharam a porta da universidade. Não deixavam ninguém entrar, nem sair. Tinha laboratório. Tinha material estragando. A minha filha estudava numa escola dentro da universidade. As crianças tinham que andar um quilômetro a pé embaixo do sol de Feira de Santana. Porque ela entrava meio dia. Eu não me conformei. Tem uma história engraçada a esse respeito. O primeiro dia da ocupação eu fui de carro. E a gente não pode passar para eu levar ela na escola. Aí eu simplesmente peguei ela pela mão. Atravessei. Fui até uma moto que estava estacionada, que era algum dos seguranças e falei: você não vai deixar eu entrar com o meu carro? Então você me dá a chave da sua moto, que eu vou levar ela de moto. Mas eu não vou a pé. Eu não vou a pé porque esses infelizes querem, os antifas ali da… eu falei: eu não vou a pé. Se você não abrir esse portão infame para mim… você me dá agora a chave da sua moto. Engraçado. E o cara simplesmente foi lá e ligou a moto para mim. Eu peguei a moto do cara na portaria.

Luciano Pires: Você foi com a moto dele?

Bruna Torlay: Fui. Mas foi uma questão de honra. E aí eu fui dentro. Deixei ela na escola. E passei buzinando para os antifas e falando: está vendo? Vocês querem que eu ande a pé? Eu não faço o que vocês querem não, seus palhaços. E à tarde, eu venho com a minha. E aí eu fui. Eu tinha motocicleta já na época. E aí o que eu fiz nesse dia? Eu fui para casa. Porque eu estava com a minha mãe. E a minha mãe estava de carro lá. O meu irmão na época fazia mestrado. Ele tinha o carro dele lá. E fui. Quando eu fui buscar a Lola, eu fui com a minha motocicleta e atravessei a barreira. Eu atravessei. Eu tirei a cancela e atravessei. E eu comecei a fazer isso todo dia. Antes desse grupo de direita, eu fiz um movimento das mães, que exigiam que a porta ficasse aberta para a escola. Então assim, essa questão da escola das crianças, da falta de sensibilidade daqueles palhaços, quererem usar estrutura que atendia toda uma comunidade para eles fazerem a brincadeirinha, aquilo eu já não aguentei. Aquela tirania. Aquele autoritarismo. Eu estava dando Hobbes naquela época. Eu escrevi uma carta aos alunos, todos os meus alunos de Filosofia. Eu falei: por que sou contra a ocupação? E escrevi um e-mail explicando. Vocês são autoritários. Vocês são ditadores. Vocês estão pondo em prática a justificação da teoria da ditadura que a gente está vendo em Thomas Hobbes. Vocês não enxergam isso? Então vocês têm que começar o curso de novo. Então eu já me posicionei muito claramente para os meus alunos de Filosofia. Eu falei: essa ocupação que está acontecendo é uma insanidade. Porque eu me dedicava Luciano. Cada semestre eu preparava um curso diferente. Então eu tinha, talvez, a expectativa – que eu acho que é natural – de que as pessoas estavam prestando atenção no que eu estava dizendo. Ou, pelo menos, que elas fossem pensar em aplicar para a vida cada coisa que elas aprendiam com a Filosofia. E aí eu vejo que elas iam lá, faziam gracinha com o livrinho embaixo do braço. E depois, para fazer gracinha para o amigo ou por medo de represália, ninguém ia na assembleia votar contra a ocupação. Legal. Férias. Vamos ficar em casa. Aquilo eu fiquei louca. Porque eu falei: pelo amor de Deus. Então eu falei: vou embora daqui o ano que vem. Vocês vão ficar com as porcarias de professores que vocês tinham. Porque reclamavam. Falavam que os professores eram ruins. Que ninguém dava aula direito. Que eu era a única que ia lá. Eu tinha esse carinho dos alunos. Aí eu falei: tá bom. Também vocês vão ficar sozinhos. Porque olha o que vocês estão apoiando aqui. Eu não vou ficar nessa insanidade. Eu não vou emburrecer junto com essa gente louca aqui. Mas fiquei lá mais um ano. E depois vim para São Paulo. Porque eu percebi que… porque eu não era concursada. Eu não tinha estabilidade. O processo administrativo ali viria…

Luciano Pires: Você na sala dos professores devia ser uma festa. Você entrava…

Bruna Torlay: É. Eu arrumei bastante briga lá.

Luciano Pires: Muda o assunto, que o assunto chegou.

Bruna Torlay: É. Mas antes de ter esse problema da ocupação. Não é que eu arrumei briga. Não é bem isso. Tinha muita coisa errada. Tinha muito professor assediando aluna de uma maneira errada. Quando eu digo errada é assim: é usando do poder mesmo. Isso era descarado. Assédio de colega para colega. Professor disputando licença prêmio. O que me irritava mais. Isso é um negócio que me irritava. Eu falava: os caras só vêm na reunião… eles não vêm na reunião para definir quem vai dar cada matéria conforme sua competência. Eles vêm para dizer: quem é o próximo a tirar licença? Então eu via que era um esquema de vagabundagem. De gente encostada. Ou de gente querendo poder. Querendo: eu vou ser diretor do departamento, para ter mais mil reais no salário. Eu via aquela mesquinharia toda e eu jogava merda no ventilador mesmo. Quando tinha reunião assim… teve uma vez que eu não fui, porque eu não pude ir. Os caras me atribuíram uma disciplina que eu não ia ter como dar sem ferrar toda a minha rotina.  E eu já estava com o máximo de disciplinas na minha grade. Aquele dia, eu escrevi um e-mail chamando todo mundo de incompetente para baixo. E eu era uma substituta. Eu não tinha doutorado. Então, eu acho que para todo aquele pessoal da área de Filosofia, eu era muito… como que eu posso dizer? Eu não deveria ser tão…

Luciano Pires: Intragável. Você era intragável.

Bruna Torlay: É. Não. Mas todo mundo gostava de mim no começo. Porque eu assumia tudo. Eu fazia tudo. Eu ajudava a organizar evento. Eu nunca fiquei contestando: esse é esquerdista, isso e aquilo. Eu não ligava. Eu falava: isso não é problema meu. O meu problema é não fazer proselitismo em sala de aula. Isso que eu não posso fazer. Eu tinha uma amiga – é muito engraçado – ela é feminista. Uma pena. Porque é aristotélica. Eu não sei como ela combina os dois. Mas ela concordava comigo em todas as coisas. Porque ela era muito séria. E ela era uma boa professora. Flora o nome dela. Ela concordava comigo em todos os pontos. Porque ela via a baixaria correndo solta. E ela falava: esses caras são uns vagabundos. Esses caras não estão interessados em montar uma graduação decente. E ela também era substituta.

Luciano Pires: Você sabe que aconteceu um fenômeno interessante agora, especialmente nos tempos de pandemia, que a molecada foi toda estudar de casa. O tal do estudo à distância.

Bruna Torlay: Deus me livre.

Luciano Pires: E que, pela primeira vez, muitos pais tomaram contato direto com os temas que os filhos estavam recebendo em sala de aula.

Bruna Torlay: Começaram a ver.

Luciano Pires: Tem histórias malucas. O quê? Você está vendo isso aqui? Essa semana eu tive uma história de uma amiga, que o filho está lá na aula de Educação Física. Em vez da aula de Educação Física, a discussão era a mulher. O tipo de roupa que as meninas de 10 anos estavam usando. Como é que o homem vai para cima. A sexualidade. A forçação de barra da sexualidade. E ela ficou chocada. O meu filho tem 10, 11 anos. O que é isso? Eles nem olham para as meninas. Por que trazer para uma aula de Educação Física essa discussão? E aí ela entrou no grupo de pais e mestres e botou o comentário lá.

Bruna Torlay: E aí?

Luciano Pires: E aí que foi tocada. Vieram para cima.

Bruna Torlay: Jura?

Luciano Pires: Ela mostrou para mim uma resposta desse tamanho. Linda a resposta. Emocionante a resposta. De uma mãe defendendo que tem que ser assim.

Bruna Torlay: É uma progreçista com Ç.

Luciano Pires: De uma mãe defendendo. Essa é sem Ç. Porque essa aí era educada. A parte com Ç é a absoluta falta de noção. Mas ela escreve. É lindo. Para defender. A minha filha tem 10 anos. Uma amiguinha dela de 10 anos foi bolinada por um professor. E só por ela ter sido alertada, ela entendeu o que estava acontecendo, etc. e tal. E aí você olha para aquilo. Eu não sei o que acontece com o meu filho lá na sala de aula. E aí vem um lance, o Escola sem Partido, que causa uma celeuma gigantesca. Quando você lê a história toda. Esses caras estão querendo botar um cartaz na sala de aula.

Bruna Torlay: Só isso?

Luciano Pires: E tem um escândalo brutal. Que não pode deixar. Porque é isso. Porque estão ameaçando tirar esse palco. O que eu não quero ser injusto é generalizar essas coisas. Então você descreveu uma situação lá de Feira de Santana.

Bruna Torlay: Sim.

Luciano Pires: Mas você já tem experiência em outras universidades. Quer dizer, essa coisa, ela é restrita a alguns lugares? Ela é coisa de algum gueto? Ela é coisa de uma meia dúzia? Ou ela está alastrada e tomou conta de todas as escolas? Todas as universidades?

Bruna Torlay: São duas coisas diferentes Luciano. Uma pessoa que vi para uma universidade sabendo o que ela quer e encontra alguns bons professores, não necessariamente vai sair de lá doutrinada. Por que não necessariamente? Ela pode até entrar em contato com isso. Mas de alguma maneira, a pessoa que está buscando conhecimento, ela como que sabe – eu não sei por que intuição maluca – ela sabe que tem de, no começo, só ouvir. E fazer silêncio. E não sair dizendo nada para ninguém. Ela sabe disso. E mesmo quando ela discute, ela discute meio que praticamente para treinar. Mas ela não está levando as próprias ideias a sério. Ela está prestando atenção no mundo e captando o máximo de experiências possíveis para comparar depois. Eu percebo isso, porque não foi algo que aconteceu comigo. Foi o que aconteceu com pessoas – que hoje eu percebo – que têm consciência das próprias ideias, do caminho que seguiram. E não foram doutrinadas. É possível você estar num ambiente de doutrinação sem ser doutrinado, justamente por quê? Porque o ser humano tem aquela coisinha chamada livre arbítrio. E essa coisinha chamada livre arbítrio, a partir do momento que você não exercita a sua consciência é que ela fica apagadinha. E você acaba, por razões de estar na turma, ser benquisto, passar rápido na matéria, fazendo copia e cola para o professor. Por mediocridade. E quando eu falo mediocridade não é intelectual. É moral. Quem não se conhece cai em qualquer truque. Quem não procura se aprimorar vai pelo caminho mais fácil. Então eu acho que é uma mistura das duas coisas. Existe esse ambiente de doutrinação, generalizado sim. Mas o fato de, no Brasil, ele ser tão disseminado, também tem relação com o momento que a gente tá, da cultura. Em que as pessoas não se olham mais no espelho. Não se perguntam quem são? Não se perguntam para onde querem ir? Não se perguntam o que é felicidade para elas? Que a felicidade não é algo absoluto.

Luciano Pires: Estão com pressa.

Bruna Torlay: Ela é um horizonte. Estão com pressa.

Luciano Pires: Não tem paciência.

Bruna Torlay: Não tem paciência. Querem estar com 25 anos: eu vou influenciar o mundo.  Você tem 25 anos. Vai arrumar o seu quarto. Isso que o Jordan Peterson fala é uma coisa básica. As pessoas têm que ter consciência. Então eu acho que é uma mistura de soberba. Todas as qualidades que a gente associa à imaturidade. Então tem muita gente imatura no Brasil. Essas pessoas têm filhos.

Luciano Pires: É. Eu digo que o Brasil é um país adolescente.

Bruna Torlay: É. Você tem razão.

Luciano Pires: E que produz adolescentes de 40 anos de idade. Adolescentes de 50. Adolescentes de 60. Você consegue olhar para a história do Brasil e entender. O Brasil tem 200 anos. Ele não tem 500. Ele tem 200 anos.

Bruna Torlay: Sim. Isso.

Luciano Pires: Outra: consciência política se existe alguma no Brasil, é de 2013.

Bruna Torlay: Isso.

Luciano Pires: Começou em 2013. É outro dia. Então não deu tempo. Está todo mundo embasbacado com o que está acontecendo. Achando que gritaria…

Bruna Torlay: Deslumbrado…

Luciano Pires: Exatamente. É o que está acontecendo. E aí é muito fácil você cair refém desses formadores de opinião, que são deslumbrantes. O cara fala bem. O cara tem a retórica. Ele fala bem. Ele traz um discurso que é impossível ir contra. Até porque, se você falar… eu acho… eu sei que a vacina vai salvar o mundo. Mas eu quero me reservar o direito de não tomá-la. O dedão vem na tua cara. Você…

Bruna Torlay: Vem. Vem.

Luciano Pires: É tudo aquilo. Todos os istas. Eu vou puxar a brasa para a nossa sardinha aqui. A Bruna faz um trabalho – que eu também faço, do meu lado, talvez, com um enfoque um pouco diferente, mas é o mesmo trabalho – que é proporcionar para as pessoas um tipo de educação que ela não vai ter na escola. E esse tipo de educação, você dá acesso a conteúdos, a visões de mundo, a textos, a sumário de livro, a explicações…

Bruna Torlay: Entrevistas…

Luciano Pires: Entrevistas. Que você não vai achar na escola. E essa coisa paralela é exatamente o alimento que você precisa para criar esse teu escudo contra…

Bruna Torlay: Contra a burrice generalizada.

Luciano Pires: Quando eu boto o escudo, aí o cara vem me manipular. Eu falo: eu até serei manipulado. Mas eu estou sendo conscientemente.

Bruna Torlay: Isso. Você sabe.

Luciano Pires: Eu sei que esse cara está tentando me vender um treco.

Bruna Torlay: Sim.

Luciano Pires: Eu sei que eu vou comprar. Mas eu tenho consciência de que eu estou obedecendo a um tipo de manipulação. O problema é quando você não tem consciência.

Bruna Torlay: Sim. É refém.

Luciano Pires: E aí você comete um crime, achando que está salvando o mundo. E você não vai achar isso aí disponível na escola. Ninguém vai te ensinar isso.

Bruna Torlay: Não.

Luciano Pires: Então a resposta que eu dei para essa minha amiga, eu falei para ela: você precisa falar cada vez mais com o teu filho sobre esse assunto que ele está tendo na escola.

Bruna Torlay: Isso.

Luciano Pires: Ele só tem 10 anos? Mas ele tem que entender o que está acontecendo ali. E não é para dizer que aquilo tudo é ruim. Não. Entenda o contexto. Como isso está sendo contado para você. O que tem por trás? De onde vem essa história? O que isso pode provocar? Essa molecada de 10 anos está sendo olhada como potenciais estupradores, com 10 anos de idade.

Bruna Torlay: Pelo amor de Deus.

Luciano Pires: E as meninas estão dizendo isso. Você vê que loucura? Só que quem está ouvindo a gente aqui, deve ter uns progressistas que estão ouvindo a gente aqui e já estão gritando do outro lado lá – é sempre essa história – vocês estão generalizando. Não é assim que acontece. Mas cada vez mais vêm indicativos de que esse tipo de manipulação existe para todo lado. E se você sair do ambiente universitário – agora vai ficar bom – ambiente universitário, da academia – agora vai ficar legal – e você for para outras áreas da sociedade, isso está mais claro ainda. Vá para a imprensa.

Bruna Torlay: É. E empresa? E corporação?

Luciano Pires: Vá para as empresas.

Bruna Torlay: Nossa…

Luciano Pires: Isso começou. Isso está acontecendo. Eu sou palestrante profissional há 30 anos. Então há 30 anos eu negocio com empresas para fazer minhas palestras. A mudança foi absurda. A queda de qualidade do contratador é um negócio absurdo. Antigamente eu ia fazer uma palestra num evento, os caras me botavam para falar com o presidente da empresa, que vinha me dar uma visão estratégica do negócio dele. Hoje eu caio na assistente do supervisor de RH, que está preocupada. Eu falo: ela bota o palestrante no mesmo nível que a coxinha. Se a coxinha vai estar quente ou não é tão importante quanto se o palestrante é bom ou não.

Bruna Torlay: É isso mesmo.

Luciano Pires: Aí você pede: me dá dica estratégica? Não tem. Aí eu tenho uma hora e meia lá, eu preciso ocupar com esses caras. Eu quero motivar as pessoas. Como? Cadê?

Bruna Torlay: Como assim: motivar? O que a sua empresa faz? Qual o trabalho de cada uma? São quantos em cada setor? Pelo amor de Deus. Eu não sou da área e sei.

Luciano Pires: Mas a lacração é maravilhosa, entendeu? Então isso está tomando conta da sociedade em todos os lados. E tem uma origem, que a gente sabe de onde vem. Como é que isso foi construído. E as pessoas não percebem. Então, a mãe que escreve defendendo tudo aquilo. Sim senhor. Tem que falar. Ela não sabe o que ela está propondo. E essa consciência não é – e acho que nunca vai ser – hegemônica. Ter a consciência de que isso acontece. A hegemonia está do outro lado, que defende as baleias. Defende que o ser humano é horroroso. Veio aqui para destruir a Terra. Logo, quanto menos ser humano tiver, melhor é. É um grande nó, que você não vai resolver estudando na universidade particular.

Bruna Torlay: Não.

Luciano Pires: Vai ter que buscar em outros canais.

Bruna Torlay: É. E dentro de si mesmo, em primeiro lugar.

Luciano Pires: Dentro de si mesmo. Aí nós vamos chegar na Bruna influenciadora digital.

Bruna Torlay: É estranho para mim essa…

Luciano Pires: Criou a sua revista. Aí nós estamos no mundo dos blogs, que é uma coisa antiga…

Bruna Torlay: Primeiro eu criei o canal do Youtube. Eu tive um blog. Não teve repercussão nenhuma. Quando eu fiz o Youtube foi devagarzinho, mas de maneira consistente.

Luciano Pires: Sim. E aí você encontra um canal de expressão, que tem o caminho dele. Ele tem a forma de ser feito. Tem mil truques ali, que a gente não sabe direito como funciona. Você bota um conteúdo maravilhoso e tem mil views. Aí vem um moleque com um conteúdo pavoroso em tem 100 mil views. E aí você não sabe onde jogar o questionamento. Mas ali você começa a experimentar um caminho interessante. Você com uma revista num site. Como é o nome da revista? Esmeril.

Bruna Torlay: Tem um portal. A Esmeril. Você tem um site da Esmeril. A gente tem as matérias abertas. Que é matéria sobre comportamento e tal, resenha, que é para o público geral. Não sou eu que cuido. Esse site são vários colaboradores e tal. O pessoal tem liberdade. Mas a revista eu concebi, eu criei, eu edito texto por texto, de duas a quatro vezes, um por um. Eu seleciono os colaboradores. Ela tem começo, meio e fim. Ela é temática. Enfim, eu posso dizer que é algo que eu dirijo; a revista.

Luciano Pires: Mas essa revista já é um negócio?

Bruna Torlay: É.

Luciano Pires: Já é um business?

Bruna Torlay: Eu tenho assinantes. Ela se paga. Eu pago os meus colaboradores. Eu pago contabilidade. Eu tenho uma pessoa cuidando do marketing. Ela tem um salário. Aos poucos a gente está crescendo. Mas a minha maior alegria é saber que… eu tudo bem. As pessoas sabem meu nome. Eu estou na Jovem Pan. As pessoas me conhecem um pouco mais. Mas tem algumas pessoas que escrevem para a Esmeril que são absolutamente brilhantes. São pessoas que eu tenho uma admiração, que eu não consigo nem descrever aqui. São pessoas geniais. Pessoas muito boas. Mas que não são conhecidas. E aí outro dia, eu fui dar um curso, que eu dou lá uns cursos livres no Instituto Veraz. E aí eu falei: eu não sei se vocês já viram esse colunista tal, que escreve. Eu falei o nome dele, que é o Paulo Sanchotene, que é um super escritor. É um cara que faz Diálogo. Ele é sensacional.

Luciano Pires: Eu li um texto dele sobre os impostos.

Bruna Torlay: É. Não. Mas essa parte aberta é mais opinião política. Na revista ele produz diálogos ao modo de Platão, sobre o tema do mês. E o cara é muito bom. Esse mês foi tão engraçado, porque ele fez um diálogo entre um paulista e um gaúcho, para o gaúcho explicar para o paulista qual é a concepção de liberdade do gaúcho, mas com base na história da terra do Rio Grande do Sul. Eu falei: Paulinho, pelo amor de Deus. Pela primeira vez agora, eu vou ter que ter simpatia por gaúcho. O que você fez? Ele é um cara extraordinário. E aí eu fui dar aula e eu citei e aí a pessoa reconheceu. Ela falou: sim. Esse cara é muito bom. Eu li com o meu marido e me emocionei. Uma aluna me falou. Então o que eu estou feliz é que a Esmeril é maior do que eu. Têm pessoas tão boas ou melhores do que eu lá escrevendo. Então a ideia da revista é simplesmente: eu só caço talentos, para colocar todo mundo junto. E os assinantes leem. Porque eu controlo o número de views. Eu sei quantos assinantes eu tenho, qual é o banco de dados. É um negócio muito pequeno, que está crescendo devagar.

Luciano Pires: Sim. Que é a atuação desses independentes que estão por aí.

Bruna Torlay: Isso.

Luciano Pires: Mas aí você faz um canal no Youtube e começa a botar os teus vídeos.

Bruna Torlay: Sim.

Luciano Pires: E ali Bruna Torlay como personalidade, começa a aparecer?

Bruna Torlay: Ali sim.

Luciano Pires: Ali que você começa. Quanto tempo faz isso?

Bruna Torlay: Eu fiz o primeiro vídeo em março de 2019.

Luciano Pires: Foi ontem. E o teu canal está com quase 100 mil hoje?

Bruna Torlay: Uns 85 mil, por aí.

Luciano Pires: E ali começa a dar visibilidade para você. As pessoas começam a ver que essa menina tem opiniões interessantes. Eu te conheci pelo canal. Como pinta esse convite da Jovem Pan para você? Como é que ele chega em você?

Bruna Torlay: Isso é muito legal. Foi totalmente inesperado. E na verdade foi o seguinte… o cabo Anselmo você conhece? A história do cabo Anselmo?

Luciano Pires: Sim.

Bruna Torlay: O cabo Anselmo, quando eu vi ele no Roda Viva, eu fiquei tocada. Porque eu falei: como alguém trata tão mal um ser humano que tem uma história tão trágica? Porque o cara viveu coisas trágicas. E eu fiquei com aquilo. E aí eu conheci o Roberto Lacerda. O Roberto Lacerda conhecia o Anselmo. O Roberto Lacerda, do Movimento Conservador conhecia o Anselmo e tinha um monte de conto do Anselmo para publicar. Eu falei: mas o Anselmo é um super escritor. Ele escreve maravilhosamente bem. Eu falei: Roberto publica tudo aí. Vê quanto ele quer? A gente paga e tal. E aí eu falei: eu quero entrevistar ele. E convidei ele para uma entrevista no meu canal. E fiz uma entrevista sem tocar em nenhum assunto sensível, só falando da relação dele com a literatura. Tratei ele com base no que o ser humano tem de mais digno, que é a expressão da liberdade, por meio da arte. Foi isso. E acho que aquilo fez bem para ele. E aí quando chamaram ele para o Direto ao Ponto da Jovem Pan, ele pode indicar alguns jornalistas. E ele me indicou para a Paula, produtora da Jovem Pan. Na verdade, foi muito engraçado. Porque eu estava lá em casa um belo dia e chegou uma mensagem da Paula, produtora do Direto ao Ponto. Bruna, a gente vai entrevistar o cabo Anselmo. E ele indicou o seu nome para você estar na bancada. Você gostaria? Eu falei: Direto ao Ponto, do Augusto Nunes? Claro que sim. Caramba. E eu fiquei grata. Eu falei: que legal. Mas eu percebi que o Anselmo fez aquilo meio que em retribuição de eu ter tratado ele com a dignidade que ele merece.

Luciano Pires: Que legal.

Bruna Torlay: E aí eu fui na bancada do Direto ao Ponto. E a Paula – pelo que eu entendi – a Paula percebeu na minha participação no programa, que eu poderia ser uma comentarista boa. E me indicou. Mas foi muito engraçado. Eu fui no Direto ao Ponto segunda-feira. Quarta-feira, eu recebi uma mensagem do diretor da Jovem Pan, do Humberto Candil dizendo: Bruna gostaria de conversar. Você pode vim aqui? Não. Eu acho que eu recebi na terça, para ir lá na quarta. Aí eu fui lá quarta de manhã. E ele falou: a gente está procurando talentos novos. A Paula me disse que você tem potencial. Mas a gente quer te testar antes. Tudo bem? Eu falei: como assim? Não. Você faz participações, mas sem pagar. Eu falei: claro. Imagina. Para mim é o maior prazer. A Jovem Pan é uma emissora legal. Os meus pais gostam da Jovem Pan. Eu vou fazer isso para eles. Eu fiz para os pais mesmo. Porque a minha realização é sentar e escrever. Mas eu falei: eu devo isso aos meus pais. O meu pai estava nas últimas. E ele ficou super feliz.

Luciano Pires: Que legal.

Bruna Torlay: E aí eu comecei a fazer participações. E me saí bem. E aí um belo dia, o Candil falou: eu quero que você venha trabalhar aqui, que você fique fixa no Três em Um. Foi tudo muito rápido. Foi tudo entre maio e junho. Então eu fui para essa entrevista do Direto ao Ponto – não sei se foi no final de abril ou no começo de maio – fiz um mês e meio de teste. Uma semana me chamavam aqui, outra ali. E aí um dia que eu fui no Três em Um, eles gostaram e me convidaram para trabalhar lá, de maneira fixa.

Luciano Pires: Que legal.

Bruna Torlay: Foi isso.

Luciano Pires: Mas você recebeu essa pauta? Que a tua função lá seria análise política?

Bruna Torlay: É. Política.

Luciano Pires: Isso te incomodou?

Bruna Torlay: Não me incomodou. Porque eu fazia no canal. Porque o meu canal – esse é o problema – o meu canal, o que eu faço? O meu canal é o seguinte: quando eu percebi a injustiça que faziam com o Bolsonaro. Goste-se ou não dele. Ele é tratado de uma maneira injusta, atrozmente injusta. Eu falei: meu Deus do céu. O que eu posso fazer? Eu posso pegar a minha experiência com os clássicos e explicar o Bolsonaro, as atitudes do governo, da maneira correta. Com base. Então eu fazia isso no meu canal. Então, por exemplo, quando acontecia algum problema, eu ia lá. Que horror, ele indicou a pessoa tal. Não. Espera aí pessoal. O tempo da política são 20, 30 anos. Aí eu dava um exemplo do que aconteceu na Inglaterra e tal. Então eu tentava explicar o que estava acontecendo no governo com base na realidade. Então quando eu fui chamada para a Jovem Pan, eu só me perguntei: lá eu vou ter pouco tempo. É mais opinião do que fundamentação. Então eu tive que encontrar uma fórmula de não deixar de fundamentar, para não cair no erro de achar que opinião resolve muita coisa. Porque acima da opinião está a verdade. A nossa opinião perto da verdade não vale nada. Então se você não emite uma opinião com fundamento na verdade, a sua opinião não tem valor.

Luciano Pires: E é isso que deixa os progreçistas com Ç alucinados. Você sabe o que aconteceu com você e o cabo Anselmo, aconteceu com o Augusto e o Bolsonaro. Foi a mesma coisa. O Bolsonaro apanhava de todo lado. E o Augusto foi fazer uma entrevista com ele. E ele não sabia do Augusto. Um tal de Augusto Nunes vem. E ele entrevistou o Bolsonaro – eu acho que candidato ainda – e o Bolsonaro teve a primeira entrevista sem puxada de tapete. Sem armadilha. Sem dedo na cara.

Bruna Torlay: Ah, coitado.

Luciano Pires: E o Augusto fez uma entrevista…

Bruna Torlay: Profissional, correta…

Luciano Pires: Perfeita…

Bruna Torlay: Humana…

Luciano Pires: O Bolsonaro… tanto que você vê…

Bruna Torlay: Dá…

Luciano Pires: Só que para a turma aí é puxação de saco… a Jovem Pano, passação de pano.

Bruna Torlay: Isso.

Luciano Pires: Deixa eu aproveitar o embalo aqui, que nós chegamos na Pan. Eu fiz uma palestra recente aqui chamada No Lugar do Outro, que fala sobre se colocar no lugar do outro. Ali eu vou explicar por que tanta gente briga tanto. Então eu volto no tempo. Eu vou me meter nessa história. Falar isso para você. Eu volto lá na Roma Antiga, eu falo do nudus, que era a escola dos gladiadores. Mas também era escola das crianças. Então a criança naquela época aprendia as artes da guerra. A gente construiu a nossa história aprendendo a se proteger. Então o hemisfério ocidental tem esse lance, de que o embate é para eu ganhar de você. Não é um embate para que nós juntos cheguemos a um final. Hoje em dia é assim. Então, se eu ligar para ver um debate, para assistir o Três em Um…

Bruna Torlay: É porrada…

Luciano Pires: É porrada. Eu quero ver você destruir o outro.

Bruna Torlay: Isso.

Luciano Pires: Então, eu não estou tão preocupado nesse momento em saber se o teu argumento é bom eu quero ver…

Bruna Torlay: Sim. Você bater no outro…

Luciano Pires: E humilhar…

Bruna Torlay: Que é a história do Morning Show. O pessoal gostava, porque a Bruna vai lá bater no Joel.

Luciano Pires: Isso aí.

Bruna Torlay: E eu não gostava. E eu deixei claro no programa. Eu falei no último dia da participação. O pessoal é muito legal. O pessoal é muito gentil. O Paulo Matias, eu já trabalho com ele no Três em Um. Ele é um doce de pessoa. A Paula Carvalho também é muito gentil. O produtor e tal. Mas eu deixei claro no programa: eu não estou feliz no Três em Um. Porque ali não é o meu lugar. Eu não quero bater no Joel. E a partir do momento que eu tenho um colega de trabalho que fala que é filósofo – termo que eu não uso. Filosofia é uma prática. Eu sou uma estudiosa. Eu estou praticando, para ver se eu chego lá – aí eu vejo um cara arrogante, que diz um monte de mentira. Que repete narrativa. Que faz sofisma. Viola a lógica aristotélica. Se coloca como filósofo. Eu fico triste. Porque eu percebo que eu não vou ter diálogo. Porque eu falo: a gente só tem diálogo se a gente tem a honestidade dos dois lados no princípio.

Luciano Pires: Sem dúvida.

Bruna Torlay: Então eu vou te falar Luciano, não é algo que me deixa feliz ter embates, quando eu sei que o outro lado parte da desonestidade. Que é a impressão que eu tenho de muitos debatedores. Agora, têm outros que não. Têm outros que você consegue discutir, que você consegue mostrar o argumento.

Luciano Pires: Sim. Alguns. E quando isso acontece é uma delícia você…

Bruna Torlay: É muito bom.

Luciano Pires: Você ver os comentários da turma. Eu tomei uma posição há muito tempo atrás. Quando eu defini claramente qual era o meu lado. Então eu fiz um programa falando. Eu estou colocando o meu aspecto, eu estou mais para liberal conservador. Logo, a janela pela qual eu olho o mundo é essa. A minha conversa vai ser enviesada para esse lado. É assim que funciona. E agora eu vou falar do assunto tal. E tomei uma decisão lá falando o seguinte: eu não vou bater em ninguém. Eu não vou xingar ninguém. Eu não vou brigar com ninguém. Porque no momento em que eu fizer isso, eu vou começar a falar para os convertidos.

Bruna Torlay: Sim.

Luciano Pires: E só vou contar com a minha torcida.

Bruna Torlay: Sim.

Luciano Pires: Eu quero falar para a outra torcida também. E aí criei um PodCast e tudo mais, que eu falei: o cara que é contra tudo aquilo que eu falo, ele consegue vir e me ouvir. Porque eu não vou em momento algum ofendê-lo. Eu vou colocar uma posição. Ele tem a liberdade de vir e falar: você só falou bobagem. Eu não acredito em nada do que você falou.

Bruna Torlay: Por este ponto, este…

Luciano Pires: Mas eu gosto de te ouvir. Sabe por quê? Porque você me obriga a exercitar. E eu saio da nossa discussão cerebral sabendo que você está errado. O que reforçou o meu argumento. E quando você acerta, eu posso até rever meus argumentos. Só que eu não me senti em momento nenhum…

Bruna Torlay: Ofendido. Espancado.

Luciano Pires: Ofendido. Espancado. E o que acontece? Nós treinamos a audiência para que ela goste de espancamento. Ela quer treta.

Bruna Torlay: Eu não sei se a gente treina a audiência. Eu acho que a gente sabe que o pão e circo é algo arraigado na cultura. E que toda vez que a gente explorar essa arena, a gente vai ter audiência.

Luciano Pires: Claro. E aí você está numa rede…

Bruna Torlay: Que usa; que explora…

Luciano Pires: Que precisa da audiência. Então, por isso é interessante. Eu não vou botar dois carinhas mornos conversando, para juntos chegar num lugar comum. Eu quero pau.

Bruna Torlay: Mais ou menos. Porque veja só, o Três em Um teve uma época, que a gente estava com a Amanda Klein. Aí a Amanda Klein e o Constantino não davam certo.

Luciano Pires: Sim.

Bruna Torlay: Aí ela falou: não dá para trabalhar com o Constantino. E ela saiu do programa. E aí ficou durante um tempo, eu, Jorge Serrão, e Rodrigo Constantino. Deixou de ser um programa de debate e virou um programa de análise. O número de inscritos aumentou. A audiência permaneceu igual. Só mudou o tipo da audiência. Muitas pessoas não querem necessariamente pão e circo no embate. Elas querem a verdade. Então aquele público que assiste o Pingos nos Is, que eles chamam de Panos nos Is. Mas na verdade são pessoas que estão fazendo análise conforme a sua consciência ali. É aquilo que a gente tem. Esse público começou a ver o Três em Um. Foi maravilhoso. Eu vou falar aqui e o público vai rir. No dia seguinte que a Amanda foi embora foi o dia que a gente mais meteu o pau no governo Bolsonaro. Porque a gente estava livre para fazer as críticas corretas, sem precisar ficar rebatendo as narrativas da imprensa. Porque a Amanda é uma jornalista muito competente. Eu já tive contato com ela. É uma pessoa muito gentil, de boa convivência. O pessoal fala mal dela, mas é uma pessoa muito profissional. Então, o que ela fazia? O papel dela era simplesmente fazer aquele apanhado geral de tudo que saiu na imprensa tradicional, que é oposição a Bolsonaro. E aí o nosso trabalho acabava sendo dizer: isso está errado por isso. Então a gente não conseguia…

Luciano Pires: Elaborar a análise…

Bruna Torlay: Elaborar nem análises construtivas e nem críticas construtivas. Porque a gente estava o tempo todo na narrativa e contra narrativa. Eu sei que a Amanda saiu e mudou a tônica do programa. Porque a gente começou a fazer análise. A gente pode criticar o governo Bolsonaro pelas razões certas. Quando eu falo razões certas são razões que para os liberais conservadores são dignas de crítica. Aquilo deu um alivio Luciano. Foi tão bom. Porque ninguém quer ficar dizendo: Bolsonaro é meu herói. Mito, mito. Pelo amor de Deus. Bolsonaro é um ser humano – coitado – está lá fazendo o que pode. Mas é um governo de transição. Tem muito erro. O cara sempre foi lobo solitário. Tem dificuldade de articulação. A gente sabe os limites dele. Só que a questão nossa é o seguinte: está lá fazendo o que pode. É honesto. Admite a fraqueza. Erra e acerta. Errou? Vamos falar do erro. Acertou? Vamos falar do acerto. Não é assim: é alguém para ser demonizado. Essa que é a diferença de atitude. Agora, quando a gente está no embate obrigatório para a audiência ver a pancadaria, a gente perde a oportunidade de fazer com que as pessoas entendam melhor de política. E aí a gente transporta o futebol…

Luciano Pires: É. O meu objetivo é fazer você se ferrar. Eu quero arrancar a tua bola. Eu quero que você erre o chute. Eu preciso que você erre.

Bruna Torlay: É engraçado. Agora a gente tem um colega, que é o Fábio Piperno…

Luciano Pires: Que é o tio da Amanda.

Bruna Torlay: Que eles chamam de tio da Amanda. Mas ele é um cara muito engraçado. Outro dia ele falou: Constantino, você tem um cu no estômago. A gente morreu de rir. Porque foi engraçado. E ele é um cara que quando você põe o argumento, quando ele vê que você venceu pelo argumento, ele não pede a réplica. Então eu não sei se ele pensa. Eu não sei qual que é. Mas eu sei que ele é uma pessoa fácil de trabalhar. É diferente. O Três em Um, a gente não está no plano da pancadaria. Tem divergência. Mas muitas vezes, as críticas que ele faz ao governo são coisas corretas.

Luciano Pires: Você está curtindo estar lá?

Bruna Torlay: Eu gosto de fazer o programa. O que eu não gosto nesse momento da minha vida é ter pouco tempo de estudo. Isso é um pouco complicado. Porque São Paulo é muito grande. A gente perde muito tempo em transporte. E a minha rotina está desorganizada por ter uma criança pequena. Então para tudo ficar perfeito, só o tempo vai trazer tranquilidade.

Luciano Pires: E como que é sair na rua e as pessoas olharem e falarem: você é a Bruna? Você começar a ser reconhecida?

Bruna Torlay: Eu vou dar dois exemplos. Teve o dia da manifestação do 7 de Setembro. Eu fui fazer a cobertura, com Jorge Serrão, que é o melhor colega de trabalho que eu já tive. Um cara extraordinário. Eu fiquei tão feliz quando ele estava lá. Eu falei: Serrão. Que legal. Vamos lá fazer. A gente fez a cobertura. Então acabou a cobertura na hora que acabou a manifestação. Acabou às seis. Eu estava no horário das quatro as seis, escalada. Desci ali na Joaquim Eugênio de Lima. Ia encontrar o meu marido ali num barzinho do lado, jantar com os amigos. E a hora que eu desci e abri a porta, as pessoas começaram: Bruna. Eu falei: o que é isso que está acontecendo? Foi a primeira vez. Eu falei: hã? O que esse pessoal está falando? Porque eles estavam acompanhando a cobertura. Então ali foi o primeiro impacto que eu tive. Eu falei: nossa. E outra história engraçada. A faxineira estava lá em casa, limpando. Ela precisava de pano. Eu fui. Eu virei a esquina, com roupa de ficar em casa. Aquele escracho. Com carrinho de bebê. Imagina. Eu sou simplona. E fui lá pegar o pano que ela precisava na loja de material de pano de limpeza. Só que eu fui sem máscara. E eu já vim falando: eu não vou entrar na sua loja, porque eu não quero pôr máscara. Esse bairro é gostoso e tal. Eu preciso disso, disso e disso. Aí o cara virou e falou: como é seu nome? Eu falei: Bruna. Mas a Bruna do Três em Um, que eu ouço aqui no rádio? Ele me reconheceu pela voz. Onde eu deixo, no estacionamento também, perto da Estação Adolfo Pinheiro. O cara me reconheceu pela voz. E a coisa mais engraçada. Ontem eu comprei um mouse novo, que eu estava sem. E ontem, o meu marido falou que o pessoal foi entregar o produto lá da Amazon e ele disse que a moça quando foi entregar para ele falou: aqui é a casa da Bruna Torlay? Aí ele: é. Aí ela falou para o colega – que acho que era o marido que estava entregando – você viu? Não te falei que era ela mesma? Então eu acho muito engraçado. Porque eu falo: que grande merda fama. É uma bobagem. Você ser conhecido ou não é uma bobagem. Reconhecimento é quando você faz algo de bom para as pessoas. Quando, por exemplo, eu dou uma aula. Eu faço alguém entender. E eu percebo que as pessoas saíram da aula emocionadas, aquilo me toca o coração, mais do que quando alguém me pede uma foto. Por quê? Porque quando alguém só me pede uma foto, eu não tenho nem como saber se ela acha legal ter encontrado alguém que é conhecido – ou que ela pensa que é conhecido – ou se o que eu falo é importante para ela. Agora, quando alguém me diz: isso que você falou naquele dia foi legal e tal. Eu fico feliz. Porque é como se você… aquilo que você pensou, de alguma maneira, reverberou na vida de uma pessoa de maneira positiva. Então isso é legal. Você sentir uma conexão positiva.

Luciano Pires: Sabendo que não é só a tua imagem. Você não está lá pela imagem, mas pelo trabalho.

Bruna Torlay: Imagem é bobagem.

Luciano Pires: Legal ter essa consciência. Porque muita gente naufraga a hora que fica conhecida e tudo. Aí é complicado.

Bruna Torlay: Outro dia foi engraçado. O Paulo Matias falou. Olha: um creme. Ele começou a brincar. Porque eu acho que ele ganhou um creme de botox. Ele tem 30 anos. É um creminho que você passa. Bruna, isso aqui é o canal. Começou a brincar. Porque ele é supervaidoso. Eu falei: Paulo, eu quero ficar o mais enrugada possível. Às vezes, as pessoas falam: como a Bruna está bonita. Eu olho e falo: pelo amor de Deus. Com essas olheiras, acima do peso. Essa gente é louca. Pessoa gentil. Mas eu não ligo não.

Luciano Pires: Vamos caminhar aqui para os nossos finalmentes aqui. Fala uma coisa Bruna. Está uma loucura. O ambiente está uma loucura. Eu não acho que é uma divisão política. Eu acho que tem uma minoria que grita muito.

Bruna Torlay: Isso.

Luciano Pires: E que está presente em tudo quanto é lugar. Que cria esse ambiente em que…

Bruna Torlay: Insalubre…

Luciano Pires: Eu não posso. Eu não vou nem dizer o que eu penso. Porque se eu disser, eu vou ser crucificado. Então, a espiral do silêncio. Essa coisa toda está tomando conta aqui, que atinge a nós que somos adultos e pensamos etc. e tal, de uma forma que…  Eu acho que a gente nunca passou por um momento como esse que nós estamos vivendo agora sabe? É aquela combinação: esse clima político, rede social, todo mundo dando opinião, tudo ao mesmo tempo, agora. Pauleira, briga para todo lado. Está muito complicado isso. Como um adulto. E tem os filhos da gente que estão vindo aí e quando você olha dá até desespero. É nesse ambiente que essa molecada vai crescer? O que você recomenda para mim que tenho filhos e que estou preocupado? E que não acompanho essa molecada na escola? Que estou sofrendo essa pressão toda de um lado? Sou obrigado a calar a minha boca? E, ao mesmo tempo, eu estou preocupado com os meus filhos? O que nós temos que fazer?

Bruna Torlay: Luciano, isso que você descreveu. Que é o que você está dizendo que as pessoas estão vivendo no Brasil hoje; muitas pessoas. Esse é o ânimo normal da política. Trapaça, pancadaria. Aquela história que o Paulo Francis falava, ele tinha razão: política é guerra. E ponto final. Então todas as pessoas que estão envolvidas com política, elas vivem isso 24 horas por dia. Olha que engraçado. Vindo para cá, eu estava ouvindo lá o discurso da CPI, o Renan Calheiros falar. E aí quando eu ouvi ele falar eu falei: mas esse cara é um mercenário de 5ª categoria. E ele faz isso há 40 anos. Então não é nem o momento. Ele sempre viveu naquilo. A gente é que não morava na antessala do inferno chamada política.

Luciano Pires: Em 2013 abre-se um caminho político?

Bruna Torlay: A gente passa a frequentar essa antessala. E a gente passa a sentir o cheiro do enxofre, que pertence a esse mundo da disputa pelo poder. Que eu sempre digo que ele é antagônico ao universo da salvação da alma. E a partir do momento que as pessoas acham que a salvação está na política, elas chafurdam no inferno. Então você pode dar a sua voltinha ali pela antessala do inferno, sem se deixar envolver. Se você não perde de vista que a salvação da alma, a nutrição da consciência, a busca pela liberdade é algo que depende de você. Epíteto, um estoico. Foi escravo a maior parte da vida. Ele foi escravo de um homem tão violento, que o cara quebrou a perna dele. Então ele era manco. O Epíteto, estoico. E é dele que a gente tem o legado da Filosofia estoica na formação de Roma. O cara era um escravo. Platão foi vendido como escravo por causa das pilantragens de um tirano. Foi se meter com político. Então veja: se você chegar perto dessa coisa chamada política, que é disputa de poder, que é algo que envolve soberba. Os sete pecados capitais todos, vaidade, etc. sem ter dentro de si a consciência de que não é isso que vai te levar ao bem. E sim a salvação da própria alma. Aí você se perde. Por que o Aristóteles foi um cara tão extraordinário? Porque ele disse: a política pode não ser essa antessala fedida de enxofre, se os homens que estiverem nela são aqueles que não descuidam da salvação da alma, os virtuosos. Agora, se homens maduros… quando homens maduros estão na política, o ambiente é menos insalubre? Sim. Mas a gente não tem garantia nenhuma de que isso vai acontecer. Então, a gente tem que cuidar, sobretudo, a da própria alma, da nossa alma. E ninguém cuida da própria alma vendo CPI o dia inteiro. Brigando no Twitter o dia inteiro. Algumas pessoas têm a reconexão por meio da religião. E vão na missa e etc. Outras por meio do trabalho intelectual. Outras por meio da leitura da escritura. De qualquer maneira, você tem que entender que moralidade, o bem e o mal, estão dentro de você. E se você expande o bem dentro de você, o mal – que está fora de você – vai te afetar menos. Vai te deprimir menos. Vai te entristecer menos. É muito engraçado. Se eu passo uma semana, duas, sem ter nenhuma experiência de transcendência, por meio de conhecimento ou alguma outra forma, eu vou ficando triste. Trabalhando ou não com política. A felicidade da alma está justamente em você manter ela viva. Então esse desespero…

Luciano Pires: E você não está falando nem de direita, nem de esquerda, nem de centro, nada disso.

Bruna Torlay: Não. Porque qualquer envolvimento com política no mundo moderno é conservação de poder. É poder pelo poder. A gente não está mais em Aristóteles. A gente não tem mais a doutrina social da igreja como quis o [inint 01:30:51] e muito antes dele, São Tomás de Aquino, mediando a insanidade que permeia a política. A gente não tem isso. A igreja foi afastada. Você tem a separação da igreja e Estado. A igreja não media mais nada. Não modera mais as disputas dos príncipes. A gente vem desse mundo, passando pela experiência totalitária, enfim. E, a partir do momento, que o elemento de resguardo da moralidade e da salvação da alma, perde a sua voz em tudo que diz respeito à moderação dos conflitos, a gente vai cair numa animosidade e numa animalidade total, nisso que a gente chama de política. E aí política é guerra. Aí você tem a 1ª Guerra. Aí você tem a 2ª Guerra. Elas são exatamente o ápice do que a mentalidade política moderna criou. E a gente ainda está imerso nela. Então é o que eu digo: não aposte suas fichas na política. Eu quero fazer com que o pensamento conservador tenha mais lugar. Tá bom. Viva isso. O que significa ser conservador? O que significa isso? Cuidar das coisas que são valorosas para nós. Tudo bem. Faça isso. Outro dia eu fui numa audiência da esquerda. Aquela história que eles querem substituir monumento. Tira o Borba Gato, põe não sei quem. Põe o Zumbi dos Palmares. Aquela história deles. E eu falei: eu vou dizer uma coisa para vocês. A partir do momento… vamos dizer que o Borba Gato seja um genocida, um desgraçado. Isso tudo que vocês estão falando. A figura do mal. E essa pessoa que vocês querem pôr no lugar seja a figura do bem. A partir do momento que vocês derrubam um para pôr o outro, vocês rebaixam a dignidade desse aqui. Porque se esse aqui tem valor foi porque ele sobreviveu a esse aqui. Vocês, a partir do momento que querem expulsar o sofrimento do mundo, expulsar os símbolos de pessoas que nos trouxeram sofrimento, do mundo, vocês estão perdendo a dimensão do valor que têm as pessoas que sofrem; que vivem a condição humana, que lidam com a adversidade e que sobrevivem. Vocês estão desvalorizando a força moral dessas pessoas. Ficaram todos pianinho. Quietinhos. Não vi ninguém rebater meu argumento. E ainda saiu na ata da audiência. Porque é verdade. Sejam lá quais foram os ícones que eles querem. Então acima da disputa política, a gente tem uma coisa muito mais importante, que é entender o que é a condição humana. E quando a gente perde essa conexão, nossa vida não tem valor nenhum.

Luciano Pires: É verdade. Leia Viktor Frankl.

Bruna Torlay: E muitos outros.

Luciano Pires: Muito legal. Vamos ver onde é que a Bruna anda, quais são os planos? O que vem pela frente? A revista é o Esmeril ponto?

Bruna Torlay: revistaesmeril.com.br. Chama Esmeril. É uma revista mensal, temática…

Luciano Pires: Digital.

Bruna Torlay: Digital. A gente vai partir para a impressa logo mais. Estamos trabalhando nisso. Mas qual que é a característica? Qual que é o diferencial dela? Ela é temática. Então, por exemplo, o que aconteceu em setembro? Qual foi o fato mais importante de setembro? Foi o 7 de Setembro. Milhares de pessoas saíram na rua gritando: liberdade. E aí, a edição de setembro se chama Primavera da Liberdade. E aí a gente fala de perseguição política. A gente fala de repressão. A gente fala de derrubada de símbolo. Eu entrevistei uma pessoa do Movimento Conservador, enfim, todos os temas relacionados à liberdade. E o quanto é difícil você preservar a liberdade. O tema anterior – de agosto – foi Piratas de Brasília. Uma edição que traz inclusive uma entrevista com o grão articulador que é o Michel Temer. [Inint 01:34:35] Lava Jato, que lidou com pirata. Enfim, a partir desse tema, Piratas de Brasília, a gente entender o que é o fenômeno centrão. O que quer dizer isso? O que é articulação? O que política tem a ver com pirataria? Então, dependendo do que está acontecendo no Brasil, a gente escolhe um tema para ir além.

Luciano Pires: Que legal.

Bruna Torlay: Para levar as pessoas além daquela notícia. Porque a notícia pela notícia, ela não alimenta você. Mas se você usa a notícia como gancho…

Luciano Pires: Sim. Para…

Bruna Torlay: Para uma reflexão…

Luciano Pires: Para uma reflexão. Sim, sim.

Bruna Torlay: Fica legal.

Luciano Pires: Sim, sim. Então, revistaesmeril.com.br.

Bruna Torlay: Esmeril. Sai uma vez por mês. É para assinantes. Mas é super baratinho. O pessoal assina lá. Quem não quiser assinar entra para conhecer o portal. Tem lá conteúdo gratuito. A gente tem até um antiquário. Porque você sabe que eu sou restauradora de livro. Então eu caço livro antigo em São Paulo e ponho à venda. Se a pessoa compra, eu ainda restauro o livro para a pessoa e mando.

Luciano Pires: Que legal.

Bruna Torlay: Ali tem a nossa loja também. Mas tem o meu canal do Youtube.

Luciano Pires: O seu canal é Bruna Torlay?

Bruna Torlay: Bruna Torlay no Youtube; tem Instagram também. Pelo Instagram dá para saber tudo. Inclusive os cursos que eu estou dando no Veraz. Eu estou dando curso, palestra lá regularmente.

Luciano Pires: Fala do Veraz um pouquinho, antes de terminar aqui. O Veraz é uma casa do saber um pouco diferente?

Bruna Torlay: Sem doutrinação.

Luciano Pires: Sem doutrinação. Vamos lá.

Bruna Torlay: É uma casa do saber voltada a pessoas que se sentem desamparadas ao procurarem cursos livres de Filosofia, Cultura Geral, etc. E só terem de lidar necessariamente com professores esquerdistas. São pessoas que não querem conhecer algum tema, algum assunto da vida, necessariamente na peneira da esquerda. E aí o Veraz tem pessoas que estão ali pelo estudo. Que querem ali falar de condição humana, de Filosofia, de História, de Religião. Mas sem proselitismo. Proselitismo é quando você usa uma sala de aula, um grupo de pessoas para promover a sua ideologia. Não tem isso lá. Foi feito pela Andressa. É um lugar bonito, agradável. Têm cursos livres o tempo todo.

Luciano Pires: Existe um local físico?

Bruna Torlay: Sim. É na Luís Coelho, número 256, se não me engano. Mas assim, Instituto Veraz. Vocês acham no Instagram, @institutoveraz. Basta seguir, vocês vão ver toda programação lá. Tem muita gente legal dando aula lá. Eu sou uma delas.

Luciano Pires: Dá para assistir online também? Tem a versão online?

Bruna Torlay: Não tem. Porque a ideia é ser presencial. O que a Andressa…

Luciano Pires: Tem pouca gente sempre?

Bruna Torlay: Tem bastante gente já.

Luciano Pires: Não. O que eu quero dizer: o público ali são quantos? 30, 40 pessoas de cada vez?

Bruna Torlay: Algumas salas você chega até 70. Depende. Você tem uma sala muito grande e uma sala pequena. A sala maior é para palestras. Aí tem a sala mais íntima, que é para quando são grupos de 15, 20 pessoas, dos cursos. Palestra tem enchido mais. Mas começou esse ano. Então, quem não conhece tem a chance de pegar no comecinho.

Luciano Pires: Que legal.

Bruna Torlay: E ter ali o contato direto com os professores. Isso que é legal. É o contato direto que a gente tem.

Luciano Pires: São essas iniciativas que estão dando caminho. E estão acontecendo muitas coisas. Tem muita gente independente montando estruturas para se…

Bruna Torlay: Com a cara e com a coragem…

Luciano Pires: Com a cara e com a coragem. E tomando de todo lado. Você viu o que aconteceu agora: o Brasil Paralelo foi parar na CPI.

Bruna Torlay: Ah é? Hoje?

Luciano Pires: Não. A CPI mandou quebrar o sigilo do Brasil Paralelo. O que tem a ver? Na CPI?

Bruna Torlay: Uma produtora. Um negócio absurdo.

Luciano Pires: É um risco a ser corrido. Mas se não for nós não vamos ter para onde correr não.

Bruna Torlay: A gente tem que fazer o que a gente gosta. É legal fazer o que você gosta.

Luciano Pires: Vamos botar a cara e buscar aquilo que você comentou lá atrás. Eu quero que chegue aquele e-mail falando: que texto fantástico. Me abriu um caminho. Ouvi algo que eu não pensei que eu ia ouvir.

Bruna Torlay: Isso.

Luciano Pires: Que é a qualificação da tua audiência. Não é a quantidade dela. Eu não estou interessado em um milhão de seguidores zumbis. Mas as pessoas interessadas em te provocar, para fazer você crescer.

Bruna Torlay: Isso eu não posso falar. Porque a minha audiência é um negócio que me comove. Que pessoal incrível. Eu consegui montar um curso chamado Estudo do Texto Filosófico com base no canal do Youtube. Eu anunciei e apareceu um monte de gente querendo fazer. A gente lia clássicos, sexta-feira à noite.

Luciano Pires: Que legal.

Bruna Torlay: Eu pegava um clássico e ia dando aula. E até hoje esses cursos têm procura. Então eu vou pôr tudo no Hotmart, para que as pessoas que não assistiram ele ao vivo consigam assistir às aulas. Porque eu tenho elas gravadas. As pessoas gostam. Então é impressionante. A gente tem muitas pessoas por aí procurando coisas boas para se aprimorar como pessoa. E é graças a esse público que essas iniciativas que a gente cria Luciano, elas estão sobrevivendo. Sem esse público, a gente não estaria aqui.

Luciano Pires: Exatamente. E essa consciência está crescendo cada vez mais. Então venham. Assinem a revista da Bruna. Assinem o Café Brasil Premium. Ajudem a gente aqui a ampliar.

Bruna Torlay: Continuar.

Luciano Pires: Você não está querendo o dinheiro para comprar gasolina de aviação para a tua Ferrari. Não isso não.

Bruna Torlay: Caramba. Não. Só quero pagar os colaboradores. Eles merecem.

Luciano Pires: Bruna, obrigado pela presença. Adorei ter você aqui.

Bruna Torlay: Eu que agradeço.

Luciano Pires: Eu estou fazendo uns acordos com a Bruna, ver se a gente faz um bem bolado de assinatura do Premium com a revista. E vamos junto. Porque eu acho que tem muita sinergia do teu público com o nosso público aqui.

Bruna Torlay: Com certeza.

Luciano Pires: Eu acho muito bom te ouvir. E quem quiser acompanhar, você está na Jovem Pan?

Bruna Torlay: Eu estou no Três em Um todo dia, entre cinco e seis horas da tarde, hora do trânsito. Hora de você ficar em dia com os principais fatos do dia.

Luciano Pires: Perfeito. Eu só não sei por quanto tempo. Porque a hora que isso começar a tomar o tempo dela, ela já avisou: ela vai parar para estudar. Obrigado, Bruna. Muito bom ter você aqui.

Bruna Torlay: Eu que agradeço.

Luciano Pires: Um beijo.

Luciano Pires: Muito bem. Termina aqui mais um LíderCast. A transcrição deste programa você encontra no lidercast.com.br.